sexta-feira, 25 de agosto de 2023

“The Thing – Veio de Outro Mundo”

  

 

            


Na chamada "Época de Ouro" da ficção cientifica, nas décadas de 30 e 40 do século passado, muitos foram os contos que se escreveram sobre as mais diversas temáticas do género, muitos foram os autores que se descobriram nesta época, graças a John W.Campbell Jr., e à sua revista “Astounding Science Fiction” (1937-1971). Apelidado de "O Pai da Ficção Cientifica", foi um dos pioneiros nessa época e também responsável por um dos mais famosos contos do género,
"Who Goes There?" (1938), assim se chama o conto e deu origem a três filmes. Um primeiro, feito na década de 50, chamou-se “The Thing from Another World – A Ameaça" (1951) e, na altura, até assustou os espectadores, mas afastava-se da génese do conto, o que terá, provavelmente, levado Howard Hawks, cuja realização era partilhada com Christian Nyby a dado passo da produção, a afastar-se dela mantendo-se apenas na função de produtor e argumentista (não creditado). O segundo filme chamou-se "The Thing - Veio de outro Mundo", foi realizado em 1982 e adapta o conto quase na íntegra. Já em pleno século XXI, o conto voltou a ser adaptado, com o título “The Thing – A Coisa”, realizado em 2011 por Matthijs van Heijnigen Jr., e é uma prequela directa do filme de 1982. 

 

O original de 1951 "The Thing - A Ameaça"


   Não é de estranhar que tenha sido John Carpenter o realizador a assinar a segunda versão de "The Thing", pois se o original fora co-realizado por Howard Hawks, de quem o realizador é um confesso admirador, nunca iria defraudar uma obra que tivesse o cunho do seu ídolo, pelo contrário, levou a uma nova apreciação da obra. A produção teve início em meados da década de 70 e pretendia ser uma adaptação fiel do conto. Passou pelas mãos de diversos argumentistas, todos com ideias diferentes em como fazer a aproximação à história, mas sem sucesso e com o desagrado dos familiares do autor, até que Bill Lancaster argumentista de créditos firmados, nomeadamente pelo argumento do filme “The Bad News Bears – Que se Lixe a Taça” (1976), uma comédia de Michael Ritchie, com Walter Matthau, da qual John Carpenter era um fan, apresentou à Universal Pictures, detentora dos direitos de adaptação, uma  versão que satisfez tanto os administradores do estúdio, como os herdeiros de John W.Campbell Jr.  

       


Antes de chegar a Carpenter, o projecto esteve quase a ser entregue a Tobe Hooper, que estava nas boas graças da Universal, graças ao seu filme “The Texas Chainsaw Massacre – O Massacre do Texas” (1974), mas foi sol de pouca dura, já que os administradores ficaram pouco agradados com a abordagem pretendida pelo realizador e pelo seu argumentista. Seguiu-se John Landis que também ficou pelo caminho e o projecto foi arrumado á espera de nova oportunidade e ela chegou quando John Carpenter, no seu filme, hoje um clássico, de 1978, “Halloween”, prestou uma discreta homenagem ao seu ídolo ao colocar numa cena um miúdo a ver na televisão o clássico de Hawks. Releu a história e viu o filme várias vezes à procura de inspiração e entendeu que a história do conto era algo intemporal. Perante a insistência do estúdio, revitalizado com os sucessos obtidos pelos recentes filmes do realizador, além de “Halloween”, “The Fog – O Nevoeiro” (1980) e “Escape from New York – Nova York, 1997” (1981), Carpenter aceitou embarcar no projecto. Finalmente havia luz verde para uma nova adaptação de um dos mais famosos contos da era dourada do género da ficção científica.
            

Numa estação de observação meteorológica no Árctico, um grupo de cientistas americanos é surpreendido pela chegada de um helicóptero da base norueguesa vizinha que vem em perseguição de um cão na tentativa de o abater. O helicóptero é destruído junto com os seus ocupantes e o cão é acolhido pelos americanos. Depois deste estranho acontecimento, descobrem que a base dos noruegueses foi destruída e os seus habitantes dizimados por algo não identificado. Mais tarde, a alguns quilómetros da base destruída, descobrem aquilo que parece ser uma nave extraterrestre enterrada na neve e a alguns metros dela descobrem os restos do que deveria ser uma cápsula de um dos ocupantes da nave.

