segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Padrinho - Parte III, Uma Saga Completa III




                                                           
    
     Quando nada o fazia prever...eis que 16 anos depois de "O Padrinho Parte II", surge a terceira parte daquele que já era um diptíco incontornável na história do cinema...16 anos depois de um dos mais belos planos de solidão de um ser humano (Michael Corleone sentado numa cadeira no meio de um silêncio total), ficamos a saber qual vai ser o destino da familia Corleone. Mas este não foi um parto fácil. No tempo que passou, a ideia de um terceiro capítulo esteve sempre  presente na mente dos cabecilhas dos estúdios da Paramount e várias foram as tentativas de fazer Coppola regressar ao tema e este resistiu sempre. Mesmo antes do seu regresso, todo o processo de criação foi tortuoso e sofreu inúmeros reveses.
       A ideia tomou forma em Julho de 1977 com uma ideia delineada por Michael Eisner, na altura um dos administradores da Paramount, apresentou um primeiro rascunho que rapidamente foi arquivado. O mesmo aconteceu com outro rascunho, escrito por Mario Puzo e Charles Bludhorn, outro administrador da Paramount, em 1978.                       

Um ano depois, Dean Riesner apresentou um argumento em que a familia Corleone, uma outra familia da Mafia e a CIA estavam em conflito aberto. Não houve qualquer desenvolvimento até 1985 quando Nicholas Gage, produtor e argumentista, reescreveu o argumento de modo a situá-lo na década de 70 com Michael a tentar legalizar o negócio da familía. Novamente a ideia presente no filme anterior ganhava aqui uma forma mais actual e tornava possível  o tão ansiado novo capítulo na saga. Então, em 1986, foi pedido a Mario Puzo que escrevesse outro rascunho utilizando as ideias de Gage, o que o escritor fez.
Até 1987, nada menos que quatro rascunhos foram apresentados. Os dois  primeiros, focavam a sua atenção mais na década de 30 do que no presente. Por serem semelhantes ao argumento de "O Padrinho - Parte II" foram recusados. O terceiro, fazia o contrário dos dois primeiros e também foi recusado. Finalmente, em Março de 1987, um quarto rascunho foi apresentado e aceite (não diferia muito do terceiro mas, segundo o estúdio, era bem melhor!).
   No outono de 1988, Frank Mancuso, na altura administrador da Paramount,mandou chamar Francis "Ford" Coppola para conversarem sobra a possibilidade deste realizar o terceiro capítulo de "O Padrinho". Os seus últimos filmes não tinha tido o tão esperado sucesso que o realizador almejava. O seu último sucesso tinha sido "Peggy Sue got Married - Peggy Sue Casou-se" em 1986 e ele precisava dum grande sucesso. Coppola aceitou fazer o filme mas impôs condições para voltar. Uma delas era que o filme se chamasse "Mario Puzo's the Death of Michael Corleone". O estúdio recusou a ideia dizendo que o título era dúbio e  considerava-o muito sombrio e negativo, preferindo o título de "Godfather - Part III" que Coppola eventualmente aceitou mesmo considerando que a saga era constituída apenas por dois filmes e que o terceiro deveria ser considerado como um epílogo que fechava a história num círculo perfeito. Durante alguns anos, Mario Puzo acalentou a ideia de um quarto filme cuja acção se situaria no início do reinado de Don Vito Corleone, mas que a sua morte, ocorrida em 1999, não deixou ver a luz do dia.
    Finalmente a 27 de Novembro de 1989 começou a rodagem de "O Padrinho - Parte III" e que iria durar até Maio de 1990, num total de 125 dias, dividindo-se entre Atlanta, Nova York, os estúdios da Cineccitá em Roma (onde Fellini rodou a maior parte dos seus filmes) e Palermo. A rodagem decorreu  sem sobressaltos, ao contrário do que acontecera com o primeiro filme. O resto do ano, como acontecera com os filmes anteriores, foi passado na sala de montagem para que o filme estreasse a tempo de se apresentar para a cerimónia dos Oscares.
     Passaram-se quase 20 anos desde que Michael Corleone iniciou a tentativa de legitimar a sua familia mas os tempos são dificeis e as adversidades mais que muitas. Mesmo não querendo, ele vai ser de novo arrastado para a voragem da violência.
   Tal como nos filmes anteriores, e para dar a ideia de continuidade, vê-se um écran escuro, surge o título "The Godfather, Part III"(embora na edição do DVD com o restauro de Coppola lançada em 2008, o inicio seja ligeiramente diferente), depois o filme abre com a última cena de "O Padrinho - Parte II", onde se vê Michael no meio da sua solidão, em seguida vemos imagens, da propriedade da familia Corleone  em estado de completo abandono, que se dissolvem umas nas outras sob um céu escuro vê-se a silhueta da estátua da Virgem Maria, tudo isto ao som do famoso tema de "O Padrinho" e sobre este ouve-se a voz rouca, idosa, de Michael a falar...só depois é que percebemos que ele está a escrever uma carta aos seus filhos.
