sábado, 27 de dezembro de 2014

Jack Ryan – Um “Techno-herói” para o Séc. XXI

 

    Não é tão charmoso como James Bond ou Dirk Pitt, nem desenrascado como McGyver, também não é azarado como John McLane, nem tão mortífero como Jack Bauer ou Jason Bourne. Ele é um pouco de todos eles e chama-se John Patrick Ryan, mais conhecido como Jack Ryan.
 
Os rostos de Jack Ryan no cinema (1990-2014)
Jack Ryan é uma personagem fictícia criada por Tom Clancy (1947-2013), antigo agente de seguros, apaixonado por história, particularmente história naval. Após obter  o seu grau universitário em Literatura Inglesa, em 1973, inscreveu-se no Centro de Treinos de Oficiais do Exército, mas foi excluído devido a um problema de visão que o obrigava a usar uns óculos semi-escuros.  Foi então trabalhar para a agência de seguros que fora fundada pelo avô da sua esposa.
No início de 1980 comprou a agência, continuando a trabalhar lá. Nas horas vagas aproveitava para escrever. Escreveu inúmeros livros de acção, sempre bem recheados de detalhes  militares (diz-se que tinha grande facilidade em aceder a informação secreta e classificada como tal) e tecnológicos, além de alguns livros-guia em que analisa profundamente alguma vida militar, como os Marines, os blindados, os submarinos, os Porta-Aviões, entre outros. Escreveu várias séries  como “NetForce”  e “Op-Center”, além de diversos livros em que entra a sua criação mais famosa de todas: o analista de dados da CIA, Jack Ryan.
  
   
A sua primeira aparição acontece no livro “The Hunt for Red October – Caça ao Outubro Vermelho”, primeiro livro escrito por Tom Clancy e publicado em 1984, mas, como se verá mais á frente, não será a primeira aventura de Ryan.
Nele, o então Analista de Dados da CIA, Jack Ryan,  descobre que Marko Ramius, o mais famoso comandante de submarino Soviético, pretende desertar, com os seus oficiais, para os Estados Unidos, a bordo do “Outubro Vermelho”, o submarino mais avançado do mundo. Ryan tem que convencer os seus superiores  que as intenções de Ramius são verdadeiras.
    O enorme sucesso literário que foi “Caça ao Outubro Vermelho”, permitiu que Tom Clancy se tornasse numa referência literária da américa dos anos 80, sendo-lhe frequentemente atribuida a paternidade de um novo género literário intitulado “TechnoThriller”. O livro foi a primeira obra de ficção publicada pelo Instituto Naval Americano e também a sua obra mais popular.
Ao longo do livro, extremamente bem escrito,  com pormenores técnicos interessantes e momentos cheios de tensão e suspense, percebemos que Jack Ryan teve um passado aventuroso antes de ser recrutado pela CIA e pelo Almirante James Greer.  Passado esse que iremos conhecer, assim como o seu presente e futuro, nas obras subsequentes de  Clancy.
   Os antecedentes de Ryan são apresentados em “Patriot Games” e  continuam em “Red Rabbit”:  Nascido em 1950, estudou na escola preparatória de Loyola,  em Towson do estado de Maryland. Inscreveu-se na universidade de Boston onde foi Bacharel em Economia e Artes (com uma nota fraca em História).  Enquanto aguardava a incorporação nos Marines, passou no Exame de Certificação de Contabilidade Pública.
Depois de fazer o curso básico de Oficial na Base Militar de Quantico, graduando-se como Segundo-Tenente, foi comandar um pelotão, mas foi-o por pouco tempo, já que, durante um exercicio militar das forças da NATO, o helicóptero onde seguia com os seus homens, despenhou-se ao largo da ilha de Creta, ferindo-o gravemente nas costas, apesar dos inúmeros esforços cirúrgicos dos médicos militares, ficou com uma lesão permanente que o levou a abandoner a carreira militar e, graças ao seu grau em Contabilidade, propôs-se a exame para Bolsista,  passou  e tornou-se especulador na firma Merrill Lynch, sediada em Baltimore.
Após quatro anos a trabalhar e fazer uma fortuna avaliada em cerca de 8.000.000 de dólares, Ryan abandonou a firma e inscreveu-se na Universidade de Georgetown para se doutorar em História. Depois de fazer o seu estágio, aceitou o lugar de professor de história na Academia Naval Americana. A partir deste momento na sua vida, começam as aventuras de Jack Ryan. Cronologicamente, decorrem como se segue e é assim que deverão ser lidas:
    Em “Patriot Games” (1987), Durante uma viagem  de férias e também de alguma pesquisa para as suas aulas, Ryan testemunha uma tentativa de assassinato ao Princípe de Gales levada a cabo por membros do Exército de Libertação do Ulster. Intervindo rapidamente, ele salva a vida ao menbro da familia Real, ao matar um dos terroristas e fazendo  prisioneiro um outro. Por ter salvo a vida ao princípe, Ryan é feito Cavaleiro pela Rainha Isabel II e quando regressa aos Estados Unidos, é convidado a integrar os quadros da CIA como Analista de Dados na procura de terroristas internacionais. Ele inicialmente recusa, mas depois de um ataque fracassado, levado a cabo pelo ULA (Ulster Liberation Army), á sua família, na qual a sua mulher Caroline e a sua filha, Sally, ficam seriamente feridas e em perigo de vida. Resolvido esse incidente  que termina com a prisão de membros do grupo, Ryan aceita o cargo e é colocado em Londres como membro de ligação entre a CIA e os Serviços Secretos Britânicos.
   
