“
...O polícia alto encolheu os ombros.
- Eu leio pouco – disse - , mas o tal Porthos era um desses tais , não é verdade?... Athos
, Porthos, Aramis e D’Artagnan – ia
contando com o polegar sobre os dedos da mão e, quando acabou, deteve-se,
pensativo – tem piada. Sempre perguntei a mim mesmo porque lhes chamavam os três
mosqueteiros se, na realidade, eram quatro”
(in “O Clube Dumas” de Arturo Pérez-Reverte)

A acção situa-se
em França, durante o séc. XVII e conta as aventuras de um jovem Gascão, de nome
d’Artagnan, que sai de casa para ir para Paris juntar-se á guarnição dos
Mosqueteiros do Rei (d’Artagnan não é um dos mosqueteiros do título). Lá, conhece Athos, Porthos e Aramis (
estes sim, os mosqueteiros do título), amigos inseparáveis que vivem segundo o
lema de “Um por Todos, Todos por Um”. Os
quatro juntos vivem aventuras numa França onde reina Luís XIII, mas quem
governa o país na realidade é o Cardeal Richelieu que se tornará o
arqui-inimigo de D’Artagnan e seus amigos.
No prefácio da obra que Dumas editou, pode ler-se o seguinte “Ora, esta é a primeira
parte deste preciosos manuscrito que hoje oferecemos aos nossos leitores, com
um título mais adequado e com o compromisso de publicarmos a segunda parte
imediatamente caso esta primeira seja um sucesso. Entretanto, tal como um
padrinho é uma espécie de segundo pai, convidamos os nossos leitores a responsabilizar-nos
directamente, e não ao Conde de La Fére,
acerca do seu entusiasmo ou aborrecimento. Dito isto, passemos à nossa
história”.

Dumas diz-nos que foi neste livro que d’Artagnan
relata o seu primeiro encontro com Monsieur de Tréville, Capitão Mosqueteiros e
na sua antecâmara conhece três jovens com os nomes de Athos, Porthos e Aramis.
O escritor, entusiasmado com esta descoberta e já com a sua imaginação a
fervilhar, continuou a investigar e deparou-se novamente com os nomes dos três
Mosqueteiros noutro manuscrito intitulado “Mémoire de Monsieur Le Comte de la
Fère…”, que o entusiasmou de tal maneira que pediu autorização para reimprimir
a obra, o que foi autorizado.
O sucesso da obra, dentro e fora de frança, é enorme. Desde 1846 que a obra conheceu inúmeras
traduções para diversas línguas. A primeira foi para o inglês. Pertenceu a
William Barrow e, por ser a mais fiel ao original francês do século XIX, ainda
hoje se encontra em circulação.
As fontes que Dumas dispunha eram mais que suficientes para que a história
não ficasse por aqui. Auguste Macquet, colaborador
habitual do escritor, sugere-lhe que continue as aventuras do jovem Gascão e
dos seus amigos mosqueteiros. “Vinte anos depois”, é a sequência do romance que
Dumas escreve e é publicada no “Le
Siécle” entre janeiro e agosto de 1845. A acção decorre, vinte anos depois de
d’Artagnan se ter tornado Mosqueteiro do
Rei e dos quatro amigos se terem
despedido, numa época difícil, de descontentamento popular, em França, nos
meados do século XVII.

Por se tratar de um romance muito extenso (algumas edições têm 10 volumes
de 250 páginas cada!), o autor optou por narrar diversos enredos, entre os
quais, o famoso episódio de “O Homem da Máscara de Ferro”, no qual se conta a
história (verdadeira ou não) de Felipe, o irmão gémeo de Luis XIV, que foi
aprisionado numa masmorra com uma máscara de ferro para que se lhe não visse o
rosto. O tom deste terceiro romance é um
tanto ou quanto melancólico: sente-se o fim a chegar. Traições, desilusões e
intrigas fazem parte duma sociedade em que o valor fundamental deixou de ser a
honra e aquela é apenas uma sombra da que a precedeu. Talvez por ter um tom tão
melancólico, “O Visconde de Bragelonne” seja a obra menos conhecida e, se exceptuarmos o episódio de "O Homem da Máscara de Ferro", menos
falada de Alexandre Dumas.
![]() |
"Um por Todos, Todos por Um" |
Com “Os Três Mosqueteiros”, Dumas
conseguiu popularizar o romance histórico ao fazer um romance “de capa e
espada” apoiando-o sobre a História.
Criou um novo tipo de herói sem
dinheiro, porém nobre e heróico, exímio espadachim e cavalheiro mas ainda humano com as suas
fraquezas: a irrascividade de d’Artagnan, a vaidade de Porthos, um Aramis
dividido entre Deus e as mulheres, a melancolia e o alcoolismo de Athos,
impede-os de serem perfeitos, mas torna as suas fraquezas na verdadeira força
literária por detrás dos romances.
Mas porquê Três Mosqueteiros, se nos livros eles são Quatro? Não se sabe e
Dumas também não esclareceu, contribuimdo para um mistério que nem os estudiosos da obra do escritor sabem responder. Inicialmente, o título previsto seria “Athos,
Porthos et Aramis”, mas Desnoyers, o encarregado da secção de séries do “Le
Siécle”, sugeriu que se alterasse o título para “Os Três Mosqueteiros”, já que
o título, no seu entender, iria evocar aos leitores as Três Deusas da Mitologia
Grega que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos.
Dumas aceitou a sugestão, notando que o seu absurdo (já que os heróis eram
quatro) iria contribuir para o sucesso da obra. E não se enganou!
Nota: As Imagens que ilustram este texto foram retiradas da Internet
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