domingo, 11 de fevereiro de 2024

EMERSON, LAKE & PALMER I

                          

 

No final da década de 60 do século passado e inícios de 70, a cena musical britânica estava em vias de mudar. Ao longo da década que estava a terminar, os efeitos do “flowerpower”, movimento oriundo da costa oeste dos Estados Unidos estavam a dissipar-se, o psicadelismo musical que esse movimento criara, materializara-se nos Pink Floyd e em alguns outros grupos musicais. Adivinhava-se que vinha aí algo novo e diferente.

Em finais de 1969, Keith Emerson, teclista do grupo “Nice” e Greg Lake, baixista e vocalista do grupo de rock progressivo, “King Crimson” tinham-se conhecido em Nova York. Ambos estavam interessados em sair dos seus grupos e formar um novo juntos.

Em março de 1970, os dois músicos, já libertos dos respectivos grupos, começaram a procurar um baterista, processo que se revelou bastante difícil. Depois de muitas audições, fixaram-se em Mitch Mitchell que fizeram parte da “Jimi Hendrix Experience” que entretanto se separara. Ao saber do interesse da dupla em si, sugeriu uma “jam session” entre os três e o guitarrista americano, o que nunca chegou a acontecer. 


Foi durante uma das muitas audições para baterista que Tony Stratton Smith, manager de Keith Emerson, sugeriu o nome de Carl Palmer, baterista dos “Atomic Rooster” e anteriormente dos “The Crazy World of Arthur Brown”. Palmer apareceu numa sessão e houve uma química imediata entre os três músicos e, após muita insistência de Emerson e Lake, ao fim de algumas semanas, Palmer juntava-se ao duo.


            O trio chamou-se a si próprio “Emerson, Lake & Palmer” para afastar o foco da atenção sobre Keith Emerson, que era o mais famoso dos três e para garantir que eles não eram considerados os novos “Nice” (que se haviam separado no início de 1970). O grupo mudou-se para Notting Hill para ensaiar e preparar um alinhamento musical para futuros concertos. Muitos dos temas eram adaptações de rock de temas clássicos, que incluíam, entre outros, “Allegro barbaro”, de Béla Bartók, intitulado The Barbarian”; o tema de jazz “Rondo à la Turk” de Dave Brubeck, intitulado “Rondo”, que Emerson gravara com os “Nice”. O alinhamento musical terminava com o tema “Nut Rocker”, havia um tema original de Greg Lake,“Take a Pebble” e por vezes tocavam “Pictures at an Exhibition” de Modest Mussorgsky que Emerson gostava particularmente e que queria gravar depois de a ter visto ser tocada por uma orquestra. Era um alinhamento relativamente curto, mas que o grupo pretendia aumentar progressivamente. 

    


O primeiro grande concerto aconteceu a 23 de agosto de 1970 em Plymouth Guildhall para onde se deslocaram numa carrinha emprestada pelos seus compatriotas britânicos do grupo “Yes”. O concerto foi bem  recebido, não só pelo público, sempre à procura da novidade, como também pela crítica. Este reconhecimento permitiu-lhes ganhar um lugar no cartaz do Festival da Ilha de Wight que iria acontecer entre 26 e 31 de agosto do mesmo ano, com alguns dos maiores nomes da cena musical internacional e onde eram esperadas mais de 600.000 pessoas. Emerson, Lake & Palmer apresentaram-se a 29 de agosto e o sucesso, principalmente com a apresentação de “Pictures at an Exihibion”, granjeou-lhes as mais variadas atenções, desde o público até á imprensa musical e permitiu-lhes assinar um contrato com a E.G.Records e gravar um primeiro álbum. O grupo sentia, e as suas primeiras apresentações tinham-no provado, que conseguia vender qualquer coisa como 20.000 lugares ainda antes de terem um álbum editado.

            


O primeiro álbum da banda, intitulado “Emerson Lake and Palmer”, foi gravado nos meses que se seguiram ao seu triunfo no concerto da ilha de Wight e editado em novembro de 1970. Incluía, além das versões de estúdio de alguns temas já apresentados em concertos, como “The Barbarian”, “Take a Pebble” ou “Knife Edge”, surgiam outros como “Tank” (que incluía um extraordinário solo de bateria por Carl Palmer), “The Three Fates”, tema dividido em três partes, ou “Lucky Man”, uma balada acústica escrita  por Greg Lake quando tinha 12 anos de idade e que se tornou num dos temas clássicos do trio e que veio a ser o primeiro single do grupo. Até março de 1971, o grupo fez uma mini-tournée na europa com concertos no Reino Unido, Alemanha, Áustria e Suiça sempre com boas assistências e boas críticas.

            Durante uma pausa na tournée, em janeiro de 1971, o grupo voltou ao estúdio para gravar o segundo álbum, “Tarkus”. Logo de início aconteceram algumas fricções entre Emerson e Lake porque este não gostava do material que o primeiro escrevera. A situação ficou resolvida após uma reunião tida á porta fechada entre os três membros da banda e o seu manager, Tony Stratton Smith e acordou-se que Greg Lake escreveria as suas próprias canções. O álbum foi gravado em seis dias. O lado A contém apenas o tema-título com a duração de 20 minutos e dividido em sete partes, era uma peça conceptual com uma narrativa ambígua e aberta a diversas interpretações, na opinião dos músicos, trata-se de um tema sobre a futilidade do conflicto expressa num contexto de soldados e guerra, mas após uma segunda audição, percebe-se que é muito mais do que isso. O lado B contém diversos temas que nada têm a ver com a peça-título, como “Jeremy Bender”, “Bitches Crystal” ou “The Only Way”, esta última inspirada em Bach. O grupo retomou a sua tournée pouco tempo depois.