Em “Red Rabbit” (2002),  Ryan, ainda colocado em londres, tem como missão ajudar um Oficial de Comunicações e sua familia a desertar para o ocidente . O Oficial de Comunicações descobriu que o director do KGB ordenou o assassinato do Papa João Paulo II. Ryan e um pequeno grupo de agentes secretos conseguem salvar “O Coelho”  e a sua família, mas falham o “timing” para impedir a tentativa de assassinar o Papa, apesar deste ficar só ferido,  o seu assassino é capturado. A deserção do “Coelho” para o ocidente acaba por ser extremamente útil aos americanos e ingleses, pelas  informações que trazia consigo e, á luz dessas informações, Ryan acabará por sugerir uma solução não-militar para apressar o colapso da União Soviética.
   Em “The Hunt for Red October – A Caça ao Outubro Vermelho” (1984), Ryan, que ainda está em Londres, já é analista de dados, viaja até langley, na virgínia para entregar umas fotografias ao Almirante Greer, de um novo protótipo de submarino soviético que lhe chegaram ás mãos e, após falar com alguns amigos, desconfia que as intenções do comandante do submarino é desertar para o ocidente com o novo protótipo, o “Outubro Vermelho”, e vai tentar ajudar o militar a desertar, mas, para isso, terá que convencer os seus superiores de que são essas as suas intenções. Por ter sido o primeiro livro da série, algumas personagens, além de Jack Ryan, aparecerão em muitas obras seguintes, nesta série e noutras, ligadas entre si. 
   
   “The Cardinal of the Kremlin – O Cardeal do Kremlin” (1988), Jack Ryan é colocado em Langley, na Virgínia e torna-se assistente do almirante Greer com o título oficial de Assistente Especial do Director-Adjunto de Espionagem. Percebe-se que o almirante o está a preparar para altos cargos dentro da CIA. Ryan é então enviado a Moscovo integrado num grupo estratégico que vai tentar negociar a redução das armas nucleares. Fica então a saber que um agente da CIA infiltrado na união soviética e cujo nome de código é “Cardeal” é o coronel Mikhail Semyonovich Filitov,  o adjunto do Ministro da Defesa Soviético e herói nacional, que, para se vingar da morte da mulher e dois filhos ao serviço do exército vermelho,  à muitos anos passa segredos políticos e militares para o ocidente. No decorrer das conversações, Ryan conhece Sergey Golovko, um agente em ascensão dentro da hierarquia do KGB e entre os dois estabelece-se uma relação de amizade (que se fortalecerá em livros subsequentes) e mútuo respeito. Será este agente quem irá ajudar Ryan a planear a deserção de Filitov para os Estados Unidos quando a sua identidade é descoberta pelo KGB e a sua vida posta em risco.
O livro é uma sequela de “Caça ao Outubro Vermelho” já que explica qual foi o destino do submarino russo: este foi despido de toda a tecnologia revolucionária que trazia consigo e foi afundado numa fossa ao largo de Puerto Rico para evitar ser encontrado e recuperado. Jack Ryan e Marko Ramius são as únicas testemunhas que presenciaram o facto.
   Já “Clear and Present Danger” (1989) , apresenta-nos Jack Ryan promovido a Director-Adjunto interino da CIA porque o Almirante Greer foi internado com um cancro numa fase quase terminal. Apesar da posição que tem dentro da organização, Ryan desconhece que a CIA e o governo americano financiam uma guerra contra os cartéis da droga na Colômbia. Após a descoberta, pela guarda costeira americana, de um iate de recreio cujo dono e sua família, foram mortos por assassinos envolvidos em esquema de lavagem de dinheiro de droga, o presidente dos estados unidos, em ano eleitoral e a concorrer para a re-eleição, manda tomar medidas drásticas contra os cartéis da droga. Ryan, ao tomar conhecimento destes acontecimentos e ao deparar-se com uma barreira de silêncio com os seus superiores, junta-se ao FBI e viaja até á Colômbia para tentar saber o que se passa.
   Em “The Sum of All Fears” (1991),  Jack Ryan atinge a posição  mais alta dentro da CIA: é confirmado como Director –Adjunto do Director. A sua nova carreira corre perigo quando Rober J.Fowler, ex-governador do Ohio e antigo candidato a Presidente dos Estados Unidos, se torna Presidente e Elizabeth Elliott, antiga conselheira dos Negócios Estrangeiros, é promovida a Conselheira para a Segurança Nacional. Ambos tiveram confrontos com Jack no passado e estão apostados em dificultar-lhe a vida e isso fica provado quando não lhe é dado crédito nenhum pelo seu plano inovador de paz no Médio Oriente.
Quando uma bomba nuclear é detonada em Denver durante a “Super Bowl” atirando o mundo para uma quase guerra nuclear,  é Ryan que, arriscando tudo aquilo que tem, tenta resolver a crise provando que tudo aquilo não passa de um esquema montado para o desacreditar.  Ao recusar confirmar uma ordem presidencial  para lançar mísseis nucleares contra Qom, uma cidade do médio oriente, Jack retira-se da CIA, não sem antes destruir o Presidente Fowler.
   
