segunda-feira, 13 de junho de 2022

James Bond 007 – Ao Serviço do Cinema IV

                                                                                                                                             4 – O Legado (2015-2021)              

 

            


O sucesso de “Skyfall”, vigésimo-terceiro filme da mais longa e famosa saga (apenas superada por “Star Wars”, a “Space-Opera” imaginada por George Lucas nos anos 70) do cinema, foi, de certa maneira, decisiva para a continuação da série. “Skyfall”, tornou-se o mais rentável filme da série James Bond ao ultrapassar um bilião de dólares em receitas mundiais ( e ser “apenas” o décimo-quarto filme a consegui-lo) e ser o único filme da série a atingir tal feito, como também foi o primeiro a vencer dois Oscares da Academia numa cerimónia só (Melhor Canção e Melhor Som, empatado com “Zero Dark Thirty - 00.30 – A Hora Negra” de Kathryn Bigelow). Com tal sucesso, Daniel Craig, depois de ter dito várias vezes que aquele seria o seu último James Bond, deu o dito por não dito e assinou novo contrato para mais dois filmes do agente secreto. Estava salvaguardada a continuidade da série e restava começar a pré-produção do novo filme. Seriam três anos de espera até a nova produção ver a luz do dia.

Inicialmente, Sam Mendes, o realizador de “Skyfall”, tinha dito a Barbara Broccoli e a Michael G.Wilson, produtores do filme que não queria voltar para dirigir o novo Bond, mas, posteriormente e depois de ter lido o argumento do filme, achou-o apelativo e aceitou voltar a embarcar no universo bondiano. Pelo meio, os produtores, face ao facto de se encontrarem sem realizador, contactaram Nicholas Winding Refn, o realizador de “Drive – Risco Duplo” (2011), que rejeitou o convite. Novamente com Mendes a bordo, o elenco e com quase toda a equipa que transitou do filme anterior reunida, o “Bond 24” (como era conhecido) estava pronto a avançar.

           
 Desta vez 007, depois de receber uma misteriosa mensagem póstuma da anterior “M”, que o leva a uma arriscada missão na Cidade do México, da qual resulta uma suspensão imediata do agente secreto, mas que, posteriormente, o põe no rasto da misteriosa organização criminosa “Spectre” e do seu enigmático líder Ernst Stavro Blofeld, que pretende lançar uma rede nacional de vigilância para monitorar as actividades criminais no mundo inteiro. A investigação de Bond vai adquirir um carácter pessoal quando alguém do seu passado surge no caminho.
O Elenco de "Spectre"

No elenco, além de Daniel Craig, regressam também Naomie Harris como Eve Moneypenny, a agente de campo temporariamente retirada dessa função;  Ben Whishaw como “Q”, o “nerd” do MI6 (responsável pelo cómico de “Spectre quando nas novas instalações do MI6 mostra o novo “Aston Martin DB10” e  Bond detém-se junto do que resta do seu velho “DB5”, “Q” mostra-lhe o volante e diz “I told you to bring all pieces, not one piece!”, qualquer coisa como “eu disse-lhe para o trazer inteiro e
não uma peça!“
e depois ri de nervosismo como se aquilo que acabara de dizer fosse ofensivo para 007); Ralph Fiennes como Mallory, o novo “M”, Rory Kinnear no papel de Bill Tanner, (o secretário da antiga “M”), a que se juntam Christoph Waltz como Blofeld, Léa Seidoux como Madeleine Swann, Monica Bellucci como Lucia Sciarra, Dave Bautista como Mr. Hinx, entre outos. 


“Spectre” leva-nos numa viagem ao mais negro mundo de Bond. Não só nos traz novamente Mr.White, a personagem sinistra que nos assombra desde “Casino Royale” (aqui conhecemos outra faceta dele, mais humana, coisa que ninguém diria!), como nos transporta até ao tempo da guerra fria e de “Spectre”, a organização criminosa que que surge desde o primeiro filme da série e o seu líder, Ernst Stavro Blofeld, que tem sido sempre a maior nemesis de James Bond e fica-se com a sensação de que “já vi este filme em qualquer lado” (no tempo de Bond de “Sir” Sean Connery, ainda existia a guerra fria que dava continuidade às acções da Spectre que estava sempre metida ao barulho), mas a conjunctura mudou e, como já foi dito, a guerra fria terminou e, como tal, pensou-se que a organização criminosa também se havia extinguido...engano! ela continua activa e muito mais perigosa do que antes e isso percebe-se quando surge Franz Obenhauser (uma das melhores prestações de Chistoph Waltz), também conhecido como Ernst Stavro Blofeld. Franz é uma figura do passado de Bond e é aqui que “Spectre” ganha consistência, afasta-se dos outros filmes da série e mergulha no passado de Bond (que já havia sido referido em “Skyfall”), assumindo aqui uma faceta mais negra do que aquilo que nos fora dado a conhecer ao longo dos 22 filmes anteriores. De repente, aquilo que parecia ser mais um filme de James Bond torna-se algo mais do que mais uma aventura do agente secreto mais famoso do mundo. Assume-se como um quase ajuste de contas com o passado e, à semelhança do que acontecera com Bond em “License to Kill – Licença para Matar”, é uma vingança pessoal, que pode, ou não, ter um preço demasiado alto para pagar.  

