sábado, 30 de junho de 2012

O Exorcista - Quando Ciência e Religião se chocam


    Drácula, Frankenstein, Lobisomens ou até mesmo zombies sempre fizeram parte do cinema. Quase desde os primórdios da sétima arte que o género terror sempre fez parte do imaginário dos espectadores. O que ninguém estava era preparado para o choque que, em 1973, "O Exorcista" provocou em todo o mundo.
    Regan McNeil é uma jovem americana como tantas outras que vive com a mãe depois dos pais se terem separado. A jovem começa a ter comportamentos estranhos que a mãe associa ao facto do pai se ter esquecido do seu aniversário. mas os comportamentos dela tornam-se ainda mais estranhos e bizarros e a mãe resolve consultar os médicos que, após uma série de testes e análises, não conseguem encontrar nenhuma explicação lógica para o que se passa com a jovem. Então alguém adianta a Chris McNeil, a hipótese da filha estar possuída por algum espiríto pelo que a única solução possível será um exorcismo.
    
   Realizado por William Friedkin, que acabou por ser uma escolha do próprio William Peter Blatty, depois de vários outros realizadores como Arthur Penn, Peter Bogdanovich, Mark Rydell ou até Stanley Kubrick, terem sido contactados e terem recusado o projecto. Blatty acabou por se fixar em Friedkin, já que queria neste filme a mesma energia que o realizador pusera em "French  Connection - Os Incorruptíveis contra a Droga" (1971), o seu filme anterior, com o qual ganhou o Óscar de Melhor Realizador, um dos cinco que o filme ganhou, incluindo o de Melhor Filme do Ano.          A sua realização, embora algo  dura, já que utilizou durante a rodagem métodos pouco ortodoxos para com os seus actores (desde agressões verbais até agressões físicas onde chegou ao ponto de esbofetear um actor para obter dele a reacção necessária para conferir o realismo  à cena), é normal nas cenas em que mostra a impotência da ciência em explicar o que se passa com Regan e também como as McNeil (mãe e filha) se relacionam com o Padre Damian Karras, pároco recém colocado, com remorsos devido ao recente falecimento da mãe. Karras é a pessoa a quem Chris recorre quando lhe é apresentada a hipótese de Regan estar possessa por um espírito. Relutante, o padre aceita investigar o que se passa, quando se conclui o que realmente a jovem tem, o padre nada pode fazer pois necessita da supervisão de alguém mais experiente. É então chamado o Padre Lancaster Merrin (Max Von Sydow, no papel mais famoso da sua já longa carreira), que já sobrevivera a um exorcismo. A partir daqui, o trabalho de Friedkin torna-se ainda mais intenso e , fruto de uma montagem engenhosa e avançada para a época, competente e inventivo na famosa sequência do exorcismo.
    O argumento de William Peter Blatty é supostamente baseado numa história verídica,ocorrida em 1949 na cidade de Cottage no estado de Maryland, com um jovem de nome Roland Doe ,está cheio de contrastes de ciência versus religião, o que torna a história e posteriormente o filme ainda mais interessante.
     Para um filme desta dimensão quase aterradora, Friedkin necessitava duma banda sonora adequada. Inicialmente rejeitou a música de Lalo Schifrin , que misturava os locais onde a acção se passa com sons estranhos, por a considerar demasiado aterradora para o público. Acabou por usar temas clássicos modernos, alguma música original de Jack Nitzche e incluir um excerto do inicio de "Tubular Bells" de Mike Oldfield, que tinha sido lançado meses antes da estreia do filme. Esta última escolha do realizador provou ser acertada já que as cenas em que o tema se ouve dão ao filme uma aura de algo sobrenatural tal é a subtileza com que o tema foi incluído e tornou a música extremamente conhecida. 
   Quando estreou em 1973, "O Exorcista" provocou uma onda de choque e horror entre os espectadores que assistiam ao filme. O realismo era tal que havia ambulãncias e equipas médicas a postos nos cinemas prontas a dar assistência a quem dela necessitasse.
   