    Algumas partes do filme do filme são baseadas em acontecimentos verídicos tais como o final do reinado do Papa Paulo VI ou o colapso do Banco Ambrosiano, escândalo que assolou a Cidade do Vaticano em 1982.  Mas o mais assustadoramente próximo da realidade histórica é a eleição do Cardeal Lamberto (grande interpretação, embora secundária, de Raf Vallone, principalmente na cena em que escuta a confissão de Michael)  como Papa João Paulo I, que sucedeu a Paulo VI, e que é encontrado morto pouco mais de um mês depois da sua eleição. O mesmo aconteceu na realidade com o verdadeiro Papa João Paulo I, que reinou apenas 33 dias antes de ser encontrado morto nos seus aposentos. Por vezes a ficção tem bases assustadoramente reais...
A Fotografia da "Famiglia" Corleone
    Quase todo o elenco das duas partes anteriores regressa, excepção feita a Robert Duvall que recusou retomar o seu papel de Tom Hagen a não ser que fosse pago de igual modo que  Al Pacino e Diane Keaton, o que lhe foi recusado pelos produtores, então os argumentos, para explicar a sua ausência, inventaram a sua morte e substituíram-no por um discreto mas competente George Hamilton no papel do novo "Consigliere" da familia Corleone, B.J. Harrison. Aos repetentes juntam-se os nomes de Andy Garcia, como Vincent Mancini, filho bastardo de Sonny e protegido pela tia Connie (Talia Shire, no seu melhor papel), Joe Mantegna, como Joe Zaza, um dos inimigos da família Corleone, Bridget Fonda, como Grace Hamilton, jornalista apaixonada por Vincent, Eli Wallach, veterano actor que aqui faz o papel de Don Altobello, o padrinho de Connie, entre outros.
    Mas o filme pertence todo a Al Pacino. A sua interpretação é, talvez, a melhor da sua já longa carreira. Ou será que alguém consegue ficar indiferente à cena perto do final em que Michael vê a filha morrer nos seus braços, a sua expressão, o grito, que embora não se ouça, um achado brilhante do realizador, retrata toda a dor de um pai que quase não conheceu os seus filhos; inesquecível!
Sofia Coppola
    Mas todas as obras-primas têm o seu senão. Aqui, ela chama-se Sofia Coppola. Para interpretar  Mary Corleone, Coppola precisava de  alguém que estivesse à altura do papel que é, nem mais, nem menos, o segundo mais importante do filme e ela não estava, claramente, nem à altura, nem à vontade no papel. Inicialmente várias actrizes foram considerados para o papel de Mary Corleone. Nomes como Uma Thurman, Madeleine Stowe, Diane Lane (quase uma veterana na obra do realizador),  Mary Stuart Masterson, Jennifer Grey, Molly Ringwald, até Julia Roberts, fizeram testes, mas por uma ou outra razão, não ficaram com o papel. A primeira escolha acabou por ser Wynona Ryder, mas, pouco antes do inicio da rodagem, a actriz alegou um enorme cansaço psicológico e desistiu. Entrou em cena Madonna que queria interpretar o papel, mas Coppola achou que ela era velha de mais para interpretar uma rapariga de pouco mais de vinte anos. Com o calendário da rodagem a apertar, o realizador virou-se para a sua filha, Sofia, que no ano anterior colaborara com ele no argumento de um  dos segmentos de "New York Stories- Histórias de Nova York", um filme a três mãos e, de resto, já participara no primeiro filme da saga (é o bebé que é baptizado no filme). A sua muita criticada interpretação resultou numa troca de impressões menos agradável entre o realizador e a imprensa e que prejudicou grandemente o filme quando estreou.
O génio por detrás da trilogia
     O filme é fabuloso, com uma realização magnifica, um argumento sólido e um trabalho de montagem absolutamente estonteante principalmente na sequência da òpera montada em paralelo com a eliminação dos adversários de Michael, a fazer lembrar o primeiro filme na sequência do ajuste de contas e do baptizado. Mas Coppola é um mestre na arte de fazer cinema e demonstra-o uma vez mais na cena final do filme em que vemos Michael, muito velho, sentado numa cadeira, a pensar nas mulheres da sua vida e vêmo-lo em fases distintas da sua vida: primeiro na Sicília (Apollonia), depois no Nevada (Kay) e por fim em Nova York (Mary), e, num plano de camera afastado, vemo-lo cair da cadeira e morrer, tal como o seu pai, Don Vito e sózinho como sempre vivera.
   Nomeado para sete Oscares da Academia, incluindo Melhor Filme e Melhor realizador, "O Padrinho - Parte III", ficou-se por aí mesmo, sendo  derrotado por "Danças com Lobos", realizado por  Kevin Costner, embora se ache que o filme ter ficado a zero no tocante a prémios, tenha sido um bocado exagerado porque existem cenas no filme que são de  brilhantismo cinematográfico puro.
      Assombrado pelo peso dos dois filmes anteriores, "O Padrinho Parte III", ressente-se disso em termos de temática e de estilo, acabando por não ser tão brilhante em termos técnicos como os dois primeiros filmes, não deixa, no entanto, de ser uma obra importante no cinema, um triunfo para o realizador, um epílogo, como Coppola gosta de dizer, da mais famosa trilogia sobre a Mafia  da história da sétima arte...depois disto, os filmes de gangsters nunca mais foram a mesma coisa!!
 

