O dia 19 de abril de 2013 marcou a vida do artista. Foi nesse dia que a literatura viu nascer mais um escritor, ou melhor,
uma espécie de escritor. Foi precisamente nesse dia, no café “Saudade”, em Sintra,
mais ou menos, por volta das 22 horas que essa espécie de escritor nasceu. Mas
antes de chegarmos a esse dia e ano, precisamos de recuar uns
bons tempos para percebermos o trajecto que esse artista fez.
Os primeiros sinais duma grande vontade de
contar histórias surgiram por volta dos 10 anos de idade, depois duma passagem
normal pela primária, onde teve que aprender de tudo um pouco: desde aprender
os números, a contar, a fazer contas de somar, dividir, multiplicar e subtrair,
até saber os aparelhos do corpo humano e
suas funções; desde saber os nomes de todos os reis de Portugal até saber as províncias todas de Portugal, as
serras, os rios, os caminhos-de-ferro de cor e salteado. Aquele artista que
chegou ao preparatório era um rapaz bem preparado e pronto para novos desafios
que se avizinhavam.

O ciclo preparatório foi um primeiro desafio
para o artista. Inicialmente, não percebia bem aquilo que queriam dele. Novos
colegas, novas disciplinas, novos professores, enfim todo um admirável mundo
novo, que não o livraram dum choque inicial com a professora de Educação
Visual, que o levaram a faltar algumas vezes ás aulas da dita disciplina.
Professora essa, que, por acaso, até era a sua directora de turma. Mas
rapidamente se redimiu e começou a dar nas vistas nas redações que fazia nas
aulas de Português e na facilidade com
que participava nas aulas de conversação de Inglês. Se o 1ºano do Ciclo
Preparatório foi um grande desafio superado com eficácia, principalmente a
partir do segundo período, já o 2º ano do mesmo Ciclo foi feito “com uma perna
ás costas”, com distinção em algumas disciplinas. O artista estava pronto para
o desafio seguinte.

Inspirado pelas aventuras dos “Pequenos
Vagabundos”, de "Sandokan" ou dos “Famosos Cinco”, escrevia, de um dia para o
outro, pequenas histórias que depois recriava, com alguns colegas, no recreio
da escola, nos intervalos entre as disciplinas ou quando faltava algum
professor. Foram momentos únicos, divertidos
e inesquecíveis que fizeram de algum modo com que a imaginação do
artista começasse a sobressair.
Foi no 8ºano que o artista realmente deu nas
vistas e em dois momentos: o primeiro deles, aconteceu na elaboração de um
t.p.c. (os mal-afamados trabalhos de casa), para Português, em que foi dado um
tema livre para se fazer uma composição e o artista não foi de intrigas: depois
de muito pensar até quase matar a cabeça, resolveu escrever sobre o mau tempo
que na altura assolava o país e pôr-se
na pele duma vítima desse mesmo mau tempo, descrevendo aquilo que assistia e
pelo que passara.

