O Tempo passa sem parar, como um rio que corre em direcção ao mar, dissipa-se nas brumas da Memória colectiva... É o Tempo que serve a memória ou é a memória que serve o Tempo?
Foi a partir de meados
da década de 90 do século passado que começaram as tentativas para revitalizar ou continuar a
história de “Battlestar Galactica”. Tom
DeSanto, Bryan Singer ou até mesmo Richard Hatch, o Capitão Apollo da primeia
temporada da série, estiveram envolvidos em projectos para recuperar a série. Hatch fez mesmo várias tentativas para a
revitalizar, incluindo co-escrever algumas histórias novas e uma série em
Banda Desenhada e ainda foi mais longe ao produzir um “concept video”, em 1998,
com alguns actores da série original e efeitos especiais de primeira, entitulado
“Battlestar Galactica: The Second Coming”, baseado na continuação da série
original, cuja acção se passava anos depois do ultimo episódio da primeira
temporada, mas não convenceu e ficou por isso mesmo. Também em 1999, o produtor Todd Moyer e Glen
A. Larson, anunciaram planos para um filme, baseado na série original, cuja
personagem principal seria a “Estrela-de-Batalha “Pegasus”.
A versão de Tom
DeSanto e Bryan Singer era também uma continuação, cuja acção se passava cerca
de 25 anos depois da série original. Contando com elementos da série original, retomando
os seus papéis, assim como com a
introdução de novas personagens, chegou á fase de pré-produção antes de ser
atrasada e, depois dos eventos do 11 de setembro de 2001, ser abandonada. Ambas
as versões ignoravam os acontecimentos ocorridos em “Galactica 1980”.
Em 2002, a Universal
Pictures (detentora dos direitos legais
da série, cedidos por Glen A.Larson), optou por um “remake” em vez duma sequela.
Para isso contratou Ronald D.Moore,
argumentista e produtor que trabalhara extensivamente nas várias series
originadas pelo franchise “Star Trek” ao longo da década de 90. O remake entrou
em produção em finais de 2002.
Foi reunido um elenco
quase desconhecido para recuperar as personagens da série inicial: Jamie Bamber
é o Capitão Lee “Apollo” Adama; James Callis interpreta o Dr. Gaius Baltar;
Katee Sackhoff é a Tenente Kara “Starbuck” Trace; Tricia Helfer é a “Número
Seis”; Grace Park é a Tenente Sharon
“Boomer” Valerii. Mas também foram chamdos alguns nomes conhecidos como Edward
James Olmos que interpreta o Comandante William Adama ou Mary McDonnell, no
papel de Laura Roslin, Presidente das Colónias humanas.
Após um armistício de
40 anos que se seguiu á guerra travada ente as Doze Colónias (os mundos
habitados pelos humanos) e os Cylons (robots criados pelos humanos), estes
últimos lançam um ataque nuclear com o intento de exterminar a raça humana.
Apanhada de surpresa, a população das Doze Colónias, é quase totalmente
exterminada, assim como o pessoal militar é virtualmente destruído por uma sabotagem
no computador da rede de defesa. A
“Galactica”, uma nave que estava destinada a ser um museu, por estar fora do
alcance da rede, é a única
Estrela-de-Batalha que escapa á destruição e Adama, o comandante da
“Galactica”, assume provisoriamente, o comando da frota enquanto tenta levantar
a moral dos restos da população humana anunciando planos para tentar encontrar
a lendária Décima-Terceira Colónia, Terra, cuja existência e localização haviam
sido mantidos secretos pelos militares.
Inicialmente, pretendeu-se fazer uma mini-série de três horas de duração,
apoiada pelo recém-criado Sci-Fi Channel, o argumentista Ronald D.Moore e o
produtor David Eick não se pouparam a esforços para inovar este remake duma
série de culto do final da década de 70 do século passado.
A história é, em
tudo semelhante á da primeira série: a “Galactica” protege uma frota de cerca
de 75 naves civis ( na série inicial, eram cerca de 220!), com uma população
que ronda (Segundo se vê nas estatisticas que estão na “Colonial One”, nave
onde viaja Laura Roslin, a Presidente
Eleita das Colónias) cerca de cinquenta mil pessoas, sempre perseguidos pelos
Cylons, procuram a Terra, apesar de
Adama acreditar que ela nada mais é que uma lenda.
