segunda-feira, 30 de maio de 2011

Bandas Sonoras I

                                                       I - Breve história da música nos filmes

   A Banda Sonora, traduzindo do inglês "Soundtrack", refere-se, na totalidade,  ao conjunto  sonoro relacionado com um filme e estão incluídos, além da música, diálogos, som, efeitos acústicos. Para este texto, interessa apenas focar a importãncia da música no filme. A banda sonora de um filme pode incluir música original criada para o filme ou outras peças musicais como sejam canções ou excertos  de peças musicais anteriores ao filme. Pode dar-se também o caso de um tema musical, já existente, tornar-se universalmente conhecido só pelo simples facto de estar associado a um filme como por exemplo, o tema "Also Spracht Zaratrusta" (Assim Falava Zaratrusta) de Richard Strauss, hoje associado a "2001: Odisseia no Espaço" (Stanley Kubrick, 1968).
   Já em 1895, quando os irmãos Lumiére fizeram a sua famosa projecção de imagens, estas já tinham um acompanhamento musical, mas este não passava de um improviso feito por piano e raramente coincidia com a narrativa do écran. Assim foi no inicio e sómente a partir de 1910 é que se começaram a criar partituras para piano e orquestra, que criavam o clima apropriado para as cenas que passavam no écran. Mantinha-se, no entanto, o problema de sincronizar a acção com a banda sonora (o termo ainda não existia nesta altura, mas serve o seu propósito neste texto) que só seria resolvido na década seguinte quando se começou a "encomendar" os primeiros "Scores", ou seja: música incidental feita exclusivamente para determinado filme.
A Banda Sonora de um filme na década de 20
   O cinema alemão teve grande influência na altura do cinema mudo com filmes como "Os Nibelungos", de Fritz Lang (1924) ou "Metropolis" (Fritz Lang, 1927), contribuindo com bandas sonoras originais acompanhadas de orquestra completa e, no caso de "Nosferatu" (F.W.Murnau, 1922), temáticas.Alguns casos houve em que o compositor misturava, na mesma banda sonora, música de camâra e temas populares Apesar destas variantes, as bandas sonoras completas, nesta altura, ainda  eram raras. Excepção feita a Sergei Prokofiev que, juntamente com Sergei Eisenstein, um dos pais reconhecidos do cinema, criou a música de "Alexander Nevsky" e "Ivan - O Terrível", duas obras-primas cinematográficas difíceis de igualar.
   Com o advento do som, muitos realizadores quase deixaram de usar música nos seus filmes. Fritz Lang foi dos poucos que ainda a utilizou durante algum tempo, passando a utilizar todas as potencialidades que a nova invenção trouxera. Assim, em filmes como "M", onde Peter Lorre assobia uma peça criada especialmente para o filme, não existe práticamente nenhum acompanhamento musical; ou em "O Testamento do Dr.Mabuse", onde incluiu  uma peça musical que apenas se ouve no principio e no fim do filme e que serve  para enfatizar a insanidade da personagem.
   Apesar da década de 40 nada ter acrescentado, em termos de inovação técnica, às bandas sonoras, já os anos 50 viram nascer as bandas sonoras modernas influenciadas por géneros musicais já existentes  como o  Jazz. Elia Kazan, com o seu filme "Um Eléctrico chamado Desejo" (1951) e com a colaboração do compositor Alex North, deu o primeiro passo nesta modernização, ao combinar, na mesma banda sonora, elementos tão dissonantes como o Jazz e os Blues. O resultado deve ter agradado porque não tardaram a aparecer outras bandas sonoras e outros compositores a utilizar a mesma fórmula. Leonard Bernstein aplicou-a com sucesso em "Há Lodo no Cais" (Elia Kazan, 1954); Bernard Hermann, nos dez anos em que trabalhou com Alfred Hitchcock, nas bandas sonoras de filmes como "Vertigo - A Mulher que viveu duas Vezes" (1958), "Psico" (1960) ou "Os Pássaros" (1963), fez quase sempre um trabalho experimental que muito agradou ao realizador; Leonard Rosenman, na composição de "A Leste do Paraíso" (Elia Kazan, 1955) e "Fúria de Viver" (Nicholas Ray, 1955) experimentou criar música sem atonalidade e até Duke Ellington, nome maior do Jazz, ao criar uma banda sonora utilizando um formato de fusão entre Jazz tradicional e Jazz eléctrico para o filme "Anatomia de um Crime" (Otto Preminger, 1959), modernizou o panorama musical dos filmes.