Nota: As imagens e vídeos que ilustram o texto foram retirados da Internet

domingo, 14 de agosto de 2011

O Padrinho - Parte II, Uma Saga Completa II

 
                                                   

   


     Tal como em "O Padrinho", o inicio desta segunda parte começa com um écran escuro e depois vemos a última cena do primeiro filme na qual se vê  Michael Corleone  e alguns dos seus  mais próximos que o felicitam, beijando-lhe a mão e ajoelhando-se num gesto de deferência para com o "Novo Padrinho" indicando ao espectador que esta  é uma continuaçao directa do primeiro filme e que devem ser vistos como um todo, antes de surgir o titulo do filme "The Godfather Part II". Coppola disse que este foi o primeiro filme a conter no seu título a indicação de "Parte II", apesar da oposição dos chefes do estúdio que estavam reluctantes em relação ao  filme se chamar "O Padrinho - Parte II", alegavam que o público acharia que, uma vez que já tinham visto "O Padrinho", não faria sentido acrescentar fosse o que fosse ao filme original. O sucesso, sem precedentes e em todos os aspectos, que "O Padrinho - Parte II"  iria alcançar, provaria o contrário e viria a estabelecer a tradição de em Hollywood se fazerem continuações de quase todos os tipos de filmes de sucesso ( O termo sequela só surgiria lá mais para a frente, no início da década de 80.
   A principio Francis F.Coppola não queria fazer este filme. Depois de todos os problemas de produção com o primeiro filme, ele não estava muito interessado em voltar ao tema. Queria aproveitar o sucesso que o primeiro filme obtivera e regressar aos seus projectos pessoais que tinham preenchido a primeira metade da sua carreira. Antes de embarcar novamente neste projecto ambicioso, Coppola fez uma pequena obra-prima pessoal chamada "The Conversation" ( O Vigilante, 1974) sobre o mundo das escutas e até que ponto este influencia cada ser humano. Apresentado em Cannes, venceu a Palma de Ouro e colocou o realizador novamente na rota dos grandes estúdios.
     Robert Evans, chefe de  produção da Paramount, ofereceu a Coppola um milhão de dólares para ele realizar a continuação, Coppola recusou e sugeriu o nome de Martin Scorsese para o fazer. Mas a produção queria Coppola e, juntamente com Al Pacino, que foi decisivo nas negociações entre realizador e estúdio, pois foi quem o convenceu a regressar ao projecto, fizeram "uma proposta irrecusável" ao realizador e este ditou as suas condições: estas incluíam a não interferência do estúdio na feitura do argumento, na escolha do elenco e uma liberdade criativa completa em todos os outros aspectos da produção do filme (a manutenção do título foi uma delas). O estúdio aceitou sem grandes discussões e Coppola aceitou fazer o filme.  Em boa hora isso aconteceu porque o resultado ultrapassou as expectativas.
Vito Corleone em Nova York, 1920
    Com luz verde da produção, a rodagem teve inicio a 1 de Outubro de 1973, terminando a 19 de Junho de 1974. Coppola dá largas ao seu génio criativo. Escrevendo o argumento novamente  com a  ajuda de Mario Puzo, "Padrinho - Parte II" é, ao mesmo tempo uma continuação e um início da história (o termo próprio é prequela, mas em 1974, tal como o termo sequela, aquele ainda não existia) do primeiro filme, ambas as histórias são contadas paralelamente. Por um lado continua a história de Michael Corleone (Al Pacino), durante a década de 50, como o novo Padrinho, por outro volta ao passado, através duma série de flashbacks inseridos na narrativa, fruto de um trabalho de montagem magnífico  e conta a história