segunda-feira, 25 de março de 2013

A Quadrilha Selvagem – O Crepúsculo do Velho Oeste




   O Western foi, tal como o Musical, o género mais emblemático da história do cinema e tanto um como o outro são incontornáveis na sua história, ambos dignificaram e elevaram a sétima arte a patamares nunca antes alcançados e também foi destes géneros que nasceram algumas grandes obras-primas do cinema. "A Quadrilha Selvagem" é um desses exemplos.
   Em 1913 um bando de foras-da-lei apercebe-se que os seus tempos do velho oeste estão com os dias contados e que é chegada a altura de arrumar as botas. Decidem então fazer um último e arriscado assalto e sair em estilo...mas as coisas não vão correr tão bem como eles pensavam e se calhar a reforma não está nos seus horizontes.
William Holden
   Antes de escolher William Holden para interpretar Pike, Peckinpah teve em mente outros actores que considerava mais próximos do género: Lee Marvin, James Stewart, Burt Lancaster, James Coburn, Richard Boone, Gregory Peck ou Robert Mitchum. De todos, o único que ainda chegou a aceitar for Lee Marvin, mas acabou por se decidir por outro papel, e também mais bem remunerado, em “Paint your Wagon – Os Maridos de Elizabeth” (Joshua Logan, 1969). Richard Harris, que já havia trabalhado com o realizador em “Major Dundee”, foi considerado para o papel de Deke Thornton, mas  Peckinpah acabou por escolher o veterano actor Robert Ryan depois de o ver no filme “The Dirty Dozen – Os Doze Indomáveis Patifes” (Robert Aldrich, 1967). Ernest Borgnine, Edmond O'Brien, Warren Oates e Ben Johnson, completam o elenco.
Robert Ryan
   Em finais de 1967, depois de ter sido despedido da realização de “Cincinnati Kid – O Aventureiro de Cincinnati” em 1965 e de, no mesmo ano, ter tido problemas com o produtor de “Major Dundee – Major Dundee”, Peckinpah encontrava-se novamente a trabalhar em televisão, onde, de resto, tinha começado a sua vida profissional. O produtor Phil Feldman, da Warner Bros., tinha comprado os direitos de adaptação dum argumento, ao seu escritor Walon Green, intitulado “The Wild Bunch”. Como esta história tinha algumas semelhanças com outra escrita por William Goldman intitulada “Butch Cassidy and the Sundance Kid”, que tinha sido adquirada pela 20th Century Fox, foi decidido que “The Wild Bunch” seria produzido para tentar bater nos cinemas o filme da 20th. Feldman, que conhecia o trabalho de Sam Peckinpah, mostrou interesse em tê-lo atrás das camaras para realizar aquilo que ele chamou “o seu filme épico” e que fosse capaz de superar a violência latente em “Bonnie and Clyde” de Arthur Pen, que tinha estreado nos cinemas em meados do ano. Não podia ter feito melhor escolha.
Sam Peckinpah, o homem que gostava da violência
  O realizador Sam Peckinpah, autor de obras como o já citado "Major Dundee" (1965), "Cães de Palha" (1971), "Tiro de Escape" (1972) "Cross of Iron" (1977) ou "Convoy - Comboio dos Duros" (1978) para citar apenas as mais conhecidas, tinha duas imagens marcantes na sua obra: uma predilecção pelos perdedores ou o simples zé-ninguém. Daí que alguns dos filmes atrás referidos tenham como personagens principais bandidos, ladrões ou mesmo o simples vencido da vida que apenas anda por aí ao sabor do vento; a outra característica de Peckinpah era a violência estilizada, sendo esta, mesmo a imagem de marca do realizador. 
Deke Thornton, a expressão duma inveja sentida
