sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Amadeus - Genialidade Absoluta!

                                        
                                                     

      Poucos são os filmes que contam uma história fictícia sobre uma personagem real e conseguem chegar ao público, à critíca e obter um enorme sucesso. "Amadeus" foi um desses filmes.
Viena de Aústria, 1823, Antoni Salieri ex-compositor da corte do rei Joseph II, é internado num hospital para doentes mentais após uma tentativa de suicídio. No dia seguinte um padre vem visitá-lo e ouvir a sua confissão no que respeita ao facto de Salieri dizer que matou Mozart um dos maiores compositores de sempre. Terá sido mesmo assim?

Milos Forman 
     Vagamente inspirada em "Mozart e Salieri" de Aleksandr Pushkin, transformada em Ópera por Nikolai Rimsky-Korsakov, que Peter Shaffer viu e onde se inspirou para fazer a peça de teatro que serviria de base ao filme. Utilizando uma significativa parte de música de Mozart e também de Antonio Salieri, além de outros compositores da época, "Amadeus" resulta numa experiência cinematográfica única.
   
Realizado por Milos Forman que já nos dera uma obra-prima de estudo do comportamento humano chamada "Voando sobre um Ninho de Cucos" (1975), uma "trip" de drogas e protestos contra o envolvimento americano no Vietname com "Hair"(1979), ou o mal apreciado "period piece" chamado "Ragtime" (1981). Se "Voando sobre um ninho de Cucos" foi rápidamente considerado uma obra-prima, por ser um dos únicos três filmes em toda a história do cinema a vencer os cinco óscares principais (filme, realizador, actor, actriz e argumento), "Amadeus" não tardaria a seguir-lhe as pisadas no que respeita à classificação de obra-prima, porque o filme é isso mesmo. O trabalho de Forman é simplesmente brilhante. Não hà, no filme, uma cena, um fotograma, uma interpretação que esteja fora do contexto. 
      As cenas das Óperas estão brilhantemente encenadas, com destaque para "Don Giovanni", onde toda a genialidade da realização de Forman, aliada à música de Mozart, vem ao de cima, estão feitas de modo a que o espectador se sinta transportado para a época e quando assim é, pouco ou nada mais há a dizer. Devemos apenas sentar e deixarmo-nos envolver nesta experiência.
    Sendo baseado numa peça de teatro, o filme teria que ter pelo menos um actor com experiência de palco. Tom Hulce, actor que chamara a atenção de Peter Shaffer ao interpretar um dos papéis da sua peça "Equus" (1977), foi escolhido pelo próprio para interpretar o papel de Mozart e fá-lo com grande convicção. Ao ler-se uma biografia de Mozart, não conseguimos dissociar Hulce daquela personagem irrequieta, um pouco louca, mas genial. O próprio actor também o não conseguiu porque toda a sua carreira no cinema acabou reduzida àquela personagem. 

O invejoso Antonio Salieri
    Já Antonio Salieri de F.Murray Abraham é outra conversa. O actor é a personagem e a interpretação, aliás muito justamente premiada com o Oscar de Melhor Actor, percorre todo o filme. A sua transformação progressiva desde a curiosidade que move o então Compositor da Corte em querer conhecer o jovem talentoso Mozart, até ao velho amargurado, louco, que, no final do filme, abençoa todos os alienados do hospital, passando pelo ser humano que, corroído pela inveja, declara Deus como seu inimigo por ter dado tanto talento aquela "criatura"(como ele próprio chama Mozart), quando ele (Salieri) apenas desejava servir Deus através da sua música, e que o leva a planear o assassinato do compositor, é verdadeiramente assombrosa, inesquecível mesmo. Ofusca em alguns momentos o próprio Wolfgang Amadeus Mozart, perpetuamente assolado por gargalhadas, e o seu actor. O melhor papel de F.Murray Abraham na sua considerávelmente longa carreira onde nos lembramos também do Inquisidor-Chefe Bernardo Gui de "O Nome da Rosa" (Jean-Jacques Annaud, 1986).

     Filme cheio de cenários opulentos e pormenores históricos que atestam o grande cuidado posto na direcção artística,  grandes interpretações e de cenas inesquecíveis como aquela em que Mozart aparece a primeira vez ante o olhar reprovador de Salieri; Ou aquela em que Mozart toca a sua versão da marcha de boas-vindas composta por Salieri, reduzindo-a  uma insignificante peça musical repetitiva; A magnifica cena em que Salieri, cheio de inveja, atira um crucifixo para a lareira declarando a Deus "A partir de agora Tu e eu somos inimigos!"; a já citada cena final em que salieri abençoa todos os alienados; inesquecível é também todo o terço final do filme ao som do Requiem a culminar no enterro em vala comum do compositor, "Amadeus" entrou assim na galeria das obras-primas do cinema pela porta da frente. Pena é que o seu realizador nunca mais esteve ao nível desta obra, parecendo ter entrado numa espiral descendente, excepção feita a "Valmont" (1989), outra "period piece".
    Nomeado para onze Óscares, "Amadeus" ganhou oito incluindo o de Melhor Filme e Melhor Realizador e nesse ano ganhou prácticamente tudo aquilo que havia para ganhar em termos de festivais de cinema um pouco por todo o mundo.
    Não se consegue ficar indiferente perante um filme destes. É um filme intemporal e cada vez mais referenciado e, tal como a música de Mozart, permanecerá como objecto de culto.
Genial.


Nota: As imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da Internet

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