sábado, 10 de dezembro de 2011

Viagem no Tempo/História Alternativa - Um Exemplo Cinematográfico

     Há algum tempo atrás, publiquei dois textos, um que falava de viagens no tempo e outro em que falava das Histórias Alternativas, o "E se...?" no imaginário popular. Por serem assuntos sugestivos e apelativos para quem gosta destas coisas, resolvi abordá-los novamente mas do ponto de vista cinematográfico através dum filme que os toca ligeiramente.
    Durante uma patrulha de rotina no Pacífico, o "USS Nimitz", o porta-aviões mais poderoso do mundo, é apanhado numa tempestade magnética que, sem que os seus ocupantes se apercebam disso, os faz recuar no tempo, até ao dia 6 de Dezembro de 1941, nas vésperas do ataque a Pearl Harbor! . Sem saber o que lhes aconteceu, sem conseguirem comunicar com ninguém, assumem que o mundo está em guerra e entram em estado de alerta. Quando finalmente descobrem onde estão realmente,  Matt Yelland (Kirk Douglas numa prestação razoável), comandante do porta-aviões, vê-se perante uma realidade inevitável e onde tem que tomar a decisão mais importante da sua vida: deixa que a história siga o seu curso normal ou impede o ataque Japonês que irá lançar os Estados Unidos na II Guerra Mundial e altera a história mundial? É há volta desta premissa original que "The Final Countdown - A Contagem Final" vai girar.
     A realização de Don Taylor é segura e equilibrada, gerindo bem o material que dispunha, resistindo à tentação de banalizar o assunto (apesar da chama que se acende entre o Comandante Owens e Laurel), antes pelo contrário, o filme ganha embalagem, não através das suas cenas de acção, que até são escassas (mas fica-nos a sensação que o realizador era um apaixonado por aviões de combate, tal é o gosto com que filma os F-14, em vôo, a descolarem e aterrarem no Nimitz), mas sim doseando bem os diversos estados por que passa a tripulação do porta-aviões antes de perceberem onde se encontram até quase ao final quando novamente surge a tempestade magnética.
   Não é tanto pelos aspectos técnicos do filme que até contou com a colaboração do Departamento de Defesa Norte-Americano que facilitou a rodagem do mesmo a bordo do verdadeiro "Uss Nimitz", nem é pelas sequências aéreas, que foram um "must" na altura, (ainda se estava longe de "Top Gun"), nem pelas cenas de acção; o que torna  "A Contagem Final" num bom filme e não o deixa cair na banalidade são as conversas que decorrem ao longo da acção entre os protagonistas: primeiro, o receio de que aquela seja uma situação extrema de guerra nuclear para a qual estão preparados; depois vem a constatação da situação em que se encontram. Aqui percebe-se que nem todos os presentes querem ir combater, as suas opiniões e pontos de vista bem expressos, mas a decisão tem que ser tomada e cabe ao comandante decidir (talvez o melhor momento do filme seja aquele em que o comandante diz que o "Nimitz" é um navio da marinha dos Estados Unidos e como tal é sua missão defender o país seja em que tempo for e acatar assim as responsabilidades que daí advenham, mesmo que implique alterar a história dos anos vindouros).
   "A Contagem Final" é  um  drama de ficção científica/fantasia que utiliza o conceito de viagem no tempo e o leva um pouco mais à frente que as produções habituais já que foi dos primeiros a analisar as consequências e decisões que dele emanassem, resultando num interessante filme de acção,  que se vê e revê com satisfação.


Nota: As imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da Internet





domingo, 4 de dezembro de 2011

Expresso da Meia-Noite - Um Filme Maldito!

                                                 
                                                 



    Há filmes que, pelo simples facto de existirem, adquirem uma importância única na história da sétima arte. Em 1978, “Expresso da Meia-Noite” foi um desses filmes.

   Billy Hayes é um jovem turista americano que se encontra de férias na Turquia com a sua namorada. No dia da partida, Billy compra dois quilos de droga para levar para os Estados Unidos para os amigos. Apanhado por uma rusga policial junto ao avião e depois de ser torturado e interrogado pelas autoridades, começa, para Billy, uma verdadeira descida aos infernos , quando as autoridades Turcas resolvem fazer dele um exemplo condenando-o a 30 anos de prisão.
Alan Parker, um realizador maldito

    Realizado por Alan Parker, autor de uma filmografia de temática variada onde se incluem, entre outros, “Bugsy Malone” (1976), sátira aos filmes de gangsters e interpretado por um elenco de jovens prácticamente desconhecidos, entre os quais se incluía uma jovem chamada Jodie Foster; “Fama” (1980), sobre uma escola de artes e os sonhos dos alunos que lá estudam. Novamente com um elenco desconhecido mas o sucesso obtido pelo filme, que daria origem a uma série de televisão, se encarregaria de lançar para a fama; “Pink Floyd, The Wall” (1982), adaptação, quase psicadélica, para o grande écran do fabuloso “concept album” dos Pink Floyd com Bob Geldof no principal papel; "Angel Heart- Nas Portas do Inferno" (1987), história detectivesca com contornos de terror;  “Mississipi em Chamas” (1988), outro filme-denúncia de uma história verídica que gira á volta do desaparecimento de três trabalhadores dos Direitos Civis na América dos anos 60; ou "Evita" (1996) baseado na famosa  peça musical da  Broadway de Tim Rice. 
   Parker filma o interior das prisões turcas com um realismo verdadeiramente impressionante (graças ás descrições que Hayes, que também foi consultor técnico do filme, pôs na obra que escreveu), a  violência, nua e crua, é atroz: desde as torturas a que são sujeitos os prisioneiros, passando pela droga que circula lá dentro como meio dos prisioneiros se alhearem da realidade, pela homosexualidade latente, sem esquecer os “bufos” que tudo fazem para agradar ao chefe, culminando naquilo com que todos sonham: apanhar o “Expresso da Meia-Noite”, que é como quem diz, a fuga; mas o dito Expresso, como diz,a dado momento, Max (fabuloso John Hurt) a Billy, não passa por aquela prisão. 

