- A Trilogia
dos Mortos-Vivos (1968-1985)
Os
“zombies” ou mortos-vivos são criaturas fictícias que se encontram regularmente
em livros ou filmes de terror ou fantasia. Geralmente são apresentados como
cadáveres reanimados, sem inteligência e
com fome de carne humana e, particularmente, nalgumas versões, por cérebros
humanos. Apesar de partilharem o nome e algumas semelhanças com os “Zombies” do
Voodoo haitiano, a sua ligação a estas práticas é desconhecida. Muitos
consideram o realizador norte-americano George A. Romero e “Night of the Living
Dead – A Noite dos Mortos-Vivos”, o seu
filme de estreia, como sendo o progenitor destas criaturas.
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George A.Romero |
Com um orçamento inicial de 6.000 dólares
(cada membro da produtora investiu uma parte que iria receber com as receitas),
verificou-se que era insuficiente para prosseguir com o projecto. Eventualmente
a “Image Ten” iria pedir uma contribuição extra aos seus funcionários e
acabariam por conseguir cerca de 114.000 dólares, o suficiente para orçamentar
o filme.
Inicialmente era para ser uma comédia de horror, co-escrita por John Russo e George Romero e intitulada “ Monster Flick”, dizia respeito ás aventuras de um grupo de jovens extraterrestres que visitavam a terra e tornavam-se amigos de jovens humanos. Uma segunda versão do argumento contava a história de um jovem que fugia de casa e descobria, num prado, restos de corpos humanos a apodrecer que tinham servido de alimento a extraterrestres. A versão final, maioritariamente escrita por Romero em três dias em 1967, focava-se em cadáveres humanos que regressavam á vida e se alimentavam de carne humana. Posteriormente, Romero explicou que a história se dividia em três partes, cuja parte um se intitulava “Night of The Living Dead”, as outras partes seriam continuações (o termo sequela ainda não se usava no final da década de 60) que seriam filmadas mais tarde.
A história começa quando os irmãos Bárbara e Johnny vão ao interior da Pennsylvannia a um cemitério visitar a campa de seu pai. Lá, são atacados por um homem estranho. Quando tentam escapar, Johnny, acidentalmente, escorrega e bate com a cabeça numa lápide e morre. Bárbara consegue escapar ao seu perseguidor e, em pânico, refugia-se numa quinta habitada, mas aparentemente deserta. A ela junta-se Ben, um negro que chega num carro e a salva de ser atacada no exterior da casa. Os dois refugiam-se no interior enquanto tentam perceber o que se está a passar já que os mortos parecem ter voltado á vida.
Estreado em Outubro de 1968, “A Noite
dos Mortos-Vivos” foi um sucesso enorme, fez 12 milhões de dólares nos Estados
Unidos e 18 milhões de dólares internacionalmente . Talvez pela originalidade
da história, passada num tempo indeterminado, atraiu um público, constituído
maioritariamente por jovens e adolescentes, cioso de coisas novas e diferentes.
Duramente criticado, aquando da sua estreia, pelo conteúdo explícito, mas acabou por ser aclamado pelos críticos que louvaram a ousadia do realizador ao quebrar as regras do género ao provocar, mesmo na última cena do filme, a morte do protagonista que é confundido com um zombie.
Duramente criticado, aquando da sua estreia, pelo conteúdo explícito, mas acabou por ser aclamado pelos críticos que louvaram a ousadia do realizador ao quebrar as regras do género ao provocar, mesmo na última cena do filme, a morte do protagonista que é confundido com um zombie.

Romero sempre disse que nenhum dos filmes
de zombies que realizou depois de “A Noite dos Mortos-vivos” se deve considerar
como sendo continuações directas ou sequelas, já que nenhuma das principais
personagens ou qualquer das histórias, continua de um filme para outro e a sua
única continuação é a epidemia dos mortos-vivos. Esta situação avança em cada
filme, mas com diferentes personagens, o tempo também avança mas sempre á
frente da altura em que foram filmados, fazendo do progresso do mundo o único
aspecto associado a todos os filmes.
