quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Filme de Ficção Científica I - As Primeiras Décadas


                       
                  1.    As Primeiras Décadas (1900-1959) 


                  Desde que o cinema começou,  que se encontra a Ficção Científica em filmes. Definir quais os filmes que pertencem ao género nunca foi uma tarefe fácil, já que não existe nenhuma definição universalmente aceite do que é o género. Existe, no entanto, uma definição que funciona como uma espécie de sumário de todas elas “O filme de ficção é um género que especula e enfatiza o método científico, num contexto social com o sempre presente transcendentalismo da religião e da magia numa tentativa de reconciliar o homem com o desconhecido”.  Esta definição assume que existe uma continuidade entre o empirismo do mundo real e o transcendentalismo do sobrenatural, em que a ficção científica está do lado do empirismo, enquanto o filme de terror e o fantástico ficam do lado do transcendentalismo, embora existam casos em que o terror e a ficção científica  “andam de braço dado”            
            Filmes de ficção científica apareceram cedo, ainda na altura do cinema mudo, tipicamente eram curtas-metragens filmadas a preto-e-branco, por  vezes com alguma tintagem colorida, a temática era tecnológica e por vezes cómica. Em 1902 estreou “Le Voyage dans la Lune – Viagem à Lua”, geralmente considerado o primeiro filme de ficção científica. Realizado por Georges Méliès, utilizou truques fotográficos para mostrar, em três minutos, uma nave que viajava até à lua. A literatura de ficção cientifica serviria de base a muitos filmes do género. Em 1916 “As 20000 Léguas Submarinas” de Júlio Verne foi transformado em filme, a primeira das muitas  adaptações que se iriam fazer. Já em 1910  com “Frankenstein”, baseado no livro  de Mary Shelley e em 1913 com “Dr. Jekyll and Mr.Hide” de Robert Louis Stevenson, o cinema introduziu o conceito do “cientista louco” no cinema. Outro conceito viria a ser introduzido nesta altura,  muito devido ao sucesso obtido por “The Lost World”, em 1925, adaptação do livro de Sir Arthur Conan Doyle, que foi dos primeiros exemplos a usar imagens fotográficas animadas, dando origem aos conceitos de ficção científica de monstros, dinossauros e mundos escondidos.
            Na europa, na década de 20, o filme de ficção científica evoluiu de maneira diferente em relação ao cinema americano. Os realizadores europeus utilizaram o género para fazer previsão e comentário social. Na rússia, o filme “Aelita” (1924) discutiu a Revolução no contexto duma viagem a marte. Outras obras importantes desta altura incluíam “The Cabinet of Dr.Caligari - O Gabinete do Dr.Caligari “ (Robert Wiene,1919), “Paris Qui Dort - Paris que Dorme” (René Clair, 1925), “Luch Smerti” (Lev Kuleschov,1925), entre.outras. Porém, em 1927, na Alemanha surgiu uma obra importante, não só no contexto do cinema europeu, como no contexto do cinema mundial.  Fritz Lang, um pioneiro do cinema e do expressionismo europeu, realiza “Metropolis”, um filme, cuja acção se passa em 2026 e que, além de ser o mais caro filme da altura, apresentava todos os elementos-chave de ficção cientifica: um robot autónomo, um cientista louco, uma sociedade distópica do futuro e cenários altamente futuristas (inspirados na cidade de Nova York) e, posteriormente, face aos acontecimentos que se deram na europa e no mundo, durante a década seguinte, foi considerada uma das grandes obras de antecipação da história do cinema.
