Se
um dia agarrassem em nós e nos levassem a um sítio que desconhecíamos existir,
pois nunca tínhamos ouvido dele, do qual podíamos escolher qualquer coisa para
nós, mas cuja única condição era não falar dele a ninguém, qual seria a nossa
reacção? É desta simples premissa que parte o romance “A Sombra do Vento” da
autoria de Carlos Ruiz Zafón.

Existem
livros que, pela forma como a história nos é apresentada, conseguem agarrar o
leitor logo desde o início.
Quando se lê um livro, é como se partíssemos numa
viagem rumo ao desconhecido, mas com o intuito de conhecer novos mundos, novas
personagens ou novas formas de narrativa e com isso partilhamos a experiência
de algo completamente novo e diferente daquilo que estamos habituados.
Em “A
Sombra do Vento”, Carlos Ruiz Zafón dá-nos essa sensação e mais. A acção passa-se em dois tempos, duas
histórias que, ao longo do livro, se vão interligando uma na outra, de um modo
que quase podemos considerar brilhante, até ao “volte de face” final,
inesperado mas bastante esclarecedor.
Logo
desde as primeiras páginas, quando Daniel percorre os corredores do Cemitério
dos Livros Escondidos e encontra o livro de Carax (ou é o livro que o
encontra?), sentimos que estamos perante algo diferente, algo que nos agarra e
nunca mais nos larga até ao final da obra.
É como se o leitor se transformasse no próprio Daniel e passasse a fazer parte daquele universo.
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O Cemitério dos Livros Escondidos |
O
estilo narrativo é electrizante mas também, tal como o próprio universo da história, envolvente e
misterioso. As personagens cohabitam numa Barcelona pós Guerra Civil e IIª Guerra
Mundial, cenário de instabilidade e insegurança. O leitor (transfigurado ou
não), acompanha Daniel na sua odisseia em busca de Julian Carax e de algum
significado para a sua vida. Seguimo-lo em correrias constantes e
imprevisíveis, paixões corajosas, lúcidas ou delirantes, destruidoras ou
aperfeiçoadoras, que acabam por ser os motores que nos movem e que nos motivam a acompanhar os heróis e
vilões ao longo desta história.
Inspirado
no melhor e mais negro de Edgar Allan Poe, mas também em Agatha Christie e Conan Doyle e com um
toque de Arturo-Perez Reverte, compatriota de Ruiz Zafón, a “A Sombra do Vento” absorve-nos graças aos
seus motivos detectivescos, enigmáticos
que se vão tornando cada vez mais negros, mas também onde não faltam
algumas doses de humor refinadas, proporcionadas por Fermín Romero de Torres,
amigo e conselheiro de Daniel. Letrado, talentoso e habilidoso, Pertencem-lhe
alguns dos momentos mais desanuviadores do romance, graças ás pérolas proverbiais
que, de tempos em tempos, atira em momentos vulgares, que aliviam o tom intenso
da história.
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O autor, Carlos Ruiz Zafón |
Publicado
em 2001, “A Sombra do Vento”, foi traduzido em mais de 30 idiomas e publicado
em mais de 45 países, e já vendeu mais de 6,5 milhões de exemplares. Juntamente
com “O Jogo do Anjo”, publicado em 2008, onde novamente nos cruzamos com
cenários e personagens de “A Sombra do Vento”, apesar de não ser uma continuação do anterior, mas sim uma nova
história centrada no universo dos livros, e “O Prisioneiro do Céu”, de 2011, que, de
acordo com o próprio autor, é, sim, a continuação do romance de 2001, constituem uma trilogia que pode ser lida em
qualquer ordem, sem se perder o entendimento da obra como um todo.
Um livro escrito por quem gosta de ler, para
todos aqueles que gostam de ler e que nunca esqueceram o prazer que se pode
tirar da leitura dum bom livro.
Foi para estes que Carlos Ruiz Zafón escreveu “A Sombra do Vento”...todos aqueles que não se reveêm no parágrafo anterior, nem vale a pena abrirem o livro porque este de nada lhes servirá...
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