Com “Debt of Honor” (1994),  a série atinge o seu climax, do qual nunca mais se libertará e obriga Tom Clancy a aperfeiçoar cada vez  a sua personagem e a dar mais espaço de manobra a outras personagens que até então eram secundárias.
Passaram-se dois anos desde que Jack Ryan se retirou da CIA e que Robert J.Fowler se demitiu da presidência e o seu então Vice-Presidente, Roger Durling, cumpre o mandato para que foi legitimamente eleito. Ryan regressa ao serviço do governo, agora como Conselheiro para a Segurança Nacional.
A Administração e Jack Ryan vão ter que se confrontar com uma segunda guerra contra o Japão, cujo governo é controlado por uma série de magnatas conhecidos como “Zaibatsu” assim como com um ataque ás infraestruturas económicas dos Estados Unidos. Depois duma limpeza ás forças japonesas no pacífico sul, o vice-presidente dos estados unidos,  Ed Kealty, é obrigado a demitar-se das suas funções devido a um escândalo sexual em que está envolvido. O presidente convida Ryan para o lugar, este aceita na condição de que apenas o fará enquanto durar o mandato presidencial de Durling. É uma maneira de Ryan encerrar a sua vida pública ao serviço dos Estados Unidos e ir finalmente dedicar-se á família e às suas aulas de história na Academia Naval Americana.
Mas, inesperadamente, minutos após Jack Ryan ser confirmado no cargo, um piloto japonês, deliberadamente, atira um 747 contra o Capitólio, durante a sessão do Congresso, matando quase toda a gente lá dentro, incluindo o presidente, quase todo o Congresso, membros do Supremo Tribunal, e quase todo o governo federal. Sobrevive um Jack Ryan que, atónito, se vê elevado á presidência dos Estados Unidos da América.
    “Executive Orders” (1996) é a sequela directa de “Debt of Honor” já que, a seguir á dramática conclusão dos acontecimentos, um relutante, mas determinado Jack Ryan, ajuramentado Presidente dos Estados Unidos,  tenta reconstruir o governo americano. Com praticamente todos os elementos executivos, legislativos e judiciais mortos, Ryan é o único poder que representa os Estados Unidos e vai ter defrontar-se com diversas dificuldade e crises enquanto tenta reconstruir o governo e o senado; além de ter de enfrentar os truques políticos com que o ex-vice-presidente Ed Kealty desafia a legitimidade de Ryan no cargo, ainda tem de se confrontar com uma ameaça militar levada a cabo pela china contra  Taiwan e  uma devastadora praga iniciada no Médio Oriente, cujas consequências atingirão os Estados Unidos e o Presidente Ryan tem  de declarar a Lei Marcial em todo o país.
   Em “The Bear and the Dragon” (2000),  Jack Ryan completou, como Presidente, o mandato que pertencera a Roger Durling, faz campanha para – e ganha – a eleição seguinte. Mantém a maior parte dos membros que haviam pertencido ao seu gabinete de emergência,  nomeia Robby Jackson, o primeiro afro-americano, como Vice-Presidente, enquanto tenta arrumar a casa.
Em Moscovo, Sergey Golovko, presidente do Gabinete dos Serviços Estrangeiros (antigo KGB) e amigo do presidente Ryan, é vítima dum atentado do qual, graças ao seu instinto de sobrevivência e da rápida actuação do seu motorista. Ele escapa miraculosamente. 
Algumas semanas depois, em Pequim, uma equipa de reportagem da CNN filma o assassinato do representante do Papa e de um dos seus Bispos, perpretado pelas autoridades chinesas. A comunidade internacional reprova o crime e são impostas sanções económicas á china. Com a economia de restos, devido ás recentes expansões militares contra Taiwan, a china planeia invadir e anexar a Sibéria para tomar posse de lençóis de petróleo e minas de ouro recém-descobertas. Com a escalada de violência  subir cada vez mais de tom, o presidente Ryan convence a NATO a aceitar a Rússia como membro e promete ajuda á Rússia na luta contra o imperialismo chinês, cujos líderes, em desespero, activam os misseis ICBM para os lançar sobre Moscovo, Washington D.C. e toda a comunidade ocidental. Será uma operação especial conjunta entre a Nato e a Rússia que irá pôr termo ás pretensões chinesas e, com a ajuda de estudantes chineses, derrubará o governo, pondo termo ao comunismo no país que irá iniciar a sua transição para a democracia.
   