    Feito de grandes cenas como por exemplo quando Billy, depois de Max ser levado para outra ala da prisão, se atira a Rifki, o bufo, enche-o de pancada e depois arranca-lhe a língua à dentada para, literalmente, o silenciar; ou a cena passada na ala dos lunáticos onde Billy, para não enlouquecer, começa a andar em sentido contrário dos outros, não obstante, alguns o tentarem impedir de contrariar a máquina. “Expresso da Meia-Noite” tem magnificas interpretações de Brad Davis, Randy Quaid, John Hurt , Paul Smith, entre outros que contribuem para a elevada qualidade do filme.

    Baseado numa história verídica, o argumento, escrito por Oliver Stone, antes de se tornar realizador, apesar de alterar algumas partes e acrescentar outras, retrata fielmente as situações por que Hayes passou; desde ter que ir ao para local onde fez a compra da droga para tentar identificar os traficantes , passando pela tentativa de fuga que tenta encetar nessa mesma altura, até ao inferno que passa na prisão turca antes de conseguir fugir para a liberdade. É precisamente a situação que se passava nas prisões turcas que, após a denúncia feita por este filme, foi objecto de investigação por uma comissão de Direitos Humanos enviada pelas Nações Unidas. Após meses de negociações, de muitos recuos e outros tantos avanços, a Turquia cede e entra num processo de troca e libertação de prisioneiros.

   Nomeado para seis Óscares da Academia, incluindo Melhor Filme do Ano e Melhor Realizador, ganhou dois: um pelo argumento e outro pela Banda Sonora de Giorgio Moroder. “Expresso da Meia-Noite” deu a Alan Parker a alcunha de “Realizador Maldito” pela denúncia que o filme faz e tornou-se um dos primeiros filmes a gerar uma enorme controvérsia que, ainda continua presente.

Nota: Todas as imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da Internet 


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Passagem para a Índia - O regresso do grande Espectáculo!


      

                 


    Para fazer frente à constante concorrência da televisão, o cinema criou um subgénero de filmes a que chamou superproduções e que tiveram o seu ponto alto no final da década de 50 e durante a década de 60 do século passado. Algumas superproduções surgiram já fora de tempo, nos anos 80. Foi o caso deste "Passagem para a Índia".
   Adele Quested (Judy Davis) viaja para a Índia na companhia da sua futura sogra, Mrs.Moore (Peggy Aschcroft) para ir ao encontro do noivo Ronny Heaslop (Nigel Havers), adido da embaixada inglesa. Quando lá chegam as duas senhoras vão confrontar-se com diferenças culturais que irão influenciar o seu comportamento, essas diferenças irão ser determinantes nos acontecimentos decorrentes dum passeio organizado às grutas Marabat.


   O filme é baseado no romance homónimo de E.M.Forster, escrito em 1924 e baseado nas suas experiência na Índia, e também na peça teatral de Santha Rama Rau, escrita em 1960 e inspirada pelo romance, ainda a Índia era uma colónia Britânica, e espelha bem as diferenças culturais existentes entre a "Índia real" que Mrs.Moore e Adele querem conhecer e o ambiente Anglicano de Cricket, Pólo, o chá ao final da tarde, que os Britânicos criam para si próprios, num equilíbrio perfeito graças ao argumento escrito num estilo muito claro.
O regresso triunfal de um mestre
   A realização e a adaptação do livro pertenceram a David Lean, veterano realizador e antigo editor, que aqui também se encarregou da montagem, aos 76 anos de idade e depois 14 anos sem realizar, voltou à ribalta com esta superprodução (obra a que a "Times" dedicou nada menos do que dez páginas!)  que, se exceptuarmos, "Gandhi" ( Richard Attenborough, 1982), é o filme que melhor mostra a Índia misteriosa e desconhecida. Lean foi o realizador de obras-primas do cinema como "A Ponte do Rio Kwai", "Lawrence da Arábia", "Doutor Jivago" ou o bonito e muito ignorado "A Filha de Ryan".
Um elenco quase perfeito
    Muito perfeccionista, qualidade que está presente em toda a sua obra e muito particularmente neste filme, Lean torna-o menos misterioso e enigmático que o romance e transformando-o numa obra provocante, cheia de personagens vivas interpretadas, quase na perfeição, por um elenco onde se destacam os nomes de Alec Guiness, Peggy Aschcroft e Victor Bannerjee, adequando-os aos cenários mostrando uma ìndia misteriosa e exótica (ver as cenas do templo em ruínas que Adele visita, ou as grutas Marabar), junta-se uma fotografia excepcional (como na cena da monção, ou aquela em que Mrs.Moore e Dr.Aziz conversam na Mesquita sob o luar que ilumina o rio Ganges), misturamos a banda sonora envolvente de Maurice Jarre (apesar de   não ser uma das sua bandas sonoras memoráveis, ainda assim é um trabalho de fôlego do compositor) e monta-se tudo com a enorme dedicação de quem sabe o que faz. 
   O resultado é uma das melhores adaptações cinematográficas de literatura para o cinema. Lean filma planos belíssimos, sem se importar com a sua duração desde que fiquem como ele quer (como a cena em que um comboio atravessa uma planície numa noite de luar ou toda a sequência da visita às grutas Marabar onde a fotografia brilhante da luz do dia contrasta  com a luz misteriosa das grutas) e consegue que o filme não seja monótono, mas sim uma obra em constante evolução. 
   Nomeado para 11 Óscares da Academia, incluindo nomeações para Melhor Filme e Melhor realizador,"Passagem para a Índia" venceria apenas nas categorias de Melhor Actriz Secundária (Peggy Aschcroft) e Banda Sonora.
   Derradeira obra-prima de um realizador (viria a falecer em 1991), que sempre viveu para o cinema, o soube dignificar com uma série de obras cinematográficas, hoje clássicos, incontestáveis representantes de um certo cinema que fez a sua história na sétima arte.
O regresso triunfante de um mestre a não perder!
  