            


Depois de uma sequência pré-genérico filmada com a qualidade e a acção habituais num filme de James Bond, somos presenteados com um dos mais bonitos e mais bem conseguidos genéricos da série, acompanhado por um bom tema musical, mas longe dos grandes temas que caracterizaram a série,“Writing’s on the Wall” co-escrito por Sam Smith e Jimmy Napes e interpretado por Smith e que acabou por ganhar, não só o Globo de Ouro, como também o Oscar de Melhor Canção, o filme leva-nos por vários e tortuosos caminhos, a diversos locais (outro dos pontos altos da série) principalmente quando Bond se encontra pela terceira  vez com Blofeld, (a primeira e segunda foram em Roma, respectivamente e no funeral de Marco Sciarra, vemo-lo de costas e Bond parece reconhecê-lo mas não tem tempo para se aproximar e depois na reunião da organização na qual a personagem nos é  apresentada de uma forma misteriosa que identifica Bond, apesar deste não conseguir vislumbrar bem o seu rosto) em que ele lhe mostra e lhe diz que foi o principal responsável por toda a dor pela qual 007 tem passado a vida toda, para um climax que acontecerá em Londres nas ruínas do edifício do MI6 e aquele que, pensamos ser, o confronto final com o seu inimigo jurado desde 1962. Se se olhar com atenção, vemos que, á semelhança dos filmes anteriores de Craig, acontece a piscadela de olhos a alguns filmes da série, nomeadamente a luta no comboio entre Bond e Mr.Hinx, que nos transporta às lutas entre Bond e Grant em “007 – Ordem para Matar”(1963), entre Bond e Mr.Big em “007 – Vive e Deixa Morrer” (1972) ou entre Bond e “Jaws” em “007 – Agente Irresistível”(1977), além de alguns outros momentos.

Felizmente, depois de muita acção de cortar a respiração e suspense, ou não estivéssemos num filme de James Bond, vemos, no final, o Agente Secreto de Sua Majestade partir com o seu novo interesse amoroso e (quase sentimos vontade de gritar de alegria) a conduzir seu eterno “Aston Martin DB5”, o melhor carro que alguma vez vimos aparecer na série.

Entramos novamente num grande hiatus da série. Aguardava-nos mais uma espera de 6 anos na qual tudo foi dito e escrito sobre James Bond 007.

            


O 25º filme da série começou a ser desenvolvido em 2016, quando Danny Boyle, autor de “Trainspotting” (1996), “28 Dias Depois” (2002) ou “Steve Jobs” (2015), entre outros filmes de sucesso, foi contractado para ser o realizador e que também iria colaborar na escrita do argumento. Daniel Craig já estava a bordo; assim como Léa Seidoux, Naomie Harris, Ben Whishaw, Ralph Fiennes, Rory Kinnear que retomaram os seus papéis, a que se juntaram Rami Malek, Lashana Lynch, Ana de Armas e os regressados Chistoph Waltz e Jeffrey Wright nos papéis respectivamente de Blofeld e Felix Leiter, o agente da CIA e amigo de Bond. 

Pouco tempo depois, Danny Boyle abandona o projecto, alegadamente por divergências criativas com os outros argumentistas do filme, Neal Purvis, Robert Wade, Cary Joji Fukunaga e Phoebe Walter-Bridge. Sem realizador, o filme atrasou o início da produção cerca de um mês. Depois de alguma procura (foram contactados, entre outros, David Mackenzie e Denis Villeneuve, que recusaram), sem sucesso, para arranjar um substituto para trás das câmaras, os produtores, Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, voltam-se para a prata da casa e escolhem Joji Fukunaga, que já tinha alguma experiência na realização em televisão  onde já realizara alguns episódios da série “True Detective” (2014-2019), a mini-série “Maniac” (2018) e em cinema fizera “Jane Eyre” (2011) e “Sin Nombre” (2009), além de ser Produtor Executivo em outras séries. A produção teve então início em 2019 e era para estrear em 2020, mas a pandemia de COVID-19 atrasou a sua estreia para setembro de 2021 em Inglaterra e em outubro nos Estados Unidos e resto do mundo.