  Em dois dos seus filmes mais conhecidos, o realizador filma a violência em modos distintos; Neste "Quadrilha Selvagem", a violência é poética e a cena do confronto final entre a quadrilha e o bando do general Mapache é carregada de simbolismo onde a morte é o supremo acto de libertação dum estilo de vida que, para a quadrilha, estava acabado; atente-se aos momentos finais do filme onde Deke Thornton caminha por entre os cadáveres dos combatentes e detem-se junto dos dos seus ex-companheiros: a sua expressão diz tudo: a inveja que sente por não ter tido o mesmo destino deles e libertar-se assim da vida que escolheu. Já em "Cães de Palha", outra das suas obras polémicas, no último terço do filme um simples professor de matemática (Dustin Hoffman) tem de defender a sua casa, a sua honra e de sua mulher contra os ataques dos habitantes duma vila na Inglaterra rural.
  A violência, sempre presente, que Peckinpah disse ser uma alegoria á participação dos americanos na  guerra do Vietname, exibida todas as noites nas televisões americanas no horário nobre, é extrema e nada tem de poético, pelo contrário, é o único meio disponível para defender a honra, outro valor muitas vezes presente na obra de Peckinpah.Para se defender dos que o criticaram pela violência das imagens, o realizador tentou mostrá-la como um lugar-comum no período histórico dos tempos da fronteira. 
   Já o tema da traição é secundário mas de capital importância, tal como os valores da honra. As personagens sofrem com o facto de terem, em dado momento, atraiçoado alguém e deixá-lo por sua conta, entregue ao seu destino, violando assim o seu próprio código de honra quando se lhes convinha. Tais ideais, complexos e opostos, levam á violenta conclusão do filme quando os restantes membros da quadrilha consideram intolerável o abandono a que vetaram Angel e decidem ir resgatá-lo. Pike vive atormentado com as traições que foi obrigado a fazer: na cena, em flashback, quando abandonou Deke, numa altura em que os homens da lei os perseguiam; e quando abandona Clarence “Crazy” Lee (Bo Hopkins), na cena do início, quando assaltam o banco, supostamente para ele ficar a guardar os reféns. 
   Polémico e sempre em conflito, Peckinpah veria a maior parte dos seus filmes serem censurados e cortados pelas distribuidoras sob pena de não serem distribuídos no circuito comercial. "Major Dundee" foi dos primeiros filmes de Peckinpah a ser amputado de um considerável número de cenas, tornando o filme confuso e incompleto. Felizmente foram recuperadas em 2005 e re-inseridas no filme. Outro exemplo desta tendência em relação à obra do realizador é "Duelo na Poeira" (1973) onde o simples acrescento das cenas amputadas antes da estreia, o tornam numa obra completamente diferente e a descobrir.
  Com a "Quadrilha Selvagem" passou-se o mesmo, mas ainda hoje a discussão permanece: com uma duração inicial de 225 minutos (um dos grandes problemas era a cena do tiroteio inicial que durava, na primeira versão, cerca de 21 minutos), achou-se que era enorme, o filme seria remontado pelo estúdio para uma duração de 190 minutos (aqui, graças a uma montagem eficaz, cortando imagens especificas, apondo outras, a cena inicial ficou reduzida a cinco minutos), mas continuava longo demais, então, Peckinpah resolveu ele mesmo montar o filme para 134 minutos, versão que foi estreada e exibida durante anos e tida como a versão real do filme, inclusive pelo próprio realizador. Só em 1995, a familia autorizou o lançamento daquela que ainda hoje é a versão em circulação. Incorporando cerca de 11 minutos de cenas, encontradas num arquivo particular, importantes para a história. Chamou-se a versão original do realizador e contém algumas das mais violentas sequências de acção da história do cinema.

