quinta-feira, 19 de dezembro de 2019


                             “THE WARRIORS” - OS SELVAGENS DA NOITE
                         
                        Um Filme de Acção Contemporânea

         Em 1961,“West Side Story – Amor sem Barreiras “ realizado por William Wyler e Jerome Robbins estreou nos cinemas. Tratava-se de um filme musical, adaptado duma peça de teatro da Broadway, por sal vez inspirada na famosa tragédia de William Shakespeare, “Romeu e Julieta”. No filme, dois gangs rivais, os “Jets” e os “Sharks”, disputam a posse dos territórios que se encontram entre as suas zonas na cidade de Nova York. Pelo meio, uma história de amor entre Tony, ex-líder dos “Jets” e Maria, irmã de Bernardo e chefe dos “Sharks” ameaça complicar a situação já por si muito delicada. O filme foi um enorme sucesso de bilheteira e venceu 10 Oscares da Academia, incluindo o de Melhor Filme do Ano. O filme reabilitou as lutas de gangs que tantas delícias fizeram nos westerns das décadas anteriores e deu-lhes um toque de modernidade que se mantém até aos dias de hoje fazendo com que os filmes sobre gangs rivais continuem a ter grande aceitação junto do público. 
"The Warriors - Os Selvagens da Noite", estreado em 1979 apenas veio confirmar essa mesma tendência.
     
Cyrus, o líder dos “Riffs”, o gang mais poderoso de Nova York convoca uma reunião com todos os gangs da cidade, convidando a que todos se unam sobre a sua liderança e formar um exército para fazer frente à polícia e a quem quer que venha reclamar territórios. Durante o evento ele é assassinado a tiro e, no meio da confusão que se gera, alguém aponta os “Warriors” como potenciais culpados.  De repente o grupo vê-se perseguido por todos os bandos da cidade enquanto tentam, a todo o custo, chegar a Coney Island, a sua zona de conforto, o que significa atravessar toda a cidade de Nova York transformada em território inimigo.

       Antes de ser transformado em filme, “The Warriors” é um livro escrito por Sol Yurick, em 1965. Foi o seu primeiro livro e também o mais famoso porque o escritor baseando-se na obra “Anabasis”, escrita por Xenofonte, por volta do ano 370 a.C., onde o antigo militar e historiador relata a chamada “Marcha dos 10.000” que trata da caminhada que o exército grego fez, no ano 401 a.C., desde a costa até ao interior do Império Persa, ganhou inspiração para escrever “The Warriors”, tornando-o num grande sucesso literário entre a juventude dos anos 60. Os direitos de adaptação para o cinema foram comprados em 1969 pela “American International Pictures”, mas, devido a diversos problemas, o filme nunca avançou. Já na década de 70, Lawrence Gordon, produtor, conseguiu adquirir os direitos de adaptação e encarregou o seu amigo, David Shaber, de escrever o argumento. Gordon, que tinha produzido os filmes “Hard Times – O Lutador da Rua“ (1975) e “The Driver – O Profissional” (1978) com o realizador Walter Hill, até então argumentista de alguns sucessos cinematográficos como “The Getaway – Tiro de Escape”, realizado por Sam Peckinpah em 1973, enviou ao realizador o argumento juntamente com uma cópia do livro de Yurick, que Hill adorou e quis adaptar para o grande écran.  
   
 Lawrence Gordon e Walter Hill, inicialmente, queriam fazer um western, mas quando o financiamento, por parte da “American International Pictures” falhou, o produtor, beneficiando da excelente relação que tinha com os executivos da “Paramount Pictures” (que estava interessada em produzir filmes sobre a juventude), conseguiu garantir o financiamento e o projecto teve luz verde para avançar. 
O argumento, tal como estava escrito por Shaber, era extremamente realista no que toca aos gangs e ás suas rivalidades, mas Hill era um grande fan de banda desenhada e queria que o filme fosse dividido em capítulos, os quais eram apresentados em banda desenhada (uma espécie de “Storyboards”, mas mais realistas) e depois ganhavam vida e entrava-se num novo capítulo, mas, devido ao baixo orçamento com que se estava a trabalhar, tal ideia nunca foi usada nas versões de cinema e também porque a produção estava numa luta contra o tempo para fazer com que o filme estreasse antes de “The Wanderers – Os Vagabundos de Nova York”(Philip Kaufman, 1979),  outro filme de gangs produzido por outro estúdio.   
     