Nota: todas as imagens e vídeos que ilustram este texto foram retiradas da Internet

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Amadeus - Genialidade Absoluta!

                                        
                                                     

      Poucos são os filmes que contam uma história fictícia sobre uma personagem real e conseguem chegar ao público, à critíca e obter um enorme sucesso. "Amadeus" foi um desses filmes.
Viena de Aústria, 1823, Antoni Salieri ex-compositor da corte do rei Joseph II, é internado num hospital para doentes mentais após uma tentativa de suicídio. No dia seguinte um padre vem visitá-lo e ouvir a sua confissão no que respeita ao facto de Salieri dizer que matou Mozart um dos maiores compositores de sempre. Terá sido mesmo assim?

Milos Forman 
     Vagamente inspirada em "Mozart e Salieri" de Aleksandr Pushkin, transformada em Ópera por Nikolai Rimsky-Korsakov, que Peter Shaffer viu e onde se inspirou para fazer a peça de teatro que serviria de base ao filme. Utilizando uma significativa parte de música de Mozart e também de Antonio Salieri, além de outros compositores da época, "Amadeus" resulta numa experiência cinematográfica única.
   
Realizado por Milos Forman que já nos dera uma obra-prima de estudo do comportamento humano chamada "Voando sobre um Ninho de Cucos" (1975), uma "trip" de drogas e protestos contra o envolvimento americano no Vietname com "Hair"(1979), ou o mal apreciado "period piece" chamado "Ragtime" (1981). Se "Voando sobre um ninho de Cucos" foi rápidamente considerado uma obra-prima, por ser um dos únicos três filmes em toda a história do cinema a vencer os cinco óscares principais (filme, realizador, actor, actriz e argumento), "Amadeus" não tardaria a seguir-lhe as pisadas no que respeita à classificação de obra-prima, porque o filme é isso mesmo. O trabalho de Forman é simplesmente brilhante. Não hà, no filme, uma cena, um fotograma, uma interpretação que esteja fora do contexto. 
      As cenas das Óperas estão brilhantemente encenadas, com destaque para "Don Giovanni", onde toda a genialidade da realização de Forman, aliada à música de Mozart, vem ao de cima, estão feitas de modo a que o espectador se sinta transportado para a época e quando assim é, pouco ou nada mais há a dizer. Devemos apenas sentar e deixarmo-nos envolver nesta experiência.
    Sendo baseado numa peça de teatro, o filme teria que ter pelo menos um actor com experiência de palco. Tom Hulce, actor que chamara a atenção de Peter Shaffer ao interpretar um dos papéis da sua peça "Equus" (1977), foi escolhido pelo próprio para interpretar o papel de Mozart e fá-lo com grande convicção. Ao ler-se uma biografia de Mozart, não conseguimos dissociar Hulce daquela personagem irrequieta, um pouco louca, mas genial. O próprio actor também o não conseguiu porque toda a sua carreira no cinema acabou reduzida àquela personagem. 

O invejoso Antonio Salieri
    Já Antonio Salieri de F.Murray Abraham é outra conversa. O actor é a personagem e a interpretação, aliás muito justamente premiada com o Oscar de Melhor Actor, percorre todo o filme. A sua transformação progressiva desde a curiosidade que move o então Compositor da Corte em querer conhecer o jovem talentoso Mozart, até ao velho amargurado, louco, que, no final do filme, abençoa todos os alienados do hospital, passando pelo ser humano que, corroído pela inveja, declara Deus como seu inimigo por ter dado tanto talento aquela "criatura"(como ele próprio chama Mozart), quando ele (Salieri) apenas desejava servir Deus através da sua música, e que o leva a planear o assassinato do compositor, é verdadeiramente assombrosa, inesquecível mesmo. Ofusca em alguns momentos o próprio Wolfgang Amadeus Mozart, perpetuamente assolado por gargalhadas, e o seu actor. O melhor papel de F.Murray Abraham na sua considerávelmente longa carreira onde nos lembramos também do Inquisidor-Chefe Bernardo Gui de "O Nome da Rosa" (Jean-Jacques Annaud, 1986).

