O Filme de Ficção Científica II
2.
Os Anos da Afirmação (1960-1969)
A década de 60 não começou da melhor maneira para o filme de ficção
científica. De facto, depois do
boom que foi a década de 50, fizeram-se muito poucos filmes do género nesta
década, mas os que se fizeram,
viriam a transformar radicalmente a face do género.
Logo
em 1960 “The Time Machine – A Máquina do Tempo”, realizado por George Pal, ainda
a sofrer alguma influência das temáticas da década anterior, põe no écran um
dos mais famosos livros de H.G.Wells e onde a ficção quase que iguala a
realidade, na medida em que enquanto acompanhamos George e a sua viagem ao
futuro, passamos por duas guerras e vemos um futuro onde a humanidade se
encontra dividida em duas espécies. Grande sucesso de bilheteira, graças a um tema que sempre apaixonou os cinéfilos, viria a abrir inúmeras portas para
outras obras futuras. Mas a década ainda estava no princípio e muito ainda iria
acontecer.
Enquanto na América, a concorrência crescente da televisão, forçava o cinema a
fazer filmes de grande orçamento (as chamadas superproduções), a Europa
acordava para um novo género de cinema completamente diferente daquilo a que se
estava habituado: A “Nouvelle Vague” ou nova vaga. Iniciado em França no final
dos anos 50, principio dos anos 60, foi um movimento artístico, contestatário,
caracterizado pela juventude dos seus autores, dos quais Jean-Luc Godard,
François Truffaut, Alain Resnais ou Claude Chabrol, entre outros, foram os
principais mentores. Os dois primeiros haveriam de fazer a sua
contribuição para o filme de
ficção científica, comentando e criticando satiricamente a sociedade.
“Alphaville – Une Etrange Adventure de Lemmy Caution –
Alphaville” (Jean-Luc Godard, 1965). Um detective
privado americano de nome Lemmy
Caution é enviado para a cidade de Alphaville, que fica num planeta distante,
onde tem que encontrar uma pessoa desaparecida e libertar a cidade do tirano
que a governa.O filme obteria sucesso graças à sátira que faz dos filmes policiais negros americanos dos
anos 40. Já “Fahrenheit 451 – Grau
de Destruição” (François Truffaut, 1966) é um caso diferente. Baseado num
romance homónimo de Ray Bradbury, o filme segue a história de um bombeiro
solitário, que vive num mundo onde
todos os livros foram destruídos porque o governo teme uma sociedade de
livres-pensadores, que começa a questionar a verdadeira natureza da sua missão.
Truffaut, além de fazer uma discreta analogia entre o período da queima dos
livros na Alemanha, da década de 30 por altura do Nazismo e o McCarthismo histérico que assolara
os Estados Unidos na década de 50, faz também uma censura política e um comentário social abarcando tanto a
Europa como os Estados Unidos.
Mas
seria dos Estados Unidos que viriam os filmes que mais iriam influenciar o
género e toda a produção que daí adviria. Em 1964 “Dr. Strangelove, or How I Learned to stop worriyng and love the
Bomb – Dr.Estranhoamor”. No filme, um
general americano da força aérea,paranóico, acredita que os soviéticos
conseguiram envenenar as reservas de água dis Estados Unidos e ordena que os
bombardeiros americanos se posicionem na União Soviética para ripostar enquanto
na Sala de Guerra, governo e militares tentam impedir que aconteça uma
catástrofe. Sátira brilhante, pela mão de Stanley Kubrick, aos efeitos da
Guerra Fria iniciada na década anterior.
Mais
ousado foi o filme “Fantastic Voyage – Viagem Fantástica” (Richard Fleischer,
1966). Para salvar a vida dum diplomata ferido, uma tripulação num submarino
tem de ser miniaturizada e injectada dentro do fluxo sanguíneo para tentar desfazer
o hematoma que o faz correr perigo de vida. Ver o interior do corpo humano
cativou o público e fez do filme um sucesso relativo granjeando-lhe dois
prémios da Academia para Melhor Direcção Artística e Melhores Efeitos
Especiais. Ousado foi também “Barbarella – Barbarela” (Roger Vadim, 1968) a dar
um toque de erotismo ao género. Num futuro longínquo, uma mulher extremamente
sensual é encarregada de encontrar e destruir Durand-Durand, um inventor maléfico que consegue criar um
pecado a todas as horas.Pelo caminho, Barbarela, vai encontrando osmais diversos
tipos de pessoas com quem se envolve emocional e fisicamente. O filme foi um
sucesso relativo, graças à bonita e sensual actriz Jane Fonda, mas serviu
também para prestar homenagem ao lado mais idiota do início da ficção
científica.
Em
1968 o filme de ficção científica estabelece-se definitivamente como género maior. Dois filmes serão os
responsáveis por esta mudança no género: “2001: A Space Odyssey – 2001:
Odisseia no Espaço “ e “Planet of the Apes – O Homem que Veio do Futuro”. Em
relação ao primeiro, pouco ou nada há a dizer. Trata-se da obra-prima do
género, é o filme mais influente da década, uma história muito dificil de se
resumir, que sempre suscitou
discussões apaixonadas. Baseado num conto de Arthur C. Clarke, e realizado com
mestria por Stanley Kubrick,” 2001”, desde a sua estreia, sempre foi visto como
um filme seminal dentro do género e foi o primeiro filme a conter um fundo
filosófico que outros filmes nunca tinham tido nem tentado sequer.
Incompreendido por muitos, é hoje visto como um dos melhores filmes de todos os
tempos.
Quanto a “Planet of the Apes – O Homem
que veio do Futuro”, foi o maior sucesso de bilheteira do género na década,
muito graças à sua história de uma nave que se despenha num planeta distante
governado por macacos que falam e pensam como seres humanos enquanto estes
estão impedidos de falar e são escravizados pelos governantes. Taylor, um dos
astronautas, consegue fugir com a ajuda de dois macacos cientistas, renegados,
mas o que vai descobrir é uma realidade mais chocante do que aquele mundo
invertido. O filme, realizado por
Franklin J. Schaffner, baseado num livro que fora banido da américa na
década de 50 porque o seu autor, Pierre Boulle, estava listado nas comissões do
senador McCarthy, tornou-se num grande sucesso, abarcou quatro continuações ( o
termo sequela ainda não se usava) e uma série de televisão, em parte porque a
temática era original e algo medieval no tratamento da acção e das personagens
e quase inédito no género..Aqui se percebe como é que o filme se tornou num
filme de culto, porque depende muito do trabalho do realizador, que, utilizando
paisagens desérticas e as suas formações rochosas, dá ao filme a necessária
componente alienígena afastando-nos ainda mais da verdadeira realidade que nos
cai em cheio no agora famoso final que é dos mais inesperados e chocantes
finais da história do cinema.
A Ficção
Científica afirmava-se como um género que estava para ficar.
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