Mas onde esta nova série
difere da original é na profundidade com que aborda toda a jornada: a série não
se limita a mostrar aventuras e batalhas espaciais, ela explora também as
relações humanas numa civilização
ameaçada de extinção, na qual os seres humanos lutam entre si tanto como contra
os Cylons. Mas a grande novidade deste “reboot” (recomeço) de “Battlestar Galactica” vem dos inimigos jurados dos
humanos: os Cylons. Ficamos a saber que eles evoluiram (ja estamos longe das naves com três Cylons
como tripulantes, as que surgem agora
são muito mais modernas e ameaçadoras que as da série original) e
desenvolveram-se ao ponto de, Segundo a “Número Seis”(uma sensual e bonita
Cylon que admira a raça humana) diz a Baltar, adquiriram uma consciência
própria. Já no final da mini-série, ficamos a saber que existem 12 modelos de
Cylons, semelhantes aos humanos, que sentem como humanos e pensam que são
humanos, dos quais existem milhares de
cópias ou “clones”, espalhados pelo universo. Além da “Número Seis”, na
mini-série são revelados mais três. (um dos quais apenas no surpreendente final). Esta nova situação
foi trazer uma grande inovação á mini-série. O mote estava lançado, restava
aguardar qual seria a reacção do publico.
Nos dias 8 e 9 de dezembro de 2003,
a nova versão de “Battlestar Galactica” estreava no Sci-Fi Channel. As
duas partes conseguiram prender a atenção de 3.9 e 4.5 milhões de espectadores
respectivamente, tornando-a no terceiro programa mais visto de sempre e
recebendo critícas muitos positivas da imprensa especializada. Com tal sucesso
em mãos, foi encomendada uma série com
carácter semanal.
A primeira temporada começa pouco tempo depois do final da mini-série e
continua a história dos restos das Doze Colónias humanas, depois da derrota
infligida pelos Cylons, em busca da Décima-Terceira Colónia, Terra. Ao contrário
de outras séries espaciais, “Battlestar Galactica” não tem os tão famosos
aliens que fazem as delicias nessas séries. Muito pelo contrario, a maior parte
das histórias tratam do efeito que a destruição apocalíptica das
Doze Colónias teve sobre os sobreviventes e as escolhas morais que têm de fazer
em relação ao declínio da raça humana e a sua guerra com os Cylons; outras
histórias são sobre os ciclos perpétuos de ódio e violência que conduzem
aos conflictos entre seres humanos e Cylons, e religião com uma
implicação de que “Deus” tem um plano
que contemplará todos os
envolvidos..
Ao longo da série, a guerra entre Cylons e humanos, conhece muitas voltas e
reviravoltas, com facções de Cylons a aliarem-se aos humanos, formando uma
aliança insegura e fraca, contra o “Número Um”, o líder Cylon que se recusa a
revelar o nome dos “Últimos Cinco”, os cinco
Cylons cujas identidades só ele conhece
e que são modelos mais antigos, criados por uma civilização humana mais antiga.
Todo o elenco da mini-série regressou para
as quatro temporadas de “Battlestar Galactica”, Glen A. Larson, criador da série
original tornou-se Produtor Consultivo e
a produção trouxe,como artistas convidados ao longo da série, Lucy Lawless,
Dean Stockwell, Callum Keith Rennie e, como convidado especial, Richard Hatch,
o Capitão Apollo da série original, para interpretar Tom Zarek, um terrorista
que depois se torna politico. Hatch, que recusara entrar em “Galactica 1980”,
apesar de não gostar do novo conceito, aceitou participar na série, já que a
sua personagem lhe permitiu acrescentar ainda mais dramatismo ao enredo quando
se dá a sua transformação de terrorista em politico activo que ascende á
vice-presidência das Colónias.