     Filme cheio de cenários opulentos e pormenores históricos que atestam o grande cuidado posto na direcção artística,  grandes interpretações e de cenas inesquecíveis como aquela em que Mozart aparece a primeira vez ante o olhar reprovador de Salieri; Ou aquela em que Mozart toca a sua versão da marcha de boas-vindas composta por Salieri, reduzindo-a  uma insignificante peça musical repetitiva; A magnifica cena em que Salieri, cheio de inveja, atira um crucifixo para a lareira declarando a Deus "A partir de agora Tu e eu somos inimigos!"; a já citada cena final em que salieri abençoa todos os alienados; inesquecível é também todo o terço final do filme ao som do Requiem a culminar no enterro em vala comum do compositor, "Amadeus" entrou assim na galeria das obras-primas do cinema pela porta da frente. Pena é que o seu realizador nunca mais esteve ao nível desta obra, parecendo ter entrado numa espiral descendente, excepção feita a "Valmont" (1989), outra "period piece".
    Nomeado para onze Óscares, "Amadeus" ganhou oito incluindo o de Melhor Filme e Melhor Realizador e nesse ano ganhou prácticamente tudo aquilo que havia para ganhar em termos de festivais de cinema um pouco por todo o mundo.
    Não se consegue ficar indiferente perante um filme destes. É um filme intemporal e cada vez mais referenciado e, tal como a música de Mozart, permanecerá como objecto de culto.
Genial.


Nota: As imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da Internet

sábado, 19 de novembro de 2011

História Alternativa - O ...E Se...? na Ficção popular

   
                             

A História Alternativa é um tipo de ficção em cuja acção decorre em universos onde a história divergiu da história mundial tal como a conhecemos.
Pode ser vista como um sub-género da ficção literária, ficção científica e ficção histórica.
   A literatura de história alternativa  parte de uma premissa muito simples: faz a seguinte pergunta "o que aconteceria se a história tivesse decorrido de maneira diferente?", a maioria das obras deste género são baseadas em acontecimentos históricos reais, embora os aspectos sociais, políticos, económicos se tenham desenvolvido de maneira diferente. Na maior parte das vezes os acontecimentos divergem no passado e fazem com que a sociedade se desenvolva de maneira distinta da nossa. Alguns géneros de ficção foram confundidos com histórias alternativas. Na ficção cientifica, por exemplo, "2001: Odisseia no Espaço" de Arthur C. Clarke ou "1984" de George Orwell, foram situados naquilo que seria o futuro, mas que agora é passado, não devem ser consideradas histórias alternativas porque os autores não fizeram nenhuma alteração ao passado.
A referência mais antiga a uma história alternativa
   O mais antigo exemplo de história alternativa registado  é o  Livro IX, secções 17-19 de "Ab Urbe condita" de Tito Lívio, historiador romano, que contempla um século IV a.C. alternativo onde Alexandre, o Grande expande o seu Império para o ocidente em vez do oriente. Tito Lívio pergunta "O que poderia ter acontecido a Roma se esta se envolvesse numa guerra com Alexandre?". Já em 1490 o romance épico de Joanot Martorell "Tirant lo Blanc", numa altura em que a perda de Constantinopla para os Turcos (1453) ainda se revelava traumática para a europa, conta a história de Tyrant , o Branco, um cavaleiro britânico que parte para a capital do que resta do  Império Bizantino, torna-se comandante dos seus exércitos e consegue salvar a cidade de ser invadida pelos exércitos Otomanos e de se tornar parte do império Islâmico e ainda empurra os turcos para fora de terras que na realidade histórica pertenceram ao império turco.
   Foi no século XIX que as histórias alternativas ganham alguma receptividade entre o povo, nomeadamente com a publicação de "Histoire de la Monarchie Universelle: Napoléon et la conquête du Monde (1812-1832) de Louis Geoffroy em 1836, na qual Napoleão e o Primeiro Império Francês saem vitoriosos da campanha da rússia em 1811 e, em 1814 invadem a Inglaterra e mais tarde consegue unificar o mundo sob a sua liderança. Em 1895 é publicado o primeiro romance de história alternativa em inglês, "Aristopia" de Castello Holford, onde os primeiros colonos na Virgínia descobrem um recife feito de ouro puro e com ele constroem uma sociedade utópica na América do Norte.
   O século XX e a II Guerra Mundial possibilitaram a criação de inúmeros romances, alguns de propaganda, Ingleses e Americanos, em que os autores descrevem invasões dos seus respectivos países. O mais famoso destes romances é "The Man in the High Castle - O Homem do Castelo Alto", escrito em 1962 por Philip K. Dick, uma história alternativa na qual a Alemanha Nazi e o Japão Imperial ganham a II Guerra Mundial e dividem entre si o mundo. Neste romance surge o conceito de história "Alternativa-Alternativa", já que uma das personagens é autor de um livro em que os aliados vencem a guerra.
   Em outras obras de outros autores, o tema da vitória das forças Nazis e/ou os poderes do Eixo (constituído pelos Nazis, o Japão e a Itália) conquistam o mundo; noutras conquistam a maior parte do mundo, excepto "A Fortaleza Americana" que resiste a todos os cercos e tentativas de conquista. Já em 2002 Philip Roth publica "The Plot Against America - Conspiração contra a América" onde  num 1940 alternativo,  Franklin D. Roosevelt perde a eleição para o seu terceiro mandato como presidente, para Charles Lindbergh, o que mergulha a américa no fascismo e anti-semitismo.
   Também Vladimir Nabokov pegou na ideia de Philip K. Dick e utilizou-a no romance "Ada or Ardor:  A Family Chronicle", de 1969 em que parte duma  América do Norte alternativa é colonizada por Russos Czaristas, que se apercebem que esta é uma espécie de cópia ou negativo do nosso planeta, criando uma espécie de "Contra-Terra" que chamam "Anti-Terra",  e cujo gémeo é a verdadeira "Terra". Divergem não apenas na história, mas também no facto de toda a ciência e a tecnologia em "Anti-Terra" ser baseada na água e não na electircidade.
   As últimas décadas do século XX e o inicio do século XXI viram as histórias alternativas no romance popular ganharem uma maior importância á medida que a própria história mudava também. Entre muitos autores que se dedicaram a este sub-género, Destacou-se Harry Turtledove que, entre vários romances, publicou "Ruled Britannia - O Dilema de Shakespeare" em 2002, em que a "Invencível Armada" espanhola venceu os ingleses  e  ocuparam a Inglaterra da rainha Elizabeth e a William Shakespeare é dada a tarefa de escrever a peça que irá motivar os ingleses para derrotar os seus invasores.
   O cinema e a televisão não ficaram indiferentes a este sub-género de ficção literária. Quanto ao primeiro, os filmes sobre universos alternativos focaram-se mais no individuo do que nos acontecimentos históricos, por exemplo em filmes com "It's a Wonderful Life - Do Céu caiu uma Estrela" (Frank Capra, 1946), "Back to the Future - Regresso ao Futuro" (Robert Zemeckis, 1985-90), "The Butterfly Effect - O Efeito Borboleta" (Eric Bress e J.Mackye Gruber, 2004), "Frequency - Frequência" (Gregory Hoblit, 2000) ou "Inglourious Basterds - Sacanas sem Lei" (Quentin Tarantino, 2009). Quanto à segunda, o conceito de história alternativa também foi explorado em séries como "Dr.Who" (1963), "the Tomorrow People" (1973), ou "Lost - Perdidos" (2004).


