- Origens e Primeiras Décadas (1896 – 1959)
O
Género ficcional de terror ou horror sempre fez parte do cinema, apesar
de existir em qualquer meio de comunicação no qual se pretenda provocar uma
sensação de medo que é a principal fonte dos filmes de terror. Muito ligado á
ficção científica e ao fantástico, é, desde a década de 60, considerado um
género á parte, orientado para um público específico que se rende também aos
subgéneros por ele criados.
Lobisomens, vampiros, fantasmas,
aliens, demónios, monstros, canibais, zombies, “serial killers”, diversos tipos
de medos, pesadelos e terror do desconhecido, são uma constante nos filmes de
terror. Existe sempre a intromissão de uma força maligna, alguém ou alguma
coisa de origem sobrenatural que vem interferir no quotidiano das personagens.
Os primeiros filmes, curtas-metragens na
realidade, apareceram com o pioneiro do cinema, Georges Méliès, sendo os mais
conhecidos, “Le Manoir du Diable”,em 1896,
que é considerado o primeiro filme de terror da história do cinema e “La
Caverne Maudite” em 1898, em ambos o tema é o sobrenatural.
No início do século XX, apareceu uma
primeira versão de “Frankenstein”, em 1910, que foi considerada perdida durante
muitos anos, tendo sido o primeiro monstro a aparecer no cinema, logo seguido das
primeiras versões de “Quasimodo, O Corcunda de Notre-Dame”, baseado no romance
de Vitor Hugo, que incluem “Esmeralda” (Alice Guy, 1906); “The Hunchback”(Van
Dyke Brooke, 1909); “The Love of a Hunchback” (1910) e “Notre-Dame de Paris”
(Albert Capellani, 1911) .
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Max Schreck, em "Nosferatu" |
Na Alemanha,
o expressionismo alemão ganha forma no
cinema através de alguns filmes que irão influenciar, não só o género de
terror, como também o cinema em geral. “Der Golem – O Golem“ (Paul Wegener e
Carl Boese, 1920) ou “The Cabinet of Dr.Caligari – O Gabinete do Dr.Caligari “
(Robert Wiene, 1920), são dois desses filmes, assim como “Nosferatu, Eine
Symphonie des Grauens – Nosferatu, o Vampiro” (F.W. Murnau, 1922), uma
adaptação não autorizada do livro de Bram Stoker, foi o primeiro filme sobre
vampiros que se fez no cinema.
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Lon Chaney |
Em Hollywood, Lon Chaney tornava-se
o primeiro actor em filmes de terror, ao
entrar em “The Hutchback of Notre Dame – Nossa Senhora de Paris” (Wallace
Worsley,1923) e “The Monster” (Roland West, 1925). Ainda na década de 20, filmes como “Dr. Jekyll and Mr.Hyde – O Médico
e o Monstro” (John S. Robertson, 1920),
“The Lost World – O Mundo Perdido” (Harry O. Hoyt, 1925), “The Phanton
of the Opera – O Fantasma da Ópera” ( Rupert Julian, 1925), entre muitos
outros, firmaram o terror como género de futuro.
No
início do cinema falado, a Universal Pictures estreou uma série de filmes de
terror que obtiveram sucesso. Foi o caso de “Dracula” (Tod Browning, 1931) com
Bela Lugosi, que tornaria a personagem de Bram Stoker uma das mais famosas e
interpretadas do cinema; “The Mummy – A Múmia”(1932) introduziria a egiptologia
como tema para o género; “Frankenstein – O Homem que criou o Monstro” (James
Whale, 1931), que tornaria o actor Boris Karloff numa das referências do
género, apesar dele apenas ter interpretado o monstro em três ocasiões, sendo
as outras duas: “Bride of Frankenstein – A Noiva de Frankenstein” (James Whale,
1935) e “Son of Frankenstein – O Filho de Frankenstein” (Rowland V. Lee, 1939).
