- A Diversificação Temática (1980 –
2010)
O início da
década de 80 viu o terror reforçar-se com uma nova vaga de filmes que lembravam
vagamente os “série B, mas com mais “gore” á mistura e
que, apesar de maltratados pela crítica,
vieram a tornar-se filmes de culto. Desde logo, Lucio Fulci, realizador
italiano, considerado o mestre do cinema “gore” com “City of the Living Dead –
Os Mistérios da Cidade Maldita” (1980), onde um jornalista e uma psiquiatra têm
de fechar as portas do inferno, abertas pelo suicídio de um padre e impedir que
os mortos se ergam dos túmulos; e “Zombi 2 – A Invasão dos Mortos-Vivos” (1979),
uma espécie de remake europeu do clássico de Romero,
em que a filha de um médico vai procurar o pai
ás Antilhas depois do seu barco chegar ao porto de Nova York
apenas com um morto-vivo a bordo; são dois
exemplos do mais puro cinema “gore” que captaram positivamente a atenção do
público, principalmente os jovens, sempre sedentos destas coisas.
Também em
1980, John Carpenter com “The Fog – O Nevoeiro” continua a ter o dom de saber
contar uma história sem recorrer a grandes meios, neste caso uma história de
fantasmas que regressam no dia do aniversário da cidade de Santo António, na Califórnia,
para recuperar o ouro que lhes foi roubado e matar os descendentes dos seis
conspiradores que,
cem anos antes, os
conduziram á morte.
Inspirado no
“Halloween” de Carpenter, Sean S. Cunningham realiza “Friday the 13th –
Sexta-Feira 13” (1980) em que um grupo de jovens vai para Lake Crystal, um
campo de férias recentemente reaberto, depois de estar muito tempo fechado
devido á morte de um adolescente, onde vão sendo assassinados um a um por um
desconhecido. Pautado por mortes para todos os gostos e feitios e um final
inesperado, o filme foi um sucesso e deu início á mais longa série de filmes de
terror em anos recentes. Lamentavelmente, o primeiro é o único que realmente
interessa.
Ainda em
1980, Stanley Kubrick adapta o livro de Stephen King, “Shining”,
transformando-o numa das obras mais claustrofóbicas de que há memória. A
história da família Torrance que vai tomar conta dum hotel durante o inverno onde
espíritos malignos levam o pai a ter um comportamento violento enquanto o
filho, que tem poderes psíquicos, vê acontecimentos horríveis, do passado e do
futuro, tinha tudo para vencer e convencer o público.
Apesar de tecnicamente brilhante e genialmente
interpretado por Jack Nicholson, o filme não foi um grande sucesso, não
convenceu o público (ou este não o compreendeu), talvez influenciado pela
campanha que o autor do livro fez contra o filme por não o achar fiel ao livro,
mas eventualmente acabou por se tornar um clássico.
Ainda ligado
á onda de filmes “gore” que tomaram de assalto a década de 80, “Evil Dead – A
Noite dos Mortos-Vivos” (1981), a história de cinco amigos que vão até uma
cabana na floresta onde descobrem um livro que, sem se aperceberem, vai
libertar demónios que se vão apossar dos visitantes. Este filme é um verdadeiro
festival sangrento mas a originalidade do argumento, levou a que fosse louvado
pela crítica.
Em 1982 John
Carpenter, ainda nas boas graças da crítica, realiza “The Thing – Veio de Outro
Mundo” que, não só é um bom exemplo de terror na sua vertente científica, como
também é um remake de “The Thing from Another World – A Ameaça”, realizado na
década de 50 por Christian Nyby e produzido pelo grande ídolo de Carpenter,
Howard Hawks. Apesar de não ter sido um grande sucesso, o filme acabou por ser
considerado um filme de culto pelos seus efeitos especiais algo avançados para
a época,
pelo ambiente de paranoia que
se vive em todo o filme e também o toque magistral do realizador no final do
filme contribuiu para esse efeito. Ainda dentro do género científico, “The Fly
– A Mosca” (David Cronenberg, 1986), remake do clássico de 1958, realizado por
Kurt Neumann, actualiza a história do cientista louco que se começa a
transformar num homem-mosca depois de uma das suas experiências correr mal, é
principalmente lembrado pela horrível transformação/mutação
que
vai sofrendo ao longo do filme, graças á
caracterização, vencedora de um Oscar da Academia.