A 14 de janeiro de 2004, estreava a primeira temporada de “Battlestar
Galactica” com um “share” televisivo de 3.1 milhões de espectadores logo no
primeiro episódio, tornando-o, tal como as duas partes da mini-série, um dos
programas mais vistos de sempre no Sci-F Channel. Ao sucesso dos 13 episódios
desta primeira temporada, seguiram-se mais 20 duma segunda temporada em 2005
(exibida nos Estados Unidos em duas partes intituladas 2.0 e 2.5) que continuou
o sucesso levando o Sci-Fi Channel a encomendar uma terceira temporada em 2006,
seguindo sempre a esteira do sucesso levando a que os interregnos entre as
temporadas fosse cada vez menor. Finalmente em 2007, foram encomendados mais 22
episódios para uma quarta temporada que os produtores Ronald D.Moore e David
Eick anunciaram ser a última. Tal como a
segunda, esta quarta temporada foi dividida em duas partes, por ter sido
apanhada pela greve dos argumentistas
(2007-2008), respectivamente 4.0 (episódios 3 a 10) e 4.5 (episódios 11
a 22). A 20 de março de 2009, foi exibido o último episódio da série. Com cerca
de três horas de duração, foi dividido em duas partes. Chegava, assim, ao fim
um dos mais bem conseguidos “reboot” duma série de televisão.
Entre a terceira e a quarta temporadas, surgiu o telefilme “Battlestar
Galactica: Razor” que serviria para criar expectativa em relação ao que se iria
seguir na série. “Razor” é a junção dos dois primeiros episódios da quarta
temporada. Narrando os acontecimentos da Estrela-de-Batalha “Pegasus” em dois
tempos, ambos “no passado” em relação à continuidade da quarta temporada. O
tempo “presente”situa-se na altura em Lee Adama assume o comando da “Pegasus”,
na última metade da temporada 2, enquanto o tempo “passado” se situa quando
Helena Cain é a Comandante da nave, no período entre o ataque Cylon (que se vê na mini-série) e a reunião com a
“Galactica” na segunda temporada.
Ainda mal tinha terminado “Battlestar Galactica” , já o Sci-Fi Channel
anunciava um telefilme intitulado “Battlestar Galactica: The Plan – Galactica –
O Plano” (Edward James Olmos, 2009). O
filme, constituído por material novo e
cenas da mini-série e temporadas, acompanha a história de duas versões do Cylon Cavil, uma quer
testemunhar a destruição da raça humana, a outra tenta dissuadir a primeira,
admitindo que podem estar a cometer um erro. Contado em “flashback”, o
telefilme reconta a mini-série e as duas primeiras temporadas com maior enfâse na perspectiva dos Cylons e
do seu Plano para destruir a raça humana. Os “Cinco Finais” têm aqui um papel
mais proeminente.
Em abril de 2006, o Sci-Fi Channel anunciava que uma prequela (um termo
criado no século XXI), de “Battlestar Galactica” estava em desenvolvimento.
“Caprica”, assim se chamava a prequela, a acção situa-se mais de 50 anos antes
da série, antes da Guerra Cylon e conta-nos a história da família Adama e da
sociedade Capricana assim como nos fala dos avanços tecnológicos que levarão á Revolta Cylon. Em março de 2008,
Ronald D.Moore, produtor e argumentista, confirmou que “Caprica” iria entrar em
produção, começando com episódio-piloto de duas horas. Em dezembro de 2008, o
canal aprovou e deu luz verde para a série. Devido a fracas audiências,
“Caprica” só teve uma temporada, constituída por 19 episódios e foi exibida
entre janeiro e outubro de 2010.
Anunciada em 2011, “Battlestar Galactica: Blood & Chrome” é a segunda prequela do universo “Battlestar
Galactica”. A acção situa-se no décimo ano da Primeira Guerra Cylon e segue o
percurso do jovem William “Husker” Adama, piloto da “Galactica”, uma das mais
poderosas Estrelas-de-Batalha da frota Colonial. A série, criada por Michael
Taylor e David Eick, descreve os
acontecimentos entre “Caprica” e a mini-série de 2003 e estreou, em novembro de
2012, como uma série “on-line” de 10 episódios de mais ou menos 15 minutos de
duração. Distribuída pela “Machinima
Network” e exibida no “Machinima Youtube
Channel”, um canal pertencente ao
“Youtube”, a série teve uma recepção positiva.
