sexta-feira, 13 de abril de 2012

Era uma vez na América


 A América segundo Sergio Leone

     A América sempre exerceu um grande fascínio no realizador Italiano Sergio Leone. Foi lá que foi buscar o género que lhe haveria de dar fama dentro e fora da europa. Foi lá  que ele foi buscar os actores Clint Eastwood, Eli Wallach e Lee Van Cleef para protagonizarem os seus westerns de sucesso. Não admira, pois, que o seu último filme tenha sido precisamente sobre essa América que tanto fascínio exerceu sobre a sua pessoa.
     Última parte duma trilogia dedicada à América, iniciada com “Aconteceu no Oeste (1968) e continuada com “Aguenta-te Canalha!” (1971). No primeiro, Leone mostrava uma América selvagem, feita de homens feios, porcos e maus, mulheres fúteis mas duras, assinalando também o avanço da civilização (simbolizada pelo caminho de ferro). No segundo, o tema é a Revolução, neste caso, é  a Revolução Mexicana que está no centro da acção daquele que é um dos filmes menos conhecidos e também menos amados do realizador. Em “Era uma vez na América”, o realizador fecha o ciclo ao explorar os temas da infância, amizades, amores frustrados, luxúria, inveja, perda e ralcionando-os com o nascimento e ascensão do Crime Organizado na sociedade americana.
    Leone começou a pensar neste filme ainda estava a meio da rodagem de “Aconteceu no Oeste”, quando leu o romance “The Hoods”, escrito por Harry Grey, pseudónimo de Harry Goldberg, antigo gangster que se tornou informador da polícia. A pré-produção do filme foi alvo de tantos avanços e recuos, que foram precisos treze anos, de uma dedicação sem precedentes, até que finalmente começassem as filmagens em 1982.
     "Era uma Vez na América" é contado através das memórias e recordações de Noodles (Robert DeNiro), que, em 1967, regressa a Nova York com o propósito de recuperar os corpos dos seus três amigos de infância.       
     A acção passa-se em três tempos distintos, cada um deles é importante para a consolidação do crime organizado na América. Cada tempo narrativo é reconstituído ao pormenor, principalmente em termos de fotografia (cada década tem um tom próprio) e impressiona só de se ver todo o trabalho de direcção artística, principalmente em 1920, nas sequências com as crianças.
    As interpretações são todas extraordinárias, principalmente Robert DeNiro e James Woods cujas interpretações dos dois amigos que começam o sonho que depois se torna num  império de crime organizado, são tão credíveis e realistas que nem parece que se trata de um filme. Todo o elenco que os acompanha, que inclui Elizabeth McGovern, Joe Pesci, William Forsythe, Tuesday Weld, Burt Young, Treat Williams, entre outros, faz deste épico uma experiência inesquecível.

    A realização de Sergio Leone é de uma dedicação quase extraordinária à história que conta. Com um ritmo deliberadamente lento e uma montagem propositadamente desorganizada, mas que faz milagres no que toca ás passagens no tempo (sendo a mais brilhante de todas aquela em que um envelhecido Noodles se passeia pelo café de Moe, vai até à casa de banho, abre o nicho na parede e, num belíssimo grande plano dos seus olhos, fruto dum excelente trabalho de montagem, recuamos no tempo), como se o filme fosse um gigantesco puzzle, cujas peças se vão encaixando e formando um magnífico  fresco da América de quase quatro horas de duração.
    Apesar da sua longa duração, estamos perante um filme que se vê de uma só vez  para isso terá contribuído grandemente a excelência da banda sonora da responsabilidade de Ennio Morricone, colaborador habitual de Leone. Juntamente com a grandeza das imagens, a música fala por si mesma. De tempos a tempos não existe uma única linha de diálogo, a música, conjugada com as imagens, contam a história. Morricone entendeu perfeitamente o que se pretendia contar e compôs cerca de três quartos da música sem o filme estar terminado.  
   A duração original do filme era de seis horas, que Leone queria dividir em duas partes, o que foi recusado pelos produtores devido ao fracasso critico e comercial de “1900” (Bernardo Bertolucci, 1976), que fora distribuído em duas partes. O realizador e o seu editor foram obrigados a reduzi-lo para uma versão de 269 minutos, que mesmo assim ainda foi considerada demasiado longa. Remontado por Leone para ser exibido em Cannes, o filme acabou por ficar com os 229 minutos  da duração corrente. Em junho de 1984, quando estreou nos Estados Unidos, o filme foi cortado para uma versão de 139 minutos pelo estúdio e contra a vontade do realizador que nunca autorizou a exibição da versão integral nos Estados Unidos até à sua morte em 1989. Nesta versão curta, as cenas de flashback foram alteradas e o filme foi montado por ordem cronológica tornando o filme impercebível contribuindo para o seu fracasso em terras americanas.
   A última imagem é simplesmente perfeita, ao mesmo tempo que é também enigmática. O filme termina onde começa. Noodles, em 1933,  refugia-se na casa de ópio chinesa para esquecer tudo o que se passou naquela noite, após uma baforada de droga, sente-se um homem livre, como quem se encontra noutro lugar, quiçá, noutra realidade ( se calhar  tudo o que vimos não passará duma fantasia da sua mente?) e simplesmente sorri espontaneamente, tornando  este último “close up” numa das mais belas imagens de toda a filmografia de Sergio Leone e traz-nos á memória o assombroso inicio de “O Padrinho” (Francis Ford Coppola, 1972) quando por sobre um écran totalmente negro se ouve a frase “Eu acredito na América…”