Tom Clancy
Paralelamente á série principal, Tom Clancy escreveu outros livros, ligados por pequenos acontecimentos e/ou personagens que, apesar de alguma secundarização na série principal onde contribuíam de alguma forma para o desenvolvimento da acção, viriam a ter um desempenho próprio noutros livros e noutras séries.  Assim nasceu a série de John Clark, um operacional da CIA a quem Ryan recorre diversas vezes para resolver algumas situações pontuais, composta pelos livros “Without Remorse” (1993) e “Rainbow Six” (1998); e a série Jack Ryan, Jr, em que o filho do antigo analista de dados da CIA e actual presidente dos estados unidos vai fazer a sua aprendizagem no “Campus”, um campo militar privado secreto  situado num meio termo entre a CIA e a Agência Nacional de Segurança cujos fundos são geridos pela “Hendley & Associates” sob a forma de acções de mercado.
È constituída pelos livros “The Teeth of the Tiger” (2003); “Dead or Alive” (2010); “Locked On” (2011); “Threat Vector” (2012); “Command Authority” (2013); “Support and Defend” (Mark Greaney, 2014); “Full Force and Effect” (Mark Greaney, 2014).
    Tom Clancy faleceu em outubro de 2013  e o último livro que escreveu, em parceria com Mark Greaney, foi “Command Authority”, postumamente, publicado em dezembro desse ano.

                                                         

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Rumble Fish – Juventude Inquieta


   
Que Francis “Ford” Coppola era um nome incontornável na história da Sétima Arte, já se sabia, que era um visionário que andava sempre alguns anos há frente da indústria, também já se sabia e que por causa dessa sua visão futurista, afundou a sua produtora, viu fecharem-se-lhe portas de outros estúdios, teve de trabalhar quase de graça a fazer “filmes-encomenda” para poder recuperar do grande fiasco financeiro que foi “One From the Heart – Do Fundo do Coração” (1981), o filme mais pessoal e visionário da sua longa carreira e que foi um dos responsáveis por uma nova geração de actores e actrizes que viriam a marcar o cinema nas últimas décadas do século XX. Decisivos, não só na responsabilidade que tiveram em mostrar os novos talentos emergentes, como também na carreira do realizador, foram os “filmes encomenda” “The  Outsiders – Os Marginais” (1983) e “Rumble Fish – Juventude Inquieta” (1983) que realizou.
   
O filme passa-se algures na década de 50, na cidade de Tulsa, no Oklahoma e centra-se na relação entre dois irmãos. Um, “Motorcycle Boy”, chefe de gang, referenciado pelas autoridades e pelos jovens, que, depois de regressar duma viagem, pretende viver uma vida mais calma e pacifica. O outro, mais novo, é “Rusty James”, exaltado e delinquente, idolatra o irmão e aspira ser tão temido como ele.
S.E.Hinton, Matt Dillon e Mickey Rourke
    Coppola sentiu-se atraído para o romance de S:E. Hinton (de quem já adaptara para o cinema “Os Marginais”) por causa da identificação pessoal - um irmão mais novo que idolatra um irmão mais velho e mais inteligente - que encontrou em “Rumble Fish” – que espelhava bem o seu relacionamento com August, irmão mais velho do realizador (a quem dedica o filme  e cuja dedicatória aparece como último crédito no genérico final). Coppola e Hinton escreviam o argumento nos dias de folga da rodagem de “Os Marginais”. Sensivelmente a meio da rodagem foi quando o realizador decidiu que queria usar a maior parte da equipa de rodagem, alguns actores e actrizes, permanecer em Tulsa e rodar “Rumble Fish” logo a seguir.
A Warner Bros. Não ficou satisfeita com a versão final de “Os Marginais” e retirou-lhe cenas, (que seriam depois incluídas na versão do realizador de 2005), remontou o filme e estreou-o no circuito comercial e recusou financiar e distribuir “Rumble Fish”.  Apesar de não ter financiamento, Coppola não recuou e, durante duas semanas de ensaios, gravou a maior parte do filme em vídeo e mostrou essa versão ás equipas técnica e artística. Em julho de 1982, com a rodagem a decorrer há seis semanas, Coppola assinou um contrato com a Universal Studios que lhe assegurou o financiamento e a distribuição comercial do filme. A rodagem continuou até meio de setembro desse ano e, pela primeira vez em muitos anos, dentro do orçamento e do prazo.
   
Para o elenco, Coppola trouxe Matt Dillon e Diane Lane, que já vinham de “Os Marginais”. O primeiro é Russell James, conhecido como “Rusty James”, sonha com o tempo em que existiam gangs que dominavam as ruas. Dillon  tem uma interpretação ao nível da que tivera no filme anterior onde interpretava Dallas Winston, um jovem marginal que queria manter os amigos fora daquele mundo. A segunda é Patty, namorada de Rusty, que tenta trazê-lo para a realidade existente e não aquela com que ele sonha. A bonita actriz, que em “Os Marginais” interpretara Cherry Valance, uma “Soc” (menina rica), que se apaixonava pelo “Greaser”  Pony Boy Curtis. Em “Rumble Fish”, mostra que tem talento e a sua interpretação justifica porque é que viera a tornar-se uma das actrizes preferidas de Francis“Ford”Coppola.
   