Em 2013, o Sci-Fi Channel anunciou a
sua intenção de exibir a série como um telefilme e estava em cima da mesa a
possibilidade de se criar uma série de televisão.
Facilmente se percebe que o “reboot”
de “Battlestar Galactica” abriu muitas portas
a futuras prequelas, continuações, quer em forma de série ou em filmes e
telefilmes. Enfim todo um manancial de possibilidades ao dispôr de quem queira
dar continuidade ao projecto, “So Say We All!” – os fans, claro!!
Nota: As Imagens e vídeo que ilustram o texto foram retiradas da Internet
As
imagens finais de “A Mão de Deus”, o
último episódio da primeira temporada de Galactica, mostravam-nos uma
transmissão, em más condições, a ser recebida num monitor e nela conseguia-se
perceber os contornos duma nave a poisar e ouvia-se uma comunicação,
entrecortada por estática, cuja voz pronunciava o seguinte “Base da
Tranquilidade…a Águia aterrou!” a imagem
congelava e começava o genérico final.
Embora
se soubesse antecipadamente que este era o último episódio, algo, naquelas
imagens, deixava antever o contrário. O público, fiel, interrogava-se: que
imagens eram aquelas que a Galactica acabara de capturar? Será que estariam a
receber uma comunicação de longa distância? Que nave era aquela? O que é que
aquela voz quereria dizer? Com quem estaria a falar? O que era a Base da
Tranquilidade? Parecia estar destinado que nenhuma destas perguntas iria ser
respondida.
Mal
se soube do cancelamento da série, a ABC
começou a receber cartas de telespectadores que queriam que a série fosse
reposta. Protestos destes eram pouco comuns nesta época, mas
revelaram-se decisivos já que tal
campanha em favor da série, levou a que os responsáveis da estação repensassem
as razões do cancelamento. Após alguma deliberação, entre avanços e recuos, os
responsáveis da ABC reuniram-se com Glen A.Larson para definirem um possível
regresso da série, mas este teria de ser modificado e num formato menos
dispendioso.
Com
luz verde da ABC, Glen A.Larson e Donald P.Bellisario, co-argumentista e
realizador de vários episódios da primeira temporada, decidem que a nova série
se passará cerca de 5 anos depois dos eventos de “A Mão de Deus”. Este espaço
de tempo, permitiria que se eliminassem
algumas personagens consideradas superfluas, como o Coronel Tigh, braço direito
de Adama, Athena, filha de Adama, Cassiopeia, Boxey, entre muitos outros que se
haviam tornado familiares ao longo da série original. As únicas personagens que
iriam transitar seriam: O Comandante Adama, Boomer, Apollo, Starbuck e o Conde
Baltar. Este último, depois de cumprir uma sentença por ter traído os seus
semelhantes, era expiado e seria agora Presidente do Conselho
dos Doze.
A
ideia principal seria que “A Galactica” chegaria á terra no presente e esta não
estaria preparada para se defender dos
Cylons, Adama decidiria então dirigir-se para outro ponto do universo de modo a
afastar os Cylons do planeta. Baltar, no entanto, sugeria utilizar-se a
tecnologia que permitia viajar no tempo e assim alterar a hustória da terra de
modo a que esta estivesse apta a enfrentar as máquinas mortíferas. O Conselho
recusaria e Baltar roubaria uma nave e viajaria até ao passado para levar o seu plano avante. Semanalmente,
haveria “Uma Missão no Tempo”, levada a
cabo por Apollo e Starbuck a tentar apanhar Baltar, impedir que este
alterasse a história terrestre, com
Apollo sempre num período diferente da história
e Starbuck, viajando para o passado e para o presente, para poder ajudar
o seu amigo. A ABC gostou da ideia e autorizou a realização do episódio-piloto.