O professor deu-lhe nota máxima na composição e ainda escreveu no final da folha um “muito bem!” a demonstrar
o seu agrado por aquilo que lera; o segundo momento aconteceu também na
disciplina de Português durante um teste escrito em que no final nos era pedido que imaginássemos uma situação
em que estivéssemos perdidos e o que é que nos aconteceria. O artista, uma vez
mais, deu a volta por cima e criou uma situação em que a sua personagem ia para
uma floresta brincar com os amigos, perdia-se (ou era abandonado) e depois de
muito andar e quase desesperar reencontrava-os numa casa onde pareciam estar a
aguardar por ele. O texto terminava neste suspense permitindo várias
interpretações. O professor, não só gostou, como também o encarregou de fazer a
continuação/conclusão da história que fora contada. Claro que o artista fez o
que lhe foi pedido e nesse ano (pela única vez no seu tempo de escola) teve 5 a
Português!
Mas o bichinho da escrita já o tinha atacado
e nunca mais haveria de o largar.
O tempo foi passando, o artista acabou o
ensino secundário e ingressou no ensino superior e ainda cumpriu o serviço
militar. Pelo meio, escreveu três livros (dois de aventura e um western), mas
nenhum passou do caderno onde foi escrito e sobreviveu para ver a luz do dia.
Em 1991, já em pleno furor laboral, é convidado
por João Amaral, um seu amigo,
apaixonado por ilustração e Banda Desenhada, para adaptar “A Voz dos Deuses”,
romance histórico de João Aguiar, para banda desenhada. Como já conhecia a obra
e o seu potencial, o artista, considerando ser o maior desafio que já
enfrentara, aceitou de imediato. Três anos depois, com muita investigação para não descurar nenhum pormenor, várias
deslocações a locais onde se passa a acção e também com uma boa dose de loucura própria
dos autores á mistura, a adaptação chegou a bom porto ainda tempo de ser
apresentada e lançada no “Festival de BD da Amadora” para grande alegria, não
só dos autores, como também do próprio João Aguiar. Foi então que o artista foi abordado para
enfrentar outros desafios.

Foi durante a apresentação do livro, numa
entrevista a um órgão social que lhe puseram a questão de qual seria o seu
futuro. O artista respondeu que não pensava continuar na Banda Desenhada mas
que pretendia, a par com o seu trabalho, dedicar-se á escrita de romances e que
até aproveitara aqueles dias do festival para escrever algumas páginas que já
submetera á apreciação de alguns amigos, os quais o incentivaram de imediato a
continuar. Entre aqueles dias do festival de Banda Desenhada e o final desse
ano de 1994 que começou a delinear o seu primeiro romance que, como diz o
ditado “ano novo, vida nova”, foi escrito durante o ano de 1995.
O livro, que ainda hoje enquanto o artista
escreve estas linhas, permanece sem título, é uma história policial, banal passada algures numa pequena
cidade da Califórnia chamada Gravetown e na qual acontecem vários crimes
horríveis, sem qualquer ligação entre si, competindo ao xerife local
investigá-los.
O artista, leitor de policiais clássicos como
Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, Lawrence Sanders, Robert Ludlum, entre outros, quis
homenageá-los no seu romance. Se o
conseguiu ou não, não sabe, talvez nunca saiba se não decidir editar a obra, a
que ele chama “obra tosca”. No entanto, quem o leu, mesmo sem nenhuma revisão,
diz que tem potencial. A ver vamos futuramente. Para o artista, a experiência
foi interessante, o simples facto de voltar a escrever foi cativante e deixou-o
com vontade de continuar.
No seu
segundo esforço literário, o artista quis optar por algo diferente e que fosse
interessante de ler.

Desde meados de 90 que ele mantinha algumas
conversas interessantes com Stephen, um americano que era o encarregado da
sucursal portuguesa duma empresa comercial americana que se queria estabelecer
em portugal, que morava em Sintra numa
quinta junto á serra. Tinham-se
conhecido num café na portela de sintra, que era propriedade dos pais dumas
amigas do artista. As conversas andavam á volta dos mistérios da serra e de
sintra e eram tão interessantes que o artista começou a tomar notas porque viu
ali, naquele amontoado de ideias uma possível base para um possível livro. Esta possibilidade viu-a numa das
visitas que fez á quinta dele. Falou-lhe nisso e Stephen mostrou-se
interessado, tão interessado que o levou numa visita guiada pelos locais mais
recônditos e inacessíveis ao turista normal do Palácio da Pena. A ideia foi
tomando forma e, a dada altura, as ideias já eram mais que muitas e só
precisavam de ser trabalhadas. Foi o que o artista começou a fazer.
Foi então que, inesperadamente, Stephen,
segundo informou algumas pessoas, teve de viajar para os Estados Unidos sem
deixar um contacto telefónico ou uma morada donde nunca mais deu notícias. O
artista deixou passar algum tempo antes de se decidir a avançar com a ideia que
tinha que, naquela altura, já tinha tomado a forma que acabou por ter.
Quatro anos foi o tempo que demorou a
escrita. Depois de nova passagem por alguns locais onde decorre a acção, alguma
investigação mais profunda sobre o tema e estava pronto para começar. “A Última
Demanda”, assim se chamou o livro, título que só foi encontrado já na fase
final da escrita, começou a ser escrito em 1998 e foi terminado em 2002. Trata-se
duma aventura que parte duma premissa possível:
“E se o Cálice Sagrado estivesse em Sintra?” e com isto em mente
acompanhamos a investigação que um grupo de arqueólogos leva acabo sobre o
assunto. O simples facto de poder brincar com a História, a disciplina
preferida e curso superior que o artista seguiu na faculdade, mas que não
terminou, depois duma passagem disinteressante pelo curso de direito, permitiu
que ele se divertisse imenso enquanto escrevia o livro.

