sábado, 19 de julho de 2014

O Filme de Terror III


          - A Diversificação Temática (1980 – 2010)

   
O início da década de 80 viu o terror reforçar-se com uma nova vaga de filmes que lembravam vagamente os “série B, mas com mais “gore” á mistura e  que, apesar de maltratados pela crítica, vieram a tornar-se filmes de culto. Desde logo, Lucio Fulci, realizador italiano, considerado o mestre do cinema “gore” com “City of the Living Dead – Os Mistérios da Cidade Maldita” (1980), onde um jornalista e uma psiquiatra têm de fechar as portas do inferno, abertas pelo suicídio de um padre e impedir que os mortos se ergam dos túmulos; e “Zombi 2 – A Invasão dos Mortos-Vivos” (1979), uma espécie de remake europeu do clássico de Romero,  em que a filha de um médico vai procurar o pai ás Antilhas depois do seu barco chegar ao porto de Nova York  apenas com um morto-vivo a bordo; são dois exemplos do mais puro cinema “gore” que captaram positivamente a atenção do público, principalmente os jovens, sempre sedentos destas coisas.
   
Também em 1980, John Carpenter com “The Fog – O Nevoeiro” continua a ter o dom de saber contar uma história sem recorrer a grandes meios, neste caso uma história de fantasmas que regressam no dia do aniversário da cidade de Santo António, na Califórnia, para recuperar o ouro que lhes foi roubado e matar os descendentes dos seis conspiradores que,  cem anos antes, os conduziram á morte.
Inspirado no “Halloween” de Carpenter, Sean S. Cunningham realiza “Friday the 13th – Sexta-Feira 13” (1980) em que um grupo de jovens vai para Lake Crystal, um campo de férias recentemente reaberto, depois de estar muito tempo fechado devido á morte de um adolescente, onde vão sendo assassinados um a um por um desconhecido. Pautado por mortes para todos os gostos e feitios e um final inesperado, o filme foi um sucesso e deu início á mais longa série de filmes de terror em anos recentes. Lamentavelmente, o primeiro é o único que realmente interessa.
   
Ainda em 1980, Stanley Kubrick adapta o livro de Stephen King, “Shining”, transformando-o numa das obras mais claustrofóbicas de que há memória. A história da família Torrance que vai tomar conta dum hotel durante o inverno onde espíritos malignos levam o pai a ter um comportamento violento enquanto o filho, que tem poderes psíquicos, vê acontecimentos horríveis, do passado e do futuro, tinha tudo para vencer e convencer o público.  Apesar de tecnicamente brilhante e genialmente interpretado por Jack Nicholson, o filme não foi um grande sucesso, não convenceu o público (ou este não o compreendeu), talvez influenciado pela campanha que o autor do livro fez contra o filme por não o achar fiel ao livro, mas eventualmente acabou por se tornar um clássico.  
Ainda ligado á onda de filmes “gore” que tomaram de assalto a década de 80, “Evil Dead – A Noite dos Mortos-Vivos” (1981), a história de cinco amigos que vão até uma cabana na floresta onde descobrem um livro que, sem se aperceberem, vai libertar demónios que se vão apossar dos visitantes. Este filme é um verdadeiro festival sangrento mas a originalidade do argumento, levou a que fosse louvado pela crítica.
   
Em 1982 John Carpenter, ainda nas boas graças da crítica, realiza “The Thing – Veio de Outro Mundo” que, não só é um bom exemplo de terror na sua vertente científica, como também é um remake de “The Thing from Another World – A Ameaça”, realizado na década de 50 por Christian Nyby e produzido pelo grande ídolo de Carpenter, Howard Hawks. Apesar de não ter sido um grande sucesso, o filme acabou por ser considerado um filme de culto pelos seus efeitos especiais algo avançados para a época,  pelo ambiente de paranoia que se vive em todo o filme e também o toque magistral do realizador no final do filme contribuiu para esse efeito. Ainda dentro do género científico, “The Fly – A Mosca” (David Cronenberg, 1986), remake do clássico de 1958, realizado por Kurt Neumann, actualiza a história do cientista louco que se começa a transformar num homem-mosca depois de uma das suas experiências correr mal, é principalmente lembrado pela horrível transformação/mutação  que  vai sofrendo ao longo do filme, graças á caracterização, vencedora de um Oscar da Academia.
   
Em 1984, Wes Craven realiza “A Nightmare on Elm Street – O Pesadelo em Elm Street”, através de Freddy Krueger, um adolescente que foi vitima de várias famílias de Elm Street  que se vinga, povoando e matando adolescentes através dos seus sonhos. O filme foi um grande sucesso de bilheteira e deu inicio a uma outra série de filmes de terror  que fizeram de Freddy, tal como Jason (de Sexta-Feira, 13) , as maiores vedetas de terror da década de 80.
    A primeira metade da década de 90, com algumas raras excepções, continuou muitas das temática iniciadas na década anterior.  As sequelas de algumas séries iniciadas na década de 80, obtiveram algum sucesso e receberam opiniões, positivas e negativas, de uma grande variedade de críticos.
   
De repente, em 1991, o género assume definitivamente o seu lugar na sétima arte. “Silence of the Lambs – O Silêncio dos Inocentes”, realizado por Jonathan Demme e interpretado por “Sir” Anthony Hopkins e Jodie Foster, onde se conta a história de Clarice Starling, uma estagiária do FBI a quem é entregue o caso de “Buffalo Bill”, um “Serial Killer” que rapta e mata adolescentes femininas para lhes roubar a pele. Na sua investigação, Clarice irá cruzar-se com “Hannibal “The Canibal” Lecter, um médico e perigoso “serial killer” que tinha por hábito comer as suas vítimas. Entre os dois irá estabelecer-se uma relação quase paternal, uma espécie de jogo de gato e rato, que tanto tem de revelador como de perigoso. Aquilo que aparentemente parecia ser mais um filme de terror, acabou por se tornar no filme de terror mais importante da década de 90. Para esse estatuto contribuiu a vitória quase total na cerimónia dos Oscares. Das sete nomeações que tinha, o filme venceu cinco e logo nas categorias principais: filme, realizador, actor, actriz e argumento, tornando-se apenas no terceiro filme em toda a história da sétima arte a ser unicamente premiado com as cinco categorias principais.
     
Alguns filmes de terror da década, tais como “Freddy Krueger’s New Nightmare – O Novo Pesadelo de Freddy Krueger” (Wes Craven, 1994), “The Dark Half – A Face Oculta” (George A. Romero, 1993), ou “In The Mouth of Madness – A Bíblia de Satanás” (John Carpenter, 1994), fizeram parte de uma mini-movimento que tratava de aspectos reflectivos ou metaficcionais, ou seja, a acção passava-se entre uma realidade, tal como a vemos no filme e uma ficção criada a partir dessa mesma realidade, uma espécie de mundo ficcional de terror. Este estilo reflectivo iria tornar-se mais aberto e irónico com “Scream – Gritos” (Wes Craven, 1996).
    Mas o final da década, não seria de feição para o género. Dois problemas estiveram na origem da perda de importância do terror: primeiro, as audiências que, na década anterior, absorviam tudo o que se produzia em termos de filme de terror, principalmente o produto que lhes transmitia valentes sustos e era recheado de muito “Gore”, cresceram e necessitavam de procurar outros motivos de interesse; segundo, a substituição deste tipo de filmes por outros muito mais imaginativos, apoiados por uma enorme parafernália de efeitos especiais, principalmente no que toca a imagens geradas por computador, facilitou a rápida ascensão, em detrimento do terror,  de filmes de ficção científica e de fantasia.
   
Para se realinhar com a tendência da sétima arte, o terror teve que se recriar, servindo-se de algum humor, autoparodiando-se, por vezes chegando a ridicularizar-se para obter o efeito mais cómico, como por exemplo fez Peter Jackson em “Braindead – Morte Cerebral” (1992) ou Wes Craven em “Gritos 2 e 3”, fazendo uma menor utilização de humor e referências a filmes de  terror do que fizera no primeiro filme.
    O amanhecer do século XXI, foi calmo para o género. O sucesso mundial de “Matrix” (Andy & Larry Wachowski, 1999)  e suas sequelas, tinham trazido a ficção científica para um plano elevado em relação ao resto dos géneros.  A história de Thomas Anderson, programador de computadores, que descobre que o seu outro “eu”, conhecido no mundo da informática como Neo,  um Hacker , terá um papel importante a desempenhar na revolta dos humanos contra as máquinas, chegou, viu e venceu em praticamente todas as frentes, graças a um argumento inteligente, efeitos especiais revolucionários e uma realização inventiva, relegando para segundo plano tudo o que até aí se tinha feito.
     
A inspiração que veio do Oriente 
No entanto, apesar da calmaria,  algumas tendências no terror emergiram. O filme “Brotherhood of the Wolf –  Pacto com os Lobos” ( Christophe Gans, 2001), tornou-se o segundo maior sucesso de bilheteira do cinema francês nos estados unidos nas últimas décadas; “The Others – Os Outros”  (Alejandro Aménabar, 2001) mostrou que o terror psicológico ainda poderia ser uma boa fonte de sucesso. Também o oriente passou a ser fonte de inspiração  para o ocidente: “Ringu – A Maldição”  (Hideo Nakata, 1998) onde um misterioso vídeo mata, uma semana depois,  quem o vê, a não ser que se consiga resolver esse mistério. O enorme sucesso deste filme e da sua sequela “Ringu 2 – A Maldição 2 “ (Hideo Nakada,1999) , que continua a investigação iniciada no primeiro filme, enquanto a maldição do misterioso vídeo que mata quem o vê, continua a alastrar, levaram a que nos estados unidos se fizesse um remake  intitulado “The Ring – O Aviso” (Gore Verbinski, 2002) e respectiva sequela “The Ring 2 – O Aviso 2” (Hideo Nakata, 2005) onde, com algumas diferenças em relação ao original, se conta basicamente a mesma história; também “Dark Water - Àguas Passadas” (Hideo Najkada, 2002) onde uma mãe e sua filha mudam-se para um apartamento velho cujo tecto e paredes estão quase sempre a escorrer água e ela tenta descobrir o que está na origem do problema, foi objecto de um remake em 2005, com o mesmo título e realizado por Walter Salles.
    
O universo dos Zombies, que George A. Romero tão bem recriara nas décadas de  60 e 70, volta a estar na moda: “28 Days Later – 28 dias Depois” (Danny Boyle, 2002) onde a Inglaterra é contagiada por uma misteriosa praga, que dura 28 dias e  que transforma toda a população atacada em zombies raivosos. O sucesso do filme permitiu que se fizesse uma sequela, “28 Weeks Later -  28 semanas Depois” (Juan Carlos Fresnadillo, 2007) onde seis meses após o surto que atacou a Inglaterra, a situação parece estar a voltar ao normal e prepara-se a re-população das áreas afectadas, mas nem tudo é o que parece. O sucesso da sequela não foi tão grande como o do original, mas não  é uma sequela má de todo; uma actualização de  “Dawn of the Dead – O Renascer dos Mortos-Vivos” (Zack Snyder, 2004) e uma comédia “Shaun of the Dead – Uma noite... de Morte” (Edgar Wright, 2004), encorajou Romero a regressar á sua série mais famosa  com “Land of the Dead – Terra dos Mortos” (2005),  “Diary of the Dead – Diário dos Mortos” (2007) e “Survival of the Dead” (2009).
   
Além de alguns remakes ( a maior parte deles sem qualquer interesse ou qualidade) de filmes das décadas anteriores, hoje clássicos indiscutíveis, que caracterizaram a maior parte dos primeiros anos do novo século, houve um subgénero que se destacou, também ele inspirado na exploração do género  que se fez nos anos pós-vietname: filmes baseados  em tortura, sofrimento e morte violenta, no qual se destacam “Hostel” (Eli Roth, 2005), e, principalmente “Saw – Enigma Mortal” (James Wan, 2004), onde dois homens acordam acorrentados numa casa de banho sem saber como ali foram parar. Os dois têm de seguir uma série de regras e jogos se quiserem sobreviver e sair daquela prisão. Explorando a violência gráfica sem qualquer pudor, “Saw” e as suas sequelas foram um enorme sucesso de bilheteira, tendo inclusivamente recebido uma menção no Livro de Recordes do Guiness  para o filme de terror com maior receita num dia só de exibição. “Saw” tornou-se num filme de culto e , até ver, o único produzido na primeira década do século XXI.

O Género não mostra vontade de parar, nem de se reafirmar no universo da sétima arte. É assim que gostamos!

Nota: as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O Filme de Terror II

       - O Terror em constante evolução (1960 – 1979)
   
A década de 60, viu o estúdio britânico da Hammer consolidar o seu poderio em termos de filmes de terror.  As intermináveis continuações de Drácula, a maior parte das vezes, com Christopher Lee no papel do vampiro, obtinham um sucesso relativo, mas foi “Peeping Tom – A Vítima do Medo” (Michael Powell, 1960), que conta a história de um “Serial Killer” que concilia a sua profissão de fotógrafo com a de assassino ao fotografar as expressões das suas vítimas momentos antes da sua morte. O filme retratou o primeiro  “Serial Killer” no cinema e foi maior sucesso de bilheteira  da Hammer.
    Também em 1960, o realizador britânico Alfred Hitchcock choca o público com “Psycho - Psico” ao assassinar a personagem principal  na primeira metade do filme, na antológica sequência do chuveiro no Motel Bates, uma das mais famosas e aterrorizantes cenas da história do cinema. 

Nunca tal havia acontecido e, apesar de alguma perplexidade inicial quanto aos propósitos do realizador, o filme ganhou estatuto de obra-prima tornando-se numa obra incontornável na carreira do realizador que, três anos mais tarde, haveria de chocar novamente as audiências com “The Birds – Os Pássaros” ao mostrar uma natureza enlouquecida, em que bandos de pássaros  atacam os seres humanos sem qualquer razão aparente, nem qualquer explicação no final. Tal como a maior parte das suas obras americanas, “Os Pássaros” obteve grande sucesso de bilheteira, consolidando a carreira do realizador e também o cinema de terror. 

     Na europa, o género ganhava cada vez mais seguidores. Em frança “Les Yeux sans visage – Olhos sem Rosto” de George Franjú (1960), continuava a apostar, com sucesso, na temática do cientista louco, neste caso , um que rapta mulheres jovens para lhes remover as caras que tenta aplicar na  sua filha, que ficou desfigurada depois de um acidente de automóvel, enquanto em itália, Mario Bava, depois de co-realizar algumas produções “série B”, iniciava uma carreira de sucesso dentro do terror com o filme “Black Sunday - A Máscara do Demónio”(1960), a história de uma bruxa e do seu servo que regressam da morte para tentar apossar-se do corpo de uma sua descendente. A sua utilização de sombras, luz e cores tornaram-no num filme incontornável dentro do género.
     Entretanto nos estúdios da American International Pictures são feitos diversos filmes adaptados da obra de Edgar Allan Poe, um dos mais famosos escritores americanos de sempre, realizados por Roger Corman e interpretados na sua quase totalidade por Vincent Price, outro nome sonante no cinema de terror, que, com maior ou menor sucesso, terminam com “The Masque of the Red Death – A Máscara da Morte Vermelha”(1964) e “The Tomb of Ligeia – O Túmulo de Ligeia” (1964) e é hoje quase certo que foram estas adaptações que abriram caminho para a violência explícita que viria a ocupar o lugar, não só  no terror como também em outros filmes correntes.
   
Monstros e fantasmas mantiveram-se sempre presentes no género, mas ao longo da década outra premissa começou a aparecer, timidamente primeiro, mas depois de algumas provas dadas, filmes baseados em coisas sobrenaturais, fantasmas e possessões demoníacas integraram-se plenamente no terror. “The Innocents – Os Inocentes” (Jack Clayton, 1961), foi o primeiro filme a abordar o tema; depois seguiu-se-lhe “The Haunting – A Casa  Maldita” (Robert Wise, 1963), ambos filmados em Inglaterra mas produzidos por estúdios americanos. Mas seria com “Rosemary’s Baby – A Semente do Diabo” (Roman Polanski, 1968), que o filme de expressão demoníaca ganhou o seu estatuto dentro do género. A história de um casal recém-casado que se muda para Nova York, para um prédio com má reputação e trava amizade com um casal de idosos que vive no apartamento ao lado. Apesar da simpatia dos vizinhos , estranhas coisas começa a acontecer, desde mortes inexplicáveis  a sonhos misteriosos. Quando Rosemary fica grávida, o casal idoso tenta protegê-la e mantê-la  segura, ao mesmo tempo que  ela vai ficando  cada vez mais paranoica com tanta obsessão á volta do seu bébé por nascer. Baseado num aclamado romance de Ira Levin, este filme ficou amaldiçoado e saiu caro ao seu realizador já que, menos de um ano depois da sua estreia, Sharon Tate, a companheira de Polanski e alguns amigos foram assassinados por uma seita liderada por Charles Manson. A actriz, na altura, estava grávida do primeiro filme do casal.
   
Também em 1968 um outro filme impôs-se dentro do género influenciando a indústria  americana de filmes de terror. “Night of the Living Dead – A Noite dos Mortos-Vivos” realizado por George A. Romero. A história de um grupo de pessoas que se têm de esconder dentro duma casa porque os mortos misteriosamente voltaram á vida e procuram alimento nos seres vivos, cativou o público em todo o mundo fazendo desta produção de baixo orçamento, um enorme sucesso de bilheteira. Esta espécie de Armagedão (não confundir com o filme homónimo!)  em forma de filme com mortos-vivos ou zombies mistura, habilmente, efeitos psicológicos com cenas sangrentas (gore) e fez o género subir mais um degrau, afastando-o das tendências  góticas iniciais, trazendo-o para a vida do dia-a-dia, tornando-o um filme clássico, de culto respeitado por público e cineastas.
   
Os filmes baseados em temas do oculto seriam o prato forte das produções da década de 70. Desde logo em 1973, “Don’t Look Now – Aquele Inverno em Veneza” realizado por Nicolas Roeg, assume o espiritismo como motivo para se fazer um bom filme de terror Baseado numa história de Daphne Du Maurier, que conta a história de um casal, enlutado pela morte por afogamento da sua única filha, que se encontra em Veneza a tentar recuperar da dor, o marido começa a ter visões de uma criança vestida com uma capa idêntica á que a sua filha usava quando morreu, enquanto que a mulher é abordada  nas ruas da cidade por duas irmãs, uma das quais é psíquica e traz um aviso do além. Não sendo uma obra-prima, e muitas vezes ignorado no panorama dos filmes da década, o filme torna-se curioso e interessante pela abordagem ao tema que faz, indo do puro drama até ao suspense  (o género haveria, anos mais tarde, de abordar esta temática), sem nunca se perder  e contém duas cenas marcantes: a cena de amor entre os dois protagonistas (Julies Christie e Donald Sutherland) com uma enorme carga erótica; e a cena final que é completamente imprevista.
   
Seria também neste ano que apareceria um filme que se tornaria no mais marcante filme  do género, inúmeras vezes imitado,  mas nunca superado, nem sequer igualado: “The Exorcist – O Exorcista”, realizado por William Friedkin. A história da possessão de Regan McNeill que a ciência não consegue explicar nem resolver e que só apenas um velho ritual religioso aparentemente consegue, tornou-se num enorme êxito de bilheteira por todo o mundo. A rotação de 360 graus de cabeça de Regan, a auto-penetração com o crucifixo, os gritos e as vozes do demónio, o vómito verde na cara do padre ou o longo exorcismo são cenas clássicas e quase banais, quando comparadas com o panorama cinematográfico de hoje, mas, em 1973, chocaram audiências ao ponto de muitas pessoas terem de ser assistidas no local por equipas médicas.  O “Exorcista” tornou-se no filme-choque da década de 70 e foi também o primeiro filme de terror puro a ser indicado para Melhor Filme do Ano, uma das dez categorias para que foi nomeado nos Oscares desse ano.
Seguiram-se várias sequelas que não obtiveram tanto sucesso como o primeiro filme e muitos outros filmes em que o Diabo representava o supremo ser sobrenatural, algumas vezes engravidava jovens, outras apossava-se de crianças.
   
Em 1975, o jovem realizador Steven Spielberg começava a sua ascensão em direcção ao estrelato com “Jaws – O Tubarão”. A história de um enorme tubarão branco que aterrorizara as praias de Amity, uma pequena ilha na  costa americana que vive basicamente do turismo de verão, bateu todos os recordes de bilheteira no mundo inteiro, iniciou uma série de filmes de terror de animais assassinos, que, se excluirmos “Orca – A Fúria dos Mares” (Michael Anderson, 1977), apesar de pouco interessante, suscitou alguma curiosidade no público, não faz grande memória e é muitas vezes ignorada dentro do género. “Jaws” foi considerado um dos primeiros filmes a conjugar  elementos tradicionais das produções “série B”, tais como terror e ser meio “gore” (sangrento), numa produção de grande orçamento e o resulta foi o que foi.
   O “Exorcista” abriu caminho a duas temáticas que se tornaram populares ao longo da década: a Reencarnação e Satanismo. Se “Audrey Rose – As Duas Vidas de Audrey Rose” (1977), realizado por Robert Wise, cuja história é a de um homem que afirma que a sua filha é a reencarnação de uma outra pessoa já morta, popularizou o tema da reencarnação  sem ter sido um grande sucesso; já “The Omen – O Génio do Mal” (Richard Donner, 1976), onde Richard Thornton, embaixador americano em Inglaterra, descobre que o seu filho, adoptado, de cinco anos de idade, é o Anticristo, foi um grande êxito de bilheteira e tornou o filho do Diabo, além de invencível á acção humana,  o vilão favorito em muitos filmes modernos.
   
Também na década de 70, estreava-se na literatura o mestre contemporâneo do terror. Stephen King ganhou este estatuto, que de resto ainda mantém, com “Carrie” (1972) que seria adaptado ao cinema por Brian DePalma em 1976. A história de Carrie White, uma rapariga com poderes telecinéticos (capacidade de mover objectos á distância só com o olhar), invejada e gozada pelos seus colegas que a consideram uma estranha que depois se vinga de todos eles. Tecnicamente brilhante, graças a um realização inventiva, foi um sucesso de bilheteira e foi nomeada para os Oscares , tornando-se um filme de culto de todos os apreciadores do género , principalmente por conter o maior susto que alguma vez aconteceu num filme.
   
Em 1978, John Carpenter realizava o seu melhor filme de sempre, “Halloween – O Regresso do Mal” e dava origem a uma das mais longas séries de filmes no cinema. Michael Myers é uma criança de cinco anos, aparentemente normal, que mata á facada a sua irmã e o namorado numa noite de Halloween. Internado durante 15 anos num instituto psiquiátrico, foge e regressa a Haddonfield, a sua cidade natal,  para repetir as acções de 1963. Utilizando a câmara como se fossem os olhos do assassino, Carpenter, genialmente, põe-nos na pele do assassino e garante algumas das melhores cenas de terror e suspense de que há memória na década. O Final, em suspenso foi uma novidade na época e viria a tornar-se moda nas décadas seguintes.
    As ideias dos anos 60 também influenciaram o cinema de terror, já que a juventude que se envolvera nos movimentos de contracultura (oposição á guerra do Vietnam, movimento “Hippie”,  experimentação de drogas, sede consumista, etc), reflecte nos filmes esses mesmos ideais: “The Hills have Eyes – Os Olhos da Montanha” (Wes Craven, 1977); “The Texas Chainsaw Massacre – O Massacre no Texas” (Tobe Hooper, 1974), espelhavam algum efeito do Vietnam;  David Cronenberg  estreou-se na temática do cientista louco  ao explorar os medos contemporâneos da tecnologia e sociedade e os medos corporais com “Shivers – Os parasitas da Morte” (1975); enquanto George A. Romero em “Zombie – Dawn of the Dead – A Maldição dos Mortos-Vivos” (1978) satirizava a sede consumista que se apossara da sociedade na década anterior.
   
A década iria terminar com um dos melhores filmes de sempre e que introduzia uma nova temática dentro do género: O terror científico. “Alien – O 8ºPassageiro” (Ridley Scott, 1979). A “Nostromo” é um cargueiro espacial que regressa á terra depois de cumprir a sua missão. O computador central recebe  um sinal de ajuda. Os tripulantes decidem ir investigar a origem do sinal. Combinando os elementos naturais de violência gráfica  e o filme de monstros, característicos de décadas anteriores, mas desta vez usando a ficção científica, “Alien” só poderia resultar num enorme sucesso de bilheteira  e de crítica também.
O terror instalara-se definitivamente dentro do cinema e nas décadas subsequentes, iria ter um papel preponderante.

                                                                                                                            (continua)

Nota: as imagens que ilustram o texto foram retiradas da internet

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            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...