- O Terror em constante evolução (1960
– 1979)
A década de
60, viu o estúdio britânico da Hammer consolidar o seu poderio em termos de
filmes de terror.
As intermináveis
continuações de Drácula, a maior parte das vezes, com Christopher Lee no papel
do vampiro, obtinham um sucesso relativo, mas foi “Peeping Tom – A Vítima do
Medo” (Michael Powell, 1960), que conta a história de um “Serial Killer” que
concilia a sua profissão de fotógrafo com a de assassino ao fotografar as
expressões das suas vítimas momentos antes da sua morte. O filme retratou o
primeiro
“Serial Killer” no cinema e foi
maior sucesso de bilheteira
da Hammer.
Também em 1960, o realizador britânico Alfred Hitchcock choca o público com
“Psycho - Psico” ao assassinar a personagem principal na primeira metade do filme, na antológica
sequência do chuveiro no Motel Bates, uma das mais famosas e aterrorizantes
cenas da história do cinema.
Nunca tal havia acontecido e, apesar de alguma
perplexidade inicial quanto aos propósitos do realizador, o filme ganhou
estatuto de obra-prima tornando-se numa obra incontornável na carreira do
realizador que, três anos mais tarde, haveria de chocar novamente as audiências
com “The Birds – Os Pássaros” ao mostrar uma natureza enlouquecida, em que
bandos de pássaros atacam os seres
humanos sem qualquer razão aparente, nem qualquer explicação no final. Tal como
a maior parte das suas obras americanas, “Os Pássaros” obteve grande sucesso de
bilheteira, consolidando a carreira do realizador e também o cinema de terror.

Na europa, o género ganhava cada vez mais seguidores. Em frança “Les Yeux sans
visage – Olhos sem Rosto” de George Franjú (1960), continuava a apostar, com
sucesso, na temática do cientista louco, neste caso , um que rapta mulheres
jovens para lhes remover as caras que tenta aplicar na sua filha, que ficou desfigurada depois de um
acidente de automóvel, enquanto em itália, Mario Bava, depois de co-realizar
algumas produções “série B”, iniciava uma carreira de sucesso dentro do terror
com o filme “Black Sunday - A Máscara do Demónio”(1960), a história de uma
bruxa e do seu servo que regressam da morte para tentar apossar-se do corpo de
uma sua descendente. A sua utilização de sombras, luz e cores tornaram-no num filme
incontornável dentro do género.
Entretanto
nos estúdios da American International Pictures são feitos diversos filmes
adaptados da obra de Edgar Allan Poe, um dos mais famosos escritores americanos
de sempre, realizados por Roger Corman e interpretados na sua quase totalidade
por Vincent Price, outro nome sonante no cinema de terror, que, com maior ou
menor sucesso, terminam com “The Masque of the Red Death – A Máscara da Morte
Vermelha”(1964) e “The Tomb of Ligeia – O Túmulo de Ligeia” (1964) e é hoje
quase certo que foram estas adaptações que abriram caminho para a violência
explícita que viria a ocupar o lugar, não só
no terror como também em outros filmes correntes.