Sem grande conhecimento do que poderia
acontecer, ou de editoras que quisessem apostar num desconhecido, o artista resolveu submeter o texto á apreciação
do seu amigo escritor João Aguiar, que com a simpatia que se conhecia, disse
que com uma boa revisão e algumas correcções ortográficas e gramaticais, o
história até tinha pernas para andar e ser editada. O artista, satisfeito,
enviou o texto, assim mesmo, para algumas editoras de renome. Umas responderam
negativamente por falta de espaço nos seus catálogos, outras nem sequer se
dignaram, até hoje, a fazê-lo e assim se passaram alguns anos, até que o artista,
depois de pedir a uma colega de trabalho que lhe revisse aquele texto que permanecera intocável desde que João Aguiar lhe respondera positivamente,
decidiu arriscar novamente a edição dum
texto seu tendo sempre presente que o
não era sempre garantido. Entra em cena “A Pastelaria Estudios Editora” , uma
editora com cerca de dois anos de existência que aposta em novos autores que
possam constituir possíveis valores futuros, que gostou e aceitou publicar o
livro que o artista lhes enviara. Algum tempo e diversos e-mails depois,
trocados entre a editora e o artista, a obra estava pronta a ser editada.

Sexta-Feira, 19 de abril de 2013, no “Café
Saudade” em sintra, por volta das 22 horas, o livro “A Última Demanda” era
oficialmente apresentado. Foi com grande emoção e muito nervosismo á mistura,
perante uma plateia de familiares, colegas e amigos que o artista apresentou a
sua obra . Durante cerca de duas horas e meia, o artista falou da obra, do
porquê da escolha daquele local para apresentar o livro, da sua (curta)
carreira de escritor, que, apesar de já ter dois livros escritos, começava naquele momento e do porquê de ter
escolhido aquele tema, ter escolhido o seu segundo romance para se estrear e
muitas outras coisas. Depois a apresentação, houve a tradicional sessão de autógrafos e, pronto!, estava
apresentado um novo escritor, uma espécie de escritor, como ele gosta de se
chamar.

Se o artista vai continuar nesta nova
carreira, nem ele sabe, vontade e ideias não lhe faltam, mas depende da
recepção que a sua obra vai ter junto dos leitores, critícos, blogers, etc. Se
vende muito ou pouco, não é preocupação do artista. O que realmente o preocupa
é o que vão achar da sua escrita, se é boa ou não, se motiva as pessoas, se tem
ritmo, etc.
È destas opiniões que o artista vai decidir
se abraça ou não esta nova fase da sua vida.
Comentários, opiniões e sugestões podem ser enviados
para: ruicmgc@gmail.com ou rcmgc1@gmail.com
, onde o artista ou "espécie de escritor" terá muito prazer em responder a todas as perguntas.
Nota: as imagens que ilustram este texto foram retiradas da internet e também da fototeca do autor