de Vito Corleone (Robert DeNiro) desde a sua fuga da Sicília em 1901 até à fundação da Família Corleone em Nova York. O maior momento deste filme está contido na cena final que acontece num flashback, em Dezembro de 1941, que mostra a familia reunida a preparar uma festa-surpresa para Don Vito. Sonny apresenta Carlo Rizzi à familia e principalmenta á sua irmã mais nova, Connie, com quem virá a casar. Tessio, um dos homens de confiança de Don Vito, chega e fala do ataque recente dos Japoneses a Pearl Harbor, a conversa recai sobre isso. A meio da conversa, Michael anuncia que se alistou no exército para ir combater e ficam todos chocados com a revelação. Sonny discute com o irmão, chegando mesmo a ridicularizá-lo aos olhos dos outros. Entretanto chega Don Vito que todos, menos Michael, que fica sózinho na sala, vão cumprimentar e felicitar. Inicialmente a cena era para se ver Don Vito, rodeado de todos os seus filhos. Apesar de Brando não querer regressar para filmar esta cena, Coppola manteve-a, alterando apenas a presença de Don Vito, enfatizando ainda mais a sombra do velho Don na cena
   Pondo de lado a violência que caracterizara o primeiro filme, é no elenco, todo ele excepcional, que inclui novamente Al Pacino, Diane Keaton, Robert Duvall, John Cazale, Talia Shire,juntamente com nomes como  Robert De Niro, Lee Straberg, Michael V. Gazzo, G.D.Spradlin,  entre outros, que recai a responsabilidade de levar o filme a bom porto e isto é plenamente conseguido ao longo das mais de três horas de filme.
    O destaque vai, claro, para as interpretações de Pacino e De Niro como o jovem Vito, esta última vencedora de um Oscar para o Melhor Actor Secundário.
    Al Pacino ultrapassa-se com esta interpretação ao transformar-se naquilo que nunca quisera no primeiro filme: um verdadeiro monstro, como lhe diz Kay no meio duma discussão, que, após destruir a sua própria família e se desembaraçar dos seus inimigos, é um homem só e amargurado ( é absolutamente fabuloso o plano final, em que se vê Michael sentado sózinho com um olhar perdido e o único som que se ouve é o vento   e folhas a voar, incorporando toda a solidão do mundo). A grande qualidade de Pacino é perfeitamente patente na cena do confronto, na casa do lago, entre Michael e Fredo (John Cazale), seu irmão mais velho, após descobrir que fora ele quem o atraiçoara: é absolutamente brilhante e violenta ao mesmo tempo, a prestação dos dois actores. A familia, de resto, tem sempre uma importância enorme nos filmes de Coppola. Desde "O Padrinho" quando Don Vito diz a Sonny, após uma reunião com Virgil Sollozzo, para nunca se opôr à família, ou quando Michael manda executar Carlo por este ter atraiçoado Sonny e, por extensão , a família, até a "O Padrinho - Parte II" quando, após anos de afastamento, Connie (Talia Shire, irmã de Coppola na vida real), jura obediência total ao irmão, ou quando Michael ordena a morte de Fredo, percebemos que a família está acima de tudo e de todos.
    Tecnicamente brilhante em todos os aspectos, a segunda parte de "O Padrinho" superou o primeiro filme na bilheteira, ao fazer uns surpreendentes 193 milhões de dólares, tornando-se no segundo grande sucesso da Paramount em 1974, atrás de "Chinatown" (Roman Polanski, 1974) é hoje visto como a Melhor Sequela de sempre da história do cinema, assim como é igualmente considerado, tal como o primeiro filme, um dos Melhores Filmes de Todos os Tempos. Muitos críticos consideram-no superior ao primeiro filme, embora quando se trata de listas de "Maiores Filmes", aparece sempre depois de "O Padrinho".