A Banda Sonora como parte integrante do filme
   Nas décadas seguintes, a banda sonora dos filmes continuou a adquirir uma cada vez maior importância. Começa a ser considerada parte integrante do filme e, nalguns casos, como  em  "Lawrence da Arábia" (David Lean, 1962) ou "Doutor Jivago" (David Lean, 1965), a genialidade sonora de Maurice Jarre marca  a cadência da própria acção, com alguns temas,  como por exemplo "Missão: Impossível" (1966) composto por Lalo Schifrin, ou "Star Trek - Caminho das Estrelas" (1966) por Alexander Courage, para  televisão, adquirem uma importância tal que são indissociáveis das séries para que foram criados. Henry Mancini cria "The Pink Panther Theme"  para o filme "A Pantera Cor-de-Rosa" (Blake Edwards, 1963) que viria a ser um sucesso enorme levando à criação de um desenho animado baseado na mesma personagem cor-de-rosa. "Maestro" Ennio Morricone sai do velho continente e adquire reconhecimento mundial graças às brilhantes partituras musicais que criou para os "Western-Spaghetti"  de Sergio Leone. "James Bond-007", torna-se no agente secreto mais famoso do mundo graças ao inconfundivel tema escrito por Monty Norman (1962) e que John Barry se encarregará de perpetuar no tempo através das bandas sonoras que compôs para vários filmes da série.
   Em 1968 o álbum "Yellow Submarine" dos Beatles serve de inspiração para a realização de um filme de animação, com o mesmo nome, realizado por George Dunning, no qual o grupo apenas contribui com as canções e fazem uma aparição no final. Em 1973 "Pat Garret and Billy the Kid" integralmente composta por Bob Dylan, marca o inicio da viragem das bandas sonoras. Pela primeira vez temos um artista popular na composição de música para filmes e um primeiro grande sucesso musical intitulado "Knockin on Heaven's Door". Serão estes sucessos que irão marcar as últimas duas décadas do século XX.
John Williams
   A década de 70 verá nascer algumas das melhores bandas sonoras de sempre, fruto do trabalho apurado de compositores emblemáticos e decisivos nesta e nas décadas seguintes como Jerry Goldsmith, John Barry, Bill Conti ou o incomparável John Williams que, em 1977, com a banda sonora de "Star Wars - Guerra das Estrelas", a maior saga cinematográfica de todos os tempos, mudou para sempre a face das bandas sonoras.
   As décadas de 80 e 90 viram surgir um novo tipo de banda sonora. para além do que já existia, passou a utilizar-se um novo conceito que incluia canções inspiradas pelo filme, ou seja, as edições de bandas sonoras passaram a ser feitas de dois modos distintos: por um lado havia a banda sonora  composta por um ou mais compositores; por outro passámos a ter aquilo que se poderia considerar uma colectânea de temas de vários grupos e cantores, inspirada pelo filme e destinada a complementar a banda sonora própriamente dita e neste campo nem sempre se ganhou em qualidade. De um modo geral, a maior parte das vezes era apenas marketing destinado a atingir a maior parte do público, avesso a músicas instrumentais e muitas vezes orquestrais.
   Em muitos casos a  banda sonora de um filme é tida como uma arte menor, mas no seu melhor, são considerados trabalhos importantes dos compositores instrumentais contemporâneos na música moderna. Cada um que julgue por si!
 

   



   Nota: Os vídeos e imagens que ilustram este texto foram retirados da Internet

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