domingo, 24 de março de 2024

EMERSON, LAKE & PALMER II


 

         


O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Montreux, na Suiça e mais tarde nos “EMI Studios”, em Paris, França, para gravar um novo álbum. “Works Volume 1”, foi o título escolhido para o novo trabalho, editado em março de 1977, e, quando o título foi anunciado, imediatamente se começou a pensar que iria ser um “best of” dos primeiros álbuns do grupo.

        


Tratou-se de um duplo álbum em que os três primeiros lados são dedicados a cada um dos membros do grupo para que pudessem apresentar temas da sua própria autoria e o quarto lado apresentava composições do grupo. Keith Emerson contribuiu com “Piano Concerto nº 1”, um tema de 18 minutos dividido em três movimentos para piano e orquestra. O virtuosismo do músico com qualquer instrumento de teclas fica bem patente nesta peça, aliás durante grande parte da década de 70, Emerson manteve uma amigável disputa sobre quem era o melhor teclista do mundo com Rick Wakeman dos “Yes”, mas que por esta altura tinha saído do grupo e dedicava-se a uma carreira a solo. Emerson fez-se então acompanhar pela “London Philharmonic Orchestra”. Era sua intenção deixar escrita uma peça para ser futuramente tocada por outros músicos e quando chegou a altura de a inserir no álbum, contou com a colaboração do Maestro John Mayer, que conduziu a orquestra, para os arranjos finais. Greg Lake, no lado dois do álbum, apresentou uma série de baladas acústicas, escritas por ele e por Peter Sinfield, onde se destacam “C’est LaVie”, um lindíssimo tema que, juntamente com “Lucky Man” passou a fazer parte do alinhamento dos concertos, e “Closer to Believing”. O lado três do álbum ficou a cargo de Carl Palmer que, além de alguns temas da sua autoria, gravou alguma versões de temas clássicos como “The Enemy God  Dances with the Black Spirits” de Sergei Prokofiev com arranjo de Emerson, Lake e Palmer, “L.A.Nights” com a participação de Joe Walsh, o guitarrista dos “Eagles”, ou “Two part Invention in D Minor”, de Johann Sebastian Bach com arranjo feito pelo próprio Palmer. Finalmente o lado quatro do álbum contém dois temas: “Fanfare for the Common Man” de Aaron Copland (novamente autorizado pelo próprio) com arranjo feito pelo grupo e “Pirates”, baseado num tema que Emerson tinha escrito para o filme “The Dogs of War”, baseado num livro de Frederick Forsyth que acabou por ser cancelado. O tema, inicialmente fora escrito com mercenários em mente, o que Lake achou desagradável e queria que o tema fosse sobre outra coisa qualquer. Sinfield, ao ouvir o tema, imaginou cenas marítimas o que lhe trouxe à memória piratas. A ideia agradou ao grupo e Lake e Sinfield escreveram a letra.

            O álbum foi editado na altura em que o movimento Punk estava a começar a dar cartas na cena musical, o que levou a fosse recebido com uma mistura de críticas tanto positivas como negativas e é geralmente visto como o princípio da curva descendente do grupo, apesar de “Fanfare for the Common Man” e “C’est La Vie” , os singles escolhidos, terem feito uma boa carreira nos tops em ambos os lados do atlântico.

     


Em novembro de 1977, “Works Volume 2” viu a luz do dia. O álbum continha temas gravados entre 1973 e 1976 durante as várias sessões de gravação dos álbuns anteriores e nunca foram usados. Entre os diversos temas compilados dessa altura, destacaram-se “When the Apple Blossoms Bloom in the Windmills of Your Mind I’ll be Your Valentine”, “Tiger in a Spotlight” e “Watching Over You” como os singles lançados para apresentação do disco. Incluia também o tema “Brain Salad Surgery”, do álbum de 1973, mas que devido á limitação de duração dos discos em vinyl, ficou de fora. No álbum vinham também algumas versões de temas como por exemplo “Maple Leaf Rag” de Scott Joplin, um dos temas mais famosos do tempo do “Ragtime”, “Honk Tonk Train Blues” um tema de “Boogie Woogie”, escrito por Meade Lux Lewis, arranjado Por Emerson, além claro, de algumas baladas escritas por Lake e Sinfield. 

