- As Trevas do Mundo (2005-2009)
O genérico inicial começa com a frase “Há algum tempo atrás” e depois surgem imagens a preto e branco de humanos transformados enquanto diversas vozes falam e tentam explicar o que se está a passar. O mesmo genérico termina já com imagens a cores e a palavra “Hoje” surge, ameaçadora, no écran, enquanto vemos alguns zombies a deambular nas ruas duma qualquer cidade. É a maneira (brilhante) que Romero encontrou, para quem não viu os seus filmes anteriores, para introduzir o estado em que se encontra a humanidade.
os seus companheiros e depois ruge ameçadoramente olhando com ódio para “Fiddler’s Green”, antes de, com o seu grupo, se pôr em movimento a caminho do posto dos humanos. O mesmo “Big Daddy”, noutra cena mais á frente, quando ele e o seu grupo estão numa das margens e do outro lado está ”Fiddler’s Green”, olha para as águas e percebe que estas não são obstáculo para os seus intentos e o grupo lança-se ao rio e caminham debaixo das águas em direcção á cidade dos ricos e poderosos. É Romero, uma vez mais, no seu melhor, a mostrar um mundo completamente descontrolado e invertido.
Intenso, em conteúdo e forma, com Zombies mais ameaçadores que nunca (graças a uma caracterização extremamente bem conseguida da responsabilidade de Greg Nicotero, discípulo de Tom Savini, que neste filme faz uma participação aparecendo como o zombie, de katana na mão, durante o ataque a “Fiddler’s Green”) , “Terra dos Mortos” não se livrou de alguma polémica relacionada com algumas cenas demasiado “gore” (sangrentas), o que não evitou que o filme fosse classificado para maiores de 18 anos (foi a primeira vez que tal aconteceu na série). Romero, alegadamente, terá dito que o filme teria duas versões: uma inicial, para qual o realizador teria filmado cenas alternativas e menos explícitas em termos de “gore” e que seria a versão a estrear nos cinemas e seria a primeira a chegar ao circuito de DVD; uma segunda versão teria a designação de “A Versão do Realizador” (hoje em dia é prática comum) e conteria as cenas mais “gore”. Ambas as versões estrearam nos respectivos circuitos, embora para europa tenha apenas vindo a versão do realizador, quer para cinema quer para DVD.
Em agosto de 2006, Romero anuncia que vai fazer novo filme sobre os zombies e que a rodagem iria começar em outubro desse ano. Anuncia também que pela primeira vez o seu filme não será uma sequela (algo que o realizador nunca reconheceu fazer parte da sua série) mas sim uma “maneira de fazer reviver o mito”, nas próprias palavras do realizador. Com um orçamento minúsculo de cerca de 2.000.000 de dólares, Romero obteve um lucro de cerca de 5.000.000 de dólares e o filme até não teve criticas muito posistivas. A certeza com que se fica depois de ver este filme é que George A.Romero ainda é um mestre dentro do género.
A acção situa-se no inicio da primeira epidemia em que os mortos voltam, inexplicavelmente, á vida e se alimentam dos seres humanos. Nessa altura, um grupo de estudantes universitários, acompanhados pelo seu professor, é apanhado no meio do surto. Ainda sem perceber bem o que se está a passar, resolvem regressar a suas casas e decidem gravar os incidentes que se lhes deparam pelo caminho num estilo documentário, acabando eles próprios a serem perseguidos por zombies.
O filme começa com imagens gravadas por uma equipa de repórteres de um canal de televisão que estavam a cobrir uma noticia sobre o assassínio de um imigrante ilegal. A narradora, Debra, explica que aquelas imagens nunca foram visionadas. Percebemos então que estamos no dia um da epidemia.
Apesar de ter algumas semelhanças com os filmes anteriores da série (nomeadamente a utilização de imagens do noticiário que se vê em “A Noite dos Mortos-Vivos”, o primeiro filme da série), Romero pretendeu que este filme fosse uma história passada durante o mesmo período de tempo que o primeiro filme.