Monstros e
fantasmas mantiveram-se sempre presentes no género, mas ao longo da década
outra premissa começou a aparecer, timidamente primeiro, mas depois de algumas
provas dadas, filmes baseados em coisas sobrenaturais, fantasmas e possessões
demoníacas integraram-se plenamente no terror. “The Innocents – Os Inocentes”
(Jack Clayton, 1961), foi o primeiro filme a abordar o tema; depois
seguiu-se-lhe “The Haunting – A Casa
Maldita” (Robert Wise, 1963), ambos filmados em Inglaterra mas
produzidos por estúdios americanos. Mas seria com “Rosemary’s Baby – A Semente
do Diabo” (Roman Polanski, 1968), que o filme de expressão demoníaca ganhou o
seu estatuto dentro do género. A história de um casal recém-casado que se muda
para Nova York, para um prédio com má reputação e trava amizade com um casal de
idosos que vive no apartamento ao lado. Apesar da simpatia dos vizinhos ,
estranhas coisas começa a acontecer, desde mortes inexplicáveis
a sonhos misteriosos. Quando Rosemary fica
grávida, o casal idoso tenta protegê-la e mantê-la
segura, ao mesmo tempo que
ela vai ficando
cada vez mais paranoica com tanta obsessão á
volta do seu bébé por nascer. Baseado num aclamado romance de Ira Levin, este
filme ficou amaldiçoado e saiu caro ao seu realizador já que, menos de um ano
depois da sua estreia, Sharon Tate, a companheira de Polanski e alguns amigos
foram assassinados por uma seita liderada por Charles Manson. A actriz, na
altura, estava grávida do primeiro filme do casal.
Também em
1968 um outro filme impôs-se dentro do género influenciando a indústria
americana de filmes de terror. “Night of the
Living Dead – A Noite dos Mortos-Vivos” realizado por George A. Romero. A
história de um grupo de pessoas que se têm de esconder dentro duma casa porque
os mortos misteriosamente voltaram á vida e procuram alimento nos seres vivos,
cativou o público em todo o mundo fazendo desta produção de baixo orçamento, um
enorme sucesso de bilheteira. Esta espécie de Armagedão (não confundir com o
filme homónimo!)
em forma de filme com
mortos-vivos ou zombies mistura, habilmente, efeitos psicológicos com cenas
sangrentas (gore) e fez o género subir mais um degrau, afastando-o das
tendências
góticas iniciais, trazendo-o
para a vida do dia-a-dia, tornando-o um filme clássico, de culto respeitado por
público e cineastas.
Os filmes
baseados em temas do oculto seriam o prato forte das produções da década de 70.
Desde logo em 1973, “Don’t Look Now – Aquele Inverno em Veneza” realizado por
Nicolas Roeg, assume o espiritismo como motivo para se fazer um bom filme de terror
Baseado numa história de Daphne Du Maurier, que conta a história de um casal,
enlutado pela morte por afogamento da sua única filha, que se encontra em
Veneza a tentar recuperar da dor, o marido começa a ter visões de uma criança
vestida com uma capa idêntica á que a sua filha usava quando morreu, enquanto
que a mulher é abordada
nas ruas da
cidade por duas irmãs, uma das quais é psíquica e traz um aviso do além. Não
sendo uma obra-prima, e muitas vezes ignorado no panorama dos filmes da década,
o filme torna-se curioso e interessante pela abordagem ao tema que faz, indo do
puro drama até ao suspense
(o género
haveria, anos mais tarde, de abordar esta temática), sem nunca se perder
e contém duas cenas marcantes: a cena de amor
entre os dois protagonistas (Julies Christie e Donald Sutherland) com uma
enorme carga erótica; e a cena final que é completamente imprevista.
Seria também
neste ano que apareceria um filme que se tornaria no mais marcante filme
do género, inúmeras vezes imitado,
mas nunca superado, nem sequer igualado: “The
Exorcist – O Exorcista”, realizado por William Friedkin. A história da
possessão de Regan McNeill que a ciência não consegue explicar nem resolver e
que só apenas um velho ritual religioso aparentemente consegue, tornou-se num
enorme êxito de bilheteira por todo o mundo. A rotação de 360 graus de cabeça
de Regan, a auto-penetração com o crucifixo, os gritos e as vozes do demónio, o
vómito verde na cara do padre ou o longo exorcismo são cenas clássicas e quase
banais, quando comparadas com o panorama cinematográfico de hoje, mas, em 1973,
chocaram audiências ao ponto de muitas pessoas terem de ser assistidas no local
por equipas médicas.
O “Exorcista”
tornou-se no filme-choque da década de 70 e foi também o primeiro filme de
terror puro a ser indicado para Melhor Filme do Ano, uma das dez categorias
para que foi nomeado nos Oscares desse ano.
Seguiram-se
várias sequelas que não obtiveram tanto sucesso como o primeiro filme e muitos
outros filmes em que o Diabo representava o supremo ser sobrenatural, algumas
vezes engravidava jovens, outras apossava-se de crianças.
Em 1975, o
jovem realizador Steven Spielberg começava a sua ascensão em direcção ao
estrelato com “Jaws – O Tubarão”. A história de um enorme tubarão branco que
aterrorizara as praias de Amity, uma pequena ilha na
costa americana que vive basicamente do
turismo de verão, bateu todos os recordes de bilheteira no mundo inteiro,
iniciou uma série de filmes de terror de animais assassinos, que, se excluirmos
“Orca – A Fúria dos Mares” (Michael Anderson, 1977), apesar de pouco
interessante, suscitou alguma curiosidade no público, não faz grande memória e
é muitas vezes ignorada dentro do género. “Jaws” foi considerado um dos
primeiros filmes a conjugar
elementos
tradicionais das produções “série B”, tais como terror e ser meio “gore”
(sangrento), numa produção de grande orçamento e o resulta foi o que foi.
O
“Exorcista” abriu caminho a duas temáticas que se tornaram populares ao longo
da década: a Reencarnação e Satanismo. Se “Audrey Rose – As Duas Vidas de
Audrey Rose” (1977), realizado por Robert Wise, cuja história é a de um homem
que afirma que a sua filha é a reencarnação de uma outra pessoa já morta,
popularizou o tema da reencarnação sem
ter sido um grande sucesso; já “The Omen – O Génio do Mal” (Richard Donner,
1976), onde Richard Thornton, embaixador americano em Inglaterra, descobre que
o seu filho, adoptado, de cinco anos de idade, é o Anticristo, foi um grande
êxito de bilheteira e tornou o filho do Diabo, além de invencível á acção
humana, o vilão favorito em muitos
filmes modernos.

