domingo, 4 de novembro de 2012

James Bond 007 - Ao Serviço do Cinema III


       
              3 – A Nova Ordem Mundial  (1995-….)

   Entre a estreia de “Licença para Matar” e a chegada do substituto de Timothy Dalton, passaram-se seis anos, seis anos em que, por diversas ocasiões, a série esteve para acabar em definitivo.  Desde 1990 que corria o boato que que o “Bond 17”, estava em fase de pré-produção, com argumento escrito por Michael G. Wilson, argumentista e produtor ocasional da série e com Dalton a bordo. Mas a verdade é que nunca se passou disto e também diversas questões legais, obrigavam a um constante adiamento do novo filme. Com Dalton definitivamente fora, os produtores foram buscar um actor que já fora desejado na série.
Pierce Brosnan é James Bond 007
       Pierce Brosnan,  já havia sido contactado em 1986, quando Roger Moore abandonou o papel e tinha aceite, chegou , inclusive, a filmar a sequência pré-genérico de “Risco Imediato”, mas teve de cancelar a sua participação no filme, já que “Remington Steele” (1982-1987), a série televisiva em que participara,  iria durar mais uma temporada. Terminada a série , o actor ainda fez mais algumas séries e telefilmes, avançando depois para uma carreira no cinema. Em 1994, o actor estava livre para se dedicar a este projecto.
        “Goldeneye – 007 – Goldeneye”, estreou em 1995, na maior expectativa que alguma vez rodeara a  série. Tinham-se passado seis anos, tinha sido a maior das interrupções na série. Mas o pior já tinha passado e com novo actor, ainda para mais um que já fora pretendido pelos produtores, tudo podia acontecer.
         James Bond tem que se aliar com a única sobrevivente duma estação  de pesquisa científica soviética para impedir que um satélite seja usado como arma nuclear, por 006, um agente secreto britânico, dado como morto, que na realidade se passou para o lado soviético.
          Com “Goldeneye”, muita coisa  mudou na série: Albert Brocolli, produtor da série desde  o seu início, por doença, (viria a falecer em 1996), retira-se e deixa tudo nas mãos da sua filha, Barbara Brocolli e Michael G. Wilson; James Bond, além de fumar cigarros, usa fatos de corte italiano que lhe dão um ar distinto e mais sedutor do que já era; “M”, o chefe do MI6 e de Bond, é agora uma mulher, interpretada por Judi Dench, e que não dá (a princípio) grande margem de manobra  ao agente secreto. Mas a grande mudança é que este é o primeiro filme da série a ser produzido depois da desintegração da União Soviética. 
        Os tempos agora são outros, a guerra fria, já terminara e seria líquido perguntar se ainda haveria  razão para James Bond existir, porque o que vemos agora não é o tipíco crime levado a cabo em nome do estado, mas sim por gangs de soviéticos endinheirados e pela Mafia Russa. É a este nível que o filme funciona e é visto como sendo o Bond da transição entre a guerra fria e os novos tempos.  A reflectir essa mesma transição, essa necessidade de romper com o passado, está  a escolha da intérprete para cantar o tema-título. Tina Turner, que fez a ponte na música, entre as décadas de 80 e 90,  interpreta o tema, escrito por Bono e “The Edge”, dos U2, com um fulgor  e uma voz que não se lhe ouvia há algum tempo, remetendo-nos para os temas interpretados por Shirley Bassey, era uma escolha óbvia nesta nova fase da série.
       O triunfo de Brosnan foi grande , a aceitação do público foi total e isso viu-se nos resultados de bilheteira que transformaram este filme no maior sucesso de bilheteira dum filme de James Bond.  A série  atinge uma maturidade que nunca tinha alcançado desde que Sean Connery se estreou na personagem. Havia razões de  sobra para que a série comtinuasse e assim foi decidido.
         Dois anos depois, em 1997,  Bond regressa com “Tomorrow never Dies – 007- O Amanhã nunca Morre”, pela mão de Roger Spottiswoode, um especialista em filmes de acção.  Desta vez 007 tem que impedir uma guerra ente a China e a Inglaterra, provocada por um magnata dos media que quer obter a cobertura total e exclusiva a nível mundial.