          
     


A escolha do elenco não foi fácil. Os produtores contactaram diversos actores. Nomes como Brian Dennehy, Kris Kristofferson, Ed Harris, Tom Berenger, Fred Ward, Peter Coyote, alguns nomes mais sonantes como Nick Nolte, Christopher Walken, Jeff Bridges, ou mesmo Sam Shepherd, foram convidados para entrar no filme, mas, enquanto alguns, não estavam interessados em entrar num filme de terror, outros, por uma ou outra razão recusaram. David Leith, Donald Moffat, Richard Dysart, ou Wilford Brimley aceitaram entrar no projecto. Carpenter ainda tentou junto dos produtores, David Foster e Lawrence Turman, a contratação de Donald Pleasence para o papel de Doc, mas foi recusado. 

         


No início da produção, Carpenter convidara Kurt Russell para o ajudar a desenvolver algumas ideias próprias. Russell, amigo de longa e com quem o realizador já trabalhara em dois filmes, “Elvis – The Movie” (1979) e “Nova York, 1997” (1981), aceitou o pedido. Ainda na fase de pré-produção, Carpenter acabou por aproveitar algumas das suas ideias e convidou o actor a fazer o papel de R.J.MacReady, que achava ser perfeito para ele. Kurt Russell foi o último nome a ser escolhido e integrado no elenco.
            
O realizador John Carpenter

Carpenter realiza um filme pleno de terror e algum suspense, principalmente a partir do momento em que eles descobrem, horrorizados, que o extraterrestre tem capacidade de se transformar em qualquer ser, seja humano ou animal, desde que se encontre sózinho. O realizador consegue gerir todo filme sem se perder com trivialidades e habilmente introduzir um clima de suspense, claustrofobia e suspeita, com um bom doseamento de sustos, que acaba por envolver os espectadores no filme e levá-los a, tal como as personagens, querer descobrir quem é humano e quem já não o é (o melhor exemplo desta ideia acontece com o personagem de Doc, que, a dada altura, após a descoberta bizarra de um corpo  semi-transformado na base norueguesa, o qual é transportado para a base americana e que ele vai analisar, desaparece de cena (propositadamente? Ou não?) para só reaparecer muito mais tarde no filme e é impossível não nos questionarmos se ainda é humano ou não) e consegue-o com mestria própria. 

            


Porém, nem tudo era perfeito. Um dos grandes defeitos que o realizador vira no argumento era que existiam muitas cenas com diálogos o que, no seu entender, diminuíam o ritmo e retiravam o suspense pretendido, o argumento não enfatizava as personagens, principalmente a de MacReady que o realizador queria salientar. Posteriormente e já na sala de montagem, o realizador e o seu editor, Todd Ramsay, viram-se obrigados a retirar diversas cenas do produto final, cenas essa que incluíam uma perseguição entre um carro da neve e os cães da base norueguesa, algumas imagens de corpos desfeitos já quando a base americana está em estado de sítio e acrescentar algumas que, apesar de não constarem no argumento, Carpenter quis filmar. Percebe-se então aqui que aquelas cenas e diálogos que o realizador quis deixar de fora, não fazem falta nenhuma, apesar de, talvez alguma profundidade nas personagens não fosse má ideia apresentar. Mas o produto final satisfaz e satisfez as suas audiências, tornando o filme num sucesso. Sendo assim, porquê complicar?
            

Último grande filme realizado por John Carpenter, "The Thing" é, desde as primeiras imagens do genérico (com o universo e uma nave a dirigir-se para a terra onde cai vendo-se apenas um pequeno clarão que, de repente, se transforma numa grande luz onde se apresenta  o título do filme, uma das imagens de marca do realizador),  até ao "must" que é o final, talvez um dos melhores finais de um filme do realizador (excepção feita a “Halloween”): na base americana completamente destruída  e com a tempestade de gelo  que se abateu sobre o local, MacReady e Childs únicos sobreviventes da base conversam acerca do que aconteceu (perdura sempre a dúvida se algum deles está ou não infectado pela coisa). Childs diz ter-se perdido na tempestade enquanto procurava Doc Blair. MacReady, ri-se e abre uma garrafa de whiskey que partilha com o companheiro e enquanto constatam qual será o seu futuro, Childs, a dado momento, pergunta o que pretendem fazer. MacReady responde, laconicamente, aceitando qualquer que seja o seu destino (mantenho o original pelo impacto que cria na cena) “Why don’t we wait here a little while long and see what happens?” e a cena fecha com o tenebroso tema musical de “The Thing” da autoria do grande maestro das bandas sonoras, Ennio Morricone, digno do seu realizador que nunca mais iria conhecer o sucesso que obtivera até então devido aos sucessivos fracassos de bilheteira que viria a obter. Sómente no final da década de 80 com os filmes “Prince of Darkness – Princípe das Trevas” (1987) e “They Live – Eles Vivem” (1988), John Carpenter recuperaria alguma da sua forma de trabalhar e viria a obter sucesso junto do público e crítica também.

 

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...