Aos dois junta-se Mickey Rourke, como “Motorcycle Boy”, uma personagem carismática, idolatrado pelo irmão e odiado pelo chefe da polícia. O actor, ainda no princípio daquela que se julgava vir a ser uma promissora carreira, está á altura da responsabilidade que carrega ao longo do filme.  Os seus maneirismos, tanto a falar como a agir, transmitem uma sensação de calma aparente ao longo de todo o filme, mas que sabemos não existir. Pertence-lhe a ele a melhor fala de todo o filme na cena em que conta ao irmão como foi a sua viagem á califórnia, a dado momento, Rusty, pergunta-lhe se ele viu o mar. Ele responde que não. O irmão pergunta porquê e ele responde que a califórnia se meteu pelo meio. É um diálogo absolutamente fascinante, este, assim como aquele em que “Motorcycle Boy” resolve ir libertar os peixes siameses-lutadores alegando que eles se comportariam de maneira diferente se estivessem no rio, livres, o que acabará por causar a sua desgraça. Ainda no elenco salientam-se as interpretações de Dennis Hooper, Nicholas Cage, Christopher Penn, Laurence Fishburne, Tom Waits, William Smith e Sofia Coppola e S.E.Hinton, a autora do livro, numa breve aparição, tal como já fizera em “Os Marginais, no papel da prostituta que interpela Steve (Vincent Spano) na rua, quando os três se vão divertir para a cidade.
   
Durante a pré-produção, Coppola perguntou a Stephen H. Burum, o director de fotografia, que também já trabalhara em “Os Marginais”, como é que ele queria fazer o filme e ambos concordaram que se queriam fazer um filme a preto-e-branco, aquela era, talvez, a única possibilidade de o fazer.
O filme torna-se notável pelo seu estilo “Avant-garde”, admiravelmente filmado a preto-e-branco, usando uma composição cinematográfica que alude á “Nouvelle Vague” francesa dos anos 60, ao preto-e-branco usado por Orson Wells nos seus filmes como realizador e ao cinema alemão expressionista dos anos 20, como se pode perceber pelo uso extensivo de ângulos oblíquos, composições exageradas e uma abundância de fumo e nevoeiro. O realizador quis aproveitar a cidade de Tulsa, e as zonas suburbiais desertas da cidade, filmou muitas vezes de câmara na mão para transmitir ás audiências uma sensação de desconforto. Também mandou pintar sombras nas paredes dos sets de modo a dar-lhes um toque ameaçador.
   
   
No filme, as personagens encontram-se, lutam, falam, namoram, bebem e, por vezes, morrem. Tudo isto é tratado de um modo estilizado como só Coppola poderia fazer e isso fica demonstrado em duas cenas: A cena do sonho da morte de Rusty James em que este sai do seu corpo e flutua sobre a cidade enquanto escuta o que dizem  sobre si; a outra cena é aquela em que os dois irmãos estão na loja dos animais de estimação a conversar enquanto olham para um aquário onde vêem dois peixes siameses-lutadores coloridos a lutar (o “Rumble Fish” que dá título ao filme). Para misturar a fotografia a preto-e-branco com as imagens coloridas, Stephen H.Burum filmou os actores a preto-e-branco, depois projectou as suas imagens num écran, puseram o aquário com os peixes em frente do projector e filmaram tudo a cores. A  hábil montagem  de Barry  Malkin, colaborador habitual do realizador, encarregou-se do resto. Se se ver bem esta cena, percebe-se o simbolismo que Coppola quis demonstrar com ela: as cores da bandeira americana (um peixe é azul, o outro é vermelho), o ambiente da adolescência e segurança (representado pelo aquário), depois, ao longo da cena, vem a vontade de lutar e de afirmação e o perigo que acontece se somos retirados do nosso meio ambiente. Peixes siameses-lutadores que substituem os jovens. Original e resulta.
    A passagem do tempo, que acontece mais rápido do que as personagens se apercebem, é-nos dada através da fotografia em movimento de nuvens no céu  e de inúmeros relógios. foi inspirada no documentário “Koyaanisqatsi” (Godfrey Reggio, 1982) que Coppola produziu. A fotografia a preto-e-branco também serve para mostrar como o daltónico “Motorcycle Boy” vê  o mundo que o rodeia.
Quando estreou, “Rumble Fish – Juventude Inquieta”, foi um fracasso de bilheteira. Dos 10.000.000 de dólares investidos, o filme fez pouco mais do que 2.500.000 de dólares nos estados unidos. Na europa, principalmente em frança, onde o realizador é admirado, o filme foi um grande sucesso. Apesar de ter dividido a crítica, com uma parte dela a elogiar a obra e o realizador e outra parte a arrasar o filme e a criticar o estilo utilizado por Coppola  em material tão banal. Nada disto abalou o realizador que tem o filme como um dos seus favoritos e foi premiado no Festival de Cinema de San Sebastian onde ganhou os dois prémios mais importantes. Ao longo do tempo “Rumble Fish”,  tem sido  apesentado como um filme revolucionário em termos de estilo e técnica, que só em anos recentes tem sido compreendido  e  ganhou, desde então, um novo estatuto e é hoje tido como um filme de culto.
   
Francis “Ford” Coppola considerou “Rumble Fish – Juventude Inquieta” um filme de arte para adolescentes, passível de ter ou não impacto entre os jovens. Fácil de se detestar por não mostrar a temática como habitualmente a vemos; ou fácil de se adorar se formos atrás do charme que emana do trabalho experimental e  estilizado que exibe, montado sobre uma história de delinquência e bandos de rua, “Rumble-Fish” acaba por ser um filme excêntrico, ousado e original. Quem, senão Coppola, poderia fazer este filme? Ou melhor, quem, senão Coppola, quereria fazer um filme assim?