Uma Obra-Prima vencedora a todos os níveis
   Nomeado para 11 Oscares da Academia, "O Padrinho - Parte II" venceu seis, incluindo Melhor Realizador e Melhor Filme do Ano, sendo a única sequela a conseguir tal feito até agora. Curiosamente "The Conversation" também foi nomeado para Melhor Filme o que resultou no facto de Francis "Ford"Coppola se tornar no segundo realizador a ter dois filmes em competição para o Oscar de Melhor Filme. Antes fora Alfred Hitchcock em 1940 com "Foreign Correspondent - Correspondente de Guerra" e "Rebecca", que acabou por ganhar. Outra curiosidade neste ano foi que Coppola teve de se confrontar novamente com Bob Fosse e o seu "Lenny". Com "Cabaret" em 1972, nomeado para dez Oscares, tal como "O Padrinho", Bob Fosse ganhou oito Oscares, incluindo o de Melhor Realizador enquanto o filme de Coppola ganhou apenas três, mas um deles foi de Melhor Filme do Ano, o que não impediu a vitória de ter um sabor a derrota já que o realizador não ganhou o prémio. Em 1974 "O Padrinho - Parte II" foi o grande vencedor da noite e "Lenny" foi o grande derrotado ao não ver nenhuma das suas seis nomeações chegar ao prémio principal.
   Em 1976, Francis "Ford" Coppola montou os dois filmes para apresentação na televisão, incorporando cerca de 75 minutos de cenas não incluídas nos filmes e montados por ordem cronológica. Esta versão chamou-se "The Godfather: A Novel for Television" ou "The Godfather Saga" e foi exibida na NBC em Novembro de 1977  e foi a base para uma versão mais suave, com menos violência, sexo e linguagem mais moderada, chamada "The Godfather 1902-1959: The Complete Epic". Como nenhuma destas versões está disponível no mercado, fica ao critério de cada um como quer apreciar os filmes: como um diptíco ou como uma trilogia. Em qualquer uma das formas, a minha opinião é sempre a mesma: são filmes obrigatórios!