Dr. Xavier
Lorne
Greene (com uma barba grande, que, não é preciso ser um especialista para
isso, se percebe logo ser falsa) e Herb Jefferson, Jr. (Boomer, agora promovido
a coronel e braço-direito de Adama), aceitam regressar aos seus papeis,
mas Richard Hatch e Dirk Benedict
mostraram-se indisponíveis para regressar. O primeiro recusou porque não tinha
a certeza de qual seria o seu papel
agora que tudo ia mudar e algumas personagens iriam desaparecer; o segundo
estava indisponível. Foi então que perante
este retrocesso, toda a estrutura,
entretanto planeada, para a nova série foi alterada. A acção passa-se agora
cerca de trinta anos depois dos acontecimentos da primeira temporada. São
criadas novas personagens como Troy (para substituir Apollo), O Tenente Dillon
(para substituir Starbuck); assim como o inquietante Doutor Xavier (Richard Lynch, num registo habitual na sua carreira), como o vilão de
serviço.
Com
a acção situada no ano de 1980 e uma geração depois da série original, “A
Galactica” e a sua frota chegam á Terra, apenas para descobrir que o planeta
não é tão avançado cientificamente como era de esperar nem é capaz de se
defender dos Cylons, nem pode ajudar a nave de combate. É então decidido que
equipas de colonos vão ajudar incognitamente membros da comunidade cientifica
de modo a tornar a terra mais tecnologicamente avançada. Mas existe quem pense que
esta decisão é errada e pretenda acelerar o avanço tecnológico, nem que para
isso seja necessário viajar no tempo, até ao passado e alterar o curso da
História.
Depois
do episódio-piloto ser filmado e visionado, a estação mostrou-se desagradada
com os aspectos das viagens no tempo que seria então a premissa principal de
cada episódio (como inicialmente planeado) com os guerreiros coloniais a
perseguir o Dr.Xavier em diferentes períodos da história. Ainda
antes de estrear, os criadores da série veem-se obrigados a abandonar a
ideia das constantes viagens no tempo,
por imposição da ABC. Ultrapassado este
pequeno contratempo, a série estreou no dia 27 de janeiro de 1980.
Ao
longo da série, são explicados os destinos de algumas personagens da série
original: Apollo teria morrido; Starbuck ter-se-ia perdido no espaço no decurso
duma missão; ficamos a saber que o Capitão Troy
é, na realidade, Boxey; Baltar, tal como
Adama lhe prometera em “A Mão de Deus”,
aparentemente foi abandonado num planeta com condições de sobrevivência,
foi salvo e é-nos apresentado como o Comandante Baltar, chefe
supremo da frota Cylon que persegue os humanos. De outras personagens, como
Athena, Cassiopeia ou até o Coronel Tigh, nunca se chega a saber o que
aconteceu. É como se nunca tivessem existido e, quando assim acontece, é
lamentável, já que algumas destas personagens desempenhavam um papel importante
na série original.
Os
fracos índices de audiência que a série obteve, levaram ao seu cancelamento ao
fim de apenas dez episódios!, muitos dos
quais eram histórias múltiplas, com várias situações a decorrer o que apenas
serviu para baralhar os espectadores, nunca conseguiram despertar o interesse
do público e até os actores começavam a revelar algum cansaço das personagens,
arrastando até ao limite as suas prestações. O último episódio, intitulado “O
Regresso de Starbuck” com a participação especial de Dirk Benedict ( e também o mais interessante de
todos), foi uma tentativa de reanimar a série e arrancar algum “share”
televisivo, mas não foi suficiente. Um décimo-primeiro episódio, que seria uma
continuação do anterior, ainda foi
escrito por Larson, mas a série foi cancelada durante a produção desse episódio
e este nunca foi terminado.
Depois
do cancelamento da série, em maio de
1980, apareceu nos cinemas, na Europa, Nova Zelândia e Austrália, um filme
intitulado “Conquest of the Earth”. Editado a partir de episódios da série
“Galactica 1980” (nome pelo qual ficou conhecida esta série), e cenas não
aproveitadas na série, editadas de modo a tornar compreensível o filme. Apesar
de mais esta tentativa de revitalizar a série, nada havia a fazer.
Pela
segunda vez, em pouco mais de um ano, a
série “Battlestar Galactica” “morria”
pelas mesmas razões que haviam estado na origem do cancelamento da série
original. Desta vez a ressurreição teria de
esperar 23 anos até acontecer.