    Mesmo tendo a cultura como fonte, por vezes a história e geografia, apesar de alteradas, perdem importância e então a história alternativa e toda a ficção a ela associada, entram nos dominios da fantasia. Mas isso é outra história...


Nota: As imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da internet



                                       

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Os Intocáveis - A Lei de Chicago!



                                                      




    Vários são os filmes baseados em séries de televisão que fazem justiça à fonte inspiradora. Citamos por exemplo "Missão Impossível" (Brian DePalma, 1996), baseado na série de sucesso da década de 60 do século passado, que foi um grande sucesso de bilheteira quando estreou. Mas, anos antes, este mesmo realizador acertava em cheio com outro sucesso de bilheteira inspirado na televisão, que, de resto, foi o inicío da carreira do realizador.
Os Intocáveis da série de televisão
    Baseado numa série de televisão chamada "The Untouchables", ela própria baseada no livro de memórias de Elliot Ness intitulado "The Untouchables",  exibida entre 1959 e 1963, em que o agente federal Elliot Ness e outros agentes, cuja incorruptabilidade, lhes granjeia o nome de "Os Intocáveis", lutavam contra o crime organizado  em Chicago, durante a Lei Seca, na década de 30
    O filme de De Palma, igualmente baseado na obra, conta a história de Elliot Ness (Kevin Costner) um oficial do Tesouro Americano que quer acabar com o império do mais famoso gangster da década de 30: Al Capone (Robert De Niro), para isso conta com um pequeno grupo de outros agentes da lei a que alguém, a dado momento no filme  chama, lhes chama "Intocáveis".
    Realizado  por Brian De Palma, autor de, entre outros, "Carrie" (1976), "Vestida para Matar" (1980), "Blow-Out - A Explosão" (1981) ou "Scarface - A Força do Poder" (1983), este último, pode, de certa forma,  considerar-se como o percursor de "Os Intocáveis", já que o assunto é o tráfico de droga e a luta pelo poder levada a cabo por um exilado Cubano.
Os Intocáveis de De Palma
   Ajudado por um elenco excepcional onde se salienta Kevin Costner, num dos seus melhores papéis, como Elliot Ness, o agente que quer acabar com Al Capone e o seu império do mal;  Sean Connery (vencedor do Oscar de Melhor Actor Secundário), é Jimmy Malone, o policia que vai influenciar Ness e que o convence a não desistir da luta na fabulosa cena da igreja onde diz ao agente federal como é que se deve agir em Chicago, é uma interpretação acima da média de quem inúmeras vezes interpretou no cinema o agente secreto mais famoso do mundo; Andy Garcia, aqui a dar os seus primeiros passos no cinema, é George Stone, aluno da Academia  da policia que Malone recruta devido à sua excepcional pontaria e inteligência de raciocínio em situações de pressão; Charles Martin Smith, é Oscar Wallace, contabilista emprestado pelo FBI a Ness, que descobre a maneira de se apanhar Al Capone e que se vê arrastado na acção muito mais do que pretendia; e Robert De Niro num registo secundário mas de grande vigor, é Al Capone, numa interpretação "bigger than life", a que o actor já nos habituou.