Em 1984, Wes
Craven realiza “A Nightmare on Elm Street – O Pesadelo em Elm Street”, através
de Freddy Krueger, um adolescente que foi vitima de várias famílias de Elm
Street
que se vinga, povoando e matando
adolescentes através dos seus sonhos. O filme foi um grande sucesso de
bilheteira e deu inicio a uma outra série de filmes de terror
que fizeram de Freddy, tal como Jason (de
Sexta-Feira, 13) , as maiores vedetas de terror da década de 80.
A primeira
metade da década de 90, com algumas raras excepções, continuou muitas das
temática iniciadas na década anterior. As sequelas de algumas séries iniciadas na
década de 80, obtiveram algum sucesso e receberam opiniões, positivas e
negativas, de uma grande variedade de críticos.

De repente,
em 1991, o género assume definitivamente o seu lugar na sétima arte. “Silence
of the Lambs – O Silêncio dos Inocentes”, realizado por Jonathan Demme e
interpretado por “Sir” Anthony Hopkins e Jodie Foster, onde se conta a história
de Clarice Starling, uma estagiária do FBI a quem é entregue o caso de “Buffalo
Bill”, um “Serial Killer” que rapta e mata adolescentes femininas para lhes
roubar a pele. Na sua investigação, Clarice irá cruzar-se com “Hannibal “The
Canibal” Lecter, um médico e perigoso “serial killer” que tinha por hábito
comer as suas vítimas. Entre os dois irá estabelecer-se uma relação quase
paternal, uma espécie de jogo de gato e rato, que tanto tem de revelador como
de perigoso. Aquilo que aparentemente parecia ser mais um filme de terror,
acabou por se tornar no filme de terror mais importante da década de 90. Para
esse estatuto contribuiu a vitória quase total na cerimónia dos Oscares. Das sete
nomeações que tinha, o filme venceu cinco e logo nas categorias principais:
filme, realizador, actor, actriz e argumento, tornando-se apenas no terceiro
filme em toda a história da sétima arte a ser unicamente premiado com as cinco
categorias principais.

Alguns
filmes de terror da década, tais como “Freddy Krueger’s New Nightmare – O Novo
Pesadelo de Freddy Krueger” (Wes Craven, 1994), “The Dark Half – A Face Oculta”
(George A. Romero, 1993), ou “In The Mouth of Madness – A Bíblia de Satanás”
(John Carpenter, 1994), fizeram parte de uma mini-movimento que tratava de
aspectos reflectivos ou metaficcionais, ou seja, a acção passava-se entre uma
realidade, tal como a vemos no filme e uma ficção criada a partir dessa mesma realidade,
uma espécie de mundo ficcional de terror. Este estilo reflectivo iria tornar-se
mais aberto e irónico com “Scream – Gritos” (Wes Craven, 1996).
Mas o final
da década, não seria de feição para o género. Dois problemas estiveram na
origem da perda de importância do terror: primeiro, as audiências que, na
década anterior, absorviam tudo o que se produzia em termos de filme de terror,
principalmente o produto que lhes transmitia valentes sustos e era recheado de
muito “Gore”, cresceram e necessitavam de procurar outros motivos de interesse;
segundo, a substituição deste tipo de filmes por outros muito mais
imaginativos, apoiados por uma enorme parafernália de efeitos especiais,
principalmente no que toca a imagens geradas por computador, facilitou a rápida
ascensão, em detrimento do terror, de
filmes de ficção científica e de fantasia.

Para se
realinhar com a tendência da sétima arte, o terror teve que se recriar,
servindo-se de algum humor, autoparodiando-se, por vezes chegando a
ridicularizar-se para obter o efeito mais cómico, como por exemplo fez Peter
Jackson em “Braindead – Morte Cerebral” (1992) ou Wes Craven em “Gritos 2 e 3”,
fazendo uma menor utilização de humor e referências a filmes de
terror do que fizera no primeiro filme.
O amanhecer
do século XXI, foi calmo para o género. O sucesso mundial de “Matrix” (Andy
& Larry Wachowski, 1999) e suas
sequelas, tinham trazido a ficção científica para um plano elevado em relação
ao resto dos géneros. A história de
Thomas Anderson, programador de computadores, que descobre que o seu outro
“eu”, conhecido no mundo da informática como Neo, um Hacker , terá um papel importante a
desempenhar na revolta dos humanos contra as máquinas, chegou, viu e venceu em
praticamente todas as frentes, graças a um argumento inteligente, efeitos
especiais revolucionários e uma realização inventiva, relegando para segundo
plano tudo o que até aí se tinha feito.
