Ao
contrário de muitos escritores
franceses, contemporâneos de Alexandre Dumas, Pai, ele tornou-se rico ainda em vida. Tinha
leitores espalhados um pouco por todo o mundo e qualquer obra com a sua
assinatura era êxito garantido. Portanto nada havia de estranho quando em 1853,
surgiu no mercado uma obra, assinada por Alexandre Dumas, Pai, intitulada “ A
Mão do Finado” e que fora apresentada como uma continuação de “O Conde Monte
Cristo”. O sucesso foi imediato, mas a
história por detrás desta continuação é
bem diferente.
Antes
de entrarmos propriamente na obra em si, vale a pena ter em atenção o seguinte
diálogo, ocorrido em lisboa entre Luis Correia da Cunha, editor das obras de
Alexandre Dumas, Pai, em Portugal e um tal Alfredo Possolo Hogan, funcionário
dos correios de lisboa. Possolo Hogan era um apaixonado pela literatura,
particularmente pelo romance de aventuras, escrevia nas suas horas vagas e,
encontrando-se sem dinheiro, resolveu apelar ao conhecido editor:
- Já
viu isto!? “O Conde Monte Cristo” é aquilo que os meus fregueses preferem!
Vende-se tudo, nem tenho mãos a medir!! – dizia o atarefado editor
-
Vai reeditá-lo? – perguntou Hogan
-
Vou, está claro…mas estive a pensar numa continuação do “Conde Monte Cristo”,
produção particular aqui da casa…e quem poderá arcar com tal responsabilidade?
– o editor pareceu ponderar um pouco e depois olhou para o seu interlocutor –
você!
-
Eu? – fez Hogan, sem poder acreditar no que ouvia
-
Sim, você. Não é, por acaso, autor de romances do mesmo género, como “Os Dois
Angelos”, ou “Um casamento forçado”?...se leu os meus fascículos, não tem mais
do que tomar os personagens e, com eles,
compor o fim que falta ao romance de Alexandre Dumas…publica-lo-ei nesta
colecção e com a assinatura do autor de “Os Três Mosqueteiros”…
-
Mas poderá ser preso! Incorrer numa contrafacção por uso indevido de nome!
-
Não creia nisso…Alexandre Dumas está muito ocupado a provar que é ele próprio
quem escreve os seus romances…estou em crer que ele até vai apreciar
devidamente este golpe publicitário…
Alfredo
Possolo Hogan, depois de muito pensar, disse:
-
Está bem! Aceito a incumbência…mas acontece que estou muito necessitado de três
meias coroas…
Passaram-se
dois anos depois dos acontecimentos narrados em “O Conde Monte Cristo”. O Conde
vive agora feliz ao lado de Haydée, o seu amor, mas é do seu passado que surge
ameaça. Benedetto, antigo colaborador na vingança que o Conde levou a cabo, encontra-se
preso por homicídio e, enquanto aguarda o julgamento, recebe uma carta que lhe revela a sua verdadeira
identidade e onde também lhe é pedido que
se vingue do homem que o salvou, protegeu e depois o abandonou á sua
sorte: Edmond Dantés, conhecido como O
Conde Monte Cristo.
Possolo
Hogan exagera no final, tal como qualquer folhetim, ele reserva a morte como destino final das
principais personagens do romance e, influenciado pelo romance negro, comum na
época, ele finaliza com um toque macabro com o vingador, Benedetto, também ele
vitimado destino, terminada a sua vingança, volta a França para depositar “A
Mão do Finado”, símbolo da sua missão,
no túmulo do pai, antes de ser preso e condenado á morte pelo
assassinato do carcereiro da prisão de onde se evadiu no passado.
Publicado
em Portugal em 1853, foi um enorme sucesso, sendo reeditado pelo menos três
vezes até 1857. Ao longo dos séculos XIX até ao XXI, o romance acabou por ser
incorporado na obra de Alexandre Dumas, Pai, que tomou conhecimento da sua
existência. Terá escrito uma carta a negar a autoria do romance e pedido ao
editor português para o ajudar a desmentir tal facto, já que nunca fora sua
intenção fazer, embora lho tivessem solicitado inúmeras vezes, uma continuação
do romance. Nada foi feito, já que o sucesso estava garantido. Mas a verdadeira autoria do romance permaneceu
durante muito tempo ignorada e hoje em dia continua a ser atribuída a Alexandre
Dumas, Pai.
Quando
se escreve um romance cujo objectivo principal é concluir um outro, como “A Mão
do Finado” em relação a “O Conde Monte Cristo”,
fica demonstrada a vitalidade de um grande texto, cuja continuidade pode
ser encarada como um dos possíveis desdobramentos desse mesmo texto. Polémicas
á parte, Alfredo Possolo Hogan desdobrou uma história, sob o pretexto de concluir
aquilo que Alexandre Dumas, Pai, deixou em aberto.
Nota: as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet
extraordinário! Desconhecia totalmente que tinha sido Hogan a escrever " A Mâo do Finado". Li "O Conde de Monte Cristo " e " A mão do Finado " jovem talvez com 16 ou menos... e a ambos voltei várias vezes, muitas ... e a quase todo o Dumas, pai...
ResponderEliminarA mão do Finado é um lixo, li aquilo e custei a acreditar que Dumas teria escrito o livro. A história detona com o Conde e desconstrói a saga do livro original, uma porcaria mesmo. Saber agora que foi escrita por um espertalhão usando o nome de Dumas é quase reconfortante, pois agora sei que o grande Dumas não escreveu tal palhaçada!
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