quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma Viagem pelo Cinema Português I

                                            I - Das Origens a 1974



Curta-Metragem de Aurélio Paz dos Reis
     O cinema em Portugal teve o seu início em 1896, na cidade do Porto com a exibição das primeiras curtas-metragens de Aurélio Paz dos Reis "A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança". Este não é nem mais nem menos do que  uma réplica do filme dos Irmãos Lumière "La Sortie de l'usine Lumière à Lyon" (1894-1895) que é considerado o primeiro filme da história do cinema e, ao mesmo tempo, o primeiro documentário. Paz dos Reis quer explorar o seu cinematógrafo e para isso organiza alguns espectáculos que não obtêm os resultados esperados. Desiludido, viaja para o Brasil para tentar a sua sorte mas regressa pouco tempo depois, junta-se a Manuel Maria da Costa Veiga, para fabricar imagens animadas e tornar-se exibidor de filmes em Lisboa.
   O cinema em Portugal, como indústria , terá o seu inicío em 1918 e durante a década subsequente dedica-se quase exclusivamente à transposição de clássicos da literatura portuguesa para o grande écran, entregando a realização a realizadores estrangeiros. "O Primo Basilío" baseado no romance de Eça de Queirós de George Pallu em 1922; "A Sereia de Pedra" de Roger Lion em 1922 ou ainda as aventuras de "José do Telhado" de Rino Lupo em 1929 são alguns exemplos da produção nacional. Alguns destes nomes serão determinantes na abordagem que os realizadores irão fazer ao cinema, principalmente George Pallu na forma como utiliza a paisagem para enquadrar a vida como ela é, quer seja no campo ou na cidade. Leitão de Barros será grandemente influencido pelo realizador francês, ao recorrer a temas já explorados mas inovando na forma para tentar gerar outro sentido. Com novas fantasias, a ficção explora a realidade.


   O mesmo Leitão de Barros realiza "A Severa" em 1931, o primeiro filme sonoro em Portugal. No ano seguinte constroem-se os Estúdios da Tobis Portuguesa de onde saírão muitas obras do cinema português.Com o desaparecimento do cinema mudo, surge uma nova geração de cineastas que influenciarão  muito o cinema nacional.
   Em 1935 é criado o Secretariado Nacional de Informação e percebe-se o interesse que o cinema tem para o regime. António Lopes Ribeiro torna-se a voz cinéfila de Salazar. A propaganda ideológica e política do regime tem que ser bem gerida como mostra  António Lopes Ribeiro em "A Revolução de Maio" (1937). Nos filmes que o público corre para ir ver, seduzido pelas imagens animadas, reinam actores de revista: Beatriz Costa, António Silva, Vasco Santana, Maria Matos, etc. É a época auréa da comédia. Temas prometedores como a vida boémia e raparigas bonitas em "A Canção de Lisboa" de Cottinelli Telmo de 1933; as touradas eternas em "Gado Bravo" de António Lopes Ribeiro de 1934; a pastora infeliz que vem servir para Lisboa em "Maria Papoila" de Leitão de Barros em 1937; a pureza da vida rural com  "A Aldeia da Roupa Branca" de Chianca de Garcia em 1939 ilustram  bem a cinematografia nacional.


