terça-feira, 23 de outubro de 2012

James Bond 007 – Ao Serviço do Cinema II


                                    
       2 – Do Render da Guarda ao fim da Guerra Fria (1973-1989)

      Foi no início de 1972 que Albert Broccoli e Harry Saltzman iniciaram a procura de um substituto para interpretar  James Bond no próximo filme. Jeremy Brett, Julian Glover, Michael Billington, entre outros, foram nomes considerados para o papel.  A escolha acabou por recair em Roger Moore, cuja interpretação de Simon Templar, na série televisiva “The Saint – O Santo” (1962-1969), foi decisiva. Aos 45 anos de idade, Roger Moore tornava-se o terceiro actor e também o mais velho a interpretar a personagem de James Bond.
Roger Moore sucedeu a Sean Connery
   A meio de 1973,  “Live and Let Die – 007-Vive e Deixa Morrer” , realizado por Guy Hamilton, estreava no meio duma enorme expectativa que se girara em torno do filme que desta vez leva 007 até Nova York e Nova Orleans, onde vários agentes britânicos foram assassinados e Bond tem de investigar essas mortes misteriosas, cedo descobre uma estranha ligação entre o Dr.Kananga, o líder duma pequena ilha nas Caraíbas e Mr.Big, um poderoso barão da droga acabando por se tornar ele mesmo um alvo a bater á medida que percorre que vai aprofundando a sua investigação e conhece Solitaire (estreia cinematográfica da bonita actriz Jane Seymour), uma bonita taróloga e assistente pessoal do Dr.Kananga.   
   Moore quis demarcar-se tanto da interpretação de Sean Connery, como do seu Simon Templar e abordou a personagem duma forma mais ligeira e algo cómica, não perdendo, no entanto,  a estrutura da personagem. Também os produtores quiseram alterar um pouco a série, mantendo intacta a  sua estrutura. Começaram logo com a escolha do argumento. Mantendo a base do livro de Ian Fleming, alteraram localizações personagens e até acontecimentos,.Desta vez James Bond, além de enfrentar Dr.Kananga, o vilão de serviço, também vai encontrar pela frente Tee Hee, o guarda-costas de Kananga que tem uma tenaz em lugar duma  mão, isto sem falar de Voodoo e Magia Negra que vai ser utilizada pelo Barão Samedi, rei dos mortos e ser imortal, contra o agente secreto. 
    Pela primeira vez na série, logo no início do filme, Bond, recebe não uma, mas duas visitas em casa, enquanto, nas suas próprias palavras, recuperava da última missão, o seu chefe M e a secretária dele, miss Moneypenny. É o primeiro e único vislumbre que temos da sua residência em toda a série. Outra alteração foi a mudança de tema-título que passou a ter uma batida rock. Coube a Paul McCartney e aos seus Wings inaugurar esta nova fase com o tema que dá nome ao filme que foi direito ao número um em quase todo o mundo.  O tema, além de ser nitidamente Bondiano, tem também uma batida e um ritmo quase a tocar o épico, coisa que nunca se ouvira na série.
Sem defraudar nada do que se esperava, “Live and Let Die”, foi mais um sucesso a juntar a esta série.
        No ano seguinte, embalado pelo sucesso da sua estreia da sua estreia como James Bond, Roger Moore abordou com mais confiança a personagem. “The Man with the Golden Gun – 007 – O Homem da pistola de Ouro”. James Bond vai até á Tailândia investigar a morte dum cientista ligado a um projecto denominado “Solex Agitator” que visava a utilizaçãoo da radiação emanada da energia solar que dará poderes inacreditáveis a quem o possuir. Bond descobre que quem cometeu o assassinato foi Francisco Scaramanga, um assassino profissional que cobra um milhão de dólares por cada serviço e acaba por ser o próximo alvo dele.
        Apesar dos talentos reunidos de Christopher Lee (mais conhecido pelos papéis de Drácula que fez nos anos 60), Britt Ekland, uma estonteante loura nascida na Suécia, aqui a fazer o papel da sensual  Mary  Goodnight, a “Bond Girl” de serviço e de Maud Adams,uma ex-modelo Sueca, a única actriz a aparecer em três filmes da série James Bond, este é, na generalidade, considerado um dos filmes mais fracos da série na década de 70 e também marcou a série, já que foi a ultima colaboração de Harry Saltzman na série. Vendeu a sua parte e foi fazer outro tipo de filmes. “007 – O Homem da pistol de Ouro”, foi, tal como os seus antecessores, um sucesso de bilheteira. Roger Moore tinha sido aceite pelos fans da série como digno sucessor de Sean Connery e George Lazenby. A série iria fazer aqui a sua primeira pausa e voltaria aos écrans em 1977.