Partindo do cenário possível de que os
Estados Unidos (e possivelmente todo o mundo), foram devastados pelo fenómeno
que reanima os mortos tornando-os ávidos de carne humana. Apesar dos esforços,
tanto das forças militares como das autoridades civis para controlar a situação,
a sociedade efectivamente colapsou e os sobreviventes procuram refúgio. É este
o ponto de partida para “Zombie – Dawn of the Dead – Zombie – A Maldição dos
Mortos-Vivos” vemos, em grande escala, aquilo que Romero e John Russo
delinearam em “A Noite dos Mortos-Vivos”. O que parecia ser uma situação isolada
naquele filme, torna-se numa pandemia de proporções apocalípticas, orquestrada
pela mão de George A. Romero (que escreveu o argumento), que atinge toda a
sociedade causando histeria em massa.
Stephen e a sua namorada, Francine, juntamente com Peter e Roger dois atiradores especiais da polícia, planeiam fugir de Filadélfia num helicóptero que é propriedade duma estação televisiva da cidade e refugiar-se num centro comercial onde julgam ficar a salvo, não só dos Mortos-Vivos, como também de outros perigos.
Logo no início do filme, quando se vê
um estúdio de televisão onde reina a confusão e se discute se a emissão deve ou
não continuar já que são a única estação televisiva ainda a emitir. Percebemos,
pela discussão entre os técnicos presentes e o realizador da emissão
(interpretado por George Romero), que a pandemia vai na terceira semana sem fim
á vista, percebe-se que Romero estava com muito mais á vontade para filmar e
mostrar o efeito duma pandemia de Mortos-Vivos na sociedade e o caos que dai
advém. Romero mostra-nos também em várias outras cenas igualmente memoráveis,
que as comunidade rurais e os militares têm sido efectivas na luta contra os
Mortos-Vivos, mas diz-nos também que as cidades estão infestadas e indefesas e não
existe nenhum local em que se esteja seguro (as emissões de rádio e televisão
que surgem já quando eles estão instalados no centro comercial sobre a pandemia
e o que se deve fazer; ou as cenas nos campos
onde se vêem as milícias civis organizadas, a matar Zombies atrás de
Zombies com direito a bebida e comida, como se duma festa se tratasse, são
disso exemplo).

O realizador e o seu produtor, Richard
P. Rubinstein, não conseguiram arranjar nenhum investidor disposto a arriscar o
seu dinheiro neste novo projecto (na altura “O Exorcista” de William Friedkin
era o filme-choque que arrasara nas bilheteiras desde a sua estreia em 1973).
Por sorte, Dario Argento, ouviu falar desta continuação. Ele, como mestre
italiano do filme de terror e fân, de “A Noite dos Mortos-Vivos”, mostrou-se
interessado em que este clássico do horror tivesse direito á sua continuação.
Os três encontraram-se e, em troca dos direitos internacionais de distribuição,
ficava assegurado o financiamento. Satisfeito, Romero aceitou a ajuda de
Argento no desenvolvimento da história e conseguiu que Mark Mason lhe
emprestasse o Monroeville Mall para filmar as sequências que se passam no
centro. A rodagem decorreu entre novembro de 1977 e fevereiro de 1978.
Com três quartos da acção passada dentro do centro comercial, o filme poderia tornar-se aborrecido e monótono. Mas Romero soube trabalhar o seu cenário e aproveitou todas as suas possibilidades, utilizando todos os ângulos possíveis durante a rodagem, o realizador permitiu-se utilizar todos os truques durante a montagem, escolhendo os melhores “takes” para o espectador se deliciar, simplesmente mudando, estendendo ou adequando as cenas (um dos grandes momentos do filme é precisamente quando Fran, ao olhar os cadáveres dos mortos-vivos pergunta “quem são eles?” Peter responde “somos nós...é tudo!...quando já não houver lugar no inferno...”, Fran diz ”O quê?” e Peter novamente “É algo que a minha avó costumava dizer(...) quando já não houvesse lugar no inferno, os mortos andariam pela terra”). Também no final do filme, tal como em “Noite dos Mortos-Vivos”, Romero quebra as regras ao pôr Fran e Peter, a fugir no helicóptero e, enquanto sobrevoam a superfície infestada de mortos-vivos, Fran pergunta o que irão fazer? E Peter responde que “iremos até onde for possível!”.
