sábado, 25 de agosto de 2012

O Filme de Ficção Científica IV


                                   O Filme de Ficção Científica IV
                                   4.    O Futuro  (1980 -….)  
  
    No seguimento do sucesso de filmes como “Star Wars”, Star Trek”, ou “Alien”, a ficção científica tornou-se num género rentável, e, não tardou que todos os grandes estúdios agarrassem todo e qualquer projecto que estivesse disponível e  o produzissem, que foi o que acabou por marcar uma parte da década de 80. A partir de 1980, a distinção que existia entre ficção científica, fantasia e o filme de superheróis, esmoreceu emgrande parte graças á influência  de  “Star Wars”. Desde 1980 que os filmes do género, fossem do agrado  ou não dos critícos, passaram a ser ignorados, em festivais e outros eventos, como a Cerimónia Anual dos Óscares, excepto em categorias técnicas, o que não esmoreceu a vontade do público de ver mais e mais filmes de ficção e cada vez mais interessantes em termos técnicos.
    Em 1982, a Walt Disney, embalada com o sucesso obtido por “Star Trek”, produz “Tron” (Steven Lisberger), com a acção praticamente toda passada dentro dum computador, o seu visual arrojado para a época e tendo sido dos primeiros filmes de estúdio a fazer um uso extensivo de imagens gráficas geradas por computador, foi um sucesso enorme entre público e a critíca e serviu como rampa de lançamento para a Disney se tornar um dos grandes estúdios de cinema.
   Também em 1982, surgiram dois filmes que iriam ser decisivos para esta década e também para as seguintes. O primeiro foi “Blade Runner – Perigo Eminente”, realizado por Ridley Scott e, longe de apresentar um universo radioso, ordenado e simples, apresenta-o como sendo escuro, sujo e caótico e apresenta andróides como sendo hostis e perigosos. Recebido com algum desinteresse por parte da critica, mas com uma correspondência positiva por parte do público que se sentia curioso com esta abordagem estilo policial negro dos anos 40 e 50 e também graças aos néons com que o realizador, vindo da publicidade, enche o écran e também o olho do espectador, o filme foi ganhando um estatuto de culto que perdura ainda hoje.
     O segundo filme é completamente diferente do primeiro. “E.T. the Extra-Terrestrial – E.T. – O Extraterrestre”, realizado por Steven Spielberg e conta a história da amizade entre um pequeno ser extraterrestre que é deixado para trás pelos companheiros quando a sua nave tem de partir precipitadamente e um rapaz chamado Elliott. Aqui, os extraterrestres são amáveis e benignos, em contraste com o filme de Scott. A história era tão cativante, já que era o prolongamento dum sonho de infância do realizador que tornava assim real o seu encontro com extraterrestres que já apresentara em “Encontros Imediatos do Terceiro Grau” (1977), tornando o filme um verdadeiro filme para toda a  família e o género descia assim ao nível familiar. Foi o maior sucesso de bilheteira, da década, como também, durante alguns anos, o maior sucesso da história do cinema.
     O género superprodução também se tentou impor na  ficção científica, mas  os únicos esforços nessa vertente foram “Flash Gordon – Flash Gordon , o filme” (Mike Hodges, 1980), nova transposição para o grande écran das aventuras da personagem criada por Alex Raymond; “Dune – Duna” (David Lynch, 1984), uma aventura da idade média passada no futuro e baseada no primeiro livro duma série de romances escritos por Frank Herbert. Ambos foram verdadeiros fracassos na bilheteira, assim como “2010 – O Ano do Contacto” (Peter Hyams, 1984), tentativa de fazer uma sequela de “2001: Odisseia no Espaço”, baseada também num livro de Arthur C.Clarke, mas que também não venceu nem convenceu nas bilheteiras, o que levou os produtores a não querem mais investir em adaptações cinematográficas.
    O género viria ainda a ver boas contribuições até ao final da década, em filmes como “Terminator – Exterminador Implacável” (James Cameron, 1984) onde um robot-assassino vem do futuro até ao presente para matar a mãe do futuro líder da resistência humana, que, por seu lado envia um seu soldado para proteger a sua mãe; “Robocop – O Policia do Futuro” (Paul Verhoeven, 1987), em que um protótipo de policia-robô é utilizado pelas forças da ordem na Detroit do futuro; “Back to the Future – Regresso ao Futuro” (Robert Zemeckis, 1985), em que, acidentalmente, um jovem viaja até ao passado, conhece os seus futuros pais e a sua mãe apaixona-se por ele. Alguns destes filmes foram verdadeiros sucessos de bilheteira mundiais e firmaram a constelação do género ficção científica.