       Em minha opinião, é o filme menos bom de Pierce Brosnan enquanto James Bond,. O argumento, embora prometa muito, nunca chega realmente a arrancar e, nas poucas vezes que o faz, é nas cenas de acção que estão bem encenadas como é  habitual na série e consegue empolgar o público, já que desta vez Bond está acompanhado de Michelle Yeoh, a “bond girl” de serviço, que consegue dar tanta pancada nos adversários como Bond. O vilão de serviço é Jonathan Pryce, que veio do grupo de comediantes britânicos Monty Python, e embora se esforce, nunca é suficientemente convincente no papel ( estará muito melhor em “Ronin”, de John Frankenheimer, em 1999). Se os produtores queriam a continuação do sucesso obtido com “Goldeneye”, conseguiram, mas fica sempre uma sensação de alguma frustração  de que poderia ter sido  um filme  melhor e a história mais bem explorada.
       Em 1999, Brosnan regressa ao papel, no último Bond  do século XX, “The World is not Enough – 007- O Mundo não Chega”. Desta vez  o enredo gira em volta duma conspiração nuclear que envolve a herdeira dum império de petróleo que é raptada por um bandido, que tem a capacidade de não sentir nenhum tipo de dor, que eventualmente se torna seu amante. 
      Uma variante do  habitual tema de James Bond: tem de proteger uma herdeira dum poderoso império petrolífero, ao mesmo tempo que tem que libertar a sua chefe “M”, que é raptada a meio do filme.  Foi a primeira vez que se verificou tal situação na série: o argumento pouco convencional e uma galeria de personagens bem delineada, a começar pelas duas “bond girls”, ambas bonitas, ambas sensuais e inteligentes (é compreensível que Bond se sinta perdido no meio daquelas beldades!), passando pela personagem de “M”, que passou, a partir deste filme, a ter uma presença maior na série, terminando na personagem de Renard, o vilão, interpretado com alma por Robert Carlyle, estamos perante um dos filmes da série mais inteligentemente construído nos últimos anos e, excluindo “Goldeneye”, o melhor filme de Pierce Brosnan. 
          2002, viu o actor despedir-se da personagem. Brosnan entendeu que aos  50 anos era a melhor altura para se despedir da série e  nada melhor do que o fazer no ano em  que ela fazia 40 anos que chegara ao cinema. “Die Another Day – 007 – Morre Noutro Dia”, realizado por Lee Tamahori, James Bond, depois duma missão falhada que lhe custou  14 meses de cativeiro na Coreia do Norte, é encarregado de investigar a ligação entre Zao, um terrorista terrorista Norte-Coreano e um magnata de diamantes que está a financiar uma arma espacial internacional.
         De regresso a território Bondiano, “Morre noutro Dia”, sem nunca perder o fio narrativo, apesar deste ser um pouco semelhante a tantos outros filmes de acção que já vimos, é um filme feito de memórias e de homenagem a todos os Bonds que o antecederam: o sapato com a lâmina envenenada de “From Russia  with Love”; Bond a conduzir o Aston Martin de “Goldfinger”; o aparelho a jacto de “Thunderball”, vê-se no gabinete de “Q”, entre muitas outras,  mas o melhor exemplo desta homenagem é Jinx, personagem interpretado pela bonita Halle Berry, a surgir de dentro de água, com um fato de banho cor de laranja, cinto branco e uma faca de mergulho á cintura, igual ao de Ursula Andress, 40 anos antes, em “Dr.No”. O filme acaba por ser quase uma espécie “adivinha de que filme é que é?” tantas são as referências àquela que é a mais longa série de filmes do cinema. E a bilheteira não foi alheia a esta homenagem, “Morre Noutro Dia”, foi o filme de toda a série que mais dinheiro fez, pelo menos até “Casino Royale”. Pierce Brosnan saiu  em alta, não só para a sua carreira, como também a série estava no seu momento mais alto. Restava saber quem iria ser o novo James Bond. O mundo teria de esperar mais quatro anos pelo herdeiro de Brosnan, fazendo deste o segundo maior interregno na série.
Daniel Craig, a mais recente encarnação de Bond
           Para o novo James Bond,  audições foram feitas a muitos actores, desde actores já com créditos firmados em Hollywood, nomes como Eric Bana, Hugh Jackman, Goran Visnjíc, Gerard Butler, Clive Owen, entre outros, foram considerados para o papel, ao lado de outros nomes desconhecidos, como Sam Worthington, James Purefoy, ou Henry Cavill, entre outros. A escolha acabou por recair em Daniel Craig, apesar do actor confirmar que fora contactado mas que ainda não aceitara por não existir um argumento que o seduzisse. Acabou por aceitar o papel em 2005.