        O terceiro filme de Roger Moore como James Bond, “The Spy who Loved Me – 007-Agente Irresistível”,  sob o comando de Lewis Gilbert, que regressou á série, foi um ponto de viragem na série por dois motivos: foi o primeiro filme da série a ser produzido apenas por Albert Broccoli e também foi o primeiro a usar uma história quase original, já que Fleming ficou tão desapontado com o seu livro, qua apenas autorizou a utilização do título.
        James Bond, com a ajuda de uma agente do KGB, investiga o desaparecimento de dois submarinos, um Britânico e outro Soviético, que transportam ogivas nucleares. Descobrem, então, que alguém inventou um dispositivo que tem a possibilidade  de localizar submarinos e está a vender o invento a quem oferecer o melhor preço. Quando se dá a crise, provocada pelo desaparecimento dos navios, Bond tem de os localizar antes que os mísseis sejam armados e utilizados para dar início a uma IIIªGuerra Mundial.
        Desde a perseguição na neve, na sequência pré-genérico até ao carro subaquático, as sequências de acção estão muito bem feitas, este é, talvez o mais imaginativo dos filmes da série, até porque não se trata só de deter os planos maquiavélicos de Karl Stromberg, o vilão de serviço, interpretado por Curd Jürgens com grande estilo, mas porque tem um outro sub-argumento associado á relação de James Bond com a Major Anya Amasova (a bonita e sensual Barbara Bach), além de introduzir “Jaws”, o homem de mão de Stromberg, que tem mais de dois metros de altura e uma dentadura de metal. Interpretado pelo actor Richard Kiel, tornou-se num dos mais amados personagens da série, tão popular que voltaria no filme seguinte. Outra inovação da série, introduzida por este filme, foi que o tema-título, interpretado por Carly Simon, não tem o título do filme, mas faz-lhe referência na letra. Foi um estrondoso sucesso, quer na Inglaterra, quer nos estados unidos. Foi dos maiores sucessos de sempre de bilheteira da série.
        O quarto filme de Roger Moore como James Bond (11º na série), apareceu em 1979. “Moonraker – 007 – Aventura no Espaço”, realizado novamente  por Lewis Gilbert, foi o último filme da série a utilizar como base um livro de Ian Fleming até “Casino Royale” em 2006.
        Um Boeing 747, que transportava um “Space Shuttle” para Inglaterra, despenha-se no oceano atlãntico  e a nave desaparece misteriosamente. James Bond é chamado para investigar o desaparecimento, pelo caminho conhece  a Dra. Holly Goodhead, uma bonita analista de dados da CIA, cruza-se novamente com “Jaws”, o assassino dos dentes de aço e descobre uma conspiração, levada a cabo pelo bilionário Hugo Drax, para cometer um genocídio global. Inicialmente “Moonraker” não era para ser o filme seguinte da série, mas  sim “For You Eyes Only”. Para aproveitar o sucesso  arrasador de “Star Wars – Guerra das Estrelas” (George Lucas, 1977),  Broccoli decidiu fazer este filme por ser mais ficção científica já que era a tendência que o cinema estava a seguir no final da década de 70. Pela terceira vez na série, o tema-título é cantado por Shirley Bassey. Uma vez mais, desde a sequência pré-genérico, com a luta em queda livre entre Bond e “Jaws” até ao combate final no espaço, que foi muito criticado pelas óbvias semelhanças com “A Guerra das Estrelas” e que, pelos standards de hoje, parece datada, estamos perante Bond no mais puro estilo que Roger Moore nos habituou:  bem humorado e acção que chegue, bem orquestrada ( na cena da luta na loja de peças de vidro em Veneza, quase que apostamos que todas as peças de vidro existentes foram partidas!). Bom ou mau, goste-se ou não,  o filme foi mais um sucesso a juntar á série e foi também o que mais rendeu até á estreia de “Goldeneye” (1995).