  Aquilo que Sergei Eisentein inventou, que lhe granjeou o título de "Pai da Montagem" e está patente em "Couraçado Potemkin" (1925), "Alexander Nevski"(1938) ou "Ivan - O Terrível" (1944), para citar os melhores e mais conhecidos exemplos da arte de montagem, foi um dos grandes trunfos do realizador americano em toda a sua obra.
 Em "A Quadrilha Selvagem", Peckinpah mostrou como é que se conta uma história mostrando, desde a cena inicial com as crianças a incendiarem escorpiões vivos antes do assalto ao banco, passando pelo assalto ao comboio até chegar à já citada cena final do tiroteio entre a quadrilha e os homens do general, violência poética, visualmente estimulante graças á fotografia de Lucien Ballard, colaborador habitual do realizador, à utilização de montagem multi-ângulo e paralela, o corte abrupto de cenas entre o "slow motion" e a velocidade normal, por vezes cruzando as duas, uma técnica de cinema que, em 1969, foi revolucionária (apesar de já ser utilizada desde meados da década de 60), Peckinpah filmou aquele que seria o último grande clássico do oeste... onde se percebe que a morte dos membros da quadrilha significava não só morte do velho oeste como nos fora dado a conhecer durante décadas, mas também a morte e o fim de um género cinematográfico de que "Imperdoável" (Clint Eastwood, 1992), seria o mais significativo e dignificante epílogo que alguma vez se poderia escrever.
   Verdadeiramente um clássico, de um género, obra-prima de um realizador e um filme que  continua a ser absolutamente incontornável na história do cinema.
   Em 1999 “A Quadrilha Selvagem” foi seleccionado para ser preservado na Biblioteca do Congresso por ser um filme cultural, histórica e esteticamente significativo. O “American Film Institute” classificou-o como o 80º  melhor filme de sempre no seu top 100 e o 69º mais emocionante.
   Em 2008, o mesmo  organismo, revelou o seu “10 top 10”, os dez melhores em dez géneros: “A Quadrilha Selvagem” foi considerado o sexto melhor Western de todos os tempos.