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Tom Savini, o mago da caracterização |
O filmes estreou em 1979 e, graças a
uma campanha bem orquestrada tanto nos Estados Unidos, como no resto do mundo,
rendeu 40.000.000 de dólares
e internacionalmente fez 55.000.000 de dólares, tornando-o no filme mais
rentável da série.

Internacionalmente, Argento controlou a
versão que estreou na europa e no resto do mundo. A versão internacional do
filme tinha 119 minutos de duração e
incluía alterações em que as cenas mais fortes haviam sido retiradas,
outras tinham sido remontadas de modo a dar mais ritmo á acção e tinha mais
música de “Goblin”, o grupo italiano responsável pela banda sonora, descoberto
por Dario Argento no inicio da década de 70 e que passou a ser o autor da maior
parte das bandas sonoras do realizador italiano, o qual, ocasionalmente, toca
na banda.
“A Maldição dos Mortos-Vivos” é hoje
considerado um clássico e selecionado como um dos 500 melhores filmes de sempre
pela revista Empire.
Em 2004, o realizador Zack Snyder
estreou-se no cinema com o “remake do filme intitulado “Dawn of the Dead – O
Renascer dos Mortos-Vivos”, obtendo enorme sucesso.
George A.Romero voltaria ao tema
somente na década de 80.
Originalmente, George A.Romero pretendia que o final da sua “Trilogia dos Mortos”, como lhe chamou o realizador numa entrevista em 1997, fosse uma espécie de “E Tudo o Vento Levou” dos filmes de zombies. No seguimento de diversas disputas financeiras e a necessidade de estrear o filme sem cortes, o orçamento aprovado foi cortado para metade, passando de 7.000.000 de dólares para uns escandalosos 3.500.000 dólares, obrigando o realizador (novamente argumentista) a reescrever o argumento de modo a poder manter a sua visão ajustada ao tamanho do orçamento.
Algum tempo depois dos acontecimentos
de “A Maldição dos Mortos-Vivos”, os zombies dominam o mundo. O que resta do
governo e dos militares escondem em enclaves fortificados e, numa tentativa de
encontrar sobreviventes e uma solução para a pandemia zombie. Alguns sobreviventes
chegam a Forte Myers, na Flórida, são atacados por uma horda zombie e conseguem
refugiar-se num desses enclaves subterrâneo onde um grupo de cientistas,
guardado por militares, tenta parar ou inverter o processo zombie e acreditam
que estes podem ser treinados para serem obedientes.
Logo no inicio do filme, quando vemos o helicóptero com os seus ocupantes a sobrevoar a cidade deserta e abandonada, ficamos com a ideia que este filme será uma continuação directa do anterior, mas logo a seguir, na cena em que chegam ao seu refúgio, percebemos que não é bem assim e que este é mais um exemplo do que os sobreviventes da raça humana podem fazer.

É também o filme mais claustrofóbico da série já que todo ele se passa debaixo da terra e poucas são as cenas passadas ao ar livre, mas é também o que termina, sem perder o tom pessimista, com um sinal positivo de esperança, demonstrado pela cena final em que os sobreviventes se encontram algures numa ilha, aparentemente livres de perigo.
Recebido com alguma indiferença quando
estreou, considerado por muitos críticos como sendo pouco interessante, demasiado depressivo e
lento, o filme, apesar de ser considerado o mais fraco da trilogia, e do
relativo fracasso nas bilheteiras, ainda conseguiu render cerca 5.800.000
dólares nos Estados Unidos e cerca de
28.200.000 dólares internacionalmente.
Talvez por não ter podido mostrar a sua
visão original neste filme, ou querer demarcar-se da proliferação de imitações
e pretensas sequelas que surgiram nas décadas seguintes, ou talvez por querer
explorar outros géneros, George A. Romero apenas voltaria aos filmes de zombies
20 anos depois.
(continua)
Nota: As imagens e vídeo que ilustram o texto foram retiradas da Internet
Nota: As imagens e vídeo que ilustram o texto foram retiradas da Internet
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