Em termos musicais, um "Álbum Conceptual" ou "Concept Album" como é vulgarmente conhecido, é um album cujo conceito base gira em torno de um tema que pode ser instrumental, uma composição popular, narrativo ou lírico. habitualmente, "Concept Albums" incluem ideias musicais ou líricas preconcebidas em vez de serem compostos ou improvisados em estúdio, com a totalidade das canções a contribuirem para um único tema ou para a unidade duma história, contrastando com a prática comum de um artista ou grupo editar um album consistindo unicamente numa série de temas sem qualquer ligação.
Embora muito conotado com os grupos de Rock Progressivo ou Sinfónico do meio da década de 60 para frente, este género de albuns começou mais cedo, por volta de 1961 com um album dos "Ventures" intitulado "Colorful Ventures" em que cada tema correspondia a uma cor. Durante a década de 60, este grupo ficou conhecido por lançar discos cujas faixas giravam à volta de temas centrais como Música Country, Ficção Científica, Televisão e Música Psicadélica...o sucesso não foi grande porque o público ainda não estava preparado para este tipo de albums.
Em 1966 as coisas começaram a mudar, na medida em que alguns grupos de renome lançaram albuns alegadamente temáticos, a começar pelos Beach Boys com "Pet Sounds" que nada mais era do que um retrato musical do estado em que Brian Wilson se encontrava na altura, apesar do grupo dizer que não se tratava duma narrativa, havia um tema a unificar todo o disco e obteve um grande sucesso. No mesmo ano, "Freak Out" de Frank Zappa & The Mothers of Invention falava sardonicamente da música rock e da América como um todo e "Face to Face" dos The Kinks apresentava uma primeira série de estudos de Ray Davies sobre as pessoas vulgares.
1967 viu nascer o primeiro Concept Album e o termo ganhou alguma projecção entre a crítica e o público, "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos Beatles conta a história de um ex-líder duma banda do exército e o seu envelhecimento. Embora Lennon e McCartney se distanciem do termo concept album aplicado a este trabalho, este pegou e inspirou outros artistas a trabalhar nesse sentido. No mesmo ano "Days of Future Passed" dos Moody Blues, conta a história de um dia na vida de um homem normal e utiliza uma orquestra conjugada com o grupo. "The Who Sell Out" dos The Who relata a história de uma emissão numa rádio-pirata. Contidos no disco estão piadas comerciais gravadas pelo grupo e jingles utilizados por verdadeiras rádios-piratas, misturados com canções que vão desde o pop ao hard rock e rock psicadélico que por esta altura, graças aos Pink Floyd, estava a ganhar algum espaço na cena musical.
Em 1969 é editado "Tommy" pelos The Who, esta ópera rock, composta por Pete Townshend era apresentada em dois discos (algo pouco habitual nesta época)e conta a história dum jovem cego, surdo e mudo que se torna numa espécie de líder messiânico dum movimento rock, foi também o primeiro concept album a apresentar uma história contínua e a obter enorme sucesso quer critíco, quer junto do público. em 1973 os mesmos The Who apresentariam uma outra ópera rock, "Quadrophenia", baseada nos confrontos ocorridos em Inglaterra nos anos 60 entre jovens "Mods" e "Rockers" e nas divergências existentes entre eles. Obteriam ainda mais sucesso. Ainda no final da década de 60, os Kinks editam "Arthur, Or the Decline and Fall of the British Empire" de 1969, e uma série de outros trabalhos considerados concept albuns que culminam em 1976 com "Schoolboys in Disgrace".
Na década de 70, concept albuns estão na ordem do dia graças ao Rock Progressivo que se expandira práticamente pelo mundo inteiro. Logo em 1970 os Aphrodite Child's de Demis Roussos e Vangelis editam o duplo álbum "666" (The Apocalypse of John), baseado no Livro Bíblico do Apocalipse e obtêm um enorme sucesso. Os Pink Floyd, na sua melhor fase, depois dum inicio de carreira psicadélico lançam, em 1973, "Dark Side of the Moon", a sua obra-prima (ainda hoje considerado o terceiro melhor álbum das história do rock) e uma série de outras que só termina nesse objecto de culto musical chamado "The Wall" (1979); os Yes, entre vários concept álbuns que editam durante a década, está "Tales from Topographic Oceans" (1973), um álbum ambicioso, com quatro temas onde, por ordem de faixa, revelam conceitos sobre Verdade, Conhecimento, Cultura e Liberdade. Ainda antes de ser lançado, o álbum já era disco de ouro só pela quantidade de encomendas.