Nota: as imagens e vídeo que ilustram o texto foram retirados da Internet.











quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Stomu Yamashta – O Projecto Musical “Go”



    Há algum tempo atrás, num artigo que escrevi dedicado ao chamado Rock Progressivo, cujo boom aconteceu em meados da década de 70 do século passado, mencionei o nome de Stomu Yamashta, músico e compositor de origem japonesa que, em meados dessa década gloriosa em termos musicais, veio gravar ao ocidente com músicos europeus uma série de álbuns, a que chamou “projecto Go”, que ainda hoje são considerados como sendo dos expoentes máximos do rock progressivo e a sua mistura com Jazz, Jazz-fusão e Funky.
   
Stomu Yamashta nasceu em Kyoto, no japão. Estudou música na universidade de Kyoto e também nas escolas de música em Juilliard, Nova York e Berklee, em Boston e também deu aulas de música. Percussionista, teclista e compositor, Yamashta foi, desde muito novo, reconhecido internacionalmente pelo seu estilo de percussão inovador e acrobata  que lhe mereceram inúmeros prémios e citações dentro da música. Em 1969 ganhou reconhecimento internacional ao tocar com o maestro Seiji Ozawa (hoje é o diretor da Ópera Estatal de Viena) e com a Orquestra Sinfónica de Chicago. A sua interpretação dos temas foi tão virtuosa e intensa que, no final do concerto, foi aplaudido de pé durante mais de cinco minutos.

    Ao longo da década de 70, continuou a ser muito solicitado, quer no seu país natal, quer fora dele. Trabalhou com Peter Maxwell Davies, compositor e maestro britânico em algumas das sua bandas sonoras para filmes e séries de televisão. Foi nomeado diretor musical da  companhia de teatro  Red Buddha e conseguiu trazê-la até á europa para trabalhar em vários espectáculos de multimedia intitulados “The Man From the East”, com música composta e interpretada por ele e ainda conseguiu colaborar com Morris Pert, percussionista britânico no espectáculo “Come to the Edge”. Compôs temas musicais para a Real Companhia de Ballet Britânica, participou em diversas bandas sonoras de filmes como “The Man who Fell to Earth – O Homem que veio do Espaço” (Nicholas Roeg, 1976) com David Bowie; ou “The Devils” (Ken Russell, 1971) ou ainda “Images” (Robert Altman, 1972).         A meio da década, Yamashta começou a aspirar a vôos ainda mais altos. Desde novo que tinha um gosto especial pelo jazz e foi precisamente nesse género que ele se iria popularizar daí para a frente ao conseguir, na perfeição, fundi-lo com  “funky” e “rock sinfónico” criando um estilo que dali para a frente seria conhecido como  “funky-jazz” ou “jazz-fusão”.
   Em 1976, Stomu Yamashta anunciou a sua vontade de criar música a partir duma enorme variedade de influências, desde música moderna (clássica, entenda-se) a rock, passando pelo jazz e até pela música electrónica,  para isso queria ter consigo um supergrupo musical que lhe permitisse fazer uma espécie de “clássico pop gigante”.

A ideia pegou e tomou forma, pois vieram músicos de todo o mundo: japão, Alemanha, Inglaterra,  américa. A Yamashta, juntaram-se, logo desde o princípio, Steve Winwood (ex-Traffic, ex-Spencer Davis Group e ex-Blind Faith) e Michael Shrieve (The Santana Band) e os três desenvolveram ideias que iriam formar a base daquele projecto musical ainda sem nome mas que seria certamente um álbum conceptual. Queriam fazer a diferença em relação a alguns nomes musicais sonantes: Pink Floyd, Yes, Genesis, Tangerine Dream, Weather Report ou Mike Oldfield, mas na certeza, porém, de que todos eles iriam influenciar de alguma maneira o conteúdo musical do álbum.
   
O jogo que inspirou Stomu Yamashta
Existe no oriente um jogo muito  famoso, oriundo da china antiga há cerca de 2500 anos, chamado “Go” que se joga num tabuleiro, entre dois jogadores. Basicamente a ideia é  rodear com o maior número de peças possível  as zonas do adversário e impedi-lo de fazer o mesmo, antes do final do jogo. É uma espécie de xadrez, com menos regras, mas muito mais antigo e que envolve questões filosóficas e estratégicas entre os dois jogadores e permite um vastíssimo número de possibilidades e jogos.  Stomu Yamashta viu a possibilidade de, através de números musicais abstractos, desenvolver uma história de fantasia e realidade,  morte e re-nascimento, coisas que trocam para os seus opostos.  “Existem mudanças a acontecer, estamos sempre em constante evolução” terá dito o músico aos seus dois companheiros quando lhes apresentou o projecto agora intitulado “Go” .
   