  O filme é um festival de boas interpretações, um especial cuidado de direcção artística na reconstituição da Chicago da década de 30, uma banda sonora composta pelo mestre Ennio Morricone, que capta na perfeição os sons da época, com eles  percorre todo o filme marcando uma certa cadência na acção e, principalmente, um argumento excepcional escrito por David Mamet.  Tudo isto faz de "Os Intocáveis" um filme inesquecível.
Brian De Palma, um realizador competente
    Graças à técnica de realização apurada de DePalma, que utiliza planos, movimentos e rotações de camera absolutamente incriveis, muitos deles em "slow motion", para que o espectador se sinta parte integrante da acção, fruto de uma montagem habilidosa, patente em todos os filmes do realizador acima citados, algumas cenas são de antologia como por exemplo a carga dos intocáveis e da polícia montada Canadiana; a da morte de Malone ou ainda aquela que fica na memória de toda a gente: a sequência do tiroteio na estação de comboios que é absolutamente brilhante em termos técnicos, onde o virtuosismo do realizador está mais patente e vai muito para além duma qualquer cena convencional.
Uma homenagem ao cinema
   Qualquer espectador mais atento perceberá que essa cena é uma homenagem ao próprio cinema e, particularmente, ao pai da montagem cinematográfica moderna: Sergei Eisenstein, na fabulosa  sequência do massacre das escadas de Odessa  em "Couraçado Potemkin" (Sergei Eisenstein,1925). A cena em que o carrinho de bébé desce a escada sózinho, é decalcada plano-a-plano do original.São 75 segundos de puro brilhantismo cinematográfico que De Palma estica e homenageia até à exaustão.
Um clássico moderno e obrigatório.


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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mystic River - Clint Eastwood não sabe fazer maus filmes!

   Três jovens brincam e jogam hóquei na rua, escrevem os seus nomes no cimento fresco. Surge um carro com dois homens que se fazem passar por polícias. Um dos jovens é raptado e sujeito a abusos sexuais. Consegue escapar mas nunca mais volta a ser o mesmo.Vinte e cinco anos depois, os três voltam a encontrar-se.  É assim que começa "Mystic River", thriller poderoso e violento, realizado por Clint Eastwood.
    Mais de 50 anos de carreira, 40 dos quais como realizador, 4 Óscares da Academia, outras tantas nomeações como Actor, produtor e realizador, inúmeros prémios internacionais, servem de apresentação a este verdadeiro ícone do cinema americano.
Clint Eastwood

     Para trás ficam além da "Trilogia dos Dólares", onde interpreta o homem sem nome e "Dirty Harry", onde dá corpo a um inspector da polícia com métodos muito pouco ortodoxos. Entre esses filmes e este "Mystic River", surgem dois títulos que sobressaem na sua longa filmografia, são eles "Bird" uma biografia sobre Charlie Parker, músico de jazz ( músico e género de quem Eastwood se considera um confesso fân) e "Imperdoável", o último grande western feito no cinema. Sobre o primeiro, trata-se de uma obra-prima em que o tempo e a Europa (continente em que o o actor-realizador tem grande aceitação) se encarregaram de elevar a tal patamar. Sobre "Imperdoável" pouco ou nada hà a dizer, pois os prémios que ganhou, encarregaram-se de o transformar numa obra-prima.
      Em relação a "Mystic River" trata-se de um soberbo Thriller com excelentes interpretações, personagens fortes como Eastwood não exibia desde o Inspector Harry Callahan ( "Dirty" Harry para os amigos!),  não só dos actores premiados, como de todo o elenco secundário, particularmente Marcia Gay Harden como a amargurada Celeste Boyle que acredita que o seu marido está envolvido em algo muito mau, dividida entre acreditar no seu marido ou denunciá-lo ás autoridades, enquanto tenta viver com isso  e Laura Linney, como Annabeth  Markum, esposa apaixonada, cuja transformaçao durante a  conversa final com o marido, depois de consumados os actos, onde ela o abraça e reafirma a sua fidelidade aos princípios dele e apoiá-lo em todos os seus actos, é muito mais do que um diálogo, é um exercicio lírico para a posteridade.  
    O destaque vai, claro, para a interpretação de Sean Penn como Jimmy Markum, vencedor do Oscar de Melhor Actor, pode dizer-se que é ele que carrega o peso do filme aos ombros e fá-lo da melhor maneira possível; veja-se a maravilhosa cena em que ele percebe que o corpo descoberto é, nada mais, nada menos que o de sua filha, dá largas à sua dor, captada de modo absolutamente brilhante por um plano de camera vertical que se vai afastando e, no mesmo plano, focar o corpo dela,de um modo, que se pode dizer, quase cruel,  só e abandonado numa jaula. Kevin Bacon é Sean Devlin, o policia encarregue de resolver o caso do assassinato de Katie. Funciona como uma espécie de intermediário entre as duas partes da verdade e não sabe em quem deve acreditar, é o elemento apaziguador do trio central. A interpretação do actor, não sendo tão brilhante como dos dois principais, não deixa, no entanto, de ser interessante e uma das melhores da sua carreira.    
  Tim Robbins, também vencedor de Oscar para Melhor Actor Secundário, é  Dave Boyle, um homem ensombrado por um acontecimento, na sua juventude, que o marcou e do qual nunca recuperou totalmente, tem uma prestação muito acima da média, principalmente na cena em que se confronta com Jimmy e os irmãos Savage, a sua expressão, o seu olhar é de alguém que anseia libertar-se dum passado ao qual ficou preso uma vida inteira, está disposto a aceitar algo como uma redenção á sua vida, à sua fatalidade. É uma interpretação poderosa, brilhante mesmo, quase ao nível  de Sean Penn. Aliás desde "Ben-Hur" (William Wyler, 1959) que dois actores dum mesmo filme não eram premiados pela Academia. "Mystic River" acaba por ser um filme baseado nas interpretações de todo um elenco, e não em efeitos especiais, tiros, perseguições automóveis e é, na minha opinião, uma das grandes obras do cinema contemporâneo.
   A Realização de Clint Eastwood é excelente, ele não deixa os seus créditos por mãos alheias e praticamente todas as técnicas de realização, todos os truques de como contar uma história sem nunca distrair o espectador com pormenores de somenos importância, aqui o argumento, negro e sombrio, de Brian Helgeland é perfeito, estão presentes na medida certa numa obra que nos deixa em suspense, desde as primeiras imagens, de inocência (crianças a brincar numa rua sem saberem o que as espera), passando pelo desejo de vingança de Jimmy pela morte de sua filha, até ás imagens finais dos nomes escritos no cimento e a camera, num belo plano sobre o rio, parece mergulhar nele como que a querer livrar-se e lavar-se dos pecados cometidos, como diz Jimmy perto do final, ao longo do filme, tornam esta obra perturbante, intensa e avassaladora. 
Uma verdadeira obra-prima!