        A década de 80 viu a série James Bond renovar-se com um novo filme logo em 1981, “For Your Eyes Only – 007 – Missão Ultra-Secreta” , com  novo realizador a bordo, John Glen, várias vezes foi realizador de segunda da equipa e antigo montador de grande parte dos filmes da série, foi desde logo considerado um dos melhores Bond da fase Roger Moore e foi também o primeiro filme da série a ser baseado, não num romance, mas sim numa história curta que pertence á primeira colectânea de histórias curtas publicadas por Ian Fleming.
Nele, o agente secreto é enviado para recuperar um engenho de comunicações conhecido como ATAC e que serve para dar instruções aos mísseis Polaris, que se afundou com um barco-espião inglês ao largo da Albânia. Bond sabe que os russos também o querem para si e então alia-se a uma jovem grega de nome Melina, cujos pais foram assassinados por agentes ao serviço dos russos e encontra também Aristotle Kristatos e Milos Colombo, que o tentam atrair, cada um, para o seu lado.
        Encontramos neste filme, á semelhança de “Vive e Deixa Morrer”, mais um pouco  do lado pessoal de Bond. Na sequência pré-genérico vemo-lo no cemitério junto á lápide onde repousa Teresa Bond, sua esposa, assassinada pela SPECTRE, pouco antes de reencontrar  Ernst Stavro Blofeld, o seu Némesis em tantos outros filmes da série e ficamos com a sensação de que este filme poderia ser uma possível sequela de “Ao Serviço de Sua Majestade”, mas que, felizmente não era essa a ideia, e pouco depois ficamos a saber porquê.  Depois do genérico, no qual, pela primeira vez e única até hoje, surge o rosto de Sheena Easton, a bonita intérprete do tema-título, o filme  torna-se  num  James Bond ao mais puro estilo da série: Carole Bouquet, é Melina Havelock, a “bond girl”, bonita com um misto de sensualidade guerreira que quer vingar a todo o custo a morte dos pais; um sem parar de acção que vai desde perseguições automóveis (a cena da perseguição ao citröen 2CV é um “must” para a série!), combates submarinos, passeios na água sobre corais cortantes, mas tudo isto vai culminar na escalada do monte St.Cyril, que é das cenas mais excitantes e mais bem filmadas de qualquer filme da série.
        Após a estreia do filme, Moore, alegando ser velho demais para o papel, mostrou vontade de sair da série. A história repetia-se novamente. Eventualmente a EON, distribuidora dos filmes da série, persuadiu Moore a reconsiderar, devido á anunciada estreia de “Nunca mais digas Nunca”, o Bond fora da série, que trazia de volta o primeiro e mítico James Bond no cinema, Sean Connery. O actor acabou por aceitar fazer mais dois filmes da série.
        O primeiro foi “Octopussy – 007 – Operação Tentáculo”, novamente realizado por John Glen, que apareceu em 1983. O agente secreto 009 aparece morto em Berlin e na mão carrega um valiosíssimo Ovo Fabergé. Bond é chamado para investigar e rapidamente descobre uma conspiração de tráfico internacional de jóias, chefiada pela misteriosa Octopussy, uma mulher que nunca é vista em público, tendo em vista um ataque ás forças da NATO, estacionadas na Alemanha Federal.
        È , na minha opinião, o filme mais fraco de Roger Moore, que interpreta o papel com a convicção de quem está  a fazer um frete, nem mesmo as piadas a Indiana Jones (como a cena da cobra), resultam. O argumento, baseado numa histórias curtas de Fleming, é desinspirado e até a própria Guerra Fria, onde é ambientado, parece estar ali apenas para encher a história. Todo o filme parece desenquadrado com a série e nem mesmo as fortes presenças de Maud Adams, repetente na série, aqui promovida a “bond girl”, de Louis Jourdan, como Kamal Khan, o vilão de serviço, ou Kabir Bedi, famoso pela sua interpretaçãoo de Sandokan na televisão, como braço-direito de Kamal, conseguem fazer o filme arrancar da mediania. Todavia, foi mais um sucesso a juntar á série.
        “A View to a Kill – 007-Alvo em Movimento”,  que marca a despedida de Roger Moore da série, apareceu em 1985 e, se “Octopussy” já fora fraco, este pode considerar-se mesmo quase para esquecer, não fosse o facto de pertencer á série que pertence e manter uns altos standards de produção que lhe mereceram a qualidade que o filme tem.
        Durante uma investigação numa corrida de cavalos, James Bond, descobre uma possível conspiração que envolve um industrial, cujos planos passam pela criação dum monopólio mundial de microchips que passa pela destruição de toda a produção em Silicon Valley na Califórnia.