Cena do filme "Camões" (1946)
     Aproveitando o sucesso da Exposição do Mundo Português de 1940, o regime promove o nacionalismo e obras, de grande fôlego épico recebem luz verde, como "Inês de Castro" (1944) ou "Camões" (1946) ambos de Leitão de Barros. Este último Salazar considera ser de interesse nacional, apresentado em Cannes em 1946 e seria o filme mais caro alguma vez feito em Portugal. Mas a década já começara com "Pai Tirano" de António Lopes Ribeiro (1941) e "O Pátio das Cantigas"  de Ribeirinho (irmão de A.Lopes Ribeiro) em 1942 e são ambos comédias bem ao gosto nacional. Também Manoel de Oliveira começa oficialmente a sua carreira de realizador com "Aniki-Bóbó"em 1942 e o filme, ao abordar de forma directa a vida e os amores de uma certa juventude na cidade do Porto, vai contra as regras do jogo.
   Para o grande público, Artur Duarte realiza "O Costa do Castelo" (1943) e "A Menina da Rádio" (1944); Armando de Miranda refaz "José do Telhado" (1945) e obtém um grande sucesso de bilheteira que repetirá com "Capas Negras" em 1947; "Fado, História de uma Cantadeira" de Perdigão Queiroga (1947), Com Amália Rodrigues e Virgilio Teixeira, explora a vertente populista daquele género de música e, ainda no mesmo ano e para o mesmo público, "Leão da Estrela" de Artur Duarte satiriza os adeptos do desporto-rei com enorme sucesso.
   As décadas subsequentes trariam períodos de estagnação e mudança, anunciando certas rupturas  no panorama do cinema nacional. Enquanto António Lopes Ribeiro tenta moralizar o público com "Frei Luís de Sousa" (1950) e Perdigão Queiroga fala ao imaginário da burguesia com "Sonhar é Fácil" (1951), Manuel Guimarães dá o primeiro sinal de mudança ao mostrar, com um toque de neo-realismo, o lado mais cru das coisas. "Saltimbancos" (1951) e "Nazaré" (1952) acentuam esse neo realismo que nunca acontecerá como o realizador pretendia. "Chaimite" de Jorge Brum do Canto de 1953 apela ainda a um certo nacionalismo mas os ventos são mesmo de mudança.
   Na década de sessenta a mudança opera-se numa ruptura dupla: de género e estilo, no que toca ao modo de filmar e o modo de produção, e é política. "Dom Roberto" de José Ernesto de Sousa (1962) e "Verdes Anos" de Paulo Rocha (1963) vêm imbuídos deste espiríto de mudança e de denúncia e marcam o início do chamado Cinema Novo. Fernando Lopes, António de Macedo ou António da Cunha Telles são nomes importantes nesta nova tendência da sétima arte portuguesa que tenta criar condições de auto-suficiência na produção de filmes e conciliar cinema de arte com cinema de grande público, o que nem sempre foi conseguido. No entanto filmes como "Belarmino" (1964), "Domingo à Tarde" (1965), "Sete Balas para Selma" (1967) ou "O Cerco" (1969), este último foi a Cannes, obteve êxito comercial e ainda ganhou alguns prémios oficiais,  são bons exemplos desta tendência.
   Alguns destes cineastas ainda seguem, já na década de setenta, o movimento do Novo Cinema. São eles: António de Macedo com "Nojo aos Cães", de 1969, mas estreado em 1970 e proibido pela censura;  Fernando Lopes com "Uma Abelha na Chuva" (1971) e ainda "O Cerco", três filmes produzidos com recurso a capitais pessoais,  material emprestado, e ajuda de amigos. Já com outros meios de produção, ainda alinham neste movimento realizadores como José Fonseca e Costa com "O Recado" (1971); António Pedro Vasconcelos com "Perdido por Cem" (1972), Fernando Matos Silva com "O Mal-Amado"(1973), Eduardo Geada com "Sofia e a Educação Sexual" (1973) ou Alberto Seixas Santos com "Brandos Costumes" (1974). António de Macedo exibe o resultado deste movimento em Cannes em 1973 com "A Promessa", seleccionado para a competição, é apenas o terceiro filme nacional a merecer tal distinção.
   A década vai ver nascer, ainda sob a égide do Estado Novo, o Instituto Português de Cinema em 1973, que era destinado a gerir financiamentos públicos para a produção de filmes nacionais. Surge também o recurso a uma inovação técnica originária dos anos sessenta: o uso de máquinas de filmar de 16 mm que vieram revolucionar não só as técnicas de filmar, como a própria linguagem cinematográfica, permitindo grande agilidade na filmagem e uma considerável redução nos custos de produção. A abordagem de certos temas torna-se mais fácil que levará alguns cineastas portugueses a optarem por praticar cinema directo, explorando assuntos que até então tinham escapado ao olhar da objectiva sob a forma de documentário. O filme político, o cinema militante, a docuficção e a etnoficção são géneros que marcam a cinematografia que se fez em Portugal na primeira metade da década de setenta e que nela se reinventam.
                                                                                                                          (continua)

                             
Nota: Todas as imagens foram retiradas da Internet




                          

  
  

1 comentário:

  1. Olá amigo Rui para que não penses que não comentei nem li o teu artigo em relação ao cinema português aqui está o meu vistigio em como aqui passei não vou escrever o que queria pois já te disse pessoalmente ganda abraço do trabalhador

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