sábado, 26 de março de 2011

O Rei Artur: Mito ou Realidade?

   O Rei Artur é uma figura lendária Britânica que, de acordo com histórias medievais e romances, teria comandado a defesa contra os invasores Saxões chegados à Grã-Bretanha (ou Bretanha como era conhecida na época) no início do século VI.  Os detalhes da sua história são compostos principalmente por folclore e literatura, a sua existência histórica, devido à escassez de antecedentes históricos ou por estes serem retratados em várias fontes, é debatida e contestada por historiadores modernos.
   A lenda do rei Artur ganha interesse através da popularidade do livro de Geoffrey Monmouth "Historia Regum Britanniae" (História dos Reis Britânicos) embora, o seu nome, tenha surgido em poemas e contos de Gales e da Bretanha, publicados antes deste livro. Neles, Artur surge com um grande guerreiro que defende a Bretanha dos homens e inimigos sobrenaturais e, portanto, associado com o Outro Mundo. No livro de Monmouth, mais baseado nos antigos do que inventado por ele, não existindo uma versão comprovada de veracidade do texto, os acontecimentos nele narrados são frequentemente usados como ponto de partida para as histórias posteriores. Geoffrey descreve o rei Artur como sendo um rei da Bretanha  que venceu os Saxões e estabeleceu um Império composto pela Bretanha, Irlanda, Islândia e Noruega.
   Na realidade muitos elementos e acontecimentos que fazem parte da história de Artur aparecem no livro de Geoffrey, incluindo Uther Pendragon, pai de Artur, o mágico Merlin, a espada Excalibur, o nascimento de Artur no castelo de Tintagel, Camelot, a sua batalha final em Camlann contra Mordred, e a ilha de Avalon. 
   A origem do rei Artur tem sido grandemente debatida pelos historiadores e estudiosos. Alguns acreditam que ele é baseado nalguma personagem histórica, provavelmente um chefe guerreiro da Bretanha que tenha vivido entre a Antiguidade Tardia e o inicio da Idade Média, donde terão sido criadas as lendas que hoje conhecemos. Outros acreditam que Artur é pura invenção mitológica, sem nenhuma relação com qualquer personagem real.
   O Artur histórico baseia-se em obras antigas como "Historia Brittonum" (História dos Bretões), escrito em Latim  por volta do ano 830 ou "Annales Cambriae" (Anais da Câmbria), escritos algures no século X, que relatam acontecimentos históricos ocorridos na Bretanha. Artur é apresentado como figura real, um líder romano-bretão (existiu um comandante romano que comandava os Sármatas na Bretanha no século II) que luta contra a invasão da Bretanha pelos Anglo-Saxões, situando a sua existência entre o final do século V e início do século VI. No entanto, ambas as obras tem sido postas em dúvida por estudos recentes que questionam a sua utilidade e  independência como fontes históricas. 
   Já o Artur mitológico terá vivido na Bretagne uma região da actual França, mais exactamente na região de Carnac e a sua história terá tido inicio no século V, quando Honório, imperador Romano mandou retirar as legiões e respectiva população romana da província da Bretagne, apenas as legiões situadas junto da Muralha de Adriano continuaram a cumprir o seu dever defendendo-a dos Pictos do norte e dos irlandeses que a atacavam constantemente. Inconformado com esta situação, Voltigern, um rei Picto pede ajuda aos Saxões do continente para tentar resolver esta situação. 
   Em finas do século V, Ambrosius Aurelianus, um romano da Bretanha, consegue derrotar os Saxões na famosa batalha de Mons Badicus e a situação acalma durante algumas décadas. Mas rápidamente a situação inverte-se e após uma série de batalhas, os reinos celtas da Bretanha ficam reduzidos à Cornualha e a Gales. No século VIII, Nennius, um Bretão, fala dos feitos de um comandante militar de nome Artur, que teria vencido 12 batalhas contra os Saxões. Mas, segundo os historiadores, Nennius tinha uma tendência de preencher lacunas com factos por ele inventados. Ele poderia muito bem ter embelezado a narrativa conforme as necessidades. Não foi ele, no entanto, o primeiro a referir o nome de Artur, já que baladas galesas do século VII, falavam num rei aventureiro do norte da Bretanha, que enfrentava seres fantásticos e corrigia injustiças.
   Nos finais do século XII, Chrétien de Troyes, escritor francês, escreve contos sobre as aventuras do Rei Artur, Sir Lancelot, Guinevere, o Santo Graal, Percival, Gawain, etc. Ao apoiar-se nos mitos populares, deu-lhes o seu cunho pessoal  e iniciou o género de romance arturiano que se tornou numa importante vertente da literatura medieval. Artur e as suas personagens eram muito populares na época e as histórias a partir da Bretanha, tinham-se espalhado por outros países. Salientam-se aqui algumas obras pela importância que tiveram para o nascimento do mito: O ciclo da "Vulgata" francesa (também conhecida como Matéria da Bretanha), "Parzival" de Wolfram von Eschenbach, "La Mort d'Arthur" (A Morte de Artur) de Thomas Mallory; Alguns escrevem sobre todo o ciclo desde a morte de Jesus Cristo até à morte de Artur, criando uma narrativa de séculos; outros descrevem apenas episódios que acontecem a cavaleiros (Tristão e Isolda é um exemplo) ou integram episódios sem ligação inicial ( O Mito do Santo Graal, a Távola Redonda, Tintagel, etc.), incorporam novas personagens ( Galahad).
   O século XVII viu o interesse neste género de narrativa perder algum interesse, embora na ópera se continue a utilizar o tema. Já o romantismo do século XIX fez renascer o interesse pelo tema (inclusive autores americanos como  Mark Twain com o seu "Um Americano na Corte do Rei Artur" homenageiam o género). No século XX, autores como Stephen Lawhead ( O ciclo Pendragon), Bernard Cornwell (O ciclo de "As Crónicas do Senhor da Guerra") e principalmente Marion Zimmer Bradley, conceituada escritora da ficção científica, revolucionou o tema com "The Mists of Avalon" (As Brumas de Avalon) ou a "Saga de Avalon", completaram o trabalho mantendo vivo o interesse e, com a ajuda do cinema e da banda desenhada, permitiram que cada vez mais público tenha acesso ao tema.
   Sem fim à vista, toda a polémica sobre a existência ou não do Rei Artur, continua bem viva: os historiadores, depois duma crítica ao mito, limitam-se a manter uma reserva sobre o assunto; os arqueólogos ( e estudiosos) preferem falar de um período sub-romano, definindo assim aquilo que poderia ser o período arturiano: os séculos V e VI. 
   Para nós, leitores e demais interessados, o que é que sobra, além das belas histórias? não sabemos se Artur existiu ou não, e não o podemos afirmar porque não existem relatos contemporâneos.
  