 Roger Moore está velho, cansado e transporta, durante todo o filme, essa imagem. Tanya Roberts, é Stacey Sutton, a “bond girl”, não consegue ter empatia nenhuma, Christopher Walken, como Zorin, o vilão, não consegue convencer ninguém com a sua interpretação e Grace Jones, cantora, tornada actriz, é May Day, a braço direito de Zorin, que se cruza várias vezes com Bond.
O filme é um pálido reflexo da série. O argumento é fraco e pouco convincente, a realização, de John Glen, uma vez mais, é banal e sem qualquer esforço de ir mais além do que isso. Nem o tema-título, interpretado por Duran-Duran, que foi nº1 em practicamente todo o mundo, nem a cena mais espectacular do filme, o combate na Golden Gate de São Francisco, o salvam de ser facilmente esquecido e muitas vezes ignorado, apesar de sucesso que obteve em todo mundo e fazer qualquer fan que se preze suspirar pelos Bonds de outros tempos.
Timothy Dalton foi o Bond seguinte
Chegara a vez de Roger Moore se afastar da personagem e passar o testemunho a outro actor. Surge então em cena  Timothy Dalton.
O actor já fora inicialmente contactado para substituir Sean Connery em 1968, mas afastou-se, após as audições, por achar que, com apenas 22 anos, era muito novo para o papel. 12 anos depois voltou a ser considerado pelos produtores para substituir Roger Moore, mas recusou por achar que aquele não era o tipo de filmes de James Bond que idealizava. Em 1986, após vários actores terem sido pensados para o papel, entre os quais Pierce Brosnan, que ainda viria a filmar a sequência pré-genérico, antes de ter de abandonar a série, Dalton aceitou encarnar a personagem de Ian Fleming.
  “The Living Daylights – 007 – Risco Imediato” estreou em 1987, de novo estava John Glen na realização e um novo actor a interpretar uma personagem que já fazia parte da cultura mundial. Desta vez James Bond tem que preparar a deserção de um general soviético para o ocidente. Quando esta falha e o militar é recapturado, Bond tem que descobrir porque é que isso aconteceu. Essa investigação vai levá-lo até ao Afeganistão onde terá de enfrentar um traficante de armas e os seus obscuros propósitos.
Ao  ver este filme, ficamos com sensação de que voltamos ao inicio da série, quando a guerra fria estava presente, em espírito e também fisicamente, ao longo dos primeiros filmes da série. Temos uma sequência pré-genérico que se passa em Gibraltar e logo ficámos com a impressão que Dalton tinha vindo para ficar, tal é o empenho e convicção com que agarra a personagem. Depois, mais á frente, quando Bond quer saber o que realmente aconteceu ao General desertor,  entramos no universo do filme de espionagem e percebemos que estamos em terreno Bondiano, com tudo no seu lugar, excepto a “bond girl” , Kara, interpretada por um pãozinho sem sal chamado Maryam D’Abo, que realmente é a única coisa que destoa neste filme que devolveu  a Bond o espírito com que Ian Fleming o criou. Um grande thriller de espionagem com um tema musical forte e apelativo e um actor que queria marcar a diferença em relação aos seus antecessores. Timothy Dalton entrava na série com o pé direito.
Com novo actor a bordo, aceite pelos fans e público em geral, os produtores avançam para novo filme. Em 1989, “Licence to Kill – 007- Licença para Matar”, surpreendeu tudo e todos. Desde logo, ao não usar nenhum título de histórias de Ian Fleming, marcou a diferença. Depois, ao tratar uma história, não de espionagem , como seria de esperar, mas sim uma  vingança pessoal, deixou o público de boca aberta.
Felix Leiter, agente da CIA e melhor amigo de Bond, é  atacado no dia do seu casamento por Franz Sanchez, um traficante de droga, a sua noiva é morta e ele é deixado ás portas da morte. Bond, ao saber do sucedido, abandona o Serviço de Sua Majestade e parte numa missão de vingança pessoal. 
O que surpreende mais aqui é que estamos num filme de James Bond sem estarmos no Bond convencional, com o típico vilão a querer dominar o mundo. Estamos num filme graficamente violento (talvez o mais violento de todos os filmes da série!), o simples facto de termos Bond empenhado numa vingança pessoal, faz toda a diferença na série. Aparecem motivos e elementos pessoais que tornam este Bond o mais negro da série. James Bond,  deixou de ser o agente secreto para se tornar num vingador  de olhar frio e carregado de raiva, (a cena em que atira um dos maus para a água, infestada de tubarões, juntamente com uma mala cheia de dinheiro, é disso exemplo).
