Se Agatha Christie foi e ainda é considerada a
grande “Dama do Crime”, com as suas
personagens famosas como o Detective Hercule
Poirot, ou Miss Marple, a servirem de mote a um sem número de escritores, já Enid Blyton, com as suas mais de 700 obras
(!) publicadas, entre livros, poesia e
artigos, divididas entre obras em nome
próprio e obras publicadas sob o pseudónimo de Mary Pollock, deve ser
considerada a mais profícua contadora de histórias para crianças que alguma vez
existiu.
O seu primeiro livro “Child Whispers”, uma
colecção de poemas apresentados em 24 páginas, foi publicado em 1922 e desde
então nunca mais parou de escrever. No pico da fama, entre as décadas de 40 e
50, chegava a publicar entre 10 a 20 (!) livros por ano. Faleceu em 1968,
deixando algumas obras incompletas que seriam terminadas pelos seus herdeiros,
nomeadamente pela sua neta, Sophie Smalwood e postumamente editadas ao longo
dos anos subsequentes á sua morte.
Entre as muitas séries que escreveu, as mais
famosas e também as mais lidas em todo o mundo, encontram-se “Noddy”,
“Mistério”, “As Gémeas em Sta. Clara”, “O Colégio das Quatro Torres”, “Os
Sete”, entre muitas outras. Mas a sua criação mais famosa de todas, à excepção
da série infantil “Noddy”, foi a série dos Famosos Cinco, que ainda hoje se lê
com o mesmo agrado que se teve quando nos chegou ás mãos o primeiro livro das
suas aventuras.
A série “Os Famosos Cinco”, ou apenas “Os Cinco” como ficou conhecida em Portugal, nasceu em 1942 e relatava as diversas aventuras de um um grupo de quatro crianças e o seu cão. Na verdade, três das crianças eram irmãos e a quarta era prima deles. As crianças eram: Julian (Júlio), o mais velho, alto e inteligente, forte, simpático e responsável, naturalmente, o líder do grupo. No início da série, Julian tem 12 anos; Dick (David), dono de um humor tipicamente britânico (adaptado em Portugal á nossa realidade), não tão inteligente como Julian, mas igualmente responsável. É um ano mais novo que o seu irmão, Julian e no início da série tem 11 anos; Georgina ( Maria José), prima de Julian, Dick e Anne, é uma maria-rapaz, usa o cabelo curto como os rapazes e veste-se como eles. Quer que a tratem por George ( Zé) ou então não responde.
Dona de uma personalidade muito forte, tem um espírito de
aventureira, corajosa e de difícil relacionamento com outras pessoas (Enid
Blyton admitiria que a personagem de Georgina era muito baseada em si própria),
Georgina tem a mesma idade que o seu primo Dick; Anne (Ana), é a mais nova do grupo. Pouco
dada a aventuras, não as aprecia tanto como os outros, assusta-se facilmente.
Por ser a mais nova, gosta de se ocupar das tarefas domésticas nas aventuras,
planeando e organizando as coisas e gosta de ter tudo arrumado, seja em casa,
seja nos acampamentos e é muito
protegida pelos seus dois irmãos mais velhos, apesar de Dick gostar sempre de a
provocar um pouco e ser sempre o
primeiro a tentar animá-la quando ela se sente aborrecida ou triste. No início da série, Anne tem 10 anos; Timmy (Tim) é um cão brincalhão, afável e muito dedicado aos seus quatro companheiros, mas principalmente é-o em relação a Georgina que o considera, nas suas próprias palavras, o melhor cão do mundo. Inteligente e protector, Timmy torna-se decisivo em muitas aventuras ao providenciar protecção física ás crianças em momentos de grande aflição.
O primeiro livro “Five on a Treasure Island – Os Cinco na Ilha do Tesouro”, foi publicado em 1942 e começa quando os três irmãos vão passar férias ao “Casal Quirrin”, uma propriedade situada junto ao mar, no Condado de Dorset em Inglaterra, que pertence aos tios, Quentin ( irmão do pai de Julian, Dick e Anne), um cientista famoso e brilhante, conhecido pelo seu temperamento delicado, distraído e grande falta de humor, é no entanto, um pai extremoso, marido e tio dedicado e muito orgulhoso da sua filha e Fanny, que, ao longo dos livros, vai assumindo uma figura maternal nas vidas das crianças, e onde conhecem a sua irascível prima, Georgina e o seu cão, Timmy. Em frente á praia onde fazem as suas férias, está a Baía Kirrin e nela existe uma ilha com uma fortaleza em ruínas, que Georgina diz ser da sua família e será lá que acontecerá a sua primeira aventura e algumas outras posteriores.
Enid Blyton tencionava escrever entre seis a
oito livros na série, mas o sucesso comercial
foi tal, principalmente entre as camadas mais jovens, que ela acabou por
se ver forçada a escrever vinte e um livros na série, um por ano, desde 1942
até 1963, quando escreveu “Five are Together Again – Os Cinco e a Torre do
Sábio”, vigésimo-primeiro e último livro da série. Hoje em dia vendem-se cerca
de 2000.000 de cópias por ano das obras de Enyd Blyton, principalmente dos
livros infantis. No total, a sua obra já vendeu mais de 100.000.000 de cópias,
tornando-a numa das mais bem sucedidas escritoras de sempre.
Em 1971, o legado de Enid Blyton autorizou Claude Voilier (pseudónimo de Andrée Labedan), professora, jornalista e tradutora, a dar continuidade ás aventuras de “Os Cinco”, já que desde sempre as suas aventuras tinham sido extremamente populares em França, algumas delas tinha sido a própria a traduzir para francês. Nascia assim a série “As Novas Aventuras dos Cinco, constituída por 24 novas histórias, publicadas entre 1971 e 1985.
Em 1997, foram encontrados diversos textos
inéditos que continha várias pequenas histórias, escritas em 1963, alguns haviam
feito parte duma revista publicada ainda em vida da escritora, outros não,
deveriam ser esboços para outras futuras aventuras, mas que a autora não
quisera publicar na altura. Como estavam completas, os seus familiares acharam
que seria interessante publicá-las como sendo parte integrante das aventuras
originais de “Os Cinco” e assim apareceu
“Five Have a Puzzling Time and Other Stories – Os Cinco e a Luz
Misteriosa”, constituído por oito contos, tornando-se o vigésimo-segundo livro das aventuras de “Os Cinco”, editado
em 1998, 30 anos depois da morte da escritora.
Foi com Julio Verne, para mim, o melhor
escritor de todos os tempos, que aprendi a ler, mas foi com Enid Blyton,
que comecei a cultivar o gosto pela
leitura, que, de resto, ainda hoje se mantém.