Nota: Todas as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet.

   
   

sexta-feira, 11 de março de 2011

O Rock Progressivo na história da Música

   Rock Progressivo (também conhecido por  prog rock ou simplesmente prog), é um género de rock surgido no final da década de 60 do século passado, em Inglaterra. Muito popular durante a década de 70, ainda hoje, em pleno século XXI, tem muitos adeptos.
   Influenciado pela música clássica e jazz de fusão, o género foi  ganhando espaço na cena musical, dando origem a diversos sub-géneros como o rock sinfónico, space rock, krautrock ou mais recentemente o metal progressivo.
   As suas caracteristícas mais marcantes são:
   - Composições longas, com melodias complexas, aproximando-se muitas vezes da música erudita. Temas com 20 ou mais minutos, por vezes até utilizando o tempo de um álbum inteiro, são temas chamados épicos;
   - "Suites" musicais, ou seja divisão de um tema, ao estilo de música erudita, em duas ou mais partes como por exemplo "Close to the Edge" ou "And you and I" dos Yes que são divididas em quatro partes;
   - Composições feitas de várias peças, tipo "manta de retalhos", um bom exemplo é "Supper's Ready" de Genesis;
   - Composições feitas de variações ou progressões ao estilo do "Bolero" de Ravel, um bom exemplo é precisamente "Abbadon's Bolero" de Emerson Lake & Palmer;
   - Letras que abordam temas como ficção científica, fantástico, religião, guerra, amor, loucura ou até a própria história, embora muitos álbuns, principalmente durante a década de 70, fossem apenas instrumentais;
   - Álbuns conceptuais ( ou concept album) onde o tema ou a história é abordado ao longo de todo o álbum, tornando-se numa ópera-rock se se seguir uma história, neste último caso incluem-e os álbuns "The Lamb Lies down on Broadway " de Genesis em 1974 ou "Tales from Topographic Oceans" de Yes em 1973, entre muitos outros;
   - Capas com grafismos muito atractivos ao olhar e muito completas, cujo melhor exemplo são as capas feitas por Roger Dean, um mestre no que toca a ilustração, para quase todos os álbuns de "Yes" e mais recentemente para "Asia";
   - Utilização de instrumentos electrónicos, particularmente sintetizadores adicionados aos instrumentos habituais de rock (guitarra, baixo e bateria). A constante procura de nova sonoridades conseguidas através de sintetizadores e depois misturadas em estúdio é quase uma obsessão dos músicos e também admiradores, sempre em busca da perfeição sonora;
   - Inclusão de peças clássicas nos seus concertos. Casos de Yes, Emerson Lake & Palmer, Marillion entre outros.
   O rock progressivo nasceu, como já disse, nos finais da década de 60, influenciado por vários géneros musicais. Já os Beatles, na sua fase psicadélica, começaram a misturar o rock tradicional com instrumentos de música clássica. Também os primeiros trabalhos de Pink Floyd ou Frank Zappa já mostravam alguns elementos do género. O psicadelismo desse final de década continuou num constante experimentalismo e introduziram-se as peças longas sem, no entanto, tanto tratamento quanto á estrutura da obra.


