- Cartas de Iwo Jima
Embora usando a mesma técnica empregue em "As Bandeiras", Eastwood evita a repetição. Troca o ponto de vista da batalha ( o momento grande da obra anterior, o içar da bandeira no monte Suribachi, é visto á distância dum abrigo japonês) e utiliza as cartas e os pensamentos que os Oficiais e Soldados Japoneses escreveram para os seus familiares enquanto aguardavam a invasão.
O filme abre com uma sequência, no presente, em Iwo
Jima. Numa gruta são encontradas centenas de cartas que não chegaram a ser
enviadas. São elas o ponto de partida para este filme, já considerado uma
obra-prima do cinema e, muito particularmente do seu realizador. Nessa cartas,
algumas são do General Kuribayashi e nelas o militar revela as suas
preocupações, ansiedades e alguns acontecimentos ocorridos durante o tempo em
que comandou as tropas na ilha
Iris Yamashita, Clint Eastwood e Ken Watanabe |
Inicialmente, o filme era para se chamar “Red Sun,
Black Sand”, mas só muito dentro das filmagens é que o título foi mudado para
“Letters from Iwo Jima” por ser, em grande parte, baseado no livro “Gyokusai
sõshikikan no etegami – Picture letters from the Commander in Chief, escrito
pelo General Tadamichi Kuribayashi, o comandante das forças japonesas na ilha
(interpretado com grande intensidade por Ken Watanabe), compiladas e publicadas
pelo editor Tsuyuko Yoshid. Baseado
nele, a argumentista Iris Yamashita escreveu a história, posteriormente
desenvolvida pela própria com a ajuda de
Paul Haggis no argumento deste
extraordinário filme.
Com este
filme, o realizador evita a habitual repetição nos filmes, invertendo os
factores. Poucos são os filmes que tomam o ponto de vista dos vilões
transformando-os em heróis, como aconteceu com “Cross of Iron – A Grande
batalha”, realizado por Sam Peckinpah em 1977, cuja acção se passa em 1943, na frente russa e onde os nazis são os heróis
e os russos os vilões feios, porcos e maus.
É costume descrever-se como épico um filme que gira
em volta de grandes batalhas, acontecimentos históricos e grande quantidade de
mortos. Mas Eastwood não entra por este caminho. Apesar de alguns cenários
mostrarem armamento em larga escala, o ambiente geral de “Cartas de Iwo Jima”,
é altamente intímo, apesar de percorrido por uma enfática força emocional, o
realizador consegue mostrar uma particular atenção a gestos e discursos que se
podem considerar delicados. Clint Eastwood não é um desconhecido para a linguagem da violência, mas é um mestre no
que toca a dramatizar as consequências éticas e morais da própria violência.
Ambos os filmes “viajam” para a frente e para trás
no tempo e no espaço entre Iwo Jima e os locais onde habitam os combatentes. Em
“As Bandeiras dos Nossos Pais” a batalha acontece maioritariamente através de
“flashbacks”, já que o filme é, em larga
medida, acerca da culpa e confusão que
os sobreviventes encontram aquando do seu regresso a casa. Em “Cartas de Iwo Jima”, a batalha acontece no presente, e é a casa
que surge ocasionalmente na memória dos homens que têm quase a certeza de que
não a voltam a ver.
A recepção de critica e público foi extremamente
positiva. Aclamado, pelo retrato do bem e do mal em ambos os lados da batalha,
“Cartas” foi rapidamente considerado uma obra-prima do cinema de guerra.
Premiado em diversos festivais mundo fora, vencedor do Globo de Ouro para
Melhor Filme em Língua Estrangeira e recipiente de quatro nomeações para os
Oscares da Academia, incluindo duas para Melhor Filme do Ano e Melhor
Realizador.
No Japão, o filme obteve um sucesso ainda maior do
que nos Estados Unidos quer por parte de críticos, quer pelo próprio público,
sempre muito reservado em relação aos filmes que abordam temas tão delicados
como este.
Em 2010, o American Film Institute considerou “Cartas
de Iwo Jima” um dos 10 melhores filmes de guerra de todos os tempos.
Nota: As imagens e vídeo que ilustram o texto foram retiradas da Internet