Nota: As imagens e vídeos que ilustram este texto foram retirados da Internet



















sábado, 22 de outubro de 2011

Robert A. Heinlein e a História do Futuro

    Uma história do futuro é uma narrativa que se ocupa do futuro da humanidade. É um sub-género utilizado por escritores de ficção científica, muitas vezes, para consolidar os eventos duma história, ou fornecer um fundo no qual o leitor poderá reconstruir a ordem das histórias e dos acontecimentos a partir da informação por elas fornecida.
     Robert Anson Heinlein (1907-1988), foi um escritor de ficção cientifica. Popular, influente e controverso, foi dos primeiros autores a escrever romances-tipo com os quais obteve sucesso no mercado moderno e um daqueles autores promissores que John W.Campbell Jr., editor da prestigiada revista "Astounding Science Fiction Magazine", gostava de apostar. Juntamente com Arthur C.Clarke e Isaac Asimov, é considerado um dos "três grandes" da ficção cientifica
   O seu livro mais famoso "Stranger in a Strange Land - Um Estranho numa Terra Estranha", foi publicado em 1961 e, devido ás temáticas que abordou como o individualismo, libertanismo e a livre-expressão de amor, físico e emocional, foi uma das bíblias do movimento hippie que nasceu na década de 60 do século passado.
   Entre as muitas temáticas que abordou, ao longo da sua vasta obra, a capacidade de antever o mundo de amanhã, que não andou muito longe da realidade, foi a que mais marcas deixou, embora não tenha sido inteiramente compreendida na época onde chegou a ser acusado de alarmista.
   "A História do Futuro", assim se chama esta série romances e contos que Heinlein escreveu ao longo de quase   cinco décadas. Nela relata-se a história da humanidade, em particular dos Estados Unidos, durante cerca de 700 anos, desde  1951 até a 2600 d.C., vista por Lazarus Long. O seu nome verdadeiro é Woodrow Wilson Smith, nascido em 1912 e produto da terceira geração dum longo processo de selecção reprodutiva levado a cabo pela familia Howard e vêm-se a saber, ao longo da série, que ele é o homem mais velho do mundo, que vive bem, com cerca de 2000 anos de idade, com a ajuda ocasional de alguns tratamentos de rejuvesnascimento. 
    Introduzido pela primeira vez em "Methuselah's Children - Os Filhos de Matusalém" (embora não seja o primeiro volume da série), escrito em 1941, ele admite ter 224 anos de idade e a acção passa-se durante cerca de 75 anos e que termina quando a primeira forma de rejuvenescimento está a ser desenvolvida, apesar de grande parte destes anos serem passados a viajar distâncias interestelares a velocidades próximas da da luz, o tempo passado é contado, não em termos da sua vida, mas em termos da sua ausência.Todos os livros em que a personagem de Lazarus Long surge, nomeadamente "Time Enough for Love" (1973) e "The Number of the Beast, (1980) envolvem viagens no tempo, dimensões paralelas, amor-livre, incesto e um conceito que Heinlein chamou "O Mundo como  Mito", uma teoria de que os universos são criados pelo acto de os imaginar!
   A maior parte desta História do Futuro foi escrita no inicio da carreira de Heinlein, entre 1939 e 1941 e entre 1945 e 1950. O termo foi inventado por John W.Campbell, quando publicou um primeiro esboço daquele que é considerado o primeiro volume da série, embora Heinlein nunca o tenha confirmado, "For Us, The Living" (1939), na revista "Astounding Science Fiction Magazine", em Março de 1941.
   A História do Futuro, longe de ser um relato de simples maravilhas e progressos tecnológicos, é, no seu todo, uma análise impressionante das vantagens e problemas que esse progresso trará à humanidade. Não é uma simples epopeia, mas sim uma sucessão de esperanças e desilusões, de vitórias e derrotas, de luz e de trevas.
Primeiro livro da série "A História do Futuro"
    O que se pode considerar quase como uma clarividência de Heinlein, ao definir a estrutura desta sua série, fica provado logo na publicação do (agora sim!) primeiro volume da série "The Man who sold the Moon - O Homem que vendeu a Lua", em 1950, ele previa para a década de 60, consideráveis avanços técnicos, acompanhados por uma gradual deterioração de costumes, da orientação, e das instituições sociais, terminando em psicoses colectivas (não será aquilo a que, em pleno século XXI, se assiste?). Para este período, Heinlein previa já foguetes e mísseis intercontinentais, assim como o começo de uma "Falsa Alvorada" que terminaria com a primeira viagem à lua.