Nota: Todas as imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da Internet
  


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Os Marginais - Uma Geração em Conflito



    Para recuperar do enorme investimento que fora "Apocalypse Now" (1979) e do desaire financeiro que foi "Do Fundo do Coração" (1981), que lhe custaram a hipoteca dos Estúdios Zoetrope que fundara anos antes, Francis Ford Coppola teve que aceitar fazer filmes-encomenda, ou seja realizar projectos que não eram seus desde o principio. "Os Marginais" foi um desses filmes. 

O livro, originalmente editado em 1967, quando a autora, Susan E. Hinton (consultora no filme e faz de enfermeira na cena do hospital), tinha dezassete anos de idade, começou a ser escrito quando ela tinha quinze e escreveu-o porque quis criar um mundo onde não existissem pais ou figuras que representassem a autoridade adulta, um mundo onde os jovens viviam segundo as suas próprias regras. Acerca de algumas das suas personagens, S. E. Hinton diz, segundo as suas próprias palavras, "são baseadas em pessoas que conheço...além de todas elas terem um pouco de mim própria..." 

    
    A acção passa-se na cidade de Tulsa em 1965 onde as diferenças sociais levavam a que os adolescentes se dividissem em duas classes: "Os greasers", os meninos pobre da zona norte da cidade, considerados marginais e sem futuro; "Os Socs", meninos ricos da zona sul da cidade e com futuro radioso á sua frente. A história gira em torno da rivalidade entre estas duas classes e nem mesmo o principio de um romance entre um "greaser" e uma "soc" consegue evitar os confrontos e as consequências que daí resultam. 
Francis F. Coppola e alguns dos seus "Marginais"
     Realizado com a habitual mestria e bom gosto patentes em obras-primas anteriores como a trilogia "O Padrinho", "O Vigilante" (1974) ou "Apocalypse Now" (1979), Coppola consegue captar de forma brilhante e simples a transição entre a infância e a adolescência, simbolizado pela cenas inicial e final: Ponyboy, sentado a escrever o seu livro com o tema "Stay Gold" de Stevie Wonder como fundo;  também quando Ponyboy e Johnny assistem ao nascer do sol e o primeiro recita o poema "Nothing gold can Stay" de Robert Frost e nas cenas em que Ponyboy e Johnny lêem o clássico "E Tudo o Vento Levou" de Margaret Mitchell; O desapontamento da idade adulta (simbolizado pela personagem de Dallas). Cenas como o confronto no parque de diversões, o combate nocturno à chuva entre "greasers" e "socs", ou ainda a cena da morte de Dallas transformado em marginal pelas suas próprias acções. Mas a cena mais marcante de todo o filme é a da morte de Johnny, as suas últimas palavras resumem a mensagem de toda a história: é inútil lutar,  remetem-nos para o que de mais clássico se fez no cinema, género muito acarinhado pelo realizador que lhe presta a devida homenagem. 
  Com um elenco de jovens talentos, que inclui nomes como: Matt Dillon, Patrick Swayze, Ralph Macchio, Diane Lane, C.Thomas Howell, Emilio Estevez ou o ainda relativamente desconhecido Tom Cruise, "Os Marginais" transformou-se num grande êxito de bilheteira e foi o veículo definitivo para a maior parte do seu elenco que, ao longo das décadas seguintes, veriam as suas carreiras subir sem parar.
 Juntamente com "Rumble Fish - Juventude Inquieta" (Francis Ford Coppola,1983), "Os Marginais"constitui o diptíco definitivo sobre uma certa geração que teimava em não crescer e transformar-se em adultos.
  Em 2005, Francis Ford Coppola lançou uma edição especial deste filme que intitulou "The Outsiders - The Complete Novel" onde integrou cerca de 22 minutos de cenas adicionais que trazem mais profundidade, sentido e paixão, aum filme que já tinha tudo isto, tornando a adaptação muito mais fiel ao original de S.E.Hinton. Talvez o único senão desta fabulosa nova versão seja a banda sonora, mais virada para estilo "Rockabilly" em detrimento da beleza dramática das orquestrações de Carmine Coppola, tão importantes em algumas cenas da versão original. Infelizmente esta edição permanece inédita em Portugal.

O Poema  à  Juventude
   Há alguns anos, Coppola disse que pretendeu, com este filme, criar um épico para os jovens, mas o que o realizador conseguiu fazer foi muito mais que isso: conseguiu um épico em que reavive as memórias que existem em todos nós, da alegria de ser jovem, ódio, medo, paixão, ansiedade e também a tentativa de fazer parte da sociedade seja de que geração for.
  
Nota: As Imagens e vídeos que ilustram este texto foram retiradas da Internet


EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...