Outros
estúdios, no entanto, viram as potencialidades do género e começaram a sua produção
de filmes de terror, que incluíam entre outros “Freaks – A Parada dos Monstros”
(Tod Browning, 1932),depois de completado, o filme foi recusado pelo estúdio e
manteve-se por estrear durante mais de trinta anos; nova versão de “Dr.Jekyll
and Mr.Hide – O Médico e o Monstro” (Rouben Mamoulian, 1931), mais lembrado
pela utilização de filtros de cor para criar a transformação do Dr.Jekyll; “Mystery of the Wax Museum –
Máscaras de Cera” (Michael Curtiz, 1933); ou ainda “Island of the Lost Souls –
A Ilha das Almas Selvagens” (Erle C. Kenton, 1932)
Já
na década de 40, a Universal continuou a liderar com os filmes de terror,
principalmente com o seu
“The Wolf Man –
O Homem Lobo” (George Waggner,1941), que apesar de não ser o primeiro filme
sobre lobisomens, foi certamente um dos que mais influenciou o género da
licantropia. Em 1940, o realizador Britânico Alfred Hitchcock chega a Hollywood
trazido pelo todo-poderoso produtor David O.Zelznick para filmar “Rebecca –
Rebecca”, uma adaptação do thriller psicológico escrito por Daphne Du Murier,
com Laurence Olivier e Joan Fontaine. O filme conta a história de um casal cuja
noiva é assombrada pela memória da falecida primeira mulher do seu noivo. O
filme introduziu no género uma temática que apenas anos mais tarde seria
explorada: o suspense. Apesar das difíceis relações entre o produtor e o
realizador por causa da abordagem ao tema, o filme foi um grande sucesso de
bilheteira e ganhou dois Oscares da Academia, incluindo o de Melhor Filme do
Ano. Hitchcock teve aqui a sua primeira nomeação para os Oscares e apesar de
não ter ganho o prémio, entrava pela porta grande na fábrica dos sonhos.
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Bela Lugosi, o eterno "Drácula" |
Com
o terror seguro dentro da sétima arte, muitos actores construíram as suas
carreiras em torno do género, principalmente Bela Lugosi , que, na sua longa
carreira, fez mais de cem filmes a interpretar Dracula,. Reza a história que a
personagem o marcou tanto que já no final da sua vida, na sua mansão, o actor
dormia num caixão e que morreu a pensar que era a encarnação perfeita da
personagem criada por Bram Stoker e Boris Karloff. Qualquer filme que os
tivesse como protagonistas, era um sucesso garantido. Karloff, ao longo da
década aparece em filmes importantes dos quais se destaca “The Body Snatcher –
O Túmulo Vazio” (1945), no qual também entrava Bela Lugosi; outros filmes da
década marcaram a diferença, como “Cat
People – A Pantera” (Jacques Tourneur, 1942) e “I Walked with a Zombie - Zombie”(
Jacques Tourneur,1943) e que ficaram bem acima das limitações auto-impostas
pelo género.
Com
o avanço da tecnologia que se deu ao longo da década de 50, também o tom dos
filmes de terror passou das temáticas góticas para preocupações mais
contemporâneas. Surgiram dois sub-géneros: a preocupação com o “Armagedão”
(vulgarmente conhecido como “O Dia do Juízo Final” ou quando os exércitos do
Bem enfrentam as forças do Mal) e o filme demoníaco. Uma série de produções (a
maior parte delas de baixo orçamento) mostravam a humanidade a enfrentar
ameaças vindas de fora: invasões extraterrestres, mutações mortíferas de
pessoas, animais e plantas. Em alguns casos, como com “Godzilla – O Monstro do
Oceano Pacífico” (Ishirô Honda, 1954) e suas sequelas, a mutação acontece com
os efeitos da radiação nuclear.
Foi
também durante esta década que os realizadores e produtores começaram a fundir
a ficção científica com terror, aproveitando assim algum do ambiente que a
Guerra Fria proporcionava: “The Thing from Another World – A Ameaça” (Christian
Nyby e Howard Hawks, 1951) ou “The Invasion of the Body Snatchers – A Terra em
Perigo” (Don Siegel, 1956), são obras de referência; já “The Incredible
Shrinking Man – Os Sentenciados” (Jack Arnold, 1957), baseado numa novela de
Richard Matheson, foi, na altura, considerado uma obra-prima do género, pois conseguia
conciliar uma história de ficção científica com os medos de se viver numa Era
Atómica e ao terror duma alienação social.

Ainda
nesta década, a Grã-Bretanha emergiu como produtora de filmes de terror. A
Hammer, estúdio Britânico de produção, inicia-se neste tipo de produções a
partir do meio da década e obtém enorme sucesso que envolve personagens
clássicas do cinema de terror a serem mostradas pela primeira vez a cores,
seguindo o exemplo da Universal no género, umas vezes com Peter Cushing, outras
com Christopher Lee, alguns destes filmes incluindo “The Curse of Frankenstein
– A Máscara de Frankenstein” (Terence Fisher, 1957) ou “Dracula – O Horror de
Dracula” (Terence Fisher, 1958) e as suas numerosas continuações e quase sempre
com Terence Fisher como realizador de algumas dessas obras, foram responsáveis
pelo boom do cinema de terror na Grã-Bretanha durante as décadas subsequentes.
(continua)
Nota: as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet