S.E.Hinton, Matt Dillon e Mickey Rourke |
Coppola
sentiu-se atraído para o romance de S:E. Hinton (de quem já adaptara para o
cinema “Os Marginais”) por causa da identificação pessoal - um irmão mais novo
que idolatra um irmão mais velho e mais inteligente - que encontrou em “Rumble
Fish” – que espelhava bem o seu relacionamento com August, irmão mais velho do
realizador (a quem dedica o filme e cuja
dedicatória aparece como último crédito no genérico final). Coppola e Hinton
escreviam o argumento nos dias de folga da rodagem de “Os Marginais”.
Sensivelmente a meio da rodagem foi quando o realizador decidiu que queria usar
a maior parte da equipa de rodagem, alguns actores e actrizes, permanecer em
Tulsa e rodar “Rumble Fish” logo a seguir.
A Warner
Bros. Não ficou satisfeita com a versão final de “Os Marginais” e retirou-lhe
cenas, (que seriam depois incluídas na versão do realizador de 2005), remontou
o filme e estreou-o no circuito comercial e recusou financiar e distribuir
“Rumble Fish”. Apesar de não ter
financiamento, Coppola não recuou e, durante duas semanas de ensaios, gravou a
maior parte do filme em vídeo e mostrou essa versão ás equipas técnica e
artística. Em julho de 1982, com a rodagem a decorrer há seis semanas, Coppola
assinou um contrato com a Universal Studios que lhe assegurou o financiamento e
a distribuição comercial do filme. A rodagem continuou até meio de setembro
desse ano e, pela primeira vez em muitos anos, dentro do orçamento e do prazo.
O filme
torna-se notável pelo seu estilo “Avant-garde”, admiravelmente filmado a
preto-e-branco, usando uma composição cinematográfica que alude á “Nouvelle
Vague” francesa dos anos 60, ao preto-e-branco usado por Orson Wells nos seus
filmes como realizador e ao cinema alemão expressionista dos anos 20, como se
pode perceber pelo uso extensivo de ângulos oblíquos, composições exageradas e
uma abundância de fumo e nevoeiro. O realizador quis aproveitar a cidade de
Tulsa, e as zonas suburbiais desertas da cidade, filmou muitas vezes de câmara
na mão para transmitir ás audiências uma sensação de desconforto. Também mandou
pintar sombras nas paredes dos sets de modo a dar-lhes um toque ameaçador.
No filme, as personagens encontram-se, lutam, falam, namoram, bebem e, por vezes, morrem. Tudo isto é tratado de um modo estilizado como só Coppola poderia fazer e isso fica demonstrado em duas cenas: A cena do sonho da morte de Rusty James em que este sai do seu corpo e flutua sobre a cidade enquanto escuta o que dizem sobre si; a outra cena é aquela em que os dois irmãos estão na loja dos animais de estimação a conversar enquanto olham para um aquário onde vêem dois peixes siameses-lutadores coloridos a lutar (o “Rumble Fish” que dá título ao filme). Para misturar a fotografia a preto-e-branco com as imagens coloridas, Stephen H.Burum filmou os actores a preto-e-branco, depois projectou as suas imagens num écran, puseram o aquário com os peixes em frente do projector e filmaram tudo a cores. A hábil montagem de Barry Malkin, colaborador habitual do realizador, encarregou-se do resto. Se se ver bem esta cena, percebe-se o simbolismo que Coppola quis demonstrar com ela: as cores da bandeira americana (um peixe é azul, o outro é vermelho), o ambiente da adolescência e segurança (representado pelo aquário), depois, ao longo da cena, vem a vontade de lutar e de afirmação e o perigo que acontece se somos retirados do nosso meio ambiente. Peixes siameses-lutadores que substituem os jovens. Original e resulta.
A passagem
do tempo, que acontece mais rápido do que as personagens se apercebem, é-nos
dada através da fotografia em movimento de nuvens no céu e de inúmeros relógios. foi inspirada no
documentário “Koyaanisqatsi” (Godfrey Reggio, 1982) que Coppola produziu. A
fotografia a preto-e-branco também serve para mostrar como o daltónico “Motorcycle
Boy” vê o mundo que o rodeia.
Quando
estreou, “Rumble Fish – Juventude Inquieta”, foi um fracasso de bilheteira. Dos
10.000.000 de dólares investidos, o filme fez pouco mais do que 2.500.000 de
dólares nos estados unidos. Na europa, principalmente em frança, onde o
realizador é admirado, o filme foi um grande sucesso. Apesar de ter dividido a
crítica, com uma parte dela a elogiar a obra e o realizador e outra parte a
arrasar o filme e a criticar o estilo utilizado por Coppola em material tão banal. Nada disto abalou o
realizador que tem o filme como um dos seus favoritos e foi premiado no
Festival de Cinema de San Sebastian onde ganhou os dois prémios mais
importantes. Ao longo do tempo “Rumble Fish”,
tem sido apesentado como um filme
revolucionário em termos de estilo e técnica, que só em anos recentes tem sido
compreendido e ganhou, desde então, um novo estatuto e é
hoje tido como um filme de culto.
Nota: as imagens e vídeo que ilustram o texto foram retirados da Internet.
Grande filme
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