O álbum não foi o sucesso comercial que o grupo esperava obter tal como já havia acontecido com os seus antecessores, mas, mesmo assim, foi motivo suficiente para que o grupo fizesse nova tournée de suporte aos dois álbuns. Entre maio de 1977 e fevereiro de 1978, o grupo percorreu os Estados Unidos e o Canadá com 120 concertos, inicialmente, com uma orquestra a acompanhar o grupo e que foi rapidamente posta de parte devido ao orçamento que toda aquela logística implicava. O último concerto com orquestra e coro aconteceu a 26 de agosto de 1977 no “Olympic Stadium” em Montreal, no Canadá perante uma assistência estimada em cerca de 80.000 pessoas e que seria a base do álbum ao vivo, 

“Emerson, Lake & Palmer in Concert”, editado em 1979 e que seria posteriormente re-editado numa versão expandida e re-intitulado “Works Live”, em 1993. O álbum, apesar de igual a tantos outos discos ao vivo abria com uma fanfarra introdutória do grupo e arrancava para uma excepcional versão de “Peter Gunn” um tema escrito por Henry Mancini para uma série de televisão dos anos 50 e 60 com o mesmo nome, com um arranjo musical feito pelo trio, que nunca tinha sido editada em nenhum dos seus álbuns  e que veio a ser nomeada para um prémio “Grammy” como “Melhor performance Rock Instrumental”. O disco incluía temas que abarcavam toda a carreira do grupo, como “C’est La Vie”, “Knife-Edge”, “Piano Concerto Nº1, Third Movement:Toccata com Fuoco” ou “Pictures at an Exhibition”, tocadas com a orquestra e outros em que apenas tocava o grupo. 

Emerson diria mais tarde, que tinha sido um erro querer usar uma orquestra durante a tournée, mas era grande a sua vontade de o fazer e não se via a tocar alguns dos temas sem ela. Admitiu também que o grupo se estava a aproximar do final da sua existência.

            


Depois da tournée de 1977-78, o grupo estava exausto e preocupado com o seu futuro imediato. O relacionamento entre os três elementos tinha-se vindo a deteriorar desde o início da tournée, Emerson queria reorganizar o grupo mantendo apenas a estrutura musical com um piano, uma guitarra-baixo e bateria deixando de lado toda a panóplia musical que os movera até ali, além de que a “Atlantic Records” queria que eles gravassem um novo disco para cumprirem o contrato. O trio deslocou-se então para o “Compass Point Studio”, em Nassau, nas Bahamas para trabalhar no novo disco. Nascia assim “Love Beach”, o mais desinspirado álbum que o grupo alguma vez gravou. As sessões de gravação foram difíceis, não só pelo mau ambiente que se verificava entre os três, mas também devido ao facto de Keith Emerson começar a desenvolver uma dependência de drogas que o impedia de trabalhar ou colaborar com outras pessoas. Peter Sinfield foi chamado para ajudar Lake a escrever as letras das canções do álbum que se pretendia que fosse mais orientado para a música pop. Escreveu-as quase todas, com excepção do tema “Canario”, um instrumental baseado no tema “Fantasia para um Gentilhombre” de Joaquin Rodrigo, um compositor Espanhol.

 Em novembro de 1978, o álbum foi lançado e “All I Want is You” foi o único single que se conseguiu arranjar para promover um álbum que não tinha nada a ver com o virtuosismo musical que o grupo tivera no início da sua carreira, a única aproximação a esses tempos e mesmo assim de uma forma muito pálida foi “Memoirs of an Officer and a Gentleman”, um tema com 20 minutos de duração e que ocupa todo o segundo lado do álbum. Dividido em quatro partes, é uma peça conceptual que fala de um romance entre um soldado e a sua noiva durante a IIª Guerra Mundial. O álbum nunca foi objecto de tournée porque o relacionamento entre o grupo deixara de existir. Greg Lake e Carl Palmer, mal completaram as suas partes, regressaram a Inglaterra deixando Keith Emerson entregue à produção.

A crítica arrasou o álbum e o público virou-lhe as costas. O disco nunca chegou aos lugares cimeiros dos tops, mas ainda conseguiu ser Disco de Ouro (vendas superiores a 500.000 unidades) nos Estados Unidos. Pouco tempo depois, já em 1979, o grupo separou-se sem fazer qualquer anúncio da sua separação, seguindo caminhos musicais separados.   

            


Keith Emerson, livre dos compromissos com os seus ex-colegas, dedicou-se à composição de bandas sonoras para filmes. O músico fez também alguns álbuns a solo e diversas colaborações mas tudo muito pouco relevante. Greg Lake regressou aos King Crimson com quem ainda gravou álbuns. Por fim, Carl Palmer, inicialmente formou os “PM” que gravaram apenas um álbum, antes de se juntar aos “Asia”, um dos primeiros supergrupos da década de 80 composto maioritariamente por músicos vindos de grupos da década de 70. Mas a meio da década de 80, as coisas iriam mudar.

