domingo, 22 de novembro de 2015

Na Linha de Fogo


   “Na Linha de Fogo” marcou o regresso de Clint Eastwood aos papéis principais, depois do triunfo absoluto de “Unforgiven - Imperdoável” (Clint Eastwood, 1992) e de um papel quase secundário em “A Perfect World - Um Mundo Perfeito” (Clint Eastwood, 1993). Seria também a última vez que seria dirigido por outro realizador que não ele próprio, situação que seria alterada em 2012 quando o actor e realizador anunciou o seu regresso á interpretação depois de “Gran Torino – Gran Torino” (Clint Eastwood, 2008)  com “Trouble with the Curve – As Voltas da Vida”, realizado pelo seu produtor habitual e amigo,  Robert Lorenz.
   Frank Horrigan é uma lenda viva dos Serviços Secretos Americanos, com uma folha de serviços excepcional, cuja única mágoa em toda a sua carreira é não ter conseguido impedir que  John F. Kennedy fosse assassinado em Dallas em 1963. Agora, em nova campanha presidencial, um psicopata avisa que vai assassinar o Presidente dos Estados Unidos que concorre para ser reeleito, ao mesmo tempo que desafia Horrigan a tentar emendar o seu erro no passado.
   
Um “thriller”, deve ter, no mínimo, um vilão que faça justiça ao género cinematográfico em que se inclui e “Na Linha de Fogo” tem um excepcional. Mitch Leary (brilhantemente interpretado por John Malkovich), é inteligente, perverso, bem falante,  consegue penetrar na mente do seu oponente, através duma série de telefonemas, de um modo verdadeiramente insidioso, gosta de fazer jogos mentais e diz a Horrigan, mais ou menos, aquilo que pretende fazer e quando é que o irá fazer. Horrigan, aceita o jogo e encara-o como uma espécie de redenção do seu passado. No entanto, depois de ter cometido um erro e ter feito o presidente parecer um cobarde, o Chefe do Gabinete presidencial faz com que Frank seja posto fora da escolta presidencial e ele vê-se na obrigação de quebrar alguma regras de modo a não perder o rasto de Leary que, por essa altura, já se conseguiu imiscuir no círculo próximo do presidente.
   
Clint Eastwood provou mais uma vez ser uma escolha perfeita para o papel de Frank Horrigan, um homem com uma longa experiência, apesar de se culpabilizar pelo assassínio de J.F. Kennedy, sente que poderia ter feito a diferença em Dallas. De certa maneira, é Leary que, usando as palavras como setas certeiras,  quem proporciona ao agente dos Serviços Secretos, a possibilidade de, de uma vez por todas, exorcizar os fantasmas do seu passado. Mas ele é também um homem de sentimentos profundos como demonstra o seu relacionamento com a agente Lilly Raines ( a bonita actriz Rene Russo, numa variação mais “sexy” do seu papel em “Lethal Weapon 3 – Arma Mortífera 3”, realizado no mesmo ano, por Richard Donner), formando uma variação interessante nos papéis de associado (a) e /ou colega e namorada (o).  
   
  
Inicialmente a relação entre ambos é difícil, já que ele, macho, faz comentários sexistas acerca do facto das mulheres poderem ser também Agentes dos Serviços Secretos. Ela ignora-o. Eventualmente, quando Mitch Leary desafia Horrigan para o seu pequeno jogo, ela ajuda-o e um respeito começa a surgir entre ambos evoluindo para uma atracção  mútua na maravilhosa cena, carregada de um quase realismo e emoção, no salão do hotel  quando Horrigan toca piano e conversa com uma LiIly, absolutamente divinal no seu vestido de noite, sobre trabalho, Jazz, estratégia e romance e conseguem ser tão extremamente convincentes que parece que aquela conversa está a acontecer entre duas pessoas com vidas normais. Dylan McDermott, John Mahoney, Fred Dalton Thompson completam o elenco deste thriller de acção e suspense.
   O Produtor do filme , Jeff Apple, começou a desenvolver a ideia deste filme em meados da década de 80. A sua ideia era fazer um filme sobre um Agente do Serviço Secreto desde a sua infância até á altura em que o Presidente Kennedy é assassinado estando ele destacado para sua protecção. Apple foi inspirado por uma memória da sua juventude em que ele sonhava ter um encontro com o então Vice-Presidente dos Estados Unidos, Lyndon B. Johnson, em que este se encontrava rodeado por agentes dos Serviços Secretos com auriculares, vestidos com roupa escura e a usar óculos de sol. A ideia tomou forma durante a sua adolescência enquanto via as inúmeras repetições televisivas das imagens do assassínio do Presidente J.F. Kennedy. Em 1991, o argumentista Jeff Maguire foi convidado para completar o argumento que viria a tornar-se no filme.
   