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sábado, 6 de agosto de 2011

O Padrinho, Uma Saga Completa I

   "Eu Acredito na América...", é com estas palavras ditas  sobre um écran  preto que começa a mais famosa saga criminal da história do cinema, "O Padrinho" realizado em 1972 por Francis "Ford" Coppola. Quando se falava de filmes de gangsters, de filmes sobre a Mafia, vinha-nos logo à memória James Cagney ou Edward G. Robinson, nomes a maior parte das vezes ligados a este tipo de produções nos anos 30 e 40 do século passado. 
   Francis F. Coppola não foi a primeira escolha da Paramount para adaptar o romance de Mario Puzo, publicado em 1969, para o grande écran. Antes dele, foi feita uma aproximação a Sergio Leone, que recusou porque já tinha em mente fazer "Once Upon A Time in America - Era uma vez na América" (que só veria a luz do dia em 1983!). Peter Bogdanovich foi o nome que seguiu, mas recusou também alegando estar envolvido em "What's up Doc?". Outro nome falado terá sido o de Sam Peckinpah, que estava nas boas graças dos estúdios graças a "A Quadrilha Selvagem" (1969), um Western violento e estilizado, que fora um dos grandes sucessos da década passada, mas Robert Evans, director dos estúdios da Paramount, rejeitou este realizador alegando que o que ele faria seria transformar o filme numa carnificina. Em finais de 1970, o filme parecia condenado a nunca ver a luz do dia. 
O livro que deu origem ao filme
   O nome de Coppola não estava nas boas graças dos estúdios, apesar de, ao principio, mostrar vontade de o realizar, acabou por não o fazer por receio de ferir susceptibilidades com a Mafia e também devido à sua descendência Italiana e o estúdio também não fez muito esforço para o contrariar. Sómente quando ele recebeu um Oscar pelo Argumento do filme "Patton" (Franklin J. Schaffner, 1970) é que o estúdio voltou a insistir com ele e este aceitou também muito pressionado por George Lucas, a quem acabara de produzir o filme de estreia "THX 1138" (1971).
   O relacionamento entre o realizador e o estúdio nunca foi bom. Depois de um inicio relativamente bom, as coisas começaram a correr mal, muito por culpa do realizador, que várias vezes cometeu erros de casting e de produção levando a que produção encarecesse mais do que o estimado. Várias vezes o seu lugar esteve em risco mas que, habilmente, o realizador conseguiu contornar os muitos problemas que lhe surgiram. Inicialmente estavam previstos 83 dias de  rodagem, iniciada em Março de 1971, Coppola precisou de apenas 77 para completar o trabalho, terminando em Agosto do mesmo ano. O resto do ano seria passado na sala de montagem  para que o filme estivesse pronto a tempo de entrar na corrida aos Oscares.
   Um dos grandes problemas do realizador foi escolher o elenco. O estúdio queria nomes como Robert Redford ou Ryan O' Neal para o papel de Michael Corleone, outros nomes como Jack Nicholson, Warren Beatty, Dustin Hoffman ou Martin Sheen, entre outros também foram considerados, até um então desconhecido Robert De Niro  chegou a ser considerado para o papel, mas Coppola queria alguém que fosse italo-americano para dar mais realismo ao personagem. Foi-lhe sugerido o nome de Al Pacino que dera nas vistas em "Panic in Needle Park - Pânico em Needle Park" (Jerry Schatzberg, 1971). Como não era um nome sonante, o estúdio não o quis a principio e só quando o realizador ameaçou abandonar o projecto, é que aceitaram a escolha mas impuseram ao realizar que aceitasse Marlon Brando para o papel de Don Corleone. Inicialmente o realizador  não quis Brando porque este era conhecido por muitas vezes só parecer nas filmagens quando lhe apetecia e cobrava cachets demasiado altos para os valores desta produção. Coppola acabou pro aceitar incluir o seu nome no elenco e dali para a frente nasceu uma amizade que levou a que o realizador fosse dos poucos com quem o actor trabalharia e com quem se daria bem. Outro problema que o realizador teve de enfrentar foi que ele queria fazer um filme que fosse uma metáfora sobre o capitalismo americano, e os produtores queriam um sucesso que os livrasse da dificil situação financeira em que o estúdio se encontrava e queriam algo que atraísse público. Pressionado, o realizador adicionou algumas cenas de violência para agradar aos produtores e aliviar a pressão a que estava a ser submetido