Nota: As Imagens e vídeo que ilustram este texto foram retiradas da Internet

sábado, 16 de março de 2013

Gran Torino - A Excelência de um Autor




   Ao longo da já centenária sétima arte, muitos foram os filmes que trataram o tema da ocupação progressiva das zonas suburbiais das grandes cidades, da integração de outros povos nos países de acolhimento. "Gran Torino" é mais um exemplo dessa temática.
   Walt Kowalski é o último americano residente no seu bairro, os seus antigos vizinhos foram-se embora ou faleceram e é um enorme tristeza e nostalgia que ele vê o seu bairro perder a identidade. Mas nem as tentativas dos seus mais recentes vizinhos, emigrantes tailandeses, de quererem ser seus amigos, o irão fazer ceder com facilidade. Então um dia tudo muda...
Os Hmong
   O argumento, escrito por Nick Schenk, remonta aos anos 90 do século passado. Schenk , na altura trabalhava e vivia no Minnesota quando ouviu pela primeira vez falar do povo Hmong que durante a guerra do Vietname se tinha juntado ao Vietname do sul e aos seus aliados contra o Vietname do norte. Quando os americanos retiraram do Vietname, eles  foram parar a campos de refugiados ficando á mercê dos norte-vietnamitas. Anos mais tarde, já como argumentista, Schenk  queria  escrever uma história em que um veterano da guerra da coreia, ao ficar viúvo, iria lidar com as mudanças na sua vizinhança. Decidiu então colocar uma família Hmong na porta ao lado do viúvo dando assim uma certa originalidade e credibilidade ao argumento e criar um choque cultural de proporções quase bélicas. Criada a linha narrativa por Schenk e Dave Johannson, o primeiro desenvolveu a história e vendeu-a depois à Warner Bros.
   A rodagem começou em Julho de 2008 e demorou cerca de cinco semanas até estar completa. Schenk disse que o conceito de que o produtor  faz alterações no argumento final, não aconteceu e que a única coisa que mudaram no seu argumento foi a localização que passou a ser em Detroit em vez de Minneapolis.
   Realizado pelo veterano Clint Eastwood, que também interpreta Walt, o velho resmungão, antipático, pouco cuidado com as palavras. Ele não é amigo de ninguém (exceptuando o barbeiro); o próprio padre da paróquia, que prometeu cuidar da sua espiritualidade, não se consegue entender com Walt, nem os seus familiares querem saber dele. O seu duplo trabalho neste filme é louvável. 
   A realização é magnifíca. Clint filma de uma maneira séria, os  planos são sóbrios, realistas. É assim que se devia filmar. Eastwood não perde tempo com pormenores que só tornariam o filme pesado e aborrecido.
   Mas o que é verdadeiramente admirável neste filme é a interpretação do actor. Clint agarra o papel e interpreta-o de uma forma que nunca havíamos assistido na sua carreira. O espectador começa por achá-lo a coisa mais antipática que alguma vez se viu, mas, ao longo do filme, mudamos de opinião. A partir do momento em que se começa a operar a mudança, o filme torna-se admirável, principalmente, devido á interpretação do actor. 
   Eastwood tem, como se sabe, uma grande experiência como actor fruto duma longa carreira muitas vezes dividida com a de realizador e para ele, contracenar com um grupo de Hmong com pouquíssima, ou nenhuma experiência, foi um desafio. O actor-realizador, para os pôr á vontade, sem lhes dizer nada, muitas vezes filmava os ensaios e quase nunca dizia a palavra Acção”, assim a maior parte das cenas resultava em pleno, “foi muito divertido trabalhar com aquele grupo de actores inexperientes assim como foi interpretar aquele velho antipático e filmar um argumento que é, no minímo, estranho”.
   Muito se especulou sobre o facto desta interpretação ser a última vez que veremos o actor neste papel. Eastwood nunca confirmou tais especulações, mas, se assim fosse, constituiu a súmula de todas as personagens marcantes que o actor interpretou na sua carreira. Assim vemos nela traços de "O Homem sem nome"  de  “A Trilogia dos Dólares” de Sergio Leone (1964-66);  de Harry Callahan de “Dirty Harry – A Fúria da Razão” de Don Siegel (1971); de Josey Walles em "O Rebelde do Kansas” de Cint Eastwood (1976) e de William Munny de “Imperdoável” de Clint Eastwood (1992) e facilmente percebemos porque é que Clint quis interpretar esta personagem. O Actor  quis resumir todas as suas personagens mais queridas numa só e, com ela, fechar com chave de ouro uma carreira magnifica. A cena em que Walt chega ao esconderijo do gang Hmong é  carregada de simbolismo e representa  esse mesmo fechar de carreira.
   “Gran Torino” estreou a 9de janeiro de 2009 nos Estados Unidos e foi recebido com grande entusiasmo quer pelo público, quer pela crítica.
    Na  primeira semana de exibição o filme rendeu  mais de 29 milhões de dólares e, no final do ano, as receitas  ultrapassavam os 270 milhões de dólares no mundo inteiro e o filme foi considerado um dos dez melhores filmes de 2008. 
   A interpretação de Eastwood foi muito elogiada e ganhou mesmo o reconhecimento dos seus pares que lhe deram o prémio de Melhor Actor na categoria e inúmeros outros prémios em diversos certames e festivais. Foi, no entanto, ignorado nos prémios de Academia, não tendo o filme sido nomeado para um único Oscar! Mas fez-se alguma justiça fora dos Estados Unidos, já que o filme foi premiado em diversos  festivais europeus , principalmente em frança (César de Melhor Filmes Estrangeiro), em itália (prémio David di Donatello para Melhor Filme Estrangeiro) ou ainda vários prémios, quer para o filme, quer para o seu actor e realizador em diversos festivais de cinema  no Oriente.
   Em 2009, “Gran Torino”, foi seleccionado para figurar no “American Film Institute” como um marco cultural da sétima arte e Clint Eastwood foi  considerado, pela mesma instituição,  Mestre de Cinema, como Actor, Produtor e Realizador.