           Aproveitando o sucesso alcançado pelo relançamento da personagem de Batman em “Batman – O Início” (Christopher Nolan, 2004), Barbara Broccoli e Michael G.Wilson decidiram que estava na altura de começar de novo, ou seja, “trazer James Bond até ás suas raízes”, eliminar os apetrechos e elementos de fantasia que tinham orientado a série anteriormente e tornar Bond mais forte, mais sinistro e mais realista, ou seja, tornar a personagem conforme Ian Fleming  a descrevera nos livros, do que nas suas anteriores encarnações.  Não é de estranhar que a base do 21º filme da série, tenha sido “Casino Royale”, o primeiro livro que Fleming escreveu.
         Em “Casino Royale”, James Bond, na sua primeira missão como agente secreto ao serviço de Sua Majestade, tem de impedir que Le Chiffre, um banqueiro ao serviço das organizações terroristas, ganhe uma grande fortuna num torneio de poker no Casino Royale, em Montenegro.
O filme funciona em dois níveis: por um lado, continua a saga do agente secreto, com uma nova cara e nada mais do que isso; por outro lado, serve como apresentação do agente secreto a uma nova geração que tem aqui o seu primeiro contacto coma personagem. É a este segundo nível que o filme ganha importância e se destaca de todos os outros. Assistimos a como Bond ganhou o estatuto de duplo “00” (na violenta sequência pré-genérico  filmada num intenso e belo preto-e-branco); como Bond ganhou o seu admirável Aston Martin DB (que vimos pela primeira vez no longínquo “Goldfinger”), descobrimos o seu gosto por bebidas bem  preparadas (o famoso Vodka-Martini sacudido, mas não misturado); somos confrontados com um segredo que se desconhecia: Bond amou muito,  antes de Teresa Draco , em “Ao Serviço de Sua Majestade” (1969), lhe arrebatar o coração. A autora de tal proeza é a bonita, melancólica e misteriosa Vesper Lynd, interpretada pela bonita actriz Eva Green, que vai modificar a vida do agente secreto, ao ponto deste nunca mais conseguir amar assim até surgir Tracy no referido filme.  É um Bond transtornado, frio e com sede de vingança que pronuncia, pela primeira e única vez no filme, a frase-tipo que se tornou no cartão de apresentação do agente secreto mais famoso do mundo: Vêmo-lo  de espingarda HK na mão, em frente ao seu alvo e ouvimo-lo dizer  “O nome é Bond…James Bond!” e enquanto esta frase lacónica e famosa serve de apresentação para uns, para outros remete-os para o primeiro filme da série e na primeira vez que a personagem aparece, fazendo a ponte, ligando este  filme e a restante série.
O sucesso do filme ultrapassou todas as expectativas, fazendo com que este filme se tornasse no mais rentável da série. A escolha de Daniel Craig revelara-se acertada.
        Pela primeira vez na série, um filme é uma sequela directa do anterior.  “Quantum of Solace – 007 – Quantum of Solace”, realizado por Marc Foster, estreou em 2008.
            Enquanto procura vingar a morte de Vesper  Lynd,  sua namorada em  “Casino Royale”, James Bond vai ter que deter um ambientalista que se quer apossar dos recursos mais valiosos da Bolívia.
            O filme abre com a tradicional sequência pré-genérico, só que em vez de ser uma cena de tiroteio e explosões como seria habitual, é uma movimentada e excitante perseguição automóvel, que decorre minutos (?) ou horas (?) depois da última cena de “Casino Royale”.