Uma das obras-primas do Rock Progressivo
   O género ganhou adeptos quando, no final da década de 60, os adeptos do "Flower Power" sentindo-se desiludidos com os caminhos que o movimento traçara, se deixam encantar por temas mais complexos e obscuros que os convidam a outro tipo de reflexão. Rápidamente, se espalha pela Europa fora chegando ao Japão onde, por exemplo, Stomu Yamashta, conceituado músico no seu país, veio ao ocidente gravar entre 1976 e 1977 o projecto "Go", uma série de álbuns com músicos europeus. Na Alemanha Tangerine Dream e Kraftwerk davam origem ao "Krautrock", dinamizando a utilização de sintetizadores e introduzindo efeitos sonoros em temas e álbuns geralmente instrumentais, enquanto na Grécia os "Aphrodite's Child" de Vangelis e Demis Roussos davam os primeiros passos no Rock Progressivo. Até em Portugal o género acolheu adeptos em grupos como "Tantra" ou em artistas como José Cid, cujo álbum "10.000 depois entre Vénus e Marte" de 1978 é considerado uma obra-prima e está no top 100 dos melhores álbuns do género.
   Atingido o auge durante a década de 70,  grupos como Pink Floyd, Yes, Genesis, Emerson Lake & Palmer, Jethro Tull, etc. estavam constantemente nos tops de Inglaterra e dos Estados Unidos, viria a seguir-se o inevitável declinio.
   No final da década de 70 dá-se o advento do Punk, que opera uma mudança quase radical na cena musical Europeia, o gosto do público e da crítica volta-se agora para o estilo mais simples e agressivo deste género, levando a que os grupos progressivos fossem considerados pretensiosos e exagerados e alguns se extinguissem mesmo.
   Na década de 80 nova investida do género, desta vez sob a forma do sub-género neoprogressivo, em que os "Marillion"  e  "Asia" foram os percursores. Amplamente inspirados pelo rock progressivo, mas contendo igualmente elementos da "New Wave" é caracterizado ainda por um enorme dinamismo musical onde se incluem solos de guitarra e também de teclados. Alguns grupos fieis ao rock progressivo, mudam a sua orientação sonora, simplificando as composições (as longas suites são reduzidas para temas mais acessiveis), de modo a poderem incluir novas texturas electrónicas como a percussão.
   Durante a segunda metade da década de 80, surge a chamada terceira vaga de rock progressivo que se chama "Metal Progressivo" e que se mantém até hoje. O melhor exemplo desta nova vaga são os "Dream Theater".
   Comercialmente bem sucedido, este género une vários estilos desde rock progressivo até  heavy metal, trazendo para o género uma maior técnica, resultado duma grande aprendizagem e a capacidade renovada de explorar temas longos e fazer álbuns conceptuais tendo à disposição uma tecnologia moderna e em constante evolução. Mas o saber, esse vem dos primórdios da música  e é grande a sua influência nos grupos de hoje.