     O filme foi um grande sucesso de bilheteira em todo o mundo, foi nomeado para dez Óscares da Academia,incluindo Melhor Filme do Ano, tendo sido o primeiro filme de terror da história do cinema a ser nomeado nesta categoria, vencendo apenas dois nas categorias de Melhor Som e Melhor Argumento Adaptado. 
   Como não podia deixar de ser, o sucesso do filme daria origem a duas sequelas (numa altura em que o termo ainda não se usava) e outras tantas prequelas: quanto ás primeiras, "Exorcista II - O Herege" (John Boorman,1977) é francamente mau e habitualmente ignorado quando se fala desta série;  já "Exorcist III - Exorcista III" (William Peter Blatty, 1990), é diferente: ignora o segundo filme e continua a história, anos depois, segue outro caminho mas sem nunca perder de vista personagens e situações que nos reportam para o primeiro filme, é muito interessante mas, inexplicavelmente, não conseguiu convencer o público. 
   Quanto às segundas, já a história é outra: foram feitos dois filmes para contar a história de como tudo começou sendo que a produção não gostou de um dos filmes, despediu o realizador e contratou outro para contar a mesma história. O resultado final foram dois filmes: "Exorcista: O Princípio"(Renny Harlin, 2004) que foi o segundo filme a ser feito e é muito mau, para não dizer ridículo!; o outro é "Dominion: a Prequel to the Exorcist" (Paul Schrader, 2004) e é superior ao seu sucessor.
   Lamentavelmente nenhum, se exceptuarmos "Exorcist III", se aproximou da qualidade do primeiro, principalmente no tocante a cenas marcantes como a cena da rotação da cabeça a 360 graus; ou a cena em que Regan se auto-viola com um crucifixo.
   O original é o melhor de todos e ficou como uma referência do género e um filme marcante para tudo aquilo que se fez posteriormente. 
  Em 2000, foi lançada uma edição intitulada "Director's Cut - A versão que você nunca viu", onde constam mais 11 minutos de cenas inéditas que apenas completam o que já se conhecia, mostram mais uma ou duas cenas de Regan já possuída pelo demónio, incluindo uma cena em que ela desce uma escada  como uma aranha e um final diferente  em que, na última cena, já depois da familia McNeil ter partido, o padre Dyer e o Tenente Kinderman conversam enquanto se afastam da casa que é vista no último plano e onde se vê uma espécie de "presença" a deslocar-se no quarto de Reagan a indicar-nos que a casa ainda não estava limpa, abrindo então caminho para uma possível continuação...
     Ao longo dos anos a importância de "O Exorcista" cresceu consideravelmente e influenciou um manancial de imitações, mas também inspirou muitos filmes de qualidade, incluindo "O Silêncio dos Inocentes" (Jonathan Demme, 1991) que levaria para casa cinco Oscares, incluindo o de Melhor Filme do Ano, tornando-se no primeiro filme de terror a levar este prémio para casa e seria um dos três únicos filmes da história do cinema (até ao momento) a levar para casa os cinco prémios principais da academia: Filme, Realizador, Actor, Actriz e Argumento. 
            Em 2008, "O Exorcista" foi considerado um dos 11  mais assustadores filmes de sempre e a revista cinematográfica "Empire" considerou-o um dos 500 melhores filmes de sempre. Seja qual for a versão que se veja, "O Exorcista" continua a ser uma referência obrigatória do cinema e do género em particular.

Nota: As imagens e vídeos que ilustram este texto foram retiradas da Internet





  

1 comentário:

  1. É de facto curioso, porque O Exorcista é um filme que até nem tem muitas cenas ditas gore e consegue ainda hoje, sobretudo pela ambiência que cria, tornar-se numa obra verdadeiramente assustadora. Esse é um trunfo que provavelmente nenhuma das sequelas que foram feitas (se exceptuarmos o terceiro filme da autoria do próprio William Peter Blatty) conseguiram fazer funcionar.

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