(continua)
Nota: As imagens e vídeo que ilustram este texto foram retiradas da Internet
Em 1978, “Star Wars – Guerra das
Estrelas”, o fantástico universo criado por George Lucas, um dos maiores
visionários do cinema no final do século XX, tinha redefinido o cinema e, em
particular, a ficção científica. Desde que estreara, em maio de 1977,
tornara-se o maior êxito de bilheteira da história do cinema, batendo recordes
em todo o mundo. Nada, nem ninguém, conseguiu ficar indiferente ao impacto que
o filme teve no mundo inteiro. Também a televisão, principal rival do cinema,
foi tocada por este fenómeno mundial e
quis logo de imediato responder com outro sucesso idêntico para não perder o
seu público.
Na
altura deste sucesso mundial, discutia-se a influência que o livro “Eram os
Deuses Astronautas?” de Erich Von Daniken, publicado em 1968 e que fala da
possibilidade das antigas Civilizações
terrestres terem a sua origem no espaço, com a vinda de alienígenas (ou
astronautas) á terra nos períodos relatados dessas Civilizações, tinha no filme
de George Lucas. Surge então em cena Glen A.Larson, criador e produtor de
alguns dos maiores sucessos de televisão das décadas de 70 e 80 do século
passado, como “Buck Rogers no Século XXV” (1979-1981); “Magnum, P.I.” (1980-1988);
“The Fall Guy” (1981-1986); ou “Knight Rider – O Justiceiro”(1982-1986), o seu
maior sucesso. Decidido a mudar a face da televisão, Larson, que tinha lido o
livro de Daniken, resolve criar uma série de televisão, que fizesse frente ao
sucesso de “Star Wars”, partindo da premissa apresentada pelo livro.
Num
universo muito distante, as Doze Tribos da Humanidade ou Colónias, como muitas
vezes são referidas na série (uma possível referência, nunca confirmada, ás
treze colónias que deram origem aos Estados Unidos ou ainda ás tribos de
Israel), assinam um pacto de tréguas com os Cylons, robots-guerreiros criados
por uma raça de seres superiores há muito extinta, provavelmente répteis (esta
ideia é transmitida sempre que se vê o Líder Imperioso, a sua forma, de costas e com um olhar de
réptil) pondo fim a uma guerra que durava há mais de mil anos. Atraiçoados pelo
Conde Baltar, um humano ambicioso que deseja subjugar toda a humanidade, aliado
ás forças Cylon, as Doze Tribos são destruídas e a raça humana practicamente
extinta. A Estrela Batalha “Galactica”, a única nave de combate que sobrevive a
este holocausto, reúne, sob sua protecção, uma frota de naves onde viajam os
restos da humanidade e, enquanto fogem dos Cylons, procuram vestígios da 13ª
Tribo Humana (ou Colónia) que partira de Kobol, planeta onde nascera a
humanidade, muitos séculos antes, para colonizar um planeta chamado Terra.
A Era
em que acontece este êxodo nunca é explicada. No início da série é referida como sendo “o Sétimo Milénio do
Tempo”, mas é desconhecida em relação á história da terra e aos vestígios que
vão recolhendo ao longo da sua longa viagem. A série faz referencia, na sua
introdução, ás antigas civilizações Egipcía, Maya, Inca, Tolteca e fala também
das Civilizações míticas como Lemúria e Atlântida, sugerindo que estas poderiam
ser descendentes de seres alienígenas e que estes seres humanos que lutam
algures no universo, poderiam ser os antepassados dessas antigas civilizações.
Partindo
desta premissa, em 1978, estavam lançados os dados para uma das mais originais
e inovadoras séries de televisão. A grandiosidade dos cenários, as cenas de
batalhas espaciais e a própria temática humana em guerra com outra civilização,
nada disto alguma vez se vira em televisão, apenas em cinema. Hoje, décadas
depois da sua estreia, dá-nos alguma nostalgia e até vontade de rir em algumas cenas. Vemo-la como
uma utopia, mas, não esqueçamos que, revolucionou os efeitos especiais em
televisão e, os seus enredos, altamente rebuscados, fizeram história, não só nos filmes para televisão,
como também na própria ficção científica.
