domingo, 13 de maio de 2012

O Mundo do Rio - Viagem a um Mundo sem Morte




                  Philip José Farmer (1918-2009) foi um escritor americano de histórias de fantasia e ficção científica. Nasceu em Terre Haute, no Indiana, mas viveu quase toda a sua vida em Peoria, no Illinois. Leitor ávido desde jovem, Farmer  decidiu ser escritor no quarto ano. Depois da  IIª Guerra Mundial, onde foi piloto, continuou os seus estudos enquanto trabalhava na fábrica de aço local. Em 1950 tornou-se Bacharel em Inglês pela Universidade de Bradley. Ganhou o seu primeiro prémio Hugo (Oscar da literatura de ficção científica) com a novela “The Lovers – Os Amantes”  em 1953.
            Autor de novelas e contos,  ficou conhecido por ter escrito várias novelas em sequência, principalmente “The World of Tiers” (1965-93), “Riverworld” (1971-83) ou “Dayworld” (1985-1990). Foi também pioneiro na introdução dos temas da sexualidade e de religião no seu trabalho. Fascinado pelos chamados “Heróis dos Romances  de Cordel” , Farmer  pegava nas temáticas de alguns desses romances,  reescrevia-as  utilizando personagens fictícias. Foi, no entanto, em 1971, com “To Your Scattered Bodies Go”,  que recebeu outro prémio Hugo e que definitivamente o lançou. Era o começo de  “Riverworld – O Mundo do Rio”,  a sua obra mais famosa e uma das melhores séries literárias da ficção científica.
        A Terra, tal como a conhecemos , deixou de existir, foi destruída por uma força alienígena. Os 36 mil milhões de habitantes, que existiram ao longo da sua história, são transferidos para um planeta algures no universo e ressuscitados,  todos com 25 anos de idade, ao longo das margens dum rio. Neste mundo, onde quando se morre, ressuscita-se noutro local qualquer, cuja vida se parece centrar no rio que aparentemente se estende por todo o planeta,  é dada à humanidade uma segunda oportunidade de se redimir dos erros cometidos na terra. Seguimos então as aventuras de personagens tão diversos como Richard Francis Burton, o famoso explorador inglês do século XIX, Peter Jairus Frigate (personagem fictícia que o autor criou utilizando as suas próprias iniciais para assim se introduzir na acção)  Herman Goering, o delfim de Hitler, Samuel Clemens, o escritor norte-americano, autor de Mark Twain ou Cyrano de Bergerac, o famoso espadachim francês do século XVII,  em busca da torre negra,  situada no  Mar do Pólo Norte , local onde aparentemente termina o rio,  assim como encontrar as  respostas ao mistério daquela ressurreição.
                  A  série é constituída por cinco volumes:“To Your Scatered Bodies Go – Mundo sem Morte” (1971), “The Fabulous Riverboat – Viagem para Além da Morte” (1971), “The Dark Design – O Desígnio Negro” (1977), “The Magic Labyrinth – O Labirinto Mágico” (1980), “Gods of Riverworld – Regresso ao Mundo do Rio” (1983), que constituem o fluxo central de toda a série e o livro de contos: “Riverworld and Other Stories “ (1979), que, apesar de não fazer parte da trama inicial, inclui histórias que se relacionam com situações e personagens que aparecem. Toda a série explora as interrelações entre indivíduos de muitas culturas e de diferentes períodos da história
Escrita em 1952, a história original de “O Mundo do Rio” intitulava-se “Owe for the Flesh” ("Deves a Carne", literalmente traduzida, esta frase constitui uma espécie de pesadelo para Richard Francis Burton e surge-lhe em sonhos inúmeras vezes ao longo de toda a série), mas nunca foi publicada.  Anos mais tarde, Farmer, reescreveu o texto, dividiu-o em duas partes , lançou-o nas revistas de ficção científica “Worlds of Tomorrow” e “If”  entre 1965 e 1967. Finalmente em 1971 publica os dois primeiros volumes da série…e o resto foi  história!