No geral, “Na Linha de Fogo”, é muito semelhante aos filmes da série “Dirty Harry” que Clint Eastwood tão bem protagonizou ao longo das décadas de 70 e 80 do século passado nos quais, quase sempre, um psicopata fazia jogos com o polícia que depois era posto fora do caso mas continuava a sua investigação por conta própria, muitas vezes ajudado por alguém que poderia ter sido alvo do criminoso mas teria sido ajudado pelo agente em questão, ou pelo seu parceiro que o mantinha informado. Mas o filme não é uma repetição desses elementos, mas sim um thriller inteligente e bem feito, muito na linha de “Tightrope – Um Agente na Corda Bamba” (Richard Tuggle, 1984), um dos melhores filmes que Eastwood protagonizou dentro do género. O argumento avança sem medos e percebe-se que Jeff Maguire se terá divertido imenso em escrever as voltas e reviravoltas que o compõem. Nunca se perde tempo. Horrigan segue as pistas que Leary lhe vai deixando, usa a sua perspicácia, intuição e experiência, quebra regras e regulamentos quando necessário e eventualmente chega aquele ponto em que se testa o dever e o poder de decisão  de qualquer agente do Serviço Secreto: deve ou não deixar-se atingir para proteger a vida do Presidente?
   
Realizado pelo alemão Wolfgang Petersen,  que depois de diversa obra na televisão alemã, conseguiu ganhar notariedade em 1981, com “Das Boot – A Odisseia do Submarino 96”, drama claustrofóbico passado dentro dum submarino alemão durante a Segunda Guerra Mundial, vencedor de vários prémios em festivais internacionais e nomeado para 6 Oscares. Foi depois, em 1985, transformado numa mini-série televisiva em seis episódios; realizou depois “The Neverending Story - A História Interminável”, em 1984, outro sucesso entre as camadas mais jovens. Depois, já e terras do tio Sam, filmou “Enemy Mine – Os Inimigos” em 1985,  sobre o relacionamento improvável entre um soldado espacial e um sobrevivente da espécie inimiga, que foi apenas um relativo sucesso; em 1991 filmou “Shattered – Pulsações Explosivas”, um drama de crime e mistério que obteve as graças da crítica. Em “Na Linha de Fogo”, Petersen consegue desenrolar a história duma maneira tão certa como um relógio e definir as personagens de modo a torná-las surpreendentemente simpáticas (incluindo o próprio Mitch Leary de quem não conseguimos deixar de gostar apesar do que ele se propõe fazer). O sentido de acção está sempre presente, principalmente no clímax do filme onde a realização tem tanto de espectacular como de hábil, não só por causa da sua acção como também pela sua perfeita lógica final que permite que a situação anteriormente vivida entre ambos volte a acontecer como uma espécie de desforra do seu jogo.
   O filme obteve maioritariamente impressões positivas dos críticos e ganhou os favores do público. Custou cerca de 40.000.000 de dólares, foi um considerável sucesso de bilheteira nos Estados Unidos onde fez cerca de 102.000.000 de dólares, enquanto na europa e resto do mundo ultrapassou os 85.000.000 de dólares.
   O que existe na maioria dos thrillers hoje em dia são grandes peripécias,  muita acção e pouca história. Com “Na Linha de Fogo” existe um pouco de tudo, mas principalmente existe inteligência e só isso é suficiente para estarmos perante um grande filme.

Nota: as imagens e vídeo que ilustram o texto foram retirados da Internet




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