Nota: As Imagens e video que ilustram este texto foram retiradas da Internet

quinta-feira, 7 de março de 2013

Os Três Mosqueteiros – Um Mistério de Dumas




                     “  ...O  polícia  alto encolheu os ombros.
 -  Eu  leio pouco – disse - , mas o tal Porthos  era um desses tais , não é verdade?... Athos , Porthos, Aramis e  D’Artagnan – ia contando com o polegar sobre os dedos da mão e, quando acabou, deteve-se, pensativo – tem piada. Sempre perguntei a mim mesmo porque lhes chamavam os três mosqueteiros se, na realidade, eram quatro”
             (in “O Clube Dumas” de Arturo Pérez-Reverte)

   “Os Três Mosqueteiros” é um romance histórico,  ou romance “de capa e espada” como eram e ainda são conhecidos estes romances, maioritariamente escritos no séc. XIX, escrito por Alexandre Dumas. Inicialmente publicado como série no jornal “Le Siècle” entre março e julho de 1844, foi, ainda no mesmo ano, publicado como livro constituindo na altura um grande sucesso que levou a que, em 1846, fosse reeditado, desta vez com ilustrações.
   A acção situa-se em França, durante o séc. XVII e conta as aventuras de um jovem Gascão, de nome d’Artagnan, que sai de casa para ir para Paris juntar-se á guarnição dos Mosqueteiros do Rei (d’Artagnan não é um dos mosqueteiros do título). Lá, conhece Athos, Porthos e Aramis ( estes sim, os mosqueteiros do título), amigos inseparáveis que vivem segundo o lema de “Um por Todos, Todos por Um”.  Os quatro juntos vivem aventuras numa França onde reina Luís XIII, mas quem governa o país na realidade é o Cardeal Richelieu que se tornará o arqui-inimigo de D’Artagnan e seus amigos.
   No prefácio da obra que Dumas editou,  pode ler-se o seguinte “Ora, esta é a primeira parte deste preciosos manuscrito que hoje oferecemos aos nossos leitores, com um título mais adequado e com o compromisso de publicarmos a segunda parte imediatamente caso esta primeira seja um sucesso. Entretanto, tal como um padrinho é uma espécie de segundo pai, convidamos os nossos leitores a responsabilizar-nos directamente,  e não ao Conde de La Fére, acerca do seu entusiasmo ou aborrecimento. Dito isto, passemos à nossa história”. 
   O livro a que Dumas se refere é “Mémoires de Monsieur d’Artagnan, capitaine lieutenant de la première compagnie des Mousquetaires du Roi”, escrito por Gatien de Courtilz de Sandras, publicado por volta de 1700 em Colónia. Inspirado por este prefácio,  Eugène d’Auriac, escreveu, em 1847,  uma biografia de d’Artagnan, intitulada “d’Artagnan, Capitaine-Lieutenant des Mousquetaires – Sa vie aventureuse, Ses amours et Ses duels ». 
 Dumas diz-nos que foi neste livro que d’Artagnan relata o seu primeiro encontro com Monsieur de Tréville, Capitão Mosqueteiros e na sua antecâmara conhece três jovens com os nomes de Athos, Porthos e Aramis. O escritor, entusiasmado com esta descoberta e já com a sua imaginação a fervilhar, continuou a investigar e deparou-se novamente com os nomes dos três Mosqueteiros noutro manuscrito intitulado “Mémoire de Monsieur Le Comte de la Fère…”, que o entusiasmou de tal maneira que pediu autorização para reimprimir a obra, o que foi autorizado.
   O sucesso da obra, dentro e fora de frança, é enorme.  Desde 1846 que a obra conheceu inúmeras traduções para diversas línguas. A primeira foi para o inglês. Pertenceu a William Barrow e, por ser a mais fiel ao original francês do século XIX, ainda hoje se encontra em circulação.  
   As fontes que Dumas dispunha eram mais que suficientes para que a história não ficasse por aqui.  Auguste Macquet, colaborador habitual do escritor, sugere-lhe que continue as aventuras do jovem Gascão e dos seus amigos mosqueteiros. “Vinte anos depois”, é a sequência do romance que Dumas escreve  e é publicada no “Le Siécle” entre janeiro e agosto de 1845. A acção decorre, vinte anos depois de d’Artagnan  se ter tornado Mosqueteiro do Rei  e dos quatro amigos se terem despedido, numa época difícil, de descontentamento popular, em França, nos meados do século XVII. 
“O Visconde de Bragelonne”  constitui a terceira e última parte da série que Alexandre Dumas dedicou aos Mosqueteiros e que ficou conhecida como “Os Romances de d’Artagnan”.  Escrita entre 1847 e 1850,  com a colaboração do sempre presente Auguste Maquet, aparecendo novamente no “Le Siécle” como série, mas que foi interrompida várias vezes devido a confrontos populares e também a uma tentativa que Dumas fez para entrar na vida política.
    Por se tratar de um romance muito extenso (algumas edições têm 10 volumes de 250 páginas cada!), o autor optou por narrar diversos enredos, entre os quais, o famoso episódio de “O Homem da Máscara de Ferro”, no qual se conta a história (verdadeira ou não) de Felipe, o irmão gémeo de Luis XIV, que foi aprisionado numa masmorra com uma máscara de ferro para que se lhe não visse o rosto.  O tom deste terceiro romance é um tanto ou quanto melancólico: sente-se o fim a chegar. Traições, desilusões e intrigas fazem parte duma sociedade em que o valor fundamental deixou de ser a honra e aquela é apenas uma sombra da que a precedeu. Talvez por ter um tom tão melancólico, “O Visconde de Bragelonne” seja a obra menos conhecida e, se exceptuarmos o episódio de "O Homem da Máscara de Ferro", menos falada de Alexandre Dumas.
"Um por Todos, Todos por Um"
   Com “Os Três Mosqueteiros”,  Dumas conseguiu popularizar o romance histórico ao fazer um romance “de capa e espada” apoiando-o sobre a História.  Criou um novo tipo de herói  sem dinheiro, porém nobre e heróico, exímio espadachim  e cavalheiro mas ainda humano com as suas fraquezas: a irrascividade de d’Artagnan, a vaidade de Porthos, um Aramis dividido entre Deus e as mulheres, a melancolia e o alcoolismo de Athos, impede-os de serem perfeitos, mas torna as suas fraquezas na verdadeira força literária por detrás dos romances.
   Mas porquê Três Mosqueteiros, se nos livros eles são Quatro? Não se sabe e Dumas também não esclareceu, contribuimdo para um mistério que nem os estudiosos da obra do escritor sabem responder. Inicialmente, o título previsto seria “Athos, Porthos et Aramis”, mas Desnoyers, o encarregado da secção de séries do “Le Siécle”, sugeriu que se alterasse o título para “Os Três Mosqueteiros”, já que o título, no seu entender, iria evocar aos leitores as Três Deusas da Mitologia Grega que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Dumas aceitou a sugestão, notando que o seu absurdo (já que os heróis eram quatro) iria contribuir para o sucesso da obra. E não se enganou!


Nota: As Imagens que ilustram este texto foram retiradas da Internet

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...