            “Quantum of Solace”, não sendo tão simples e interessante como o seu antecessor, pelo contrário é até relativamente mais complicado, mas consegue, no entanto, ser um bom entretenimento como se pretende que sejam os filmes da série e até consegue piscar o olho aquele que ainda é considerado o melhor Bond da série: “Goldfinger” (Guy Hamilton, 1964), na cena em que a agente do MI6, Strawberry  Fields aparece morta no hotel, com o corpo coberto de petróleo, remete-nos logo para a cena em que Jill Masterson, a amante de Goldfinger aparece morta coberta de ouro. Craig está muito mais á vontade do que estava em “Casino Royale”, apesar de em nenhum momento do filme utilizar os seus cartões de apresentação : nem a frase “Bond,…James Bond”, nem a sua bebida preferida “Vodka-Martini, sacudido mas não misturado”, são utilizados. Perfeitamente secundado por Olga Kurylenko, como Camille, uma “bond girl” que não se limita a ser apenas a companheira do agente secreto: também ela é movida por desejos de vingança completando-se com Bond e Mathieu Amalric, que dera nas vistas em “Munique” (Steven Spielberg, 2005), é Dominic Greene, o vilão com propósitos ambientalistas, que usa a organização criminosa “Quantum”para remover obstáculos que lhe surjam no caminho. Não se deixando intimidar quando comparado com outros vilões, Amalric tem aqui um papel de vilão ao nível dos melhores  da série.
          Apesar de manter tudo aquilo que torna  as aventuras do agente secreto grandes: perseguições  ( a pé, de carro, de moto, de barco, "Quantum" tem todas), acção, tiros, explosões, etc., este é  um Bond  atípico e  foi  o mais caro filme da série.
Com vários problemas a vir ao de cima, a produção do filme seguinte da série foi atrasada quatro anos. Foi o terceiro maior interregno na série.
          26 de Outubro de 2012, "Skyfall", o 23º filme da série vê finalmente a luz do dia, ao estrear simultaneamente em quase todo o mundo e, intencionalmente ou não (acredito que tenha sido propositado!),  coincide com os 50 anos de estreia  de “Dr. No”, o primeiro filme da série.
           A sede do MI6, o coração de Londres,  é alvo de ataque terrorista. Rapidamente se percebe que o alvo é M e Bond é chamado para descobrir, perseguir  e, nas próprias palavras da sua chefe, eliminar  a ameaça custe o que custar.
           A  preocupação que percorre  todo o filme é várias vezes falada no filme “em pleno século XXI, num mundo informatizado onde toda a gente está em contacto com toda a gente numa questão se segundos, haverá necessidade e lugar para agentes secretos que vivem noutro mundo onde ainda havia a guerra fria?” a resposta é dada pelo realizador Sam Mendes que, trabalhando sobre um argumento de Neal Purvis e Robert Wade, responsáveis pelos filmes anteriores da série valoriza a história e personagens sobre quaisquer outras coisas (os gadgets são praticamente ignorados ou inexistentes mesmo!) e  soube entender a alma e a  verdadeira essência de James Bond. Mendes filma cenas de acção que são um verdadeiro deleite para o espectador e devolvem credibilidade ao franchise enquanto abre novos caminhos para  a série.         
Desmond Llewelyn, o eterno "Q", em 17 filmes da série
       Ao elenco habitual, juntam-se Javier Bardem, que interpreta Silva, o vilão, com requintes de malvadez, que rouba as cenas em que entra ao ser divertido, imprevisível, assustador e, no final, quase trágico e Ralph Fiennes que interpreta Gareth Mallory, o ministro para quem a existência de agentes secretos do tipo 007, em pleno séc XXI, é uma anedota do passado e ainda uma participação especial de Albert Finney  como Kincade, uma personagem que conheceu Bond no passado.
        Em “Skyfall”, assistimos ao final de um ciclo  na série e percebemos isso na última cena do filme que estabelece a ponte entre os filmes de Daniel Craig e o resto da série. Tal como em “Casino Royale “, dá-se uma volta de 360º graus, trazendo-nos para o início da série ou, se quisermos,  para um novo começo.
       Vinte e três filmes, seis actores e cinquenta anos depois, a série James Bond veio para ficar e, prova disso, é a frase que assegura a continuação, visível, como sempre, no final de cada filme  “James Bond  Will Return”


Nota: As imagens que ilustram estes texto, foram retiradas da Internet
           
                                               

           


1 comentário:

  1. Os meus parabéns por esta magnífica resenha a lembrar os 50 anos de James Bond no momento em que se estreia o terceiro título com Daniel Craig no papel de Bond. Ficamos assim a saber um pouco sobre o que é que foi cada um dos filmes da série, bem como algumas curiosidades. Um abraço.

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