JEAN DE FLORETTE – UM DRAMA RURAL
Escrever sobre cinema francês é quase como ir aos primórdios do cinema e contar toda a sua história sem nos esquecermos de que muito do que se faz por esse mundo fora tem inspiração directa no velho continente. A “Nouvelle Vague” francesa que se fez sentir no início dos anos 60, liderada por nomes como Jean-Luc Godard e François Truffaut, foi o início duma revolução que iria marcar não só o cinema francês como toda a cinematografia europeia.
Ugolin Soubeyran, recentemente desmobilizado do serviço militar, regressa á sua aldeia, na Provença, em França, onde é recebido pelo seu tio, César “Le Papet”( que, no dialecto local se traduz por avô). Ugolin quer dedicar-se á plantação de cravos na sua propriedade nas montanhas. Céptico, a principio acerca desta ideia, César acaba por entender que o negócio até pode ser rentável desde que haja boa terra e àgua para a plantação. Ambos vão então ter com o vizinho de César, Pique Bouffigue para tentar comprar a sua terra que, apesar de aparentar ser muito seca, César sabe de uma nascente escondida que pode resolver o problema. O negócio corre mal e Pique Bouffigue acaba por ser morto. Ugolin e César, tapam a nascente e preparam-se para adquirir os terrenos pois não é conhecido nenhum familiar de Bouffique. Mas a surpresa é enorme quando se sabe que os terrenos são afinal pertença de um sobrinho de Bouffique (filho de sua irmã, Florette, entretanto falecida), chamado Jean Cadoret que, de acordo com o costume local, será conhecido como “Jean de Florette”, que é colector de impostos e corcunda, que chega passados alguns dias na companhia da esposa, Aimée e da filha, Manon, para tomar conta dos terrenos, criar coelhos e cultivar produtos para se alimentar a si e á sua família, sem saber, no entanto, os problemas que o esperam.
Imagem do filme de Marcel Pagnol (1952) |
Em 1952, Marcel Pagnol, escritor francês de contos, novelas, romances e peças de teatro, também realizador de cinema, adaptou o seu conto “Manon des Sources” para cinema e transformou-o num filme de quatro horas de duração. Demasiado longo para o conto em si, foi subsequentemente cortado pelo seu distribuidor para uma versão mais aceitável . Insatisfeito com o resultado final, mas sem nada poder fazer, Pagnol decidiu reescrever o conto e transformá-lo numa novela, dividida em duas partes: na primeira parte, intitulada “Jean de Florette”, explorava os ambientes retratados no filme, uma espécie de “prequela” (ainda não se usava a expressão) de género; a segunda, mantinha o título do conto “Manon des Sources” e narrava a história contada no filme. Os dois volumes formam a série que Marcel Pagnol chamou “L’Eau des Collines”.
Claude Berri, quando leu os romances, sentiu-se logo cativado pela história e quis adaptá-los para o cinema, mas, de modo a fazer-lhes justiça, o filme teria que ter duas partes, ou seja dois filmes. Da mesma maneira que o épico de quase cinco horas, “Novecento – 1900” (Bernardo Bertolucci, 1976) foi rodado todo de uma só vez, mas teve estreias diferentes (1900 – 1ªParte e 1900- 2ªParte), também “Jean de Florette” e “Manon des Sources” seriam rodados ao mesmo tempo, mas teriam estreias espaçadas ( três meses em frança e quatro meses nos estados Unidos) entre si.
Com Luz verde por parte dos produtores e a distribuidora e, Claude Berri, que de actor secundário no cinema francês, passou a produtor de renome internacional em filmes como “Tess - Tess” (Roman Polanski, 1979), ou “The Bear – O Urso” (Jean-Jacques Annaud, 1988) antes de se tornar um realizador em filmes como “le Maítre d’École – O Mestre da Escola (1981); “Tchau Pantin” (1983) ou “Germinal – Germinal”(1993), pôde durante sete meses (entre maio e dezembro de 1985) rodar aquele que foi, até á altura, o filme mais caro de sempre, que viria a ser um grande sucesso nacional e internacional.
O realizador, Claude Berri |
Tanto em frança como intrnionalmente, “Jean de Florette” foi um enorme sucesso de bilheteira e abriu caminho para a época dos prémios, apesar desta em frança ter gerado grande expectativa com a nomeação do filme para oito “Césares” (Oscares franceses), incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador, acabou por ser recompensado com apenas um, o de Melhor Actor para Daniel Auteuil. Já nos prémios da Academia Britânica, os BAFTA (“British Academy of Film and Television Arts”), o filme portou-se melhor: recebeu dez nomeações, incluindo, claro, Melhor Filme e Melhor Realização e ganhou quatro, incluindo O Melhor Filme, além de outros prémios e menções honrosas em outros festivais..
Tecnicamente, o filme não poderia ser melhor, do ponto de vista cénico, a fotografia de Bruno Nuytten (anos mais tarde, tornar-se-ia realizador) é quase perfeita na maneira como capta a beleza da paisagem da Provença e nas dificuldades diárias que a sua população enfrenta e também ficámos com a sensação de que, apesar da inveja e da ganância serem muito pacientes e que podem levar anos até que se cumpram os objectivos, uma vingança, também pode levar anos a ser cumprida e é disso que se ocupa o segundo filme deste díptico, “Manon des Sources – Manon das Nascentes”.
(CONTINUA)
Nota do autor: As imagens e vídeo que ilustram o texto foram retirados da Internet.
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