    A década de 90 viu surgir um subgénero literário conhecido como CyberPunk, assim como a rede mundial, vulgarmente conhecida por internet e esta criou um novo subgénero dentro da ficção científica que deu origem a vários filmes, uns melhores, outros piores. Assim surgiram títulos como “The Lawnmower Man – Realidade Virtual – A Cobaia” (Brett Leonard, 1992) e “Virtuosity – Assassino Virtual” (Brett Leonard, 1995) cujo tema principal girava à volta das ameaças do interface dum computador humano; “Total Recall – Desafio Total” (Paul Verhoeven, 1990) ou “Johnny Mnemonic – O Fugitivo do Futuro” (Robert Longo, 1995), em que as personagens principais têm as suas memorias alteradas para interfaces semelhantes.
   Com o avançar de década, os computadores começaram a ter uma importância cada vez maior tanto nos efeitos especiais como na produção de filmes. Há medida que o software se tornava mais sofisticado, mais desenvolvidos se iam tornando os Efeitos Especiais e cada vez mais complexos, permitindo fazer melhoramentos em produções mais antigas e produzir efeitos incríveis em novos filmes.
    Mas foi no final da década que surgiu o filme que iria influenciar o género no século XXI: “Matrix” (Lana e Andy Wachowski, 1999) que nos conta a história duma máquina criada ao nível planetário e que mantém a humanidade virtualmente presa nas suas entranhas e dum grupo de humanos que, “acordado” para a realidade, tenta combater e destruir as  máquinas.  Enorme sucesso de bilheteira, graças em grande parte ao argumento inteligente escrito pelos irmãos Wachowski, inspirado em algumas obras de ficção científica, que mexe com uma das linhas mestras da ficção científica: a dominação por outros seres, embora aqui esse medo seja de origem humana, não deixa de ser uma temática diferente para o que contribuiram os efeitos especiais bastante evoluídos para a época. Vencedor de quatro Oscares da Academia e outros prémios internacionais, “Matrix” e as suas sequelas, foram decisivos para ficção científica no século XXI.
   Nos primeiros anos do século XXI, estranhamente, os filmes de ficção cientifica afastaram-se das viagens espaciais e começaram a predominar os filmes de fantasia, de que a trilogia “Lord of the Rings – O Senhor dos Anéis” (Peter Jackson, 2001-2003) foi o melhor exemplo. A fantástica adaptação do universo de J.R.R. Tolkien foi um triunfo absoluto em todos os campos e vencedor dum total de 17 Oscares da Academia em 30 nomeações e inúmeros outros prémios, entrou para a história como sendo o primeiro filme do género fantástico a ganhar o Óscar de Melhor Filme do Ano.
     A ficção científica volta, nestes primeiros anos do novo século, a ser uma ferramenta de comentário politico em filmes como “A.I. – Inteligência Artificial” (Steven Spielberg, 2001) onde se questiona os perigos do materialismo nos dias de hoje; “Minority Report – Relatório Minoritário” (Steven Spielberg, 2002) que subrepticiamente questiona os poderes policiais, a privacidade e as liberdades sociais nos Estados Unidos do futuro. Em fundo, claro, está presente o impacto do 11 de Setembro de 2001.
    Mais recentemente, “Avatar – Avatar” (James Cameron, 2009), veio revolucionar o género ao ser inteiramente rodado em 3D, um estilo que tinha estado então em voga na década de 50 do século passado. A história, de uma corporação multinacional mineira a querer colonizar um planeta, é banal e tem uma semelhança extraordinária com os tempos do colonialismo e alguma proximidade com a guerra do Iraque. O resultado é que foi estrondoso já que filme bateu todos os recordes de bilheteira no mundo inteiro.
    Seja como for, o filme de ficção científica, ao contrario de outros géneros como o Musical ou o Western já desaparecidos, apesar de um ou outro exemplo cinematográfico tendente a ressuscitá-los, veio para ficar e não se antevê que desapareça rapidamente já que está em constante mudança e o que hoje é sucesso, amanhã pode já não ser.