Glen
A. Larson, depois de ter luz verde da ABC, o estúdio que apostou na série, não
se poupou a esforços para inovar. Foi buscar actores e actrizes, alguns de renome, como
Lorne Greene, que “Bonanza”(1959-1973), a série de cowboys de mais longa
duração em televisão, tornara famoso e deu-lhe o papel de Adama, o comandante
da “Galactica” e também o responsável por levar os restos da humanidade em
busca da terra; John Colicos, como o Conde Baltar, o homem que vende a
humanidade a troco do poder; Jane Seymour, a bonita actriz que depois viria a
encontar a fama com a série “Dr. Quinn”(1993-1998), é Serena, jornalista que,
pelos destinos da guerra , se torna guerreira-piloto; Richard Hatch é Apollo, o
piloto mais corajoso da frota; Dirk Benedict, que, na década seguinte, se
tornaria famoso na série “A-Team – Soldados da Fortuna”(1983-1987), é Starbuck,
também piloto, homem de grande coragem, melhor amigo de Apollo e um
incorrigível D.Juan; entre muitos outros que se viriam a tornar famosos depois
da participarem na série. Larson foi buscar também realizadores de televisão e cinema como Rod Holcomb ou
Christian I. Nyby II, para garantir que o trabalho fosse de qualidade e não um simples amontoado de
imagens sem nexo. O próprio criador supervisionou a sequência de abertura do
episódio-piloto: no universo, entre imagens de nebulosas e planetas, uma voz
“off”, introduz e situa a acção. Larson
fez questão que fosse Patrick McNee, o conceituado actor da série britânica
“The Avengers – Os Vingadores” a fazer a introdução da série, introdução essa
que se manterá inalterável até sensivelmente ao meio da série, onde será
ligeiramente modificada, mas mantendo sempre presente aquilo que Erich Van
Daniken escrevera no seu livro . Larson quis ainda que fosse o actor a fornecer
a voz ao Líder Imperioso e também participasse na série em dois episódios, interpretando a figura demoníaca do Conde
Iblis.
Numa
tentativa de roubar público a “Star Wars” (missão praticamente impossível em
1978!), o episódio-piloto, que custara cerca de sete milhões de dólares (foi o
mais caro na altura), estreou, em julho de 1978, em vários países, incluindo
Canadá, Europa Ocidental e Japão, numa versão de 125 minutos, editada a partir
dos três primeiros episódios da série. Em Portugal estreou em cinemas que
estavam equipados com “Sensurround”, um equipamento sonoro que permitia aos
espectadores partilhar algumas das sensações vividas no écran, ampliando os sons mais baixos, de explosões, tiros, descolagem e aterragem de aviões ou
naves, etc., de modo a que eles fossem mais sentidos que ouvidos. A recepção do
público foi positiva e permitiu a Glen
A.Larson ganhar alguma confiança e
prosseguir com a série.
A 17
de setembro de 1978, estreava na ABC, a versão integral do episódio-piloto da
série, perfazendo um total de 150 minutos de duração. A recepção foi boa,
recebendo uma boa classificação e obtendo um grande “share” televisivo. Tudo
parecia bem encaminhado para a série ser um mega-sucesso.
Subitamente
a meio da temporada, em abril de 1979, foi anunciado que a série iria ser
cancelada devido aos fracos resultados de audiência que estava a obter. Ninguém
estranhou este facto. O horário da série era mudado semana após semana e este
facto acabou por criar alguma desmotivação entre o público, levando a alguns
protestos junto dos estúdios da ABC, mas a decisão estava tomada e nada, nem
ninguém a iria contrariar. Durante oito meses, 17 episódios foram filmados (o
episódio piloto dividido em três partes e cinco outros divididos em duas
partes), perfazendo um total de 24 episódios.
O episódio final “A Mão de Deus” ( e um dos melhores de toda série) foi exibido a 29 de abril de 1979. Com
apenas uma temporada, uma das mais
inovadoras séries de televisão era cancelada.
(continua) Nota: As imagens e vídeo que ilustram este texto foram retiradas da Internet