Numa altura em que os media, cada vez mais
assumem um papel importante na sociedade, a edição/reposição deste filme vem
preencher uma lacuna que existia desde que surgiram em Portugal as televisões
privadas na década de 90 do século passado. "Network - Escândalo na
TV", embora tenha sido realizado em 1976, já antevia o que estava para
chegar.
Howard Beale um dos mais famosos
apresentadores de televisão, é informado pelo director da sua estação de que o
seu programa, devido aos baixos shares que têm obtido, vai ser suspenso e ele
vai ser despedido. Beale anuncia então no seu programa que pretende suicidar-se
em directo. Num curto espaço de tempo, assume um protagonismo nunca visto em
televisão e torna-se num dos mais sólidos valores da comunicação graças aos
seus discursos inflamados, onde pretende dizer toda a verdade ao público. Quando
a sua ira se vira contra a organização por detrás da televisão, torna-se
incómodo e alguma coisa terá que ser
feita.
Realizado por Sidney Lumet, autor de algumas pequenas
obras-primas do cinema como "12 Homens em Fúria" (1957), ainda hoje
talvez o melhor filme de tribunal da história do cinema; "Serpico"
(1973) baseado numa história verídica de corrupção na policia de Nova York;
"Um Dia de Cão" (1975) história do assalto a um banco em pleno dia
que corre mal mas ganha os favores do público, ou "Um Crime no Expresso do
Oriente" (1974), uma das melhores adaptações de Agatha Christie para o
grande écran, não esquecendo “O Veredicto” (1982) onde um caso de neglicência
médica é a chance de um advogado salvar a sua carreira e recuperar o seu bem-estar.
"Network" é, a todos os níveis, um trabalho de excelência do
realizador. Tendo começado na televisão, Lumet conhecia melhor que ninguém este
meio daí que a sua realização seja feita em
estilo televisivo (quase sempre em médios e grandes planos), sendo arrojada, satírica, e, aliada ao brilhante
argumento escrito por Paddy Chayefsky cuja capacidade de antever o que seria o
futuro, subtilmente mostra-nos aquilo que hoje vemos: televisões que não olham
a meios para atingir os seus fins.
Interpretado por um elenco todo ele
excepcional, todo ele nomeado para os prémios da Academia, liderado por Faye
Dunaway, William Holden, Peter Finch, Robert Duvall , apenas três dos actores
tenham sido premiados (a única vez que tal havia acontecido tinha sido com
"Um Eléctrico chamado Desejo" de Elia Kazan em 1951), todos eles
mereciam o seu prémio. Peter Finch, falecido pouco antes da cerimónia dos Oscares,
ganhou postumamente o Óscar de Melhor
Actor (o mesmo aconteceria em 2008 com Heath Ledger pelo papel de Joker em
"Batman - Cavaleiro das Trevas" de Christopher Nolan).
A sua
interpretação de Howard Beale, um apresentador que entra em depressão ao saber
o seu destino, mas que uma voz, ouvida durante a noite, o transforma numa
espécie de Moisés moderno cujo discurso agressivo e inflamado, disparando em
todas as direcções (o famoso discurso em
que exulta a multidão a ir ás janelas e sair para a rua gritando "I'm as mad
as hell and i'm not gonna take this anymore!" mantenho o original porque o impacto que a cena provoca, quem vir o filme, vai entender o que quero
dizer, é tal que ainda hoje arrepia) é uma interpretação muito acima da média e faz-nos
ficar com os olhos postos naquela figura quase messiânica.

Parte da inspiração de Paddy Chayefsky para a elaboração do
argumento veio dum incidente ocorrido dois anos antes, a 15
de julho de 1974, em Sarasota, na Flórida. Christine Chubbuck, uma repórter de
televisão , que sofria de depressão, devido aos confrontos que tinha
constantemente com os seus editores, incapaz de continuar o seu programa,
suicidou-se com um tiro diante dos seus espectadores. Chayefski diria mais tarde numa entrevista “A televisão
faz qualquer coisa para obter um bom “share”…qualquer coisa!” e, mal sabia ele
que, anos depois, lhe estaríamos a dar razão!
"Network"
foi, na altura, considerado uma brilhante crítica social bastante actualizada.
Hoje, passados estes anos todos, continua tão actual como então. A cena em que
o presidente da CCA, Arthur Jensen ( Ned Beatty numa das suas melhores
interpretações), explica a sua própria
“Cosmologia Corporativa” numa sala de reuniões propositadamente escurecida,
pedindo-lhe que abandone as suas mensagem populistas e pregue um novo Evangelho, a um atento e
dócil Beale sugerindo-lhe que Jensen pode ser um alto Poder, é das cenas mais convincentes que
se alguma vez se viu. O discurso de Beale aos seus ouvintes, ainda nos ressoa
ao ouvido muito depois dos créditos finais terem passado no écran ou aquela
morte em directo, perante uma audiência, diz-nos tanto como a "morte
simbólica" dos media no final de "Natural Born Killers - Assassinos
Natos" (Oliver Stone, 1994) quando Wayne Gale (Robert Downey Jr.) é
fuzilado por Mickey e Mallory (Woody Harrelson e Juliette Lewis) perante a sua
própria camera de filmar.
Nomeado para dez Oscares da Academia, venceu quatro:
três para as interpretações, além de Finch, também Faye Dunaway e Beatrice
Straight (os seus cinco minutos e quarenta segundos de tempo de écran, tornaram-na
na interpretação mais curta, até hoje, a ganhar um Oscar) , ganharam nas respectivas categorias e para o
Argumento de Paddy Chayefski, "Network", tinha tudo para ser o grande
vencedor da cerimónia de 1976, no entanto perdeu as duas categorias principais
para..."Rocky"! vá-se lá saber porquê!!

Um filme quase profético, uma obra-prima do
cinema a descobrir, a ver ou a rever!
Nota: As imagens e vídeo que ilustram o texto foram retirados da Internet
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