Nota: as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet



terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Filme de Ficção Científica III - Os Anos da Maturidade


                      O Filme de Ficção Científica III
                3.    Os Anos da Maturidade  (1970 - 1979)


     Em 1969 com a chegada do Homem à Lua, o filme de ficção científica viu renascer o interesse do público. Os filmes do inicio da década começaram a explorar o tema da paranoia, na qual a humanidade se vê confrontada com as ameaças, quer ecológicas, quer tecnológicas, por si criadas. 
   Filmes como “Silent Running – O Cosmonauta Perdido” (Douglas Trumbull, 1971) cujo tema gira em volta da ecologia; “The Omega Man – O Último Homem na Terra” (Boris Sagal, 1971), em que um vírus matou quase todos os seres humanos na terra. Um cientista militar tenta encontrar a cura para a epidemia, descobre que outros seres querem matá-lo; “The Andromeda Strain – A Ameaça de Andrómeda” (Robert Wise, 1971), onde um grupo de cientistas deteta um vírus extraterrestre que destrói uma cidade e um grupo de cientistas tenta descobrir a sua origem e impedir que alastre; “Westworld – O Mundo do Oeste” (Michael Crichton, 1973) em que robots representam o maior perigo para com os seus próprios criadores; “THX 1138 – THX1138” (George Lucas, 1971) em que o pior inimigo do homem é o próprio estado por ele criado; “A Clockwork Orange – A  Laranja Mecânica” (Stanley Kubrick, 1971),onde a ameaça da lavagem cerebral paira sobre o ser humano e, num sentido mais lato, sobre a sociedade; “Rollerball – Os Gladiadores do século XXI” (Norman Jewison,1975), onde algures no século XXI um jogo motorizado, disputado numa arena, serve para aplacar os instintos violentos da população enquanto as grandes corporações empresariais tomam decisões a nível mundial, são alguns dos “filmes-paranoia” que surgiram no início da década. 
    Mas a par destes, também surgiram alguns outros que, apesar de se posicionarem no género ficção científica, o tema dominante era a conspiração em volta da sociedade. É o caso de “Soylent Green – Á Beira do Fim” (Richard Fleischer, 1973) onde, numa Nova York do futuro, um assassinato de um alto executivo põe a descoberto uma realidade horrível; ou “FutureWorld – O Mundo do Futuro” (Richard T.Heffron, 1976), espécie de continuação de “Westworld” em que o mundo de sonho de Delos, agora rebaptizado de “Futureworld”, está pronto a ser reaberto, mas os jornalistas encarregues de escrever sobre este evento, não estão convencidos de que, após os acontecimentos que levaram ao seu encerramento anterior, tudo esteja bem, até que alguém aparece morto e a coisa torna-se sinistra.
    Entretanto em 1972, da União Soviética, surge um filme surpreendente. “Solyaris – Solaris”, realizado por Andrei Tarkovski, baseado num romance de Stanislaw Lem, conta a história dum planeta inteligente e da influência psicológica que exerce sobre os astronautas que habitam a Estação espacial que orbita o planeta. É um filme lento que iguala e supera mesmo “2001” em alguns aspectos, na sua apresentação visual e na sua filosofia. Recebido pela crítica internacional como um filme revolucionário e entendido por muita gente como uma espécie de resposta europeia ao “2001: Odisseia no Espaço” de Stanley Kubrick.