Ao contrário do final de “O Dia dos Mortos”, onde o final era algo optimista, “O Diário” termina com aquela que será talvez a imagem mais forte e terrível alguma vez apresentada pelo realizador: A cena final, segundo Debra, é feita com as últimas imagens que Jason tirou da net, antes de morrer e nelas vê-se um grupo de caçadores (labregos, na expressão da própria Debra) a praticar tiro ao alvo em pessoas que morreram e reaparecem como mortos-vivos e na última imagem vê-se uma morta-viva, pendurada numa árvore pelo cabelo, os caçadores disparam atingindo a mulher. Por cima da cena ouve-se a voz de Debra que pergunta “Será que merecemos a salvação?” e logo após, já sobre um écran escuro (que se pode interpretar como o futuro da humanidade), a mesma debra lança o repto “Digam-me vocês!” e logo a seguir corre o genérico final e a pergunta de Debra ainda nos ressoa na cabeça depois do filme terminar.
“Survival of the Dead” ou utilizando o seu título completo “George A.Romero’s Survival of the Dead”, ao contrário dos seus antecessores, não conheceu estreia nacional, nem nas salas de cinema nem no circuito DVD dos clubes de vídeo, nem mesmo em 2010, quando o realizador foi homenageado no "Motelx", Festival de Cinema de Terror de Lisboa. Este comentário que faço é baseado numa edição de importação que adquiri há algum tempo.
O filme acompanha a rivalidade ancestral entre duas famílias irlandesas, os Muldoon e os O’Flynn que vivem em Plum Island, ao largo do estado de Delaware. Enquanto a família O’Flynn chefiada pelo seu patriarca, Patrick O’Flynn, reúne uma milícia para matar os mortos-vivos, enquanto a família Muldoon, liderada por Seamus Muldoon mantém os seus familiares, transformados em mortos-vivos, vivos até surgir a cura para aquela epidemia. Um recontro entre as famílias termina com um breve triunfo da família Muldoon e exílio do patriarca O’Flynn e outros membros da família. Algum tempo depois, Patrick regressa a Plum, acompanhado de alguns desertores da Guarda Nacional para se vingar do seu eterno rival.
Tal como nos filmes anteriores, “Survival of the Dead” pode ser visto independentemente dos outros filmes (Romero sempre disse que a única ligação entre os filmes da série é a epidemia dos mortos-vivos), mas um olhar atento e conhecedor das obras anteriores, vai conseguir vislumbrar, logo no início, algumas personagens do filme anterior que aparecem em imagens de arquivo enquanto se ouve a voz off de Crockett, (personagem que também aparece brevemente em “O Diário dos Mortos”) antigo coronel da Guarda Nacional, despromovido a Sargento, a explicar o que é que o levou a desertar da força e a andar a vaguear por um mundo completamente fora de controle, onde todos os dias os seres humanos morrem e engrossam o exército dos mortos-vivos. É a única vez na série, até agora, em que a ligação entre filmes acontece, não apenas por via da epidemia de mortos-vivos.
É possível que o realizador tenha querido homenagear o western com este filme, mas mesmo sendo esse o objectivo, o filme acaba por ter muito pouco daquilo a que Romero nos habituou nas obras anteriores, onde a critica social estava bem patente, aqui não passa de uma mera caricatura, aliás como todo o filme: um argumento (da autoria de Romero) fraco, que mais parece ter sido escrito em cima do joelho enquanto decorriam as filmagens, interpretações fracas, que mais parecem autênticos fretes levados a cabo pelos actores (excepção feita a Kenneth Welsh e a Richard Fitzpatrick, respectivamente Patrick O’Flynn e Seamus Muldoon) tudo isto misturado numa realização pouco inspirada de George A.Romero. A única nota positiva a este filme vai para o departamento de caracterização, novamente comandado por Greg Nicotero, que torna os Mortos-vivos extremamente realistas e assustadores em alguns momentos. Tudo o resto, infelizmente, é para esquecer.
Apesar do fracasso, em todos os campos, de “Survival of the Dead”, George A.Romero expressou vontade de acrescentar mais dois filmes á série, que, segundo, ele seriam filmados ao mesmo tempo. A ver vamos.
Nota: As imagens e vídeo que ilustram o texto foram retiradas da Internet
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