Também na
década de 70, estreava-se na literatura o mestre contemporâneo do terror.
Stephen King ganhou este estatuto, que de resto ainda mantém, com “Carrie”
(1972) que seria adaptado ao cinema por Brian DePalma em 1976. A história de
Carrie White, uma rapariga com poderes telecinéticos (capacidade de mover
objectos á distância só com o olhar), invejada e gozada pelos seus colegas que
a consideram uma estranha que depois se vinga de todos eles. Tecnicamente
brilhante, graças a um realização inventiva, foi um sucesso de bilheteira e foi
nomeada para os Oscares , tornando-se um filme de culto de todos os
apreciadores do género , principalmente por conter o maior susto que alguma vez
aconteceu num filme.

Em 1978,
John Carpenter realizava o seu melhor filme de sempre, “Halloween – O Regresso
do Mal” e dava origem a uma das mais longas séries de filmes no cinema. Michael
Myers é uma criança de cinco anos, aparentemente normal, que mata á facada a
sua irmã e o namorado numa noite de Halloween. Internado durante 15 anos num
instituto psiquiátrico, foge e regressa a Haddonfield, a sua cidade natal,
para repetir as acções de 1963. Utilizando a
câmara como se fossem os olhos do assassino, Carpenter, genialmente, põe-nos na
pele do assassino e garante algumas das melhores cenas de terror e suspense de
que há memória na década. O Final, em suspenso foi uma novidade na época e
viria a tornar-se moda nas décadas seguintes.
As ideias
dos anos 60 também influenciaram o cinema de terror, já que a juventude que se
envolvera nos movimentos de contracultura (oposição á guerra do Vietnam,
movimento “Hippie”, experimentação de
drogas, sede consumista, etc), reflecte nos filmes esses mesmos ideais: “The
Hills have Eyes – Os Olhos da Montanha” (Wes Craven, 1977); “The Texas Chainsaw
Massacre – O Massacre no Texas” (Tobe Hooper, 1974), espelhavam algum efeito do
Vietnam; David Cronenberg estreou-se na temática do cientista louco ao explorar os medos contemporâneos da
tecnologia e sociedade e os medos corporais com “Shivers – Os parasitas da
Morte” (1975); enquanto George A. Romero em “Zombie – Dawn of the Dead – A
Maldição dos Mortos-Vivos” (1978) satirizava a sede consumista que se apossara
da sociedade na década anterior.

A década
iria terminar com um dos melhores filmes de sempre e que introduzia uma nova
temática dentro do género: O terror científico. “Alien – O 8ºPassageiro”
(Ridley Scott, 1979). A “Nostromo” é um cargueiro espacial que regressa á terra
depois de cumprir a sua missão. O computador central recebe
um sinal de ajuda. Os tripulantes decidem ir
investigar a origem do sinal. Combinando os elementos naturais de violência gráfica
e o filme de monstros, característicos de
décadas anteriores, mas desta vez usando a ficção científica, “Alien” só
poderia resultar num enorme sucesso de bilheteira
e de crítica também.
O terror
instalara-se definitivamente dentro do cinema e nas décadas subsequentes, iria
ter um papel preponderante.
(continua)
Nota: as imagens que ilustram o texto foram retiradas da internet