Os "mentores" de "Go"
Com o projecto na mão, os três dedicaram-se a recrutar  outros talentos igualmente interessados em fazer a diferença e não tardaram a encontrá-los: Klaus Schulze (ex-Tangerine Dream e ex-Ash Ra Tempel);  Al DiMeola (ex-Return to Forever); Rosko Gee (ex-Traffic); Pat Thrall (ex-Pat Travers Band); John McLaughlin (Mahavishnu Orchestra, não creditado no álbum apesar de ter tocado em alguns temas e ter ajudado na produção) e outros talentos musicais oriundos de outros géneros mas com igual vontade de fazer parte daquele projecto aliciante. A junção de tantos talentos musicais, requereu alguma perícia na apresentação da ideia e nada melhor do que, em vez de apresentar o material já composto, explicar o que se pretendia fazer.
Antes de começar a trabalhar no estúdio, Stomu Yamashta organizou uma festa durante a qual projectou alguns filmes espaciais da NASA e entre eles apresentou e discutiu as ideias que estavam em cima da mesa, deixando espaço para outras variantes, tendo em conta a qualidade criativa de cada membro envolvido. O entusiasmo foi unânime e a vontade de tocar e gravar aquele material era mais que muita, por isso , sem grandes discussões, o músico japonês e o seu supergrupo entrarem em estúdio em fevereiro de 1976.
   
O álbum, intitulado simplesmente “Go”, foi editado em abril de 1976 e é, no verdadeiro sentido da palavra, um álbum conceptual, cuja fusão de pop-rock  com toques de jazz e elementos clássicos, tudo ligado pelo tema central da viagem espacial.  O conjunto de talentos reunidos contribuem, cada um á sua maneira, sob a batuta conceptual de Yamashta, para o impressionante conteúdo musical do álbum. O assombroso “Crossing the Line” com as suas reminiscências sinfónico-progressivas, dá o mote para a série de temas interligados e contínuos, que passam por “Ghost Machine”, um tema rápido acentuado pela guitarra agressiva de Al DiMeola, o solo ritmado de Pat Thrall e os sintetizadores influentes de Klaus Schulze, também por “Time is Here” um funky cantado alegremente por Steve Winwood  e que têm a sua conclusão no tema “Winner/Loser” a única batida mais pop do álbum, com a letra escrita por Winwood a lembrar os velhos tempos dos Traffic. “Go” é uma espécie de ballet”, disse Stomu Yamashta acerca do álbum.
   
Klaus Schulze a ensaiar
O único problema em explicar a história de “Go” é que, apesar dos temas serem contínuos e interligados, a história só começa no início do lado 2 (nos antigos álbuns de vinil) com o tema “Space Requiem” e prossegue em “Space Song” com  a parafernália de sintetizadores e material electrónico tocada por Stomu Yamashata e Klaus Schulze e são de uma grandeza cósmica tão grande que, se fecharmos os olhos por momentos, parece que estamos a viajar no espaço. A partir daqui a imaginação é o único limite. Todas as leituras são possíveis. Na segunda parte (o lado 1 do vinil  que por esta altura já ouvimos, se seguirmos o normal funcionamento destas coisas!) a história prossegue com  temas mais abstractos que tratam de morte, re-nascimento e, se quisermos, alguma redenção, Percebe-se que a  meio  (lembramos que se trata de temas contínuos), o tom pastoral de “Solitude”  muda  para um ritmo tipo balada para, logo a seguir  mudar para “Air Over” , um tema tipo espacial flutuante tocado em sintetizador, continuando num tom de celebração com “Man of Leo” com ecos de jazz e bossa nova onde se percebe a combinação notável de todos os músicos, com especial destaque para a voz de Steve Winwood e a guitarra de Al DiMeola. O tom celebrativo termina a dar lugar aos sintetizadores de Klaus Schulze e ritmos electónicos, é  o regresso aos temas cósmicos com “Stellar e Space Theme“. E é o fim de um ciclo de “Go”.
Apresentada e concretizada que estava a ideia de Stomu Yamashta, o resultado fora muito além das expectativas de todos aqueles que estavam envolvidos ou não no projecto, faltava agora mostrá-lo ao público
    A apresentação do álbum ao vivo tinha que acontecer por vontade, não só dos músicos, como também do público, sedento de ouvir e ver aquele colectivo de músicos de primeira água e a grande questão era: como é que se comportariam todos juntos em palco?
Uma tournée estava fora de questão pois todos eles tinham agendas preenchidas  com concertos e outras atividades, pelo que quando dois ou três estavam disponíveis, os outros quatro ou cinco não podiam e vice-versa o que tornava toda a logística difícil de coordenar. Finalmente lá se conseguiu reunir, mas apenas para um concerto, a maior parte dos que participaram no álbum, substituindo os que não puderam ou não quiseram, por outros músicos recomendados aos mentores do projecto. Faltava saber onde iria ser feito o concerto. Depois de muitas hipóteses levantadas, a escolha recaiu sobre Paris, em frança, por ser uma cidade culturalmente abrangente.
   