Os Genesis, referência obrigatória dos anos 70, lançam em 1974 "The Lamb Lies down on Broadway", onde contam a história de Rael, um Punk de rua. Passado numa Nova York surreal, quase um álbum experimental e cujas apresentações ao vivo eram do mais teatral que alguma vez se vira na cena musical (tão ao gosto de Peter Gabriel, vocalista do grupo), foi o maior sucesso da carreira do grupo e a sua obra-prima. Também David Bowie, camaleão do rock, se deixou encantar por este tipo de trabalhos e durante a década, edita três concept albuns que são os seus maiores sucessos "Aladdin Sane", "Diamond Dogs" "The Rise and Fall of Ziggy Stardustand the Spiders from Mars", sendo este acerca duma personagem ficticia, Ziggy Stardust e a sua banda.
Na segunda metade da década, Rick Wakeman, teclista dos Yes lança dois concept albuns que indiciam uma nova orientação na música, "Journey to the Center of the Earth" (1974), baseado no famoso livro de Julio Verne e "The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Round Table"(1975), que, como o título indica , fala do Rei Arthur e é baseado na obra de Thomas Mallory "La Morte d'Arthur".
Também Alan Parsons, um engenheiro de som britãnico, que com o seu Alan Parsons Project e desde o seu primeiro álbum "Tales of Mystery and Imagination - Edgar Alan Poe" de 1976, inspirado pelos contos mais famosos do escritor americano, se especializou inteiramente em concept albums.
Na década de 80, o rock progressivo perde importância e os concept albums consequentemente também, embora ainda subsistam alguns grupos apostados em lançar trabalhos desses. Salientam-se os americanos Styx que em 1981 ganham uma série de discos de platina com o álbum "Paradise Theater" onde contam a história de um teatro decadente em Chicago e que muitos viram como uma metáfora da infãncia e da cultura americana, assim como com "Kilroy was Here" de 1983 onde ensaiam uma espécie de ópera rock futurista onde uma sociedade moralista prende os rockers.
As bandas de heavy metal começam a ganhar terreno nesta década e algumas chegam mesmo a editar concept albuns como Iron Maiden que, ao longo da década vão conhecer o sucesso mundial com diversos trabalhos, mas somente com "Seventh Son of the Seventh Son" (1988) é que editam o seu concept album, baseado nos mitos e folclore do Sétimo filho de um Sétimo filho com poderes Místicos. Já em 1985 "Phenomena", um supergrupo de músicos oriundos de diversas áreas, anuncia o regresso dos concept álbuns com um toque de rock pesado. Os três álbuns editados lidam com o sobrenatural e com o inexplicável.
Na década de 90 e inicio do século XXI, apesar do advento da música alternativa, alguns artistas ainda fazem concept albuns. O Anticristo do rock, Marilyn Manson edita três trabalhos em forma de rock ópera "Antichrist Superstar" (1996), "Mechanical Animals" (1998) e "Holy Wood" (2000) que, no entender do artista, formam uma trilogia em forma de concept album e fazem parte duma história mais abrangente.
Em 1999 os Dream Theater com o álbum "Metropolis Pt.2: Scenes from a Memory", tentam reavivar "o concept Story album". Este álbum é a continuação de um tema que o grupo lançou no primeiro álbum em 1992 intitulado "Images and Words", o tema, "Metropolis Pt.1: The Miracle and the Sleeper", introduzia a história e, apesar de outras partes desta história surgiram no mesmo trabalho, o grupo só resolveu contar a história toda num álbum só, quando obtiveram o controle absoluto no seu trabalho. "Metropolis Pt.2: Scenes from a Memory", é construído em torno dos conceitos musicais apresentados na parte 1 e está considerado como uma das obras-primas do grupo.
Em 2004 o grupo punk pop Green Day edita o multi-premiado "American Idiot" um concept album e que é seguido em 2009 por outro concept "21st Century Breakdown".
Em 2010 "American Idiot" torna-se na primeira ópera rock punk a chegar à Broadway. Recebe dois Tony's (Óscares do Teatro).
Enquanto houver interessados no formato e nas potencialidades que esta variante musical oferece, haverá sempre um concept album presente na discografia de cada artista, assim como público para o ouvir e julgar.
Nota: todas as imagens utilizadas neste texto foram retiradas da Internet
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