Quase um Bond perfeito, apesar das críticas diversificadas, com um magnifico elenco onde se destaca Robert Davi, como  Franz Sanchez, um Benicio Del Toro em princípio de carreira, Desmond Llewelyn, novamente no papel de “Q”, mas com direito a presença alargada e a dar uma mãozinha á vingança de Bond, o que nos leva a perguntar porque é que nunca se lembraram de destacar mais a presença  de “Q” nos filmes anteriores e posteriores, já que ele é quase um totalista da série, nada menos nada mais que 17 vezes interpretou a personagem! e duas “bond girls”, a bonita e sensual Talisa Soto como Lupe, a sofrida namorada de Sanchez, e a igualmente bonita, mas não tão sensual, excepto quando veste um vestido de noite para ir sair, Carey Lowell como Pam Bouvier.
Apesar do sucesso que o filme garantiu,  mesmo com Timothy Dalton seguro na personagem, vários problemas começaram a surgir. A venda dos estúdios da MGM/UA, distribuidora da série desde o primeiro filme, disputas legais envolvendo a EON e o comprador da distribuidora, levaram a que o terceiro filme com Timothy Dalton fosse sendo sucessivamente adiado.  Em 1994, o actor desistiu do papel.
As palavras "James Bond will return" que surgiam no final de cada um dos últimos 15 filmes da série e que garantiam a continuidade, estavam agora em perigo.
                                                                                                (continua)

Nota: As imagens que ilustram este texto foram retiradas da Internet




sábado, 13 de outubro de 2012

James Bond 007 - Ao Serviço do Cinema I


                  1-    Ao Serviço de Sua Majestade (1962-1971)

       A personagem literária do agente secreto James Bond, foi criada em 1953 por Ian Fleming. Baseado no próprio autor, enquanto Oficial dos Serviços Secretos da Marinha Britânica, e em diversas outras pessoas com quem o autor conviveu durante a IIªGuerra Mundial e que, nas palavras do autor, “fosse uma personagem desinteressante, aborrecido a quem tudo acontecia,  que fosse brusco mas charmoso…queria, acima de tudo que tivesse um nome idiota, mas ao mesmo tempo, que fosse sonante e inconfundível…”. 
        O nome James Bond foi inspirado num ornitólogo famoso que viveu toda a sua vida nas Caraíbas e autor daquele que é, ainda hoje, o melhor guia de estudo sobre as aves intitulado “Birds of the West Indies”, do qual Fleming possuía uma cópia. Dotando a personagem de alguns toques pessoais como o gosto pelo Golf, pela bebida (“Dry Martini, shaken but not Stirred”,que viria a ser uma das marcas inconfundíveis da personagem), ou por carros de marca e usando a sua experiência dos Serviços Secretos, colocando-a  como Comandante Naval na reserva e no Serviço Secreto Britânico conhecido como MI6, Ian Fleming tinha achado o seu James Bond, nome de código 007, com licença para matar,  que, ao longo de doze romances e dois livros de histórias curtas, iria encantar e defender o mundo. Da literatura para o cinema foi um salto.
         Estreado em Outubro de 1962, “Dr.No –  007 - Agente Secreto”, realizado por Terence Young, revelou-se uma surpresa positiva, mesmo havendo vários aspectos do filme que não reuniam o consenso de todos os envolvidos, sendo a escolha de Sean Connery para o papel, o principal. Depois de várias recusas de outros nomes sonantes como Cary Grant, James Mason, Patrick McGoohan, Rex Harrison, entre outros, não foi fácil, já que tanto Albert Broccoli, produtor e Ian Fleming não queriam Connery para o papel e o autor, pouco antes de morrer, em 1964, mesmo depois dos filmes terem feito bons resultados na bilheteira, continuava a não concordar com a escolha do actor. 