A história de “O Mundo do Rio” começa com a ressurreição de toda a população do planeta terra, ou seja desde o primeiro “Homo Sapiens” até ao inicio do século XXI . Inicialmente, a ideia de Farmer era terminar as ressurreições no ano de 1983, já que, na altura em que os primeiros livros foram publicados, ainda era uma data especulativa . Posteriormente o autor estendeu a existência do planeta  até 2008 e aqui encontramos duas fortes possibilidades para esta decisão: a primeira é que nesta data grande parte da humanidade teria sido exterminada depois dum  catastrófico primeiro encontro com uma expedição  duma civilização alienígena  que estava de visita á terra (na ficção claro!); a segunda é meramente especulativa e tem a ver com o facto de o autor achar que não viveria além do ano de 2008 e assim marcar a diferença.  No prefácio de “O Desígnio Negro”, o autor escreveu "...espero terminar a série, do volume I até ao V, antes que chegue o meu tempo de me estender  e repousar enquanto aguardo a vez de entrar no fabuloso Barco do Rio..." (na verdade, Farmer  faleceu em 2009!).
Inicialmente a razão da existência de “O Mundo do Rio”  é um completo mistério e assim se mantém ao longo dos três primeiros volumes. Num mundo em que não existe qualquer tecnologia e onde os únicos materiais disponíveis são bambu, madeira e ossos de peixe, a humanidade vê-se assim reduzida a uma existência numa espécie de paleolítico e tem que aprender a sobreviver assim.  Com montanhas intransponíveis, as únicas possibilidades que existem de exploração são rio acima ou rio abaixo. Mas mesmo viajar ao longo daquele mundo pode ser uma missão arriscada, já que rapidamente começam a florescer milhares de pequenos reinos , impérios , monarquias, repúblicas e todo o tipo de sistemas sociais alguma vez inventados  e quem os comanda tem ideias diferentes entre si.
Nos livros da série, a maneira como Farmer coloca personagens históricas a interagir com as personagens fictícias  na procura das razões que presidiram  à criação daquele mundo e da ressurreição da humanidade, é verdadeiramente espectacular já que permite não só que o leitor faça os seus julgamentos em relação a cada personagem, como faz com que algumas dessas personagens sofram verdadeiras transformações em relação à sua vida anterior na terra, o que acontece, sensivelmente , a partir do terceiro volume, quando o mistério se adensa  e se descobre quais as verdadeiras intenções de quem está por detrás da criação daquele mundo.
Claro que uma série destas , com uma ideia tão original como esta, não poderia passar despercebida no universo da literatura de ficção cientifica e também na televisão: No primeiro caso surgiu, em 1992, o livro de contos  “Tales of Riverworld “ que além de conter alguns contos ainda escritos por Farmer, tem  outras histórias, escritas por diversos autores, igualmente situadas no universo de “O Mundo do Rio”, e em 1993 surgiu "Quest to Riverworld", outra antologia que contém dois contos de Philip José Farmer.
A televisão tentou, em 2001, fazer uma série baseada em “ O Mundo do Rio” mas ficou-se apenas pelo episódio-piloto, baseado em “ Mundo sem Morte” e “Viagem para Além da Morte” , com algumas alterações de fundo em relação aos livros. O herói é um astronauta americano e o vilão, em vez de ser o Príncipe João de Inglaterra, é Nero, o imperador Romano. 

Em 2010 outra tentativa de produzir uma nova adaptação de  “O Mundo do Rio”, mas desta vez apenas  como um filme de televisão dividido em duas partes e aqui novamente alterações de fundo, com um jornalista de televisão a ser o protagonista e Richard Burton transformado no vilão de serviço.  
Em minha opinião, nenhuma das adaptações faz justiça aos textos de Farmer  e entendo que uma série desta envergadura deveria ter um tratamento bem mais dignificante do que aquele que lhe tem sido dado.

Nota: Todas as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet

2 comentários:

  1. Essa série de livros é uma das que indiscutivelmente me marcou e concordo contigo, no sentido em que ainda não houve nenhuma adaptação que lhe fizesse justiça. Tenho pena, pois o material que está transposto nos livros daria uma fabulosa série. Um abraço.

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  2. Estou a reler esta serie fantástica que, estranhamente e numa época em que as séries e a scifi cativam grande parte das audiências mundiais de TV, nunca mereceu o tratamento que merece por parte das grandes cadeias tipo HBO, STARZ, etc. Pena que assim seja já que se trata de uma boa base para uma série que seria, também ela, fantástica.

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