    Em 1976 “Logan’s Run – Fuga no Século XXIII”, realizado por Michael Anderson traz de volta a temática do sistema contra o cidadão mas de um modo mais agravado do que em outros filmes: aqui a vida do ser humano termina aos 30 anos! E é contra isso que Logan, um guardião duma cidade que vive encerrada dentro duma redoma de vidro, vai lutar e tentar provar que a vida existe para além da idade limite. Produto típico da década de 70, com visual adequado á altura em que foi feito, mas não envelheceu, como aconteceu com muitos filmes desta época, antes pelo contrário, continua a ser uma agradável experiência ver este filme e apreciar todos os seus momentos. Contrariamente ao que se pensou na altura, o filme foi um sucesso de bilheteira e levou à criação duma série de televisão embora de pouca duração.
 Sentia-se, a meio da década de 70, que algo estava para mudar na indústria cinematográfica e, particularmente, no género da ficção científica.                 
    Foi então que em 1977 a aposta dos estúdios da Fox,  numa força imaginária que protegia uma série de nobres cavaleiros, defensores duma velha república situada num universo longínquo, contra as forças do mal lideradas por um imperador poderoso e um ser maléfico, meio homem meio máquina, resultou em pleno. O fantástico universo imaginado e criado por George Lucas em “Star Wars – A Guerra das Estrelas”, transformou radicalmente a face da ficção científica e elevando-a a patamares nunca antes atingidos e levou a uma subida de interesse e procura por filmes do género. 
     O filme foi um sucesso mundial a todos os níveis, foi, durante anos, o maior sucesso de bilheteira da história do cinema e é, ainda hoje, o filme de ficção cientifica mais premiado da história com sete Oscares da Academia. Seis filmes e mais de 30 anos depois da sua estreia, “a saga Star Wars” mantém ainda um incrível ranking nos melhores filmes da história do cinema com dois títulos posicionados no “top ten”. 
    Já “Close Encounters of the Third Kind – Encontros Imediatos do Terceiro Grau” (Steven Spielberg, 1977), onde nos são relatados os estádios por que poderá passar a humanidade caso venha a encontrar-se com extraterrestres, continha algumas reminiscências de elementos místicos com “2001”. Trata-se de um brilhante exercício cinematográfico de Spielberg, baseado no seu desejo de infância de ter um encontro imediato com um extraterrestre.
    As descobertas espaciais e os avanços tecnológicos criaram uma sensação de maravilha acerca do universo e levaram a que o final da década ainda visse surgirem algumas obras reveladoras da maturidade a que a ficção científica chegara: “Star Trek: Tjhe Motion Picture – Caminho das Estrlas – O Filme” (Robert Wise, 1979) trouxe para o grande écran, pela primeira vez, a muito apreciada série televisiva criada em 1966 por Gene Roddenberry; “Time After Time – Os Passageiros do Tempo” (Nicholas Meyer, 1979), numa viagem no tempo original, H.G.Wells confronta-se com Jack, O Estripador, na San Francisco do século XX; “Alien – O 8º Passageiro” (Ridley Scott, 1979), onde os tripulantes duma nave comercial são confrontados com um monstro que os vai eliminando um a um. Este último filme inaugurou uma nova fase nos filmes de ficção científica, conhecida como terror científico e demonstra bem a maturidade que o género atingiu ao longo da década de 70. 
     O cinema de ficção científica estava agora pronto para abraçar uma nova década.
                               (continua)                                          
                                 
  Nota: As imagens que ilustram este texto foram retiradas da Internet                                     
                                 



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