Bond,... James Bond
     A história leva-nos, na companhia do agente secreto James Bond, até á Jamaica onde ele tem de investigar a morte de um colega dos Serviços Secretos Britânicos. Rapidamente Bond tropeça num esquema, que envolve o misterioso Dr.No e a sua ilha particular,  para acabar com o programa espacial americano. Teria sido um filme banal, como muitos outros de espionagem, não fossem alguns elementos-chave que ficaram na memória de todos: o tema musical de abertura, composto por Monty Norman em 1954, que fica no ouvido; a apresentação do agente secreto, numa mesa de jogo, a acender um cigarro, com a famosa linha “Bond, James Bond…”; e Honey Rider, a primeira “Bond Girl”, interpretada por uma Ursula Andress, absolutamente sensual a surgir das águas, qual ninfa, a cantarolar e a brincar com um búzio, imagem que retemos muito depois do filme ter acabado. Outros elementos do elenco, que se manterá fixo durante os primeiros filmes, são aqui apresentados: Bernard Lee como “M”, o chefe de Bond, Lois Maxwell como Moneypenny, a eficiente secretária e eterna apaixonada de Bond e também Desmond Llewelyn no papel de “Q”, o chefe da secção de armamento do MI6. 
Ursula Andress, a primeira "Bond Girl"
          O resultado final não poderia ser mais promissor: o filme tinha custado cerca de 1.000.000 de dólares e rendeu mais de cerca de 59.000.000 de dólares de receitas no mundo inteiro.
            Para o filme seguinte, os produtores duplicaram o orçamento e, ao contrário de “Dr.No”, filmaram na europa, principalmente na Turquia, onde se passa a maior parte da acção. “From Russia with Love – 007- Ordem para Matar” foi realizado novamente por Terence Young em 1963 e James Bond vê-se a braços com tentativas de assassinato que envolvem uma funcionária da embaixada russa em Istanbul e uma máquina capaz de descodificar os códigos mais difíceis e que foi roubada pela organização terrorista SPECTRE. Apesar de ser outro filme, muito ambientado na guerra fria, funciona quase como uma continuação do anterior, já que no início, na reunião da SPECTRE, há uma referência ao dr.No ter sido eliminado na Jamaica. 
      Em “007 – Ordem para Matar” , mantém-se a “Bond Girl”  e desta vez o papel coube a Daniela Bianchi, no papel de Tatiana Romanova, a funcionária russa que vai auxiliar James Bond na recuperação do descodificador, mas também viu serem introduzidas algumas alterações que iriam continuar em todos os filmes seguintes: aparece uma sequência pré-genérico que, mais tarde ou mãos cedo, será relacionada com o filme; surge um tema –título cantado durante o genérico, cuja única condição era que fosse baseado no tema principal de Monty Norman. Coube a  Matt Munro, cantor britãnico de Swing,  a honra de estrear esta nova modalidade; o genérico, tal como a canção, passam a estar relacionados com o filme; após o genérico final, passa a constar a seguinte frase “James Bond will return in…” e surgia o título do filme seguinte (quando se acabaram as histórias originais de Ian Fleming, passou apenas a aparecer a frase “James Bond will return”). Sean Connery regressa ao papel que, de resto, interpretará mais quatro vezes antes de abandonar a série. O sucesso, motivado ou não pela introdução destas alterações, não foi alheio e o filme foi outro sucesso de bilheteira.
         1964 viu chegar  aquele que muitos críticos e especialistas de cinema consideram o melhor filme da série. “Goldfinger – 007 contra Goldfinger” realizado  por Guy Hamilton onde o agente secreto de sua Majestade ao investigar os negócios de magnata do ouro, descobre uma conspiração para contaminar todo o ouro de Fort Knox (uma espécie de caixa geral dos depósitos nos Estados Unidos) durante cinquenta anos e assim lançar o caos na economia mundial. O tema- título, que nos associa imediatamente ao filme, cantado pela voz poderosa de Shirley Bassey, é considerado o melhor tema da série.
Além de dotar a personagem de Connery de algum humor que faltara nos filmes anteriores, o filme introduz aquele que será o carro do agente secreto: o Aston Martin DB5 (como Bond fica na posse dele, apenas será revelado em “Casino Royale” de 2006). O filme tem todos os ingredientes para ser, ainda hoje, considerado o melhor Bond de sempre, além de muita acção e a “Bond girl” de serviço  ter um papel preponderante: Honor Blackman, vinda directamente das série televisiva “The Avengers – Os Vingadores” (1962-1964), é Pussy Galore, que desempenha um importante papel na acção, mas é  Gert Froeber, um conhecido actor europeu,  que interpreta Auric Goldfinger, o vilão que faz outros vilões da saga parecerem quase meninos do coro da igreja, que proporciona o mais memorável  diálogo de toda a série: James Bond, preso numa mesa feita de ouro, vê um raio laser cortar o ouro e aproximar-se perigosamente do seu corpo “Goldfinger –diz ele – espera que eu fale?” e Goldfinger, voltando-se para ele,  sorrindo sarcasticamente responde “Não, Sr.Bond, eu espero que morra!” . Mas a cereja no topo do bolo seria o facto de “Goldfinger” ser o primeiro filme da série a ganhar um Oscar da Academia pelos Efeitos Especiais/Efeitos Acústicos. O sucesso do filme, seria porém, ensombrado, pela morte de Ian Fleming, pouco antes da sua estreia.