            O cinema da década de 30 foi grandemente influenciado pelo advento do som e também pelos efeito da Grande Depressão. Logo em 1930, o fracasso o filme “Just Imagine - 1980”, realizado por David Butler que foi o primeiro filme de ficção científica musical cuja história se passa em 1980 num mundo completamente diferente daquele que existia,   quando a personagem principal, depois de ter sido atingido por um raio, em 1930, é ressuscitado 50 anos depois e descobre que tudo aquilo que conhecera no seu tempo fora substituído por outras coisas. Rebaptizado com o nome de "Single O", é escolhido por um cientista para fazer parte duma expedição de quatro meses a Marte e quando lá chegam descobrem que o planeta está cheia de mulheres cobertas  da cabeça aos pés que fazem números de dança e idolatram um homem pequeno e gordo.  Também o filme britânico “Things to Come - A Vida Futura” (William Cameron Menzies,1936), baseado no livro de H.G.Wells, que projetava o mundo 100 anos no futuro e já previa a II Guerra Mundial, não conseguiu render o suficiente nas bilheteiras e os estúdios tornaram-se relutantes em financiar grandes projetos futuristas. 
       Em vez disso, começam a surgir os filmes -série: produções de baixo orçamento, feitos rapidamente sem grande preocupação a nível de argumento, mas com acção e muito armamento sofisticado. Algumas das séries mais populares desta altura foram a série de filmes sobre “Flash Gordon” ou as atribulações de “Buck Rodgers”, entre outras e continuavam a usar elementos de ficção científica como as viagens no tempo, alta tecnologia, assim como ideias de dominação mundial ou cientistas loucos que iriam estar também presentes na produção cinematográfica da década de 40 e na mais importante criação desta década: a série animada de “Superman”, o super-herói patriota. Apesar de alguma propaganda disfarçada e o facto de alguns heróis de banda desenhada, como “O Capitão América” ou “Batman”, terem ido também combater na II Guerra Mundial, o cinema de ficção científica andou algo adormecido durante os anos de guerra.
            Na década de 50, dois acontecimentos que tiveram impacto nos filmes de ficção científica: o desenvolvimento da Bomba Atómica levou a um interesse redobrado pela ciência, assim como  a ansiedade e medo dos efeitos duma guerra nuclear. Nesta altura começou também o período conhecido como A Guerra Fria e a paranoia da expansão do comunismo nos Estados Unidos. Estes  últimos levaram a um maior incremento de filmes de ficção cientifica, ao longo da década, criando assim uma Época de Ouro de filmes de ficção científica semelhante aquela que acontecera na literatura. 
           Filmes com pequenos orçamentos foram sucessos de bilheteira assim como alguns com orçamentos maiores e efeitos especiais impressionantes, não deixaram de maravilhar um público ávido, como por exemplo “The Day the Earth stood Still – O Dia em que a Terra parou” (Robert Wise, 1951), “The Thing from another World – A Ameaça” (Howard Haws e Christian Nyby, 1951), “The War of the Worlds – A Guerra dos Mundos” (Byron Haskin,1953), “20.000 leagues under the sea – 20.000 Léguas Submarinas” (Richard Fleischer, 1954),  “The Forbidden Planet – O Planeta proibido” (Fred M. Wilcox,1956), Invasion of the Body Snatchers – A Terra em Perigo” (Don Siegel, 1956) ou “On the Beach – A Hora Final” (Stanley Kramer, 1959). 
           Ainda durante esta década criou-se uma espécie de ligação entre os filmes de ficção cientifica e aqueles que foram  chamados “Monster Movies - filmes de monstros" (literalmente traduzido), de que Ray Harryhausen, um dos grandes nomes dos Efeitos  Especiais, foi o grande impulsionador. Usando imagens fotográficas animadas para criar efeitos especiais para alguns dos mais notáveis filmes da época e da ficção cientifica tais como “Them - O Mundo em Perigo” (Gordon Douglas,1954), “The Beast from 20.000 Fathoms - O Monstro dos Tempos Perdidos” (Eugene Lorié,1953),  “It Came from Beneath the Sea - O Octopus” (Robert Gordon, 1955) ou “The Blob - A Bolha Assassina” (Irvin S. Yeaworth,1958), Harryhausen tornou-se num dos nomes incontornáveis da magia cinematográfica.
            Estava a chegar uma nova década, com novos desafios, novas temáticas e também alguma revisão da matéria dada. A Face do cinema de ficção cientifica nunca mais iria ser a mesma.
                                                                                      (Continua)




Nota: As Imagens que ilustram este texto foram retiradas da Internet

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