É uma das séries Italianas mais famosas de sempre. "La Piovra", assim se chama no original. Em Portugal foi exibida com o título de "O Polvo", na RTP1 (no tempo em que só havia dois canais) e em horário nobre, que, na década de 80, só as novelas brasileiras tinham direito. Em Portugal, como nos cerca de 80 países onde foi exibida, a série obteve enorme sucesso.
Produzida pela RAI entre 1985 e 1999, a série teve 10 temporadas, umas melhores, outras menos boas, mas nunca perdeu qualidade, conseguindo mesmo obter audiências pouco habituais no país: só a primeira série conseguiu no primeiro episódio uma audiência de cerca de 8 milhões de espectadores e chegou ao sexto e último com as audiências situadas nos 15 milhões de espectadores que iriam culminar no último episódio da quarta série (1989) com o maior share de audiência em televisão alguma vez visto. As séries foram realizadas por alguns dos mais conceituados nomes do cinema e televisão italianas, como Damiano Damiani, Luigi Perelli, Florestano Vencini ou Giacomo Battiato.
Corrado Cattani, comissário da polícia Italiana é enviado para a Sicília para chefiar a Brigada Móvel da policia local, ao mesmo tempo que é encarregue de chefiar a investigação da morte do seu antecessor. Cedo se apercebe que o crime tem ramificações profundas, que o conduzem até ao tráfico de droga, na sociedade local onde existe uma espécie de conspiração de silêncio para lhe dificultar o trabalho e a própria investigação. Decide então dar inicio a uma verdadeira cruzada contra os traficantes locais, sem olhar ás consequências que serão muitas para si e para a sua vulnerável família, ao longo das séries seguintes. O Polvo ainda agora tinha começado a estender os seus tentáculos sobre a sociedade. A proporção de inimigos que gravitam em volta do corajoso comissário cresce na mesma medida em que lhe vão surgindo os aliados mais improváveis como a corajosa Juiza Silvia Conti que, a partir da quinta série, assume o protagonismo e a chefia da cruzada policial contra a Máfia enquanto investiga as razões que estão por detrás do assassinato do comissário Cattani. A ela junta-se David Licata, um antigo policia que tem um problema do seu passado a resolver. Juntos tentam descobrir e denunciar a Cúpula de "O Polvo", a missão não se revela nada fácil e haverá novamente consequências imprevisíveis.
Particularmente importante é a forma como a narrativa se desenvolve e nos é apresentada. Esta mostra como o crime organizado se expande de forma tentacular (daí o título da série): começa como sendo uma investigação de homicídio, cedo se descobre que tem ramificações com o tráfico de droga local, ligações ao tráfico de armas, evolui para as lojas de receitas do Estado, depois avança para os bancos, cujas movimentações de dinheiro os torna associados à Mafia e cujo centro de operações se situa a norte de Itália e ainda se intensifica mais quando "O Polvo" tenta atingir os Seguros Internacionais e criar o caos financeiro na Itália e em toda a Europa (a acção passa-se antes da União Europeia). Toda esta história de intriga politica, financeira e criminal é inspirada em acontecimentos reais que se passaram em Itália nos anos que antecederam a série e a ideia que fica é que a verdadeira Mafia não é aquela que nos dada a conhecer como sendo uma história de controle e vingança levada a cabo por homens de boné e arma na mão, mas sim algo bem mais complexo e perigoso, o que originou alguma polémica ao longo das primeiras séries e levou a que os produtores, a dada altura, tenham alterado substancialmente a acção. Somos então confrontados com um flashback que nos transporta até aos anos 50 e 60 (8ª e 9ª séries) na Sicília e ao inicio da ascensão da máfia local, surgem personagens e situações que terão importância futuramente e irão condicionar a acção. De certa maneira funcionam como prólogo à série.
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A morte de um justo |
A 20 de Março de 1989, a série faz história e, por acréscimo a RAI. No final do último episódio da quarta série, O comissário Corrado Cattani morria debaixo dos tiros da cilada que a Máfia lhe montara. Não obstante o facto de se saber antecipadamente o que iria acontecer, porque os produtores assim quiseram, os índices de audiência subiram acima dos 90%. Nessa noite praticamente toda a Itália estava em frente aos televisores a assistir ao desfecho da quarta temporada da série de televisão mais vista de sempre. O mesmo aconteceu em todos os países onde foi exibida, inclusive em portugal onde a RTP1 obteve um share televisivo de cerca de 80% . Para o Guiness Book of Records ficou o maior share televisivo jamais atingido na Europa (onde ainda hoje permanece).
O elenco, marcado pela forte presença de Michele Placido, como comissário Corrado Cattani, Patricia Milardet como a Juiza Silvia Conti, Remo Girone como Tano Caridi, o arqui-inimigo de Corrado Cattani e de Silvia Conti; além dum elenco de secundários onde pontuam nomes como Florinda Bolkan, Bruno Cremer, François Périer, Vittorio Mezzogiorno, entre outros, só teve a ganhar com a sua participação neste clássico televisivo pois as suas carreiras ganharam novos fôlegos.
Referência obrigatória no panorama televisivo da década de 80 do século passado, ganhou rapidamente notariedade e foi elevada ao estatuto de clássico e serviu de inspiração a outras séries que abordaram os meandros da Máfia, algumas com grande sucesso, como por exemplo "Os Sopranos" (1999-2007) e mantém, ainda hoje, a frescura, a originalidade e principalmente o realismo de então.
Nota: Todas as imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da Internet
Uma excelente série sobretudo nas primeiras temporadas. Ainda me lembro de ficar em suspense, na altura em que o comissário Cattani (uma brilhante interprtação de Michele Placido) é assasinado. Um abraço.
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