Nota: Todas as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet
  






sábado, 5 de março de 2011

As Viagens no Tempo na Ficção

   Viagem no Tempo é o conceito de nos movermos entre diferentes pontos no tempo, mas de uma maneira análoga àquela em que nos movemos entre diferentes pontos no espaço, quer ao enviarmos algum objecto para trás no tempo, ou para a frente do presente para o futuro sem a necessidade de estar presente no período intermédio.
   Apesar de ter sido apenas no século XIX que as viagens no tempo ganharam alguma notariedade com a publicação, em 1895, do livro "The Time Machine" (A Máquina do Tempo) escrito por H.G.Wells, sabe-se que outros trabalhos escritos em épocas anteriores já incluiam elementos  que sugeriam a possibilidade de se viajar no tempo. Folclore e mitos da antiguidade, por vezes, incluiam algo que tinha a ver com o viajar para o futuro; por exemplo, na Mitologia Hindú, "O Mahabharata" (circa 700 a.C.), fala no Rei Revaita, que viaja até ao céu para conhecer o seu criador Brahma e fica chocado quando se apercebe que muitos anos se passaram quando regressa à Terra; outra das histórias antigas que involve viagens ao futuro é o conto Japonês  de Urashima Tarõ, descrita no "Nihongi"(720 d.C.), em que um jovem pescador chamado Urashima Taro visita um palácio subaquático onde fica três dias. Quando regressa á sua vila, descobre que se passaram cerca de 3000 anos, a sua casa está  em ruínas, a sua familia morreu hà muitos anos e ninguém se lembra dele; mais recentemente, em 1819, Washington Irving escreveu a história de Rip Van Winkle em que mexe nos mesmos conceitos do conto japonês. Rip Van Winkle quando acorda duma soneca, descobre que está 20 anos á frente da sua época, foi esquecido pelos seus pares, a mulher faleceu e a sua filha já é mulher adulta.
   Mais moderna parece ser a ideia da viagem de regresso ao passado, mas a sua origem também é um pouco ambígua. Aqui, uma das primeiras histórias a abordar o tema é "Memoirs of the Twentieth Century" escrita por volta de 1733 onde, através  de cartas escritas entre 1997 e 1998, vários embaixadores de vários países descrevem ao Ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico as condições de vida naquela era.
   Charles Dickens, em 1843, publicou aquela que é uma das primeiras obras contemporâneas a abordar as viagens no tempo. Em "A Christmas Carol" (Um Conto de Natal), a personagem principal, Ebenezer Scrooge é transportada aos natais do seu passado, presente e no futuro. Estas são consideradas meras visões fugazes e não viagens no tempo, porque a personagem não chega a interagir com eles; em 1889, Mark Twain e o seu "A Connecticut Yankee in King Arthur's Court" (Um Americano na Corte do Rei Arthur) ajudou a cimentar a ideia de viagem ao passado, já que o seu protagonista, depois de uma luta, vê-se transportado para o tempo de Rei Arthur e onde, pela primeira vez, a história é alterada devido ás acções do viajante do tempo (este termo tornar-se-á popular através da obra de H.G.Wells).
   As viagens no tempo podem ser o tema central de um livro, ou podem simplesmente ser um instrumento do enredo para alcançar a imaginação do público. Ambas as ideias estão bem patentes em  "A Máquina do Tempo", a obra que ainda hoje, mais de um século depois da sua publicação, ainda encanta o público das mais diversas idades.
   Os mais variados temas de viagens no tempo têm sido recorrentes nas histórias de ficção cientifica, com muita imaginação de modo a torná-las mais interessantes. Eis alguns exemplos:
- Aquelas em que o viajante do tempo (insisto no termo por ser o que melhor se aplica a este efeito) altera o curso da história, quer seja para o bem ou para o mal, por vezes acidentalmente, recorrendo a ajuda tecnológica do seu tempo. Em "Lest Darkness Fall"( A Luz e as Trevas)  de L.Sprague de Camp é o que acontece.
- Aquelas histórias em que o viajante do tempo vem dum futuro obscuro até ao presente para tentar resolver o problema de modo a que este influencie totalmente o futuro. Estas histórias podem aplicar-se a um ou a vários personagens até a uma sociedade em geral. Os filmes e os livros da série "Terminator" (Exterminador Implacável) são disso o melhor exemplo.
 - Finalmente as histórias em que o viajante do tempo altera os acontecimentos acidentalmente porque  apenas quer observar o passado, ou é para lá enviado contra sua vontade e tenta regressar ao seu tempo, mas pode acontecer que as suas acções alterem a história do que se vai passar. A série cinematográfica "Back to the Future" (Regresso ao Futuro) brinca com este último conceito.
   As viagens no tempo têm também uma função ideológica porque literalmente providenciam o necessário afastamento que a ficção cientifica precisa para poder aludir aos temas e assuntos que dizem respeito ás pessoas no presente.
   A Ficção Centifíca é, na sua essência, um tipo de Viagem no Tempo. Os acontecimentos dão-se num passado alterado, num tempo presente transformado ou num futuro próximo, transportando o leitor ou o espectador para outro tempo, outro local, dimensão ou mundo. Quando a ficção cientifica viaja, sabemos que estamos no seu dominio porque somos confrontados com uma narrativa dinâmica necessária para o género.


Nota: Todas as imagens que ilustram o texto foram retiradas da Internet
  

EMERSON, LAKE & PALMER II

            O trio, depois de um longo período de férias, sentindo-se revigorado, reuniu-se novamente em 1976, nos “Mountain Studios”, em Mo...