O Tempo passa sem parar, como um rio que corre em direcção ao mar, dissipa-se nas brumas da Memória colectiva... É o Tempo que serve a memória ou é a memória que serve o Tempo?
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Tempo de Glória – Quando os EUA se envergonharam a Si Mesmos
De
tempos a tempos surge um filme que nos traz á memória os bons velhos épicos que
assistíamos com os nossos pais e que faziam as delícias de quem ia ao cinema
nas décadas de 50 e 60 do século passado. “Tempo de Glória” foi um desses
filmes.
Produzido em 1989, ano de todas as mudanças no panorama internacional, feito na esteira
do sucesso obtido na televisão por “Norte e Sul” ( David L.Wolper, 1985), este
filme mostrou um outro lado da Guerra de Secessão Americana que ainda não havia
sido explorado antes.
O
Coronel Robert Gould Shaw, herói da Guerra de Secessão, oferece-se como
voluntário para comandar o 54º Regimento de voluntários do Massachusetts, o
primeiro inteiramente constituído por soldados negros contra o exército confederado,
mesmo conhecendo todos os dissabores que essa decisão lhe possa trazer…
O Monumento ao 54º Regimento de Infantaria em Boston
O
filme é baseado, em parte. nas cartas particulares que o coronel escrevia á sua
mãe (e das quais se ouvem excertos ao longo do filme) e nos livros “Lay This
Laurel”, escrito por Lincoln Kirstein e “One Gallant Rush” de Peter Burchard.
Kevin Jarre, o argumentista, disse que a
sua principal inspiração veio quando visitou o monumento de homenagem ao
Coronel Shaw e ao 54º em Boston (que se vê sob o genérico no final do filme).
Realizado
por Edward Zwick, realizador de “Lembras-te da última noite?” (1986) em que um
homem e uma mulher tentam manter uma relação amorosa apesar das suas diferenças
de opinião e das opiniões dos outros, filme produzido por John Hughes, rei da
comédia na década 80 do século passado; “Coragem debaixo de Fogo” (1996) em que
do resultado duma investigação, permitirá que uma oficial do exército seja
postumamente condecorada; “O Último Samurai” (2003), um épico-veículo para Tom
Cruise, também produtor do filme, cuja acção se passa no século XIX, onde um
oficial do exército americano, capturado numa batalha contra os samurais,
transforma-se num consultor militar dos
guerreiros orientais enquanto abraça a sua
cultura; “Diamante de Sangue”
(2006) cuja acção se centra na guerra civil da Serra Leoa, onde um mercenário
houve uma história sobre um pescador ter encontrado um grande diamante. Zwick,
formado na televisão, aplica os conhecimentos aí adquiridos em cenas de acção
muito bem encenadas, como seja por exemplo a primeira vez que a companhia entra
em acção numa escaramuça com as forças confederadas; ou o ataque ao Fort
Wagner, cujo massacre, quase integral da companhia, lhes dá a entrada na
História (a “Glory” de que fala o título original do filme). É uma cena
extremamente bem filmada, muito bem fotografada e com a banda sonora de James
Horner a dar o toque necessário para que a cena final (em que os nossos heróis
conseguem subir a muralha do forte) se torne na imagem mais poderosa do filme.
Com
um elenco onde se destacam os nomes de Matthew Broderick, como Coronel Robert
Shaw, abandonando com este filme os papéis das comédias que preencheram o seu
principio de carreira, o actor tem aqui talvez a sua melhor interpretação; Cary
Elwes como adjunto de Shaw e uma boa prestação do actor; Morgan Freeman,como o
coveiro Rawlins que ao se alistar vai-se transformar na figura paternal de toda
a companhia e uma espécie de mediador de conflitos, embora secundária, dá uma
interpretação ao seu melhor nível. O destaque vai, claro, para Denzel Washington,
que interpreta o soldado Trip, o racista inconformado com a sua situação, mas
que no ataque final, ao ver o comandante morrer ao seu lado, transporta a
bandeira dos Estados Unidos até à muralha (honra que lhe fora oferecida pelo
coronel na véspera da batalha e que Trip recusara, num dos melhores diálogos de
todo o filme, por não se achar com
capacidade para isso), dá um verdadeiro show de interpretação que lhe mereceu o
Óscar de Melhor Actor Secundário do ano, vitória conseguida na magnifica cena
em que Trip é chicoteado, depois de tentar desertar, perante o olhar de toda a
companhia (o seu olhar, misto de ódio e duma dor que está para além de qualquer
compreensão, é outro grande momento do filme) e aceita a sua condição sem
vacilar.
O
público respondeu positivamente quando o filme estreou, fazendo dele um dos
maiores sucessos de bilheteira do ano, elevando o seu orçamento, estimado em
cerca de 18.000.000 de dólares para um total de 63.000.000 só nos Estados
Unidos. Já a nível dos críticos, estes dividiram-se, embora na generalidade, o
filme tenha recebido louváveis críticas no tocante a valores de produção e
história condutora, foram mais moderados na avaliação das interpretações,
nomeadamente, a de Matthew Broderick como cabeça de elenco.
Vencedor
de 3 Óscares da Academia, e inúmeros outros prémios, “Tempo de Glória” foi um enorme sucesso de
bilheteira e um daqueles filmes que vale
sempre a pena ver e, por ser baseado em
factos verídicos, acaba por ser também uma lição de história sobre uma guerra
que envergonhou uma nação.
Nota: As imagens e vídeo que ilustram o texto foram retiradas da Internet
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