            


Passaram-se cinco anos desde que James Bond abandonou os Serviços Secretos Britânicos e vive agora na Jamaica depois do seu caso amoroso com Madeleine Swann não ter resultado. Bond é contactado pelo seu amigo de longa data, Felix Leiter, da CIA, que lhe pede ajuda para localizar um cientista, Valdo Obruchev, que foi raptado dum laboratório do MI6 onde estava a desenvolver um projecto de nome “Heracles” e de importância capital não só para a ciência, como também para a humanidade. Inicialmente, Bond recusa, mas depois de ser novamente contactado, desta vez por Nomi, uma agente do MI6 que herdou o seu nome de código, e esta lhe explicar o que é o projecto de Obruchev, ele aceita ajudar Leiter, apesar dos avisos da agente para não interferir.
Léa Seydoux é Madeleine Swann

Ao contrário do que seria de esperar e depois dos problemas na produção e sucessivos atrasos na sua estreia, “Sem Tempo para Morrer” tem todos os ingredientes para dar certo e fechar com chave de ouro a passagem de Daniel Craig pela série: a começar logo na sequência pré-genérico, a mais longa, desde que começaram a aparecer em “From Russia with Love – 007 Ordem para Matar” (1963), em que Bond, debruçado sobre o túmulo de Vesper Lynd (a fazer lembrar o início de “For Your Eyes Only – 007 – Missão Ultra-Secreta”, 1981), é  emboscado pelos agentes da Spectre (que Ernst Stavro Blofeld, o inimigo jurado de Bond, no seu breve encontro com o agente secreto na prisão, confessa ter sido ele o seu autor moral para se vingar) e onde vemos o Aston Martin DB5, nas muralhas de Matera, em todo o seu poderio bélico numa das mais bem conseguidas e excitantes cenas de acção  alguma vez feita para um filme de James Bond; depois passamos brevemente pela sua casa na Jamaica, local onde aconteceu a sua mais famosa e inesquecível missão; a sua saudável, embora não livre de consequências, concorrência com Nomi, a agente que herdou o código 007; um vilão, Lyutsifer Safin (Rami Malek numa excelente composição), que consegue quase ser tão vilão como Auric Goldfinger no filme com o mesmo título; em nenhum outro filme da série,(com excepção talvez de “Die Another Day – 007 Morre noutro Dia” (2002), em que Bond regressa ao activo após um ano numa prisão norte-coreana), o agente secreto esteve tão vulnerável como neste filme (é vê-lo cometer erros atrás de erros, fruto de alguma ineficácia sua), tudo isto apoiado na banda sonora de Hans Zimmer, cheia de referências musicais, não só ao tema de Monty Norman, sempre presente em 60 anos de filmes, mas também ao melhor que John Barry, o compositor que mais vezes foi utilizado, trouxe para a série.

Ana de Armas é Paloma, a Agente da CIA
Mas nem tudo são bons momentos, também existem alguns menos bons que merecem igual referência: a começar logo no tema musical “No Time to Die”, escrito por Finneas O’Connell e Billie Eilish e interpretado por esta última, que é das coisas mais fraquinhas e sem sal que alguma vez se ouviu num filme de James Bond (o pior talvez seja o tema “Another Way to Die”, interpretado por Jack White e Alicia Keys para o filme “Quantum of Solace” (2008), ao pé destas duas canções, até o tema da Madonna para “Die Another Day” soa bem melhor!). Apesar disso, o tema, tal como os dois filmes anteriores, ganhou o Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Canção. Também o pouco tempo de écran dado à personagem de Paloma, a agente da CIA, interpretada pela bonita e sensual actriz Ana de Armas, a sua breve, mas marcante, aparição elegantemente vestida para sair e ir jantar, deixa qualquer um boquiaberto a pedir mais, foi mais um subaproveitamento de uma personagem que merecia maior desenvolvimento; também a secção central do filme, quando Bond recebe as novidades de Madeleine sobre Mathilde, era talvez desnecessária, apesar de cedo no filme, se perceber que algo se passa com Madeleine, na cena em que Bond a força a entrar no comboio, ela, sub-repticiamente, leva a mão à barriga. 

Mas, em todos estes momentos, altos e baixos, fica-nos a sensação de que a escolha de Cari Joji Fukunaga foi acertada, apesar da responsabilidade de fechar mais um ciclo no universo Bondiano.

            

James Bond e Companhia 

E o final? Que dizer acerca disto? Modestamente, acho que não assistimos à morte do Agente Secreto, penso que aquilo que nos é mostrado é, sim, “uma morte simbólica”, ou seja, a despedida de Daniel Craig da personagem que vestiu durante 15 anos, em cinco filmes, tinha que ser uma despedida em grande estilo como o foi a sua interpretação da personagem (e lembro que, no início, a sua escolha foi polémica entre os fans da série), ou, se quisermos ir mais longe, a sua morte significa o fim de uma era que durou 60 anos dividida em 25 filmes, reflectindo quase sempre as épocas que atravessou, interpretados por seis actores diferentes. Quem vier interpretar a personagem futuramente, tem que honrar o legado que lhe foi deixado pelos antecessores, sim, porque, tal como diz no genérico final de todos os filmes desde “Dr. No”, James Bond will Return” e, disso, não tenho a menor dúvida!

 

            

Bond, James Bond!



            

            

                                   

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