O concerto aconteceu no “Palais  Des Sports” no dia 12 de junho de 1976. Quem lá esteve, garante que foi um acontecimento único. Deste memorável e irrepetível concerto nasceu o álbum “Go Live from Paris”, que seria editado no final do ano.
Rezam as crónicas da altura que Yamashta usou lasers e imagens projectadas enquanto o grupo  em palco  (oito músicos e uma vocalista) se permitia a grandes explorações dos temas e uma maior interactividade entre  Stomu Yamashta, Steve Winwood, Michael Shrieve, Klaus Schulze,  Al Di Meola e Pat Thrall, apoiados pelo baixo de Jerome Rimson, a percussão de Brother James e a voz intensa e profunda de Karen Friedman. Além de que os temas foram, ao contrário do álbum de estúdio, apresentados por ordem por forma a apresentar o tema como uma suíte em dois movimentos. “Windspin” é o primeiro grande momento do concerto. Com cerca de nove minutos e meio de duração, o tema, tocado ao estilo de “Weather Report”, uma odisseia instrumental de jazz-fusão pontuado por surpreendentes riffs de guitarra que davam uma sensação de dramatismo mostrou quão empenhados estavam os músicos no seu trabalho.
   Em termos de intensidade musical, é muito difícil bater os solos de guitarra de Al Di Meola, que acompanham a voz, quase soul, de Steve Winwood em “Ghost Machine”;
“SurfSpin” introduz através de  uma batida funky  o  tema “Time is Here” em que Winwood é acompanhado pela voz expressiva de Karen Friedman e pelo baixo intenso de Jerome Rimson. A espontaneidade do concerto fica provada em  “Winner/Looser”  com todos os músicos a contribuírem definitivamente num tema que contrasta largamente com aqueles que o precederam.
O segundo movimento começa com a rendição de “Air Over”, integrando os temas “Air Voice”, “Nature” e “Solitude” (no álbum “Go”); prosseguindo com “Crossing the Line”, com nove minutos onde a voz emotiva de Winwood serve de mote para um fabuloso e intenso solo de guitarra partilhado entre Al DiMeola e Pat Thrall naquele que terá sido um dos grandes momentos do concerto. Mas ainda haveria mais e logo a seguir com “Man of Leo”, com quinze minutos de duração permitiu aos músicos descontrair tendo como fundo o virtuoso solo de guitarra de DiMeola e improvisações seminais de Michael Shrieve e Jerome Rimson acompanhados pela voz  assombrosa e cristalina de Karen Friedman. O concerto terminaria com uma combinação orquestrada de sintetizadores entre Stomu Yamashta e Klaus Schulze nos temas  “Stellar” e “Space Requiem”.
As críticas ao concerto foram diversificadas na forma e conteúdo, mas unânimes num ponto: apesar de ser um espectáculo da visão musical de Stomu Yamashta, a estrela da noite foi, sem dúvida nenhuma, Steve Winwood com as suas contribuições instrumentais e vocais fizeram do seu regresso aos palcos um verdadeiro triunfo.
   
Satisfeito com o resultado de “Go” e de “Go Live from Paris”, Stomu Yamashta começou a pensar noutro álbum que expandisse ainda mais os horizontes musicais. Steve Winwood, graças ao êxito obtido com o concerto, quis aventurar-se sozinho na música e abandonou o grupo.  Yamashta chamou Jess Roden para substituir  Winwood e fez ainda outros ajustes: Paul Jackson entrou para o lugar de Jerome Rinsom, substituiu Karen Friedman por Linda Lewis; trocou Pat Thrall por Doni Harvey; trouxe um novo teclista, J.Peter Robinson e chamou Paul Buckmaster paa fazer os arranjos finais. Os restantes músicos que vinham do primeiro álbum, regressaram todos.
“Go Too”, assim se chamou o álbum, apareceu em 1977 e foi uma mudança radical no estilo e forma do projecto. É o grande final de magníficas proporções. Um set maravilhoso onde paisagens sonoras, que vão desde o soul ao funky de fusão, constituem um enorme painel cinematográfico sonoro.
    O álbum começa e acaba com duas peças instrumentais, “Prelude”, tocado por Klaus Schulze é uma espécie de tema espacial onde se percebe que o músico, apesar da mudança de direção musical, não perdeu o seu virtuosismo, “Ecliptic”, que fecha o álbum é novamente Schulze no seu melhor, uma sonoridade profunda  com algumas reminiscências  que nos transportam para o início do álbum. Pelo meio, Seen you Before”, um tema que funde jazz com funky  e com um grandioso solo de guitarra de Al Di Meola, segue-se “Madness” um tema totalmente funky que, no final, apresenta o som de ondas do mar e liga diretamente a  “Mysteries of Love”, um tema romântico onde dominam os solos de guitarra sentidos de DiMeola  e as vozes de Linda Lewis e Jess Roden; “Wheels of Fortune” é Jazz puro; “Beauty” é romântico mas muito introspetivo, enquanto “You and Me” mostra um funky alegre  e descomprometido.
    Com o seu projecto “Go” terminado depois de encontrar a sua conclusão lógica neste “Go Too”, Stomu Yamashta regressou ao japão onde continuou a combinar as suas predilecções electrónicas “avant-garde” com o seu estilo “New Age” melódico (há quem o considere um dos percursores deste estilo de música meditativo e relaxante) e esporadicamente grava álbuns.

Nota: as imagens e vídeo que ilustram o texto foram retirados da Internet.











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