Realizado por Walter Hill, que viria mais tarde a assinar filmes como "48Hrs - 48 Horas" (1982), "Extreme Prejudice - Fronteira do Perigo"(1987), "The Long Riders - O Bando de Jesse James" (1980), “Streets of Fire – Estrada de Fogo” (1984) ou o excelente "Southern Comfort – Estado de Guerra” (1981), teve aqui o seu primeiro grande sucesso de bilheteira, devido não só ao elenco desconhecido que povoa o filme, como também graças ao brilhante trabalho técnico de fotografia nocturna (Nova York talvez nunca tenha sido tão assustadora de noite como neste filme), de montagem (rápida ) e de som (a voz da locutora de rádio, cujo rosto nunca vemos, que vai relatando a evolução da caça aos Warriors, chega ser tão ou mais sinistra que os próprios gangs); o próprio início do filme, o genérico, entrecortado com os”Warriors”  a se interrogarem sobre o propósito daquela reunião e imagens dos gangs a chegarem ao local do encontro, ganha alguma vitalidade visual e sonora com a música da autoria de Barry De Vorzon. Walter Hill é um artesão que, com os seus conhecimentos e perícias, consegue obter o efeito desejado, sabe aquilo que faz e em “The Warriors” prova-o e bem: O filme passa-se todo numa noite e parte da manhã, e além disso existe muita vitalidade e energia (nomeadamente na coreografia das cenas de acção e na coordenação dos duplos que nelas trabalham), mas também nos encontros com a polícia. Espaços e sequências que o realizador gere muito bem.
 Ao contrário do que se poderia esperar, o filme nunca perde ritmo nem interesse e consegue mesmo captar o espírito de uma certa cultura pop que ainda hoje se mantém intacta, levando também o espectador a torcer pelo destino dos Warriors. 
   
Quando estreou, o filme, apesar do sucesso que obteve, foi algo envolto em polémica por mostrar demasiada violência, tendo, inclusive, sofrido alguns cortes antes da sua estreia nacional. 
Na realidade foram cerca de cinco minutos de cenas diversas, incluindo uma parte da luta na casa de banho da estação de metro entre os “Warriors” e um grupo de “punks” em patins; e da remontagem da cena final, quando os “Riffs” cercam e matam os “Rogues”, os verdadeiros culpados da morte de Cyrus.
   Em 2001 quando o filme foi editado para o circuito DVD os cinco minutos que tinham sido retirados do filme já vinham incluídos restabelecendo a metragem total do filme para os 92 minutos, em vez dos 86 minutos com que o filme chegou aos cinemas.

Mesmo após vários visionamentos e do tempo que já tem, "The Warriors - Os Selvagens da Noite", continua a ter a mesma frescura, a mesma vitalidade e a mesma actualidade que tinha quando estreou em 1979.
Na altura, o filme foi motivo de notícias sobre actos de vandalismo e alguma violência verbal e física, que causaram três mortos (dois no sul da Califórnia e um em Boston) que envolveram espectadores que vinham de assistir ao filme  obrigando a “Paramount Pictures” a adiar a sua estreia e/ou a suspender a sua exibição nas salas de diversas cidades americanas que, por motivos de segurança, contrataram seguranças profissionais para evitar eventuais confrontos. Sómente quando a distribuidora ameaçou proibir a sua distribuição nacional e internacional, é que a situação acalmou.
     Apesar de algum negativismo inicial por parte da crítica, num ou noutro momento, face a algum realismo inerente pouco comum na altura, tem mudado a sua opinião para algo mais positivo e o filme só tem ganho com isso pois tem vindo a ganhar algum estatuto de “filme-culto”.


Nota: as imagens e vídeo que ilustram o texto foram retiradas da Internet





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