terça-feira, 2 de outubro de 2012

Cinema - Comentário a Scarface - Força do Poder - O Sonho Americano


  A exemplo de um certo cinema de autor, muito em voga na europa, Hollywood tentou, na década de 80 do século passado, utilizar os mesmos métodos na produção dos seus filmes. "Scarface - A Força do Poder" é um remake contemporâneo de  "Scarface - O Homem da Cicatriz", realizado em 1932 por Howard Hawks, escrito por Ben Hecht, aos quais a nova versão é dedicada. Baseado num romance com o mesmo nome e escrito por Armitage Trail. Interpretado por Paul Muni, o filme conta a história de um gangster ambicioso e violento, que ascende ao poder dentro da estrutura do Crime Organizado na Chicago dos anos 20, cujas próprias fraquezas (mulheres e bebida), acabam por ser a razão da sua queda.

   Do original,  este "Scarface" apenas mantém o nome porque tudo o resto é completamente diferente. O argumento, escrito por Oliver Stone, actualiza a história para a década de 80, mudando também a localização do original, de Chicago para Miami.

   Tony Montana  é um refugiado politico (como ele próprio diz, no início do filme,  numa sucessão de “travellings”- imagem de marca do realizador- no interrogatório a que é submetido pelas autoridades e que funciona como uma espécie de apresentação da personagem) de Cuba e que chega à Flórida, disposto a conquistar o mundo. Ele tem as suas próprias ideias sobre como triunfar no novo país.
    Al pacino tem, neste filme, uma interpretação "bigger than life"(alguém que tente contar as vezes que a palavra f**** sai da sua boca ao longo das quase três horas de de filme!). o seu Tony Montana vai sofrendo várias transformações ao longo do filme desde o criminoso que mata a troco duma autorização de permanência no país até ao poderoso narcotraficante que, por amor a uma mulher (a lindíssima Michelle Pfeiffer), se vai perder nos meandros da droga e provocar a sua própria queda.

     Pacino está rodeado de um elenco secundário, todo ele muito bom no seu trabalho. Salientam-se Steven Bauer, Michelle Pfeiffer, Robert Loggia, Mary Elizabeth Mastrantonio e um quase desconhecido F. Murray Abraham que, um ano mais tarde, venceria o Óscar de Melhor Actor em "Amadeus" (Milos Forman ).

     Realizado por Brian De Palma, autor de filmes como "Carrie" (1976), "Dressed to Kill - Vestida para Matar"(1980), "Blow Out - a Explosão"(1981) ou ainda o magnifico "The Untouchables - Os Intocáveis"(1987), tem aqui um dos seus trabalhos mais comercialmente bem conseguidos, em parte devido ao elenco, outra parte devido ao seu trabalho de realização. De Palma é, na verdade, um virtuoso realizador e todos os seus trabalhos são, na realidade verdadeiros achados em termos de realização porque ele consegue, utilizando planos e perspectivas pouco comuns em filmes, contar uma história sem esta perder o interesse. 
   Violento e sangrento, "Scarface" é um filme sobre o sonho americano visto por imigrantes e suas consequências. Oliver Stone, um pouco á semelhança do que viria a fazer em alguns dos seus filmes, nomeadamente “Platoon – Os Bravos do Pelotão” (1986) ou “Born on the Fourth of July – Nascido a 4 de Julho”(1989), comentando e criticando a sociedade americana e os seus comportamentos, mostra-nos, em duas cenas, a ascensão e queda do sonho americano: uma acontece  quando Tony, depois de se livrar de Frank, vai a casa deste e acorda Elvira, enquanto a espera, abre-se um grande plano de Tony que vai recuando até surgir no céu um dirigível em volta do qual brilham as letras “The World is Yours” ( O Mundo é Teu); do mesmo modo, no final, assistimos ao declínio e queda desse mesmo sonho americano, simbolizado na cena da morte  de Tony, quando este cai num lago interior, perfurado por dezenas de tiros, e, num plano final, são mostradas essas mesmas palavras escritas numa estátua.

    O filme gerou  controvérsia, desde a sua estreia, devido á violência e linguagem , tendo recebido diversas críticas negativas, o que não impediu que fosse um dos grandes sucessos do ano de 1983, apenas foi superado por “Flashdance” (Adrian Lyne),e, desde então, tem ganho uma enorme legião de fans e até alguns críticos, inicialmente negativistas, têm mudado as suas impressões sobre o filme para algo mais favorável. Também a classificação dada ao filme foi motivo de discussão entre várias partes envolvidas. Inicialmente foi-lhe atribuída uma classificação “X”(apenas para filmes Hardcore – 1ºEscalão, vulgarmente conhecidos como  filmes pornográficos) pela sua violência extrema, linguagem e abuso de drogas. 
    A primeira versão do filme foi amputada de várias cenas, tornando-o confuso e, em algumas partes, incompleto. Brian DePalma teve de intervir e convidou diversos peritos, incluindo agentes reais da DEA (Agência Anti-Droga), que confirmaram a veracidade do submundo da droga, tal como mostrado no filme, o que permitiu que a classificação do filme fosse mudada para “R”, mas ainda na versão amputada.      
    O realizador, mais tarde, quis saber se poderia estrear a versão do realizador. Foi-lhe dito que não, mas como os executivos do estúdio não conseguiam diferenciar as versões, o realizador estreou na europa e noutras partes do mundo a versão original que foi um enorme sucesso. Para exibição na  televisão, foi a versão amputada, em cerca de 32 minutos, a escolhida e novas alterações foram feitas: a palavra f**** foi omitida em todas as utilizações e substituída por outras formas verbais menos ofensivas, além de terem acrescentado algumas cenas que nunca apareceram na versão de cinema e que apenas estão disponíveis como extras nas edições de DVD/Blu-Ray.
    Em 2008, o “American Film Institute”, lançou o seu “Top Ten” de filmes em dez grandes categorias e “Scarface – A Força do Poder” foi considerado o décimo melhor filme no género gangsters.

Nota: As imagens e vídeos que ilustram este texto foram retiradas da Internet 





Sem comentários:

Enviar um comentário

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...