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A inspiração que veio do Oriente |
No entanto, apesar da calmaria, algumas tendências no terror emergiram. O
filme “Brotherhood of the Wolf – Pacto
com os Lobos” ( Christophe Gans, 2001), tornou-se o segundo maior sucesso de
bilheteira do cinema francês nos estados unidos nas últimas décadas; “The
Others – Os Outros” (Alejandro Aménabar,
2001) mostrou que o terror psicológico ainda poderia ser uma boa fonte de
sucesso. Também o oriente passou a ser fonte de inspiração para o ocidente: “Ringu – A Maldição” (Hideo Nakata, 1998) onde um misterioso vídeo
mata, uma semana depois, quem o vê, a
não ser que se consiga resolver esse mistério. O enorme sucesso deste filme e
da sua sequela “Ringu 2 – A Maldição 2 “ (Hideo Nakada,1999) , que continua a
investigação iniciada no primeiro filme, enquanto a maldição do misterioso
vídeo que mata quem o vê, continua a alastrar, levaram a que nos estados unidos
se fizesse um remake intitulado “The
Ring – O Aviso” (Gore Verbinski, 2002) e respectiva sequela “The Ring 2 – O
Aviso 2” (Hideo Nakata, 2005) onde, com algumas diferenças em relação ao
original, se conta basicamente a mesma história; também “Dark Water - Àguas
Passadas” (Hideo Najkada, 2002) onde uma mãe e sua filha mudam-se para um
apartamento velho cujo tecto e paredes estão quase sempre a escorrer água e ela
tenta descobrir o que está na origem do problema, foi objecto de um remake em
2005, com o mesmo título e realizado por Walter Salles.

O universo dos Zombies, que George A. Romero
tão bem recriara nas décadas de
60 e 70,
volta a estar na moda: “28 Days Later – 28 dias Depois” (Danny Boyle, 2002)
onde a Inglaterra é contagiada por uma misteriosa praga, que dura 28 dias
e
que transforma toda a população
atacada em zombies raivosos. O sucesso do filme permitiu que se fizesse uma
sequela, “28 Weeks Later -
28 semanas
Depois” (Juan Carlos Fresnadillo, 2007) onde seis meses após o surto que atacou
a Inglaterra, a situação parece estar a voltar ao normal e prepara-se a
re-população das áreas afectadas, mas nem tudo é o que parece. O sucesso da sequela
não foi tão grande como o do original, mas não
é uma sequela má de todo; uma actualização de
“Dawn of the Dead – O Renascer dos
Mortos-Vivos” (Zack Snyder, 2004) e uma comédia “Shaun of the Dead – Uma noite...
de Morte” (Edgar Wright, 2004), encorajou Romero a regressar á sua série mais
famosa
com “Land of the Dead – Terra dos
Mortos” (2005),
“Diary of the Dead –
Diário dos Mortos” (2007) e “Survival of the Dead” (2009).
Além de
alguns remakes ( a maior parte deles sem qualquer interesse ou qualidade) de
filmes das décadas anteriores, hoje clássicos indiscutíveis, que caracterizaram
a maior parte dos primeiros anos do novo século, houve um subgénero que se
destacou, também ele inspirado na exploração do género
que se fez nos anos pós-vietname: filmes
baseados
em tortura, sofrimento e morte
violenta, no qual se destacam “Hostel” (Eli Roth, 2005), e, principalmente “Saw
– Enigma Mortal” (James Wan, 2004), onde dois homens acordam acorrentados numa
casa de banho sem saber como ali foram parar. Os dois têm de seguir uma série
de regras e jogos se quiserem sobreviver e sair daquela prisão. Explorando a
violência gráfica sem qualquer pudor, “Saw” e as suas sequelas foram um enorme
sucesso de bilheteira, tendo inclusivamente recebido uma menção no Livro de Recordes
do Guiness
para o filme de terror com
maior receita num dia só de exibição. “Saw” tornou-se num filme de culto e ,
até ver, o único produzido na primeira década do século XXI.
O Género não
mostra vontade de parar, nem de se reafirmar no universo da sétima arte. É assim que gostamos!
Nota: as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet
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