   No segundo volume da série "The Moon is a harsh Mistress - A Revolta na Lua", depois duma grande crise financeira e social, no final da década de 60, começaria a reconstrução da sociedade, que coincidiria com "Período da Exploração Espacial" ou seja,  a conquista e colonização da Lua e do sistema solar, entre 1970 e 2020.  Período esse que terminaria com uma revolta e posterior independência das colónias extraterrestres e que é relatado em pormenor no livro "Revolt in 2100 - Revolta em 2100", um dos menos conhecidos volumes da série, escrito em 1953, mas de igual importância, já que essa revolta consequentemente leva a uma interrupção nas viagens interplanetárias, entre 2020 e 2072 e que nos Estados Unidos se traduziria por um ressurgimento do fanatismo religioso, o estabelecimento de uma Teocracia e posterior rebelião contra ela, naquilo que se chamaria "A Segunda Revolução Americana"  .
    Em "Time Enough for Love - A História do Futuro",  Lazarus Long relata pormenores da sua vida, através de flashbacks e flashforwards detalhados e que compreendem o período que vai desde o seu nascimento até ao ano 4272. Ao longo dos seus mais de 2000 anos de vida, ele diz ter trabalhado em praticamente todo o tipo de profissões e participado em quase todos os grandes acontecimentos da história.
   Nos últimos  livros da série "The Number of the Beast - O Número do Monstro" e " The Cat who Walks through Walls - O Gato que Atravessava Paredes", Lazarus Long surge já com personagem secundária mas ainda tem importância no desenvolvimento dos mesmos. Em "Number of the Beast" é-nos relatada a viagem da nave "Gay Deceiver" e dos seus quatro ocupantes em seis dimensões espacio-temporais: as três dimensões espaciais que existem na realidade e mais três que existem apenas no tempo, uma delas permite que se viaje até mundos fictícios como o reino de Oz por exemplo, assim como através do espaço e do universo. Essas viagens são relatadas em forma de diário pelos quatro ocupantes que registam aquilo que vêem nos universos paralelos por onde passam e que encontrarão numa dessas viagens Lazarus Long que vive num mundo desconhecido, cujas acções serão decisivas no resultado final.
   Começa quase como um livro policial "The Cat who Walks through Walls", escrito em 1985,   mas logo passa para o universo de Heinlein e da sua história do futuro. Colin Campbell é escritor e vê morrer junto de si, com um tiro, um homem que nunca viu na sua vida. Ajudado por uma bela e misteriosa jovem chamada Gwen Novak que o ajuda a ir até à lua para tentar resolver aquele mistério. Obcecada em esclarecer  que levou a comunidade lunar a revoltar-se contra a terra, ela afirma ter estado presente apesar de ainda ser uma criança, Campbel desconfia. Depois de várias peripécias encontram Lazarus Long que é o chefe duma organização chamada "Time Cops" que aceita ajudá-los nas suas missões. Este livro pode ser considerado tanto como uma continuação de "Number of the Beast", como de "Moon is a harsh Mistress", já que personagens de ambos os livros aparecem na acção e só se considera como parte da história do futuro por que Heinlein lança mais alguma luzes sobre os acontecimentos de ambos os livros.
   "To Sail Beyond the Sunset", escrito em 1987,  é oficialmente o último livro da história do futuro tal como foi escrita e pensada por Robert Heinlein. Maureen Johnson Smith Long, mãe de Lazarus, grava as suas memórias enquanto aguarda com incerteza o seu destino. Ela, nascida em 1882, reflecte sobre a sua vida ao longo das muitas gerações que por ela passaram. Tudo isto tendo como pano de fundo um século XX alternativo.
   Em 1966 "A História do Futuro" foi nomeada para o prémio Hugo de "Melhor Série de Todos os Tempos", juntamente com "Barsoom" de Edgar Rice Burroughs, "Lensmen" de E.E."doc"Smith, "Fundação" de Isaac Asimov,  e "O Senhor dos Anéis" de J.R.R.Tolkien. Perdeu para a "Fundação" de Asimov.
   Apesar de muita da sua obra já se encontrar editada em Portugal, Robert Heinlein ainda permanece um autor desconhecido e que merecia ser descoberto pelo público amante de ficção científica.


Nota: Todas as imagens que ilustram este texto foram retiradas da Internet

                                                                  
Parte de "A História do Futuro"
                                                                             

  

                           

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