Francis F. Coppola a preparar uma cena
     Antes de " O Padrinho", os filmes de gangsters apresentavam o crime organizado visto duma perspectiva fora-da-lei, banida da sociedade. O contraste entre estas produções e este filme, é que aqui ela é dada através do próprio gangster (Don Corleone), da Mafia, como uma resposta a uma sociedade corruptao que permite que Coppola, inteligentemente, utilize alguns episódios para cimentar essa mesma perspectiva: a cena em casa de Jack Woltz entre este e Tom Hagen; ou a cena em que um Johnny Fontane choroso se queixa ao seu todo poderoso padrinho ( alegadamente o visado nesta cena é Frank Sinatra que para ganhar  o seu papel em "Até à Eternidade" de Fred Zinnemann em 1953, teria recorrido aos seus conhecimentos na Mafia, a história, porém, nunca foi confirmada nem desmentida). Outra imagem que o filme fez passar é que a Mafia é uma organização de contornos feudais em que o Don é, ao mesmo tempo, o protector dos pequenos e fracos, fazendo-lhes pequenos favores ou serviços e o cobrador desses mesmos serviços e protecção, (toda a cena inicial durante o casamento ou no final, quando todos se dirigem a Michael e honrosamente o tratam por Don Corleone),  são bons exemplos disso mesmo. 
    A recepção crítica ao filme foi louvável e a do público extremamente entusiasta, que facilmente  o tornou  num clássico  O filme é hoje visto com enorme respeito pela crítica mundial que o considera um dos maiores filmes alguma vez feitos. Numa grande votação levada a cabo no último trimestre de 2000, "O Padrinho" foi considerado o  Segundo Melhor Filme de Sempre, atrás de "Citizen Kane - O Mundo a Seus Pés" ( Orson Welles, 1941).
      Desde os seus primeiros minutos naquilo que parece ser um monólogo e que, através de um subtil movimento de camera, percebemos que afinal  alguém  escuta atentamente as suas palavras, até  aquele plano final, em que Kay, angustiada, percebe que o seu marido, afinal, é igual ao resto da familia, de uma porta a ser fechada, são imagens inesquecíveis, com uma força tal que, só por si, escreveram e ainda escrevem, páginas da história do cinema.
      A interpretação de todo um elenco principal, e secundário, encimado por Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, a realização magistral de Francis F.Coppola, o argumento de Mario Puzo e do próprio Coppola, música, hoje universalmente associada com o filme, de Nino Rota, transformaram aquele que poderia ter sido um enorme fracasso de bilheteira, num filme poderoso, inigualável e absolutamente brilhante. Um enorme triunfo em todos os campos e, ainda hoje, uma referência obrigatória sempre que se fala de cinema.
      Apesar de muito violento, o filme seduz precisamente por causa dessa violência. Coppola encena as cenas de acção e violência como se duma ópera se tratasse e que atinge o seu ponto alto na sequência do baptizado em que, através duma montagem genial, assistimos à execução de todos os inimigos de Michael.
 Todas as cenas são uma autêntica lição de fazer cinema, ensaiadas até ao mais infímo pormenor, fazem de "O Padrinho" uma experiência cinematográfica única. 
    Nomeado para um total de dez Oscares da Academia, "O Padrinho" venceu três, incluindo o de Melhor Filme do Ano, os outros dois foram para o Melhor Argumento Adaptado e de Melhor Actor para Marlon Brando, que o actor recusa alegando a discriminação a que os índios foram votados pelas autoridades americanas e principalmente pelo tratamento que Hollywood lhes dava. O filme venceu ainda cinco Globos de Ouro, incluindo Melhor Filme na Categoria de Drama e Melhor Realizador e inúmeros outros prémios.
     Referências podem ser encontradas sob as mais diversas forma desde homenagens, citações, sátiras, paródias até referências visuais ( por exemplo em "Os Sopranos" o bar de Alterne de Tony Soprano chama-se Bada Bing em homenagem a uma frase utilizada por Sonny Corleone em "O Padrinho")  onde se percebe quão influente foi o filme desde a sua estreia até ao século XXI.
Uma Obra-Prima intemporal.










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EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...