            


Em 1985, Emerson e Lake, achando que já tinha passado o tempo necessário para se repensar o futuro, resolveram fazer uma reunião dos três membros originais da ELP. Palmer declinou o convite pois encontrava-se comprometido com os “Asia” que por esta altura estavam em tudo o que era tops musicais. Os dois elementos do grupo convidaram então o antigo baterista dos “Rainbow”, Cozy Powell para integrar o trio. O único álbum gravado pelo grupo, “Emerson Lake & Powell”, foi editado em maio de 1986. Foi escolhido o tema “Touch and Go”, inspirado numa canção folk Inglesa adaptada por Emerson, para apresentação. Nem o álbum nem o single fizeram grande história na música, apesar do grupo ter feito uma tournée de apresentação na qual tocavam também temas de Emerson Lake & Palmer. 

        


A reunião não resultou e, em breve, o trio estava separado. Em 1988, Keith Emerson juntou-se a Carl Palmer, que, entretanto saíra dos “Asia” e formaram, juntamente com o guitarrista Robert Berry, o grupo “3”, que depois de um álbum, também se separaram. Porém, a década de 90 que se aproximava, iria trazer boas notícias aos ELP originais.

            Foi em 1990 que Phil Carson, um antigo executivo da “Atlantic Records” aproximou-se do trio original com uma proposta para se reunirem e compor música para um filme. O projecto cinematográfico num viu a luz do dia, mas o trio começou a avançar com novos temas musicais inovadores e, em três meses, tinham preparado material para um novo álbum em detrimento da banda sonora de um filme. Dotados de toda uma moderna tecnologia, que complementava o seu trabalho durante as sessões de gravação, os estúdios da “Atlantic Records” aproveitaram a ocasião para fazer sair um “besto of” da banda com algum do seu material antigo que seria seguido, em 1993, com uma caixa com quatro discos com material inédito.


                   


“Black Moon  foi editado em julho de 1992. Apesar dos temas “Paper. Blood” e “Black Moon”, o tema-título, o álbum não conseguiu vingar nos maiores tops do mundo.  Os ELP, agora animados por estarem de novo juntos, fizeram uma tournée mundial de suporte ao álbum entre 1992 e 1993 que encerrou com concertos no Royal Albert Hall, em Londres e que deram origem a mais um álbum ao vivo, “Live at the Royal Albert Hall”,

 onde o grupo mostrou aquilo que valia a quem lá esteve e posteriormente num DVD editado com o mesmo título, para quem nunca os viu ao vivo, onde o grupo percorre toda a sua carreira.

            



O novo contrato com a editora obrigava à gravação de pelo menos dois álbuns, o que o grupo quis cumprir. Em 1994 “In The Hot Seat”, o nono e final álbum do grupo viu a luz do dia. Pontuado por diversos problemas financeiros e de saúde dos músicos Keith Emerson e Carl Palmer, a escrita, a produção e gravação dos temas foi demorada. Os estúdios queriam um álbum mais comercialmente orientado e foram trazidos diversos compositores para ajudar na escrita de temas. O álbum foi um completo fracasso comercial, ainda maior que “Love Beach” no já distante ano de 78. O estúdio ainda tentou salvar o álbum ao lançar temas como “Hand of Truth” ou “Daddy” como singles, mas pouco ou nada havia para salvar. Houve várias tentativas para fazer tournées pelos Estados Unidos e Japão, mas era tudo muito dispendioso a que se juntavam os problemas de saúde dos membros do grupo.

            Para recuperar algum investimento, em 1996 e 1997, o grupo aceitou fazer as primeiras partes de grupos como Jethro Tull, Deep Purple ou Dream Theater, nas quais conseguiam incluir um alinhamento de algumas das sua peças mais famosas. 

Havia planos para a gravação de um novo álbum, mas as fricções entre os membros de grupo reapareceram com Emerson a querer ficar com os louros como produtor ou que Lake não queria  contribuír com temas originais em detrimento de um possível álbum a solo, o grupo separou-se novamente em 1998.

           


 Já no século XXI, na primeira década, apesar de alguns encontros esporádicos para tocar em nome dos velhos tempos, houve planos para uma nova reunião para comemorar os 40 anos da formação do grupo que seria em forma de tournée com um alinhamento musical que incluiria temas, não só do grupo, mas também dos Nice e de King Crimson. O concerto inicial aconteceu no “High Voltage Festival”, no Victoria Park, em Londres, a 25 de julho de 2010, com enorme sucesso por parte de uma audiência carregada de entusiastas e fans do grupo. No final desse ano seria editado o duplo álbum ao vivo “High Voltage”. Foi também a última vez que o trio tocou junto.

            A 11 de março de 2016, Keith Emerson suicidou-se com um tiro na cabeça e a 7 de dezembro do mesmo ano, Greg Lake morreu de cancro, deixando apenas Carl Palmer como herdeiro e responsável por todo o espólio musical do grupo que continua a apresentar em concertos com a sua própria banda, sob a designação de “Carl Palmer’s ELP Legacy”.

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...