O álbum, editado em junho de 1971, foi um sucesso comercial enorme, chegou a número 1 na Inglaterra e foi número 9 nos Estados Unidos. Quase sem descanso, o grupo iniciou nova tournée, desta vez, começou no outro lado do atlântico a 24 de abril de 1971 com diversos concertos que se estenderiam até maio seguido de um regresso à Europa para apresentação de “Tarkus” até ao final do ano.

            


O terceiro álbum do grupo, “Pictures at an Exhibition”, viu a luz do dia em novembro de 1971. Apresentava a peça de Modest Mussorgsky que dá nome ao álbum integralmente gravada ao vivo num concerto no Newcastle City Hall em março de 1971 e em encore estava o tema “Nut Rocker”do grupo americano “B.Bumble and the Stingers”, gravado em 1962 e inspirado na marcha do “Quebra-Nozes” (Nut Cracker) de Tchaikovsky. Este álbum era para ter sido editado antes de “Tarkus”, mas o grupo queria mostrar aos críticos e ao público que também sabiam escrever temas próprios e que não eram apenas o grupo que tocava música clássica, por isso atrasaram a saída deste álbum. A Atlantic Records recusou editar o álbum nos Estados Unidos devido à sua orientação muito clássica e sem nenhum tema que pudesse ser passado na rádio para apoiar o seu lançamento. Acabou por ser a Island Records, em janeiro de 1972, a conseguir o lançamento do álbum em terras do Tio Sam através da importação de 250.000 cópias e que rapidamente se venderam, juntamente com a aposta de uma rádio, a WNEW-FM, em Nova York que costumava passar o álbum na íntegra. Chegou a número 3 na Inglaterra e número 10 nos Estados Unidos.

            


Terminada a tournée, o grupo foi para os Advision Studios gravar o seu terceiro álbum de estúdio, “Trilogy”, que seria editado em julho de 1972. “Hoedown”, adaptado do ballet  “Rodeo” de Aaron Copland, devidamente autorizado pelo autor e “From the Beginning”, um tema acústico escrito por Greg Lake que foi o single extraído do álbum, foram os pontos altos deste novo sucesso comercial do grupo em ambos os lado do atlântico e que os levou novamente a fazer uma tournée de apoio ao álbum que, além da Europa, Estados Unidos e América do Sul, levou-os pela primeira vez ao Japão onde se apresentaram com uma série de concertos que foram de grande sucesso para o grupo. Apesar de ter sido apenas número 2 nos tops britênicos e número 5 nos Estados Unidos, Greg Lake considerou “Trilogy” como o ponto mais alto da carreira do grupo e também o seu álbum favorito.

            O ano de 1973 seria de grande azáfama para o grupo. Logo no início fundaram a sua própria editora, a “Manticore Records”, em Londres, para a qual compraram um cinema abandonado que também seria o seu estúdio de gravação e em junho começaram a gravação de “Brain Salad Surgery”, o seu álbum seguinte que seria editado em novembro. o álbum é visto como um dos melhores do grupo e, dentro do rock progressivo, é considerado uma pequena obra-prima. 

       “Jerusalem”, o hino escrito por Hubert Perry, músico e historiador de música com um verso de “Milton”, o poema de William Blakeabre o álbum, com um arranjo feito pelo trio, ao som de uma batida quase épica que nos transporta para um outro tempo, algo que acabaria por surpreender tudo e todos. Com apenas cinco temas e ainda mal refeitos do tema anterior, somos conduzidos a uma adaptação do quarto movimento do primeiro concerto para piano de Alberto Ginastera, um compositor Argentino, que termina numa sequência de percussão sintetizada, para em seguida se respirar ao som de “Still…You Turn Me On”, escrito por Greg Lake, com a colaboração do letrista Pete Sinfield, co-fundador do grupo “King Crimson” e amigo pessoal de Lake. Com 29 minutos de duração, “Karn Evil 9” é o tema mais longo escrito pelo grupo, na sua maior parte é um poderosíssimo instrumental, mas contém também uma parte vocal escrita por Lake e Sinfield, na qual se pode ouvir o famoso verso “Welcome back, my friends, to the show that never ends…”, que seria o título escolhido para o segundo álbum ao vivo do grupo e muitas vezes tocado ao vivo na íntegra ou apenas um excerto como aconteceu nas últimas tournées. Apesar das críticas mornas, o álbum foi número 2 no Reino Unido e número 11 nos Estados Unidos. 

    


De novembro de 1973 até agosto de 1974, o grupo andou em tournée pela América do Norte e Europa, para apresentar o novo álbum, num total de mais de 100 concertos, divididos em quatro partes, levando consigo mais de 40 toneladas de material. De todas as datas, o dia 6 de abril de 1974 foi aquele que mais os marcou pois foram cabeças de cartaz do “California Jam Ontario Motor Speedway”, um festival de música em Ontario, Califórnia, onde tocaram para uma audiência superior a 350.000 espectadores. Também em 1974, mas em fevereiro, um concerto na arena principal do “Anaheim Convention Center” em Anahein, Califórnia, deu origem ao álbum ao vivo do grupo, o triplo “Welcome Back, My Friends to the Show That Never Ends – Ladies and Gentlemen”, que seria editado logo apos o final da tounée e que permanece ainda hoje como o melhor exemplo do que era a performance do trio em palco. 

Terminada a tournée, o grupo optou por tirar um longo período de férias, sem gravações nem concertos ao vivo.

                                                                                    (continua)

 

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...