            Em 1961, “Thunderball”, o oitavo livro da personagem criada por Ian Fleming estava no “top ten” dos livros mais vendidos na Grâ-Bretanha. Albert Broccoli tinha adquirido os direitos e já o quisera adaptar nesse ano, mas preferiu esperar. Em 1965, James Bond já fazia parte da história do cinema e, ao ritmo de um filme por ano, este projecto podia avançar. “Thunderball – 007 Operação Relâmpago” novamente realizado por Terence Young e leva Bond até ás Bahamas para tentar recuperar duas ogivas nucleares roubadas pela SPECTRE para fazer chantagem internacional. Parte do elenco dos filmes anteriores regressa nesta aventura e, como os produtores queriam manter as audiências, principalmente na europa, onde os filmes asseguravam bilheteiras atrás de bilheteiras, escolheram para o papel da Bond girl, Domino, depois de considerarem váras actrizes como Raquel Welch, Julie Christie, Faye Dunaway, entre outras, fixaram-se na bonita e sensual Claudine Auger, ex-miss França no ano anterior. O papel do vilão, Emilio Largo, um exportador frio e calculista, foi para Adolfo Celi, um actor muito prestável a este tipo de papéis e muito famoso em Itália. Com paisagens, subaquáticas e outras, de cortar a respiração e muita acção à mistura, principalmente na luta submarina entre agentes federais e os homens de Largo, “007- Operação Relâmpago” foi o maior êxito de bilheteira da série na altura e voltaria a trazer um Oscar para a série, novamente de Efeitos Especiais.
            O quinto filme da série só veria a luz do dia em 1967. Sean Connery começava a estar farto da personagem, e isso percebe-se facilmente pela sua interpretação. Então Harry Saltzman e Albert Broccoli decidiram que os filmes de James Bond seriam espaçados dois anos, o que permitiria uma produção mais cuidada e evitava a saturação dos actores e também do mercado que, por esta altura, estava inundado de filmes de espiões. Em “You Only live Twice – 007 – Só se Vive duas Vezes”, realizado por Lewis Gilbert, James Bond viaja até ao Japão para, em colaboraçãoo com os Serviços Secretos Japoneses, descobrir quem é que está a roubar foguetes espaciais e tentar impedir uma guerra nuclear. Neste filme James Bond encontra-se frente-a-frente com  Blofeld, o Número 1 da SPECTRE e arqui-inimigo de Bond, aqui interpretado por Donald Pleasence que trabalha a personagem com a frieza necessária tornando-a sinistra.
          Filmado no Japão, onde os filmes anteriores tinham sido muito populares, toda a equipa foi recebida e tratada de um modo exuberante. Foi o primeiro filme da série a sofrer alterações significativas em relação ao livro de Fleming, do qual praticamente, só reteve o título, a “Bond girl” japonesa Kissy Suzuki, a acção localizada no Japão e a aparição de Blofeld, o resto do argumento foi todo inteiramente criado pelo argumentista Roald Dahl, que já tinha visitado o país, pouco antes de começar a produção, anotando locais e localizações possíveis para o filme. Doseando a acção com pequenos aspectos da cultura japonesa (para tentar não perder as audiências asiáticas, outra jogada de mestre dos produtores),“007 – Só se Vive duas Vezes” foi outro sucesso na série. Pouco depois da estreia, Sean Connery anunciava que queria sair da série, alegando querer ir fazer outro género de filmes.
George Lazenby, o segundo actor a interpretar James Bond
            Para substituir Connery, os produtores, que nesta altura não queriam abdicar do franchise que tinham em mãos, começaram a procurar um substituto que estivesse á altura do actor. Entre os vários nomes considerados estava Timothy Dalton, que no entanto recusou por achar que era muito novo para o papel. John Richardson, Hans DeVries, Robert Campbell, Anthony Rogers, foram outros nomes considerados. Eventualmente acabou por ser escolhido George Lazenby, actor Australiano que Broccoli tinha visto num anúncio e achara-o adequado para o papel. 
        “On Her Majesty’s Secret Service – 007- Ao Serviço de Sua Majestade”, apareceu em 1969 e prometia várias alterações: desde logo um novo actor a encarnar a personagem; um novo realizador, Peter Hunt, uma “Bond Girl”, Tracy, que arrebata o coração do agente secreto ao ponto deste se casar com ela (o único momento de alegria que se conhece do agente secreto em toda a série, só para terminar pouco depois em tragédia), interpretada por Diana Rigg, a bonita actriz britânica, também ela vinda da série “The Avengers – Os Vingadores” (1965-1968) e um vilão interpretado por Telly Savallas que, com a sua cabeça completamente careca, o seu ar de psicopata sádico, tornavam-no na melhor escolha para interpretar o vilão de serviço, o que o actor fez com grande pujança, além de trazer para a ribalta  uma aventura totalmente nova, fiel ao livro e ao espírito de Ian Fleming. Desta vez Bond quer apanhar Ernst Stavro Blofeld, que conseguiu escapar do Japão, e para isso tem de viajar até á Suiça  e tentar descobrir o que é que o cabecilha da SPECTRE tem em mente. Filmado maioritariamente europa fora, incluindo algumas sequências relevantes para a acção em Portugal (sequência pré-genérico filmada no Guincho ou sequência final filmada na Ponte Salazar, sobre o Tejo), “007-Ao Serviço de Sua Majestade”, provou ser um bom filme de acção, mas a escolha de Lazenby é que se revelou uma má escolha, apesar de ser o mais parecido com a personagem que o autor apresentara nos romances, a sua interpretação não convenceu ninguém, faltava-lhe o carisma  que Connery pusera na personagem, daí que o público tenha penalizado o filme, deixando-o aquém nas bilheteiras, apesar da tentativa de se manter uma continuidade com os filmes anteriores, quer através de imagens desses filmes apostas durante o genérico, quer através dos acordes de alguns dos temas musicais, como na cena em que Bond está a recolher algumas coisas no seu escritório, ouvem-se alguns acordes dos temas dos filmes anteriores . Terminava assim, com algum desalento, a fugaz passagem de George Lazenby como James Bond.
          Sem protagonista para o próximo filme da série, os produtores resolvem voltar atrás e recuperar a fórmula de “Goldfinger”. O realizador Guy Hamilton foi novamente chamado, assim como o elenco habitual. Depois de várias tentativas de encontrar um actor para o papel, Broccoli e Saltzman conseguem, graças a uma gentil oferta que incluía uma percentagem no lucro total, que Sean Connery regresse ao papel. Com Connery a bordo, “Diamonds are Forever – 007- Os Diamantes são Eternos” viu a luz do dia em 1971. Ajudado por uma traficante de diamantes,  que vive na Holanda, James Bond vai até Las Vegas na pista do tráfico de diamantes onde vai desvendar um esquema de extorsão levado a cabo pelo seu nemesis, Ernst Stavro Blofeld, com quem, de resto, Bond tem umas contas a ajustar.
            Tal como o seu protagonista, o qual não esconde alguma saturação da personagem, “007 – Os Diamantes são Eternos”, demonstra igualmente alguma falta de energia e entusiasmo, o filme não passa duma colagem de cenas filmadas e interpretadas quase como se duma comédia se tratasse, apenas o argumento, escrito por Richard Maibaum e Tom Mankiewicz, consegue ter alguma vontade de levar o filme até ao final, porque no conjunto, não fosse os níveis elevados de produção, ninguém diria que este é um filme de James Bond. Mas nem tudo é fraco neste filme: o tema, interpretado por Shirley Bassey, que aqui fazia a sua segunda participação na série, é extremamente atmosférico e misterioso e a “Bond Girl”,  Jill St.John, é uma traficante bastante sexy. Foi outro sucesso de bilheteira e foi também o bilhete de despedida de Sean Connery da pele da personagem que, apesar do que o actor ainda iria fazer na Sétima Arte, lhe deu o sucesso. Connery regressaria, 12 anos mais tarde, ao personagem de James Bond em “Never say never Again – Nunca mais digas Nunca", remake despreocupado de “Thunderball”, realizado por  Irvin Kershner em 1983.

                                                                                                   (continua)
                                                                                                   
    
Nota: As imagens que ilustram este texto foram retirados da Internet



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