sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mystic River - Clint Eastwood não sabe fazer maus filmes!

   Três jovens brincam e jogam hóquei na rua, escrevem os seus nomes no cimento fresco. Surge um carro com dois homens que se fazem passar por polícias. Um dos jovens é raptado e sujeito a abusos sexuais. Consegue escapar mas nunca mais volta a ser o mesmo.Vinte e cinco anos depois, os três voltam a encontrar-se.  É assim que começa "Mystic River", thriller poderoso e violento, realizado por Clint Eastwood.
    Mais de 50 anos de carreira, 40 dos quais como realizador, 4 Óscares da Academia, outras tantas nomeações como Actor, produtor e realizador, inúmeros prémios internacionais, servem de apresentação a este verdadeiro ícone do cinema americano.
Clint Eastwood

     Para trás ficam além da "Trilogia dos Dólares", onde interpreta o homem sem nome e "Dirty Harry", onde dá corpo a um inspector da polícia com métodos muito pouco ortodoxos. Entre esses filmes e este "Mystic River", surgem dois títulos que sobressaem na sua longa filmografia, são eles "Bird" uma biografia sobre Charlie Parker, músico de jazz ( músico e género de quem Eastwood se considera um confesso fân) e "Imperdoável", o último grande western feito no cinema. Sobre o primeiro, trata-se de uma obra-prima em que o tempo e a Europa (continente em que o o actor-realizador tem grande aceitação) se encarregaram de elevar a tal patamar. Sobre "Imperdoável" pouco ou nada hà a dizer, pois os prémios que ganhou, encarregaram-se de o transformar numa obra-prima.
      Em relação a "Mystic River" trata-se de um soberbo Thriller com excelentes interpretações, personagens fortes como Eastwood não exibia desde o Inspector Harry Callahan ( "Dirty" Harry para os amigos!),  não só dos actores premiados, como de todo o elenco secundário, particularmente Marcia Gay Harden como a amargurada Celeste Boyle que acredita que o seu marido está envolvido em algo muito mau, dividida entre acreditar no seu marido ou denunciá-lo ás autoridades, enquanto tenta viver com isso  e Laura Linney, como Annabeth  Markum, esposa apaixonada, cuja transformaçao durante a  conversa final com o marido, depois de consumados os actos, onde ela o abraça e reafirma a sua fidelidade aos princípios dele e apoiá-lo em todos os seus actos, é muito mais do que um diálogo, é um exercicio lírico para a posteridade.  
    O destaque vai, claro, para a interpretação de Sean Penn como Jimmy Markum, vencedor do Oscar de Melhor Actor, pode dizer-se que é ele que carrega o peso do filme aos ombros e fá-lo da melhor maneira possível; veja-se a maravilhosa cena em que ele percebe que o corpo descoberto é, nada mais, nada menos que o de sua filha, dá largas à sua dor, captada de modo absolutamente brilhante por um plano de camera vertical que se vai afastando e, no mesmo plano, focar o corpo dela,de um modo, que se pode dizer, quase cruel,  só e abandonado numa jaula. Kevin Bacon é Sean Devlin, o policia encarregue de resolver o caso do assassinato de Katie. Funciona como uma espécie de intermediário entre as duas partes da verdade e não sabe em quem deve acreditar, é o elemento apaziguador do trio central. A interpretação do actor, não sendo tão brilhante como dos dois principais, não deixa, no entanto, de ser interessante e uma das melhores da sua carreira.    
  Tim Robbins, também vencedor de Oscar para Melhor Actor Secundário, é  Dave Boyle, um homem ensombrado por um acontecimento, na sua juventude, que o marcou e do qual nunca recuperou totalmente, tem uma prestação muito acima da média, principalmente na cena em que se confronta com Jimmy e os irmãos Savage, a sua expressão, o seu olhar é de alguém que anseia libertar-se dum passado ao qual ficou preso uma vida inteira, está disposto a aceitar algo como uma redenção á sua vida, à sua fatalidade. É uma interpretação poderosa, brilhante mesmo, quase ao nível  de Sean Penn. Aliás desde "Ben-Hur" (William Wyler, 1959) que dois actores dum mesmo filme não eram premiados pela Academia. "Mystic River" acaba por ser um filme baseado nas interpretações de todo um elenco, e não em efeitos especiais, tiros, perseguições automóveis e é, na minha opinião, uma das grandes obras do cinema contemporâneo.
   A Realização de Clint Eastwood é excelente, ele não deixa os seus créditos por mãos alheias e praticamente todas as técnicas de realização, todos os truques de como contar uma história sem nunca distrair o espectador com pormenores de somenos importância, aqui o argumento, negro e sombrio, de Brian Helgeland é perfeito, estão presentes na medida certa numa obra que nos deixa em suspense, desde as primeiras imagens, de inocência (crianças a brincar numa rua sem saberem o que as espera), passando pelo desejo de vingança de Jimmy pela morte de sua filha, até ás imagens finais dos nomes escritos no cimento e a camera, num belo plano sobre o rio, parece mergulhar nele como que a querer livrar-se e lavar-se dos pecados cometidos, como diz Jimmy perto do final, ao longo do filme, tornam esta obra perturbante, intensa e avassaladora. 
Uma verdadeira obra-prima!


Nota: As imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da Internet



















2 comentários:

  1. Tem também o "Gran Torino", de 2008. Uma Obra prima tal como o "Mystic River", "Bird" e "Imperdoável".